quarta-feira, 30 de setembro de 2009
O poder da bandidagem
Sérgio Rezende está de volta às telas de cinema com Salve geral (Brasil, 2009). Agregador de grandes audiências, o diretor de Zuzu Angel (2006), Guerra de Canudos (1997) e O homem da capa preta (1986), apenas para citar seus filmes mais assistidos, nos oferece mais um produto de apelo certeiro. Estrelado por Andréa Beltrão e Lee Thalor, o filme dramatiza para as massas episódio recente em que o Primeiro Comando da Capital (PCC) colocou São Paulo em estado de sítio. Ele estreia nacionalmente sexta-feira, sob a aura de ser o representante do Brasil na disputa pelo Oscar 2009.
Sob o signo da Globo Filmes, a indicação pode ser entendida pela adequação de Salve geral ao padrão da imagem "brasileira" consumida pelo mercado estrangeiro. Não é acaso a semelhança temática e visual com dois outros filmes made in Brazil: Carandiru (2002) e Tropa de elite (2007). A exemplo destes, a narrativa faz um retrato da vida nos presídios e da rede de corrupção e violência ligada a diferentes esferas da polícia e governos. De forma que a possibilidade de "saber" (o filme é de ficção, é bom lembrar) como o PCC aterrorizou o país devem garantir que, mesmo desprovida de qualquer novidade, a produção esteja entre as mais assistidas do ano.
Rezende apresenta o PCC de forma plausível, como uma rede que seduz e incorpora, que age voraz e irreversivelmente no vácuo deixado pelo estado na luta pelos direitos dos detentos. "Paz, justiça, liberdade", mesmo que na base da bala.
Para narrar o dia em que São Paulo parou (a frase de impacto foi adotada para a campanha de divulgação), Rezende optou por unir a estrutura dos filmes de ação com o drama familiar vivido pela viúva Lúcia (Andréa Beltrão) e seu filho, Rafa (Lee Thalor). Eles incorporam um fenômeno cada vez mais comum, o da classe média falida que se muda para a periferia. Já na primeira noite suburbana, Rafa se mete em confusão e mata alguém por acidente, em público. Sentença: oito anos de prisão.
Inconformada, Lúcia tenta libertar o filho a qualquer custo e com isso recuperar o que lhe resta de sentido na vida. Termina por se aliar à Ruiva (Denise Weinberg), advogada aparentemente disposta a ajudar, mas que é, na verdade, membro-chave do PCC. Lúcia reluta, mas termina por realizar pequenos serviços. "Não é nada que não se faça nesse país todos os dias", argumenta Ruiva. Enquanto isso, relegado à superlotação de uma cela de triagem, Rafa compra por R$ 500 o direito a habitar um cubículo menos insalubre. Sem querer, o "playboy" se torna mais um "irmão" do crime.
Mãe - Ao longo da trama, o papel de Lúcia cresce em importância. Ao contrário da maioria das mães que sofrem com os filhos encarcerados, seu biotipo classe-média é essencial para gerar identificação e comoção na plateia. Sob a fantasia de estar fazendo o melhor pelo filho, ela abandona seu papel de vítima pobre para se envolver até a cabeça com o crime organizado, que providencia a ela estabilidade financeira, social e até afetiva (ela se torna namorada de um dos líderes do PCC).
Quanto à performance de Beltrão, basta dizer que é onde está uma das qualidades do filme. Outra está na reconstituição, passo a passo, dos eventos que precederam o inferno em que São Paulo se tornou nos dois dias em que a bandidagem mostrou seu maior poder: o de transformar uma megalópole em cidade fantasma.
(Diario de Pernambuco, 30/09/09)
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Tarantino não vem mais ao Brasil
Ele disse estar exausto e cancelou vinda ao Festival do Rio, onde participaria da sessão de pré-estreia do longa Bastardos inglórios, marcada para o dia 7 de outubro, no Cine Odeon.
A seguir, a nota distribuída a imprensa pela Universal.
"É com grande tristeza que a Universal Pictures informa que, infelizmente, Quentin Tarantino, diretor de Bastardos Inglórios, não poderá vir ao Brasil e participar da divulgação e pré-estréia do seu filme durante o Festival do Rio 2009. O diretor sente muito, mas as viagens que tem feito pelo mundo por conta da divulgação de Bastardos Inglórios, desde maio, o deixaram exausto".
sábado, 26 de setembro de 2009
Revolução que está por vir...
... tem data marcada
Pernambuco conta com oito salas digitais de cinema, incluindo a 3D do Box Guararapes; a digitalização dos espaços exibidores é um processo inevitável
Em breve, o Recife terá uma nova sala de cinema 3D. Ela será inaugurada em dezembro, no Multiplex UCI Ribeiro Recife, em Boa Viagem. Mais precisamente no dia 18 de dezembro, data prevista para a estreia de Avatar, a megaprodução de James Cameron. A novidade é apenas um dos indícios de que o cinema analógico, armazenado em rolos de película 35mm, está com os dias contados no Brasil. Somente nas últimas semanas, a rede Cinemark inaugurou cinco novas salas 3D em São Paulo. Das 412 salas do grupo, 9% contam com o equipamento.
Quem determina a mudança, naturalmente, é o fator econômico. De acordo com o site especializado Filme B, metade do faturamento norte-americano de Up, Força G e Era do gelo 3, três grandes lançamentos do ano, é proveniente das salas 3D, que representam um terço do total dos espaços de exibição de lá. Ainda segundo o Filme B, no Brasil, 54% da renda da animação Up é recolhida das 76 salas 3D.
Um mercado promissor, tendo em vista que há 2.100 salas no país. Até porque, as que não migrarem para o digital, com o tempo fecharão as portas. De acordo com Luiz Gonzaga de Luca, do grupo Severiano Ribeiro, essa conversão não sai por menos de R$ 600 milhões. "Se não houver intervenção do estado, não só os pequenos exibidores irão morrer", diz o executivo, que defende que a conta deve ser financiada pelo governo e paga pelos estúdios, distribuidores e exibidores.
À primeira vista, todos saem ganhando. Após o período de adaptação, o lucro será maior, pois a logística será mais barata que a atual. O público também não terá do que reclamar. Não somente poderão experimentar filmes com maior qualidade de imagem e som. Assim como poderão, graças à convergência de mídias, assistir a shows, espetáculos e eventos esportivos em 3D.
Por enquanto, o Recife conta com oito salas digitais. Uma é a 3D do complexo Box Guararapes, que funciona com a tecnologia XPAND. As demais estão habilitadas a exibir filmes codificados pela Rain Networks, bitola adotada para filmes com distribuição independente. A pioneira funciona no Cinema da Fundação. As outras estão no Box.
"A digitalização das salas é um processo inevitável. O que torna as coisas mais difíceis é que aqui no Brasil ainda não temos um modelo de negócios definido. No ano passado quando implantamos as nossas salas 3D, gastamos 500 mil por sala. Hoje o dólar está mais baixo, e o custos dos equipamentos baixaram também, mas ainda custam mais ou menos 5 vezes mais que o 35mm", afirma Rosa Maria Vicente, diretora de programação e marketing da Box Cinemas do Brasil.
A oferta de filmes digitais tem sido tanta que, no Cinema da Fundação, o projetor 35mm estava parado por mais de dois meses. Foi reativado para exibição de Anticristo, de Lars Von Trier. Foi a saída para ocupar uma área maior da tela, pois a versão codificada pela Rain reduziria a dimensão do formato Scope.
Em breve, o Cine Rosa e Silva colocará na cidade mais três salas do sistema Rain. Elas chegam com outras mudanças no complexo, uma reforma que inclui a troca de cadeiras e do sistemade ar condicionado. "Ficou difícil trabalhar com os filmes do circuito alternativo, porque eles lançam um filme com apenas uma cópia em película. O resultado é que quando um filme é muito requisitado, ficamos esperando pelo menos seis meses", diz Carol Ferreira, programadora do Rosa e Silva.
No entanto, a incompatibilidade entre os sistemas de exibição - os grandes estúdios operando no sistema DCI e as pequenas salas independentes no sistema Rain - termina por colocar o dedo na ferida do circuito exibidor nacional, que terá uma divisão ainda mais acirrada. Estaremos às vésperas de oficializar a marginalização do cinema nacional, agora restrito às salas "alternativas"? E quanto ao circuito comercial, resta a ele assumir a função de mero operador da produção hollywoodiana? Como nos filmes de ficção, o futuro pode ser ao mesmo tempo fascinante e assustador.
Convergência sem ingenuidade
O processo de transição para o cinema digital no Brasil pode ser melhor entendido com um livro a ser lançado esta semana, durante o Festival do Rio. A hora do cinema digital (Imprensa Oficial de São Paulo, R$ 15), de Luiz Gonzaga de Luca, é o novo volume da Coleção Aplauso. Para Luca, o cinema, "o último veículo de comunicação analógico, está dando um passo que modificará o seu futuro".
Seu livro é um guia - talvez o único disponível no mercado nacional - para acessar detalhes técnicos, políticos, históricos e econômicos sobre a revolução que está por vir. "A abertura que Glauber tanto falava na verdade chegou com o cinema digital", diz o autor. "Mas para isso precisamos discutir convergência sem ingenuidade. Os padrões técnicos estão adotados, mas isso não resolve questões de mercado, onde TV domina o faturamento no audiovisual. Na Índia, o cinema controla 60% do mercado. O cinema é a TV da Índia".
O assunto está na pauta do próprio Festival do Rio, que promove uma mesa com Joe Peixoto, executivo da Real D (fabricante de projetores 3D) e mediação de Luca, que apresentará as experiências brasileiras na produção de conteúdo tridimensional.
(Diario de Pernambuco, 27/09/09)
Cangaço rende prosa e versos
A profícua relação entre o universo literário e o cangaço nordestino tem rendido grandes obras. As mais conhecidas estão situadas entre a literatura popular e o romance. Em O cangaço na poesia brasileira (Escrituras, R$ 34), outra gama de autores é apresentada ao leitor: a dos poetas eruditos, igualmente influenciados pelo tema. Organizado por Carlos Newton Júnior, 35 poetas de diferentes épocas estão reunidos no mesmo volume. O lançamento será hoje, às 19h, no auditório da Livraria Cultura (Recife Antigo). Na ocasião, Newton fará uma pequena palestra sobre o assunto, em que imagens de cangaceiros serão apresentadas como fonte inspiradora de alguns dos poemas.
Nomes consagrados como João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Ascenso Ferreira, Maximiano Campos, Carlos Pena Filho e César Leal estão presentes, ao lado de Aleixo Leite Filho, Audálio Tavares, Bráulio Tavares, Dorian Gray Caldas, Francisco Carvalho, Homero Homem, Jáder de Carvalho, Janice Japiassu, Jayme Griz, Jorge de Lima, Luciano Maia, Luiz Carlos Monteiro, Márcio de Lima Dantas, Marcos Tavares, Marcus Accioly, Myrian Fraga, Nertan Macêdo, Newton Navarro, Paulo Bandeira da Cruz, Sânzio de Azevedo, Sérgio de Castro Pinto e Virgílio Maia. O próprio autor da pesquisa, Carlos Newton Júnior, também dá sua contribuição poética.
O livro traz o carioca Alexei Bueno, o mineiro Murilo Mendes, o gaúcho Walmir Ayala (com ilustrações do paraibano José Altino) e a paulista Maria José de Carvalho. Prova de que o cangaço quebrou barreiras e extrapolou a cultura do Nordeste.
O Cinema Novo de Glauber Rocha, profundamente marcado pelo cangaço, é matéria prima para Astier Basílio e José Nêumanne Pinto, que desenvolvem o mote a partir da figura de Antônio das Mortes, o matador de cangaceiros no filme Deus e diabo na terra do sol (1964). "A ideia de um cangaço epopéico superou o cangaço do crime. Para arte, é fonte inesgotável", diz Newton.
"Desde os 14 anos leio compulsivamente tudo sobre Lampião. Quando descobri a literatura, a junção foi natural", diz o organizador, que não se considera um especialista, mas sim, um entusiasmado pelo tema. Ao longo dos anos, frequentando livrarias e sebos, percebeu que ali havia um conjunto publicável. Para ele, a parte mais gratificante da coletânea é trazer à tona autores que estão fora dos catálogos "Muitos desses poetas não se encontram no mercado editorial, como Paulo Bandeira da Cruz, que no início dos anos 90 foi publicado pela José Olympio".
"É um livro que fazia falta", diz o pesquisador Frederico Pernambucano de Mello, que assina a orelha do livro, um texto intitulado Alados e pedestres do cangaço. Especialista no assunto, ele afirma que o cangaço tem sido bastante estudado, inclusive em sua presença na literatura brasileira. "No entanto, na área erudita, ninguém tinha se ocupado disso".
Serviço
Lançamento do livro O cangaço na poesia brasileira (Escrituras, R$ 34)
Quando: Hoje, às 19h
Onde: Auditório da Livraria Cultura (Paço Alfândega - Recife Antigo)
Informações: 2102-4033
(Diario de Pernambuco, 26/09/09)
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Do terrorismo enquanto expressão da liberdade
Estreia hoje, no Cine Rosa e Silva, O grupo de Baader-Meinhof (Der Baader-Meinhof Complex, Alemanha, 2008), de Uli Edel. Indicado ao Oscar 2009 de melhor filme estrangeiro, a produção mistura elementos de ficção com arquivos de época para reconstituir o período de dez anos em que a Facção Exército Vermelho aterrorizou os alemães com assaltos, sequestros e bombas. O filme capta o clima de revolta social que desembocou nos manifestos de maio de 68 e é apresentado como a versão cinematográfica definitiva sobre o assunto. Vigoroso, ele retoma com propriedade a linhagem do thriller político, gênero cujo maior representante é Costa-Gavras (Z, Estado de sítio).
Ao longo da projeção, fica clara a simpatia de Edel e Stefan Aust (autor do livro no qual o filme se baseou), que se revelam fascinados pela personalidade dos rebeldes e sua busca pelo prazer e anarquia. Filhos do nazismo, se recusam a assistir passivamente a conivência da Alemanha com o imperialismo americano.São herois jovens, corajosos, pulsantes, imprevisíveis. Já os representantes do poder instituído, atrás de óculos, ternos e barrigas proeminentes, são óbvios, chatos e impregnados de moral e bons costumes. Todos, exceto Horst Herold (Bruno Ganz), o chefe da polícia que planeja com astúcia o desmantelamento do grupo.
O filme começa em 1967, a propósito da visita do Xá do Irã Reza Pahlevi à Alemanha Ocidental. Um grupo se mobiliza num protesto pacífico, que logo vira pancadaria e morte com a conivência e participação da polícia. A jornalista de esquerda Ulrike Meinhof (Martina Gedeck) presencia tudo e escreve seus manifestos radicais. Visita na prisão a estudante Gudrun Ensslin (Johanna Wokalek), namorada de Andreas Baader (Moritz Bleibtreu), o líder agregador revolucionário. Lá, é convocada a sair da teoria e abandonar seus medos burgueses.
Quando Baader é capturado, Meinhof ajuda na fuga e entra com os dois pés na RAF, que passa a ser conhecida pelo nome da nova dupla. Baader, objetivo, agressivo e cativante; Meinhof, a intelectual que pega em armas, empresta a fama obtida na imprensa e dá estofo teórico às ações cada vez mais violentas e fora de controle. Para eles, roubar um banco é "desapropriação dos inimigos do povo".
Não demora para o governo mobilize um aparato de guerra contra os militantes, já associados à organizações árabes pela libertação palestina. Há uma sequência na Jordânia, onde os jovens branquelos e indisciplinados recebem treinamento para combate. No entanto, a sanha anarquista em desafiar a ordem fala mais alto. Censurados por praticar o nudismo no teto do alojamento, respondem de forma insolente: "transar e atirar é a mesma coisa".
A certa altura de um interrogatório, Baader aponta o lucro obtido com o terrorismo como uma de suas causas. Eis a ponte que conduz ao 11 de setembro e seus nefastos desdobramentos. Como o próprio Costa-Gavras afirmou em sua visita ao Recife, durante o último Cine PE, "numa sociedade onde não há possibilidade de mudança da forma democrática, provavelmente a única maneira de fazê-lo é pelo terrorismo".
(Diario de Pernambuco, 25/09/09)
*com acréscimos
Cinema // Roteiro da semana
O grupo de Baader Meinhof é a melhor estreia da semana.
Atenção para o som da sala Tacaruna 4, que tem apresentado irritantes falhas de áudio nas Sessões de Arte.
Anticristo permanece na Fundaj, onde fez um público de 1.500 pessoas, e no Multiplex Recife, com horários reduzidos.
Saem de cartaz (finalmente) GI Joe e A órfã, que leva o Troféu "Já vai tarde" da semana.
A programação completa está aqui.
Quando a solidariedade esbarra no capacho
Um capacho com a inscrição "Bem-vindo" é uma daquelas cenas que conseguem sintetizar um filme, no caso, a produção homônima de Philippe Lioret. O tapete repousa na entrada do apartamento de um cidadão francês convertido à paranóia persecutória a imigrantes ilegais. Um deles é Bilal (Firat Ayverdi), jovem curdo que encontra em Simon (Vincent Lindon) o apoio que precisa para atingir seu objetivo final: a Inglaterra.
No país natal, o filme de Lioret gerou controvérsia. E parece ter surtido algum efeito, pois um partido socialista propôs um projeto de lei que revoga o delito de solidariedade, cuja pena prevê multa de 30 mil euros e até cinco anos de prisão. Bem-vindo (Welcome, França, 2009) está em cartaz na Sessão de Arte do Multiplex Boa Vista (sexta às 21h e sábado às 11h), Kinoplex Casa Forte (domingo às 12h10) e Tacaruna (segunda-feira às 19h).
Imigrante atípico, Bilal não foge da guerra ou fome. Ele simplesmente quer encontrar sua amada Mina (Derya Ayverdi),que se deslocou legalmente com a família, de Bagdá para as ilhas britânicas, onde Bilal pretende chegar a nado e sobreviver como jogador de Manchester United. Professor de natação, Simon se solidariza com a história e não somente abriga Bilal na própria casa, como oferece treinamento e roupas especiais para o jovem concluir seu intento. No entanto a dupla esbarra no "delito de solidariedade", lei que incrimina franceses que ajudam ilegais, ao serem denunciados pelo vizinho da frente (o dono do capacho).
Bilal passa então a enfrentar a berlinda com outros estrangeiros marginalizados. E Simon, cujo relacionamento com Marion (Audrey Dana) está em colapso, continua a ajudar o novo amigo sem pensar nas consequências. Ele vê na relação entre os jovens imigrantes a paixão que falta em sua própria vida. Tanto que ele entrega para Bilal o anel de diamantes e safiras que Marion um dia esqueceu no sofá. Aos poucos, o anel se torna contrapartida simbólica ao tapete e as atitudes cínicas que guiam a política de imigraçãodos países ricos, que caçam estrangeiros pobres como animais.
(Diario de Pernambuco, 25/09/09)
Estreia // Pequenos invasores
Pequenos invasores (Aliens in the attic, EUA, 2009), de John Schultz, é a mais nova produção a unir crianças e aliens, combinação certeira no cinema americano desde Contatos imediatos do terceiro grau e ET - O extraterreste.
Só que aqui o tom oscila entre comédia e aventura infanto-juvenil. Ashley Tisdale, a Sharpey de High School musical, é a protagonista da história sobre uma família em férias que, após receber extraterrestres pelo telhado, precisa defender o planeta de uma invasão, com a ajuda de um alienígena bonzinho.
O filme foi escrito e produzido por Mark Burton, criador de Madagascar e Wallace e Gromit - A batalha dos vegetais.
Estreia // Pacto secreto
Pacto secreto (Sorority row, EUA, 2009) é um remake de The house of the sorority row (1983), nunca lançado no Brasil.
Ele vem na onda de filmes de terror atualizados dos anos 80, neste caso, um slasher movie, subgênero que coloca mulheres seminuas nas mãos de psicopatas assassinos como Jason e Freddie Kruger.
As mulheres da vez são as jovens Cassidy (Briana Evigan), Jessica (Leah Pipes), Claire (Jamie Chung), Ellie (Rumer Willis, filha de Demi Moore) e Megan (Audrina Patridge). Irmãs de uma fraternidade universitária, elas passam a ser perseguidas por uma figura misteriosa um ano após ocultar o cadáver de Megan, que foi morta durante uma brincadeira numa festa.
O que vem a seguir, como era de se esperar, é bastante sangue.
Estreia // Jogando com prazer
Jogando com prazer (Spread, EUA, 2009), de David Mackenzie, é um filme sobre o mundo de sexo e dinheiro que Hollywood oferece para pessoas bonitas e ambiciosas como Nikki (Ashton Kutcher). O jovem hedonista usa de seu talento com mulheres para viver com luxo em Los Angeles.
Com Samantha (Anne Heche), sua última conquista, ele ganhou tudo que sempre sonhou. Ela parte para uma viagem e confia sua mansão a Nikki, que resolve dar uma festa. Porém, ao conhecer a garçonete Heather (Margarita Levieva), a situação se inverte. Ele tenta, mas não consegue resistir à sedução da garota, que passa a dar as cartas em sua vida.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
O outro lado da rua
Foram quatro décadas até John, Paul, George e Ringo chegarem ao outro lado da Abbey Road. Ao atravessar aquela então desconhecida faixa de pedestres, o máximo que eles conseguiram enxergar era o fim da linha para os Beatles. O que, de fato, ocorreria poucos meses depois do lançamento de Abbey Road, em 25 de setembro de 1969. A data completa 40 anos na próxima sexta e, ao contrário das comemorações convencionais, geralmente restritas ao produto em si, a data foi escolhida como "gancho" para lançamentos que atualizam os Beatles para a era digital. Era o que faltava para a famosa afirmação de John Lennon encontrar confirmação nos mecanismos de busca da internet: nas últimas semanas, o verbete "Beatles" superou "Jesus Cristo" na procura dos usuários do Google.
Das novidades, a mais ousada é o Beatles Rock Band, o game que chega esta semana no mercado brasileiro. Desenvolvido pela Apple Corps, MTV Games e Electronic Arts, com apoio e consultoria de Paul McCartney, Ringo Starr, Olivia Harrison eYoko Ono (viúvas de George Harrison e John Lennon), o produto tem versões para PlayStation 3, Wii e Xbox 360. Dhani Harrison e Giles Martin, respectivamente filhos de George Harrison e do produtor George Martin, estiveram mais perto da construção do game, que traz 45 músicas do repertório clássico, custa em média R$ 250 (somente o disco), mas pode chegar a R$ 2 mil, preço da edição limitada com réplica do baixo Höfner de McCartney e uma bateria com "bumbo" da Ludwig.
O produto tem sido celebrado mídia afora como a chegada dos Beatles ao século 21. Gustavo Montenegro, que mantém o site www.thebeatles.com.br, diz que o game possibilita a novas gerações conhecer a música do quarteto de Liverpool. "Ainda mais sabendo que o formato disco é uma mídia condenada. Pode apostar que teremos uma massa enorme de jovens cantando as músicas da banda por causa do jogo".
Não bastasse, outra porta digital será aberta no mundo beatle: o longa de animação Yellow submarine, de 1968, será completamente refeito em 3D, numa parceria entre os estúdios Disney e o diretor Robert Zemeckis. Mais uma prova de que, na esteira da indústria cultural, a melhor história é a que se repete como fetiche.
Beatles completo
Para os adeptos da old school, a EMI relança mundialmente o catálogo oficial dos Beatles em CD. São treze títulos, acrescidos das coletâneas Past masters. Eles ressurgem em embalagens digipack, com encarte repleto de novas informações. Cada disco está encartado a arte original e fotos raras. No Brasil, eles podem ser comprados de forma avulsa a R$ 30, e em duas caixas importadas: uma em estéreo (por R$ 800, com doze CDs) e outra em mono (a R$ 950, com dez álbuns).
Cada disco traz um pequeno documentário com arquivos que mostram, entre outras cenas inéditas, o processo de criação dos Beatles em estúdio. Os álbuns Help! e Rubber soul, ambos de 1965, trazem as mixagens originais nunca lançadas em CD e ganharam réplicas de minivinis, adesivos e design original.
Em 1987 o acervo beatle havia sido transposto para o formato CD. O resultado gerou certa polêmica. O próprio George Harrison criticava as limitações da nova tecnologia, que deixaria um "vácuo" entre os fonogramas. "Algo realmente precisava ser feito. Os álbunsforam apenas transferidos para digital, mas na verdade nunca haviam sido remasterizados para este formato. Foram feitos às pressas e de maneira equivocada. Agora sim temos CDs à altura do que os Beatles representam", diz Gustavo Montenegro, do site www.thebeatles.com.br.
O fim encontra o começo
Cientes do fim, os Beatles prepararam uma despedida e tanto. Deixaram as rusgas afetivas e financeiras de lado e criaram Abbey road, um dos mais emblemáticos discos de rock da história. O título alude não somente à rua, atravessada no imaginário coletivo graças à fotografia de Iain Macmillan, que ilustra a capa.
É também o nome do lendário estúdio da EMI, onde o grupo já havia gravado Beatles for sale e Rubber soul. De volta para casa, sob a batuta de George Martin, eles produziram alguns clássicos a mais: Come togheter, Here comes the sun, Something, I want you, Because.
A metade final, correspondente ao antigo lado B, foi concebida como uma suíte de 20 minutos. Músicas antigas ou subestimadas foram retiradas do armário e realinhadas de forma a representar uma viagem pela história da banda. Dez anos passados a limpo, do iê-iê-iê dos tempos do Cavern Club (Pollythene Pam e The end, que contém o único solo de bateria da carreira Ringo) à psicodelia (Sun King); da elaborada doçura de McCartney (You never give your money) à ironia combativa de Lennon (Mean Mr. Mustard).
Mas é na simplicidade que beira a perfeição de Because que reside o momento sublime em Abbey road. Cantada em três vozes divergentes, dobradas duas vezes, de forma a compor um coral de nove vozes, sua estrutura consiste na execução de Sonata ao luar, de Beethoven, tocada ao contrário, num sintetizador. Inebriante, a audição evoca a contemplação que faltava para "cair a ficha" dos fãs. Eles ainda teriam pela frente o póstumo Let it be (1970), gravado um ano antes, em meio a inúmeros conflitos. Mas é em Abbey road que o fim encontra o começo e, enfim, a história da música pop pode recomeçar.
Versões brasileiras
Três álbuns acabam de ser lançados com músicas da última fase dos Beatles, interpretadas por artistas nacionais. Produzida por Marcelo Fróes, a trilogia Beatles'69 (Discobertas, R$ 34,90 cada) reúne uma turma heterogênea e traz faixas antigas e gravadas especialmente para o projeto. De Pernambuco, participam o grupo Profiterolis e o pianista Vítor Araújo.
Fróes diz que a ideia foi cobrir todo o repertório composto ou gravado pelo grupo naquele ano. O primeiro volume faz uma releitura do álbum Get back, que nunca chegou a ser lançado e um ano depois foi reformulado para Let it be. Fagner, Wanderléa, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Jota Quest e Danni Carlos participam do CD. Duas faixas são inéditas: Suzy Parker e Paul's piano intro, esta última executada por Araújo.
No segundo disco, participam Mallu Magalhães, Kleiton e Kledir, Zé Ramalho e o violeiro Sérgio Reis. "São faixas do single intermediário The ballad of John and Yoko, Old brown shoe e canções que os Beatles nem gravaram". O terceiro disco reconstitui Abbey road com quatro faixas a mais. Em duas delas, surge a voz de Elis Regina, em dueto póstumo com Milton Nascimento.
(Diario de Pernambuco, 23/09/09), com alterações
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Feira da Música inscreve até dia 8
O dia 8 de outubro é o prazo máximo para para bandas de todo o Brasil se inscreverem para a seleção da Feira Música Brasil 2009.
A segunda edição do evento acontece de 9 a 13 de dezembro, no Recife, e escalará 24 atrações para se apresentar em três palcos no Bairro do Recife.
Os grupos selecionados receberão um cachê de R$ 4 mil. O edital está disponível para download no site do evento. Além dos shows, a FMB promoverá rodadas de negócios, painéis de debate e estandes com exposições.
(Diario de Pernambuco, 22/09/09)
A segunda edição do evento acontece de 9 a 13 de dezembro, no Recife, e escalará 24 atrações para se apresentar em três palcos no Bairro do Recife.
Os grupos selecionados receberão um cachê de R$ 4 mil. O edital está disponível para download no site do evento. Além dos shows, a FMB promoverá rodadas de negócios, painéis de debate e estandes com exposições.
(Diario de Pernambuco, 22/09/09)
Werner Schunemann será Gregório Bezerra
Werner Schunemann é o ator escalado para viver o líder comunista Gregório Bezerra no longa-metragem História de um valente, de Cláudio Barroso.
Orçado em R$ 3,5 milhões, o filme contará a trajetória de Gregório entre 1957 e 1964, quando teve intensa atuação política. Preso pelos militares, foi torturado em praça pública no Recife.
O elenco conta ainda com Tuca Andrada, Carol Holanda, Magdale Alves, Hermila Guedes, Germano Haiut, Armando Babaioff e Edmilson Barros, que fará o papel de Miguel Arraes. As filmagens começam dia 30, em Fernando de Noronha.
(Diario de Pernambuco, 22/09/09)
Orçado em R$ 3,5 milhões, o filme contará a trajetória de Gregório entre 1957 e 1964, quando teve intensa atuação política. Preso pelos militares, foi torturado em praça pública no Recife.
O elenco conta ainda com Tuca Andrada, Carol Holanda, Magdale Alves, Hermila Guedes, Germano Haiut, Armando Babaioff e Edmilson Barros, que fará o papel de Miguel Arraes. As filmagens começam dia 30, em Fernando de Noronha.
(Diario de Pernambuco, 22/09/09)
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Shiko extrai sensualidade do ar
A presença marcante de pin ups no imaginário pop ganha fôlego com o trabalho de Shiko. Nos últimos anos, o artista paraibano vem criando uma coleção e tanto de mulheres fatais e de transbordante sensualidade. Tanto que a revista Zupi, especializada em design, o convidou para assinar a capa da Zupi Erotika, que será lançada nacionalmente hoje, em evento no Bar Central.
"Quentinha", define o texto de divulgação do projeto, que traz ilustrações, fotografias, quadrinhos e colagem. Até outubro, haverá festas de lançamento em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
No Recife, a festa começa às 20h, com discotecagem do DJ Ernesto. O evento também serve de mote para o Central inaugurar uma exposição com cinco telas e três quadros recentes do artista. Durante as atividades, reproduções de ilustrações de seu caderno serão vendidas em papel canson, numeradas e autografadas. A exposição segue até o final do mês de outubro e conta com a tela original da capa, que mede 1m x 1,50m. Ela faz parte da série estante, uma das mais conhecidas, ao lado da que acrescenta sensualidade à magreza da personagem de desenho animado Olivia Palito.
Autor de Blue note, um dos melhores álbuns de quadrinhos lançados em 2007, Shiko tem colecionado elogios na mídia especializada. Ele ocupa pelo menos 12 páginas da Zupi Erotika, que será vendida no local a R$ 14,90.
Parte do material é uma prévia de sua próxima HQ, intitulada A boca quente. Outra reproduz a tela Da mulher e suas circunstâncias, uma das aquarelas mais populares de seu Flickr, em que uma morena de corte channel segura uma arma enquanto urina na calçada:
Da mulher e suas circunstâncias
Em uma semana, esta é a segunda vez que Shiko vem ao Recife. Na última quarta-feira, ele grafitou um painel na inauguração de uma loja de moda esportiva no Shopping Plaza, em Casa Forte.
Serviço
Exposição de Shiko e lançamento da revista Zupi Erotika
Quando: Hoje, às 20h
Onde: Bar Central (Rua Mamede Simões, 144, Boa Vista, Fone: (81)3222-7622
sábado, 19 de setembro de 2009
Cotidiano sustentado pelo barro
A partir de hoje, a população de São Domingos, distrito do Brejo da Madre de Deus, verá Dona Eunice, uma de suas mais antigas moradoras, de uma forma diferente.
Aos 70 anos, uma das últimas "loiceiras" da cidade se tornou estrela da exposição Do pó ao barro, produzida pelo estilista Beto Normal, com recursos do edital do Funcultura. Além de jarras, panelas, tigelas e outros utilitários feitos por ela, o local conta com fotografias de Raquel Elis e um ambiente com barro para ser manipulado pelos visitantes.
A abertura será hoje, às 19h, numa casa alugada especialmente para o projeto. Contribui com o apelo lúdico o quebra-panela, antiga brincadeira que consiste em espatifar, de olhos vendados, um recipiente cheio de confeitos pendurado no teto. Os cacos farão parte da exposição. O interior da casa foi pintado de preto, com o objetivo de valorizar imagens que revelam a vida social e religiosa de Dona Eunice, que é devota de Santa Luzia. Completam o ambiente a calçada cor de cerâmica, um oratório que foi de sua avó (com quem ela aprendeu o ofício). Um rádio cenográfico à moda antiga é usado para transmitir a voz gravada da artesã.
Beto resume o resultado como uma experiência "tátil, visual e auditiva", voltada para a preservação da memória. Memória afetiva para Beto, nascido em Pão de Açúcar, distrito de Taquaritinga do Norte. E memória social do interior pernambucano, que tem passado por mudanças radicais na esteira da tecnologia. "Quando criança, me lembro de ver várias mulheres como ela na feira de Santa Cruz do Capibaribe. Há dois anos, voltei à feira e só vi Dona Eunice", conta Beto. "Antigamente, eram mais de 200 mulheres que trabalhavam nisso, só no Vale do Capibaribe".
Há várias décadas Dona Eunice sustenta sua família dando formas ao barro, ofício conhecido popularmente como "loiceira". "Ela não faz objetos de decoração. É tudo utilitário. Ela nem assina. É um trabalho que vem de uma tradição de 200 anos nessa comunidade de São Domingos", diz Beto. Assim, DonaEunice criou sete filhos, que hoje se interessam mais pela sulanca, onde trabalham com máquinas overloque. "Quando ela morrer, o ofício também vai desaparecer. Por isso, quero alunos do ensino médio e fundamental visitem a exposição e identificar o barro como algo atual".
Em São Domingos, a exposição permanece até 2 de outubro, na casa de número 286, na rua principal. Depois, ela segue para Pão de Açúcar, Lajedo e Arcoverde. Beto diz que pretende submeter a itinerância a novo edital, para percorrer mais cidades do interior que não contam com galeria de exposição.
"Talvez também a capital, mas a prioridade é circular em lugares sem aparelhos culturais que permitam esse tipo de estímulo estético. No interior tem igreja, festa de padroeira e lan house, mas não tem cinema nem teatro que ofereçam um olhar mais particular para uma compreensão da própria realidade", defende Beto, que espera contribuir para ressignificar a figura da loiceira. Quem sabe agora, vendo a avó retratada de outra maneira, os herdeiros olhem de forma diferente essa figura que todo mundo conhece, mas nem sempre valoriza.
(Diario de Pernambuco, 19/09/09)
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Beirut no Recife
Será daqui a pouco, no Coquetel Molotov.
Beirut ou Beirute?
A capital do Líbano perdeu para o projeto musical de Zach Condon. Basta um Google e verás.
Condon, por sinal, nunca foi a Beirute. Teria assim batizado a banda pelo exotismo que a palavra empresta ao projeto.
Este será o último show no Brasil. Após três semanas, o que ele leva consigo (além das doses de caipirinha)?
A música brasileira se tornará mais uma fonte de criação, assim como a cultura francesa, mexicana e das Balcãs?
Fassbinder no Cineclube Dissenso
Precauções diante de uma prostituta santa (Warnung vor einer Heiligen Nutte, Alemanha, 1971), obra rara do diretor Rainer Werner Fassbinder (Lola, Lili Marlene, O casamento de Maria Braun), será exibida neste sábado, às 14h, no Cineclube Dissenso.
O filme faz parte da primeira fase do controverso cineasta, feitos com forte apelo teatral. Os protagonistas fazem parte de uma equipe de filmagem isolada em um hotel espanhol. Enquanto aguardam a chegada do material - e do próprio diretor, atores, atrizes e técnicos enfrentam situações marcadas pela disputa pelo poder, paixão, desespero e solidão. Após a sessão, acontecerá debate aberto ao público. A entrada é franca.
Recife // Filmes do fim de semana
Anticristo e...
precisa dizer mais??????
Dois filmes díspares estreiam hoje nos cinemas do Recife.
Anticristo, de Lars Von Trier, em cartaz no Cinema da Fundação (Derby) e Multiplex Recife (Boa Viagem). Recomendo pra quem tem estômago e disposição cinéfila. Resenha no post abaixo.
A verdade nua e crua, de Robert Luketic e Gerard Butler e Katherine Heigl no elenco é a baba engracadinha e "romântica" da vez.
Na Sessão de Arte do UCI Ribeiro, entra no circuito o longa francês Bem-vindo.
A programação completa está aqui.
Estreia // "Anticristo": Lars Von Trier em requintes de crueldade
Sexo explícito, tortura e mutilação genital. Esta seria uma síntese fria e direta para descrever as cenas mais chocantes de Anticristo (Antichrist, Dinamarca, 2009), a nova obra de Lars Von Trier.
Em termos de gênero cinematográfico, trata-se de um filme de horror, daqueles que exploram o que há de estranho e imprevisível no comportamento humano. A carne está lá, profanada, mas não como nas produções caça-níqueis do cinema comercial. Pois aqui, nada é gratuito. Teologia, misoginia e psicologia formam a base pela qual os conceitos do filme se desdobram.
Anticristo chega ao Recife com certo atraso (a estreia nacional foi em agosto), em duas salas: o Cinema da Fundação e o Multiplex Recife. A presença deste filme radical no cardápio do shopping é no mínimo curiosa e merecedora de uma placa na porta de entrada: proibido pipoca neste local, algo como "deixai toda esperança, ó vós que entrais". É preciso estômago para enfrentar os 104 minutos de projeção.
Apesar de há tempos ter abandonado o Dogma, doutrina audiovisual que nos anos 90 projetou Trier e seus colegas dinamarqueses para o mundo, Anticristo guarda vários pontos em comum com o cinema esquemático que o diretor vem praticando neste milênio. A estrutura em capítulos é um deles. Aqui são quatro, mais um prólogo e epílogo em preto e branco, uma homenagem ao cineasta russo Andrei Tarkovisky.
Arquetípicos, os protagonistas não são chamados pelo nome em momento algum, sendo descritos nos créditos apenas como "Ele" (Willem Dafoe) e "Ela" (Charlotte Gainsbourg). O cenário principal é o Éden, uma floresta nórdica úmida e escura, é um elemento vivo, que aos poucos assume a função de externar o estado de espírito da mulher. Seus habitantes, um cervo, uma raposa e um corvo, são chamados pela mulher de "os três mendigos", e representam "a dor", "o luto" e "o desespero", lugares por onde os personagens passam gradativamente, entre sentimentos de culpa e desejo sexual.
Inicialmente, o sofrimento surge após uma perda irreparável e é combatido com remédios. Convicto de que as pílulas a impedem de encarar a dor e assim superá-la, o marido (ele é psicanalista) se empenha em curar a esposa. Sua postura arrogante e superior travestida de benevolência remete a Dogville, onde outro personagem masculino e "bem intencionado" vira alvo do revide feminino. Só que, em Anticristo, o nível de crueldade é maior do que as possibilidades de uma metralhadora em punho. Principalmente quando é aberta a caixa de ferramentas.
Muita gente pode não gostar do que vem na sequência. No entanto, o mesmo choque que convida a levantar da cadeira e dar as costas pode ser a oportunidade de se entregar a uma narrativa que instiga reflexões sobre lugares obscuros da natureza humana. E isso inclui um dos atos sexuais mais mórbidos da história do cinema.
Como de praxe na filmografia de Trier, cada elemento visual e sonoro, cada centímetro da tela se submete a uma obsessão manipulatória incomum e doentia. É difícil saber que espíritos o assombram, mas é certo que sãotenebrosos e estão longe de ser exorcizados.
(Diario de Pernambuco, 18/09/09)
"Bem-vindo", de Philippe Lioret, na Sessão de Arte do Plaza Casa Forte
Bem-vindo (Welcome, França, 2009), de Philippe Lioret, entra em cartaz neste domingo, às 12h10, na Sessão de Arte do complexo UCI Plaza Casa Forte.
Quando lançado na França, em março deste ano, o filme gerou polêmica por mostrar a história de Simon (Vincent Lindon), um professor que ajuda Bilal (Fyrat Ayverdi), um jovem iraquiano, a atravessar o Canal da Mancha, rumo à Inglaterra. Ele pretende ser jogador de futebol e encontrar a namorada, que sofre na mão do pai conservador. Na França, a punição para quem abriga imigrantes ilegais é severa, e Simon sente isso na pele.
Inspirado pelo filme, o partido socialista francês criou um projeto de lei chamado Welcome, que revoga os artigos chamados "delitos de solidariedade".
Filmes circulam pelo interior pernambucano
A produção pernambucana é destaque na programação do Cine Sesi Cultural 2009, que tem início neste neste fim de semana, a partir das 18h30, no município de Araripina.
A principal atração é a premiada animação 3D Até o sol raiá, de Fernando Jorge e Leandro Amorim.
Até dezembro, o projeto passará por Salgueiro, Cabrobró, Floresta, Serra Talhada, Afogados da Ingazeira, Bom Conselho, Lajedo, Belo Jardim, Toritama, Timbaúba, Nazaré da Mata, Palmares e Rio Formoso.
Outros filmes programados são História do umbigo e Vida de Maria, Tapete vermelho, Se eu fosse você 2 e A era do gelo 3.
Também serão exibidos curtas produzidos por alunos das oficinas de stop motion que serão ministradas ao longo do evento. A entrada é franca.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Zupi Erotika traz arte de Shiko
Que tal?
Capa da revista Zupi Erotika, com arte de Shiko, artista paraibano da melhor categoria, especialista em desenhar pin ups. É dele a famosa série Olívia Palito seminua no balcão de bar.
O lançamento no Recife será segunda, 21 de setembro, a partir das 20h, no Bar Central (Rua Mamede Simões, Boa Vista).
Mais uma, só pra dar água na boca.
Cinema // Realizadores se encontram no Rio
Cena de Balsa, de Marcelo Pedroso
Três novos filmes de realizadores pernambucanos serão exibidos no Rio de Janeiro durante a primeira Semana dos Realizadores, sediada no Espaço Unibanco Arteplex Botafogo. Criado nos moldes da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, o evento antecipa o Festival do Rio 2009, que começa na próxima quinta-feira. Dezenove longas, médias e curta-metragens de sete estados brasileiros foram selecionados para a Semana, entre eles Balsa, de Marcelo Pedroso, Um lugar ao sol, de Gabriel Mascaro, e Não me deixe em casa, de Daniel Aragão. Os filmes de Mascaro e Pedroso são inéditos. O de Aragão estreou no último Festival de Gramado.
Em manifesto publicado na internet, os fundadores da Semana dos Realizadores afirmam não ter a intenção de abranger a cada vez maior produção de filmes brasileiros, mas sim, oferecer um segundo olhar, "alternativo e complementar ao que o Festival do Rio apresenta". Assinam a carta os cineastas Eduardo Valente, Felipe Bragança, Gustavo Spolidoro, Helvécio Marins Jr., Kléber Mendonça Filho, Lis Kogan e Marina Meliande.
A mostra também exibirá os filmes Sagrado segredo (DF), de André Luiz Oliveira, Passos no silêncio (CE), de Guto Parente, Tudo isso me parece um sonho (RJ), de Geraldo Sarno, Mangue negro (ES), de Rodrigo Aragão, Bloco D (SP), de Vinicius Casimiro, Quarto de espera (RS), de Bruno Carboni e Davi Pretto, Notas flanantes (MG), de Clarissa Campolina, Acácio (MG), de Marília Rocha, O menino japonês (SP), de Caetano Gotardo, A casa de Sandro (RJ), de Gustavo Beck, Pastoreio (PR), de Alexandre R. Garcia, A fuga da Mulher-gorila (RJ), de Felipe Bragança e Marina Meliande, As sombras (SP), de Marco Dutra e Juliana Rojas, Morro do Céu (RS), de Gustavo Spolidoro, Sweet Karolynne (PB), de Anna Bárbara Ramos e No meu lugar (RJ), de Eduardo Valente.
Janela Internacional de Cinema divulga programação de curtas
A Janela Internacional de Cinema divulgou parte da programação da sua segunda edição. O festival - que ocorre de 16 a 24 de outubro no Cinema da Fundação e no Cinema Apolo - anunciou os curtas-metragens em competição. De um total 648 filmes inscritos, foram selecionados 72 curtas, sendo 35 exibidos na mostra nacional e outros 37 na internacional. Juntos, eles representam a produção de cinematográfica de 19 países.
"Não pretendemos fazer um panorama. Primeiro descobrimos o filme para depois saber de onde ele é", explica o crítico de cinema Kleber Mendonça Filho, que dividiu a curadoria com a produtora Emilie Lesclaux, e os jornalistas Fernando Vasconcelos (Kinemail), Luiz Otávio Pereira e Rodrigo Almeida (Cineclube Dissenso). "O importante é que são filmes que não foram pré-selecionados pelo mercado", completa Kleber.
Do Brasil, entraram produções de oito estados - Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Bahiae São Paulo, que liderou com 17 curtas selecionados. "Fazendo a seleção, percebemos valor nos pequenos filmes feitos de forma artesanal. Tenho certeza de que o curta-metragem é o melhor do atual cinema brasileiro e os festivais sempre exibem os mesmos filmes", analisa Kleber.
Embora 57 curtas pernambucanos tenham sido inscritos, apenas três entraram na competição brasileira - Nº 27 de Marcelo Lordello, Sentinela de Cristiano Lenhardt e Superbarroco de Renata Pinheiro. Outros oito serão exibidos na mostra Janela Pernambucana, incluindo as estreias de Tchau e benção, novo filme de Daniel Bandeira, Sessão especial - O ébrio, de Hugo Carneiro Coutinho e Confessionário, de Leo Sette. A programação completa está no site do evento. As inscrições para o Janela Crítica, que seleciona sete jovens para debater e trocar ideias em torno da crítica cinematográfica, estão abertas até 20 de setembro, pelo email janelacritica@janeladecinema.com.br .
(Diario de Pernambuco, 16/09/09)
"Não pretendemos fazer um panorama. Primeiro descobrimos o filme para depois saber de onde ele é", explica o crítico de cinema Kleber Mendonça Filho, que dividiu a curadoria com a produtora Emilie Lesclaux, e os jornalistas Fernando Vasconcelos (Kinemail), Luiz Otávio Pereira e Rodrigo Almeida (Cineclube Dissenso). "O importante é que são filmes que não foram pré-selecionados pelo mercado", completa Kleber.
Do Brasil, entraram produções de oito estados - Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Bahiae São Paulo, que liderou com 17 curtas selecionados. "Fazendo a seleção, percebemos valor nos pequenos filmes feitos de forma artesanal. Tenho certeza de que o curta-metragem é o melhor do atual cinema brasileiro e os festivais sempre exibem os mesmos filmes", analisa Kleber.
Embora 57 curtas pernambucanos tenham sido inscritos, apenas três entraram na competição brasileira - Nº 27 de Marcelo Lordello, Sentinela de Cristiano Lenhardt e Superbarroco de Renata Pinheiro. Outros oito serão exibidos na mostra Janela Pernambucana, incluindo as estreias de Tchau e benção, novo filme de Daniel Bandeira, Sessão especial - O ébrio, de Hugo Carneiro Coutinho e Confessionário, de Leo Sette. A programação completa está no site do evento. As inscrições para o Janela Crítica, que seleciona sete jovens para debater e trocar ideias em torno da crítica cinematográfica, estão abertas até 20 de setembro, pelo email janelacritica@janeladecinema.com.br .
(Diario de Pernambuco, 16/09/09)
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Cultura na cesta básica
Enquanto o projeto de lei que cria o Vale-Cultura tramita na Câmara dos Deputados, audiências públicas são realizadas para apresentar, debater e tirar dúvidas sobre seu funcionamento. A primeira aconteceu no Recife, na tarde de segunda-feira, na sede do Sindicato dos Bancários (Boa Vista), com a presença dos secretários do Ministério da Cultura Roberto Nascimento, de Fomento e Incentivo à Cultura e Silvana Meireles, de Articulação Institucional. O encontro foi promovido pelo deputado federal Paulo Rubem Santiago (PDT), um dos relatores do projeto, que deve estar efetivado ainda neste ano.
Cerca de 80 pessoas participaram do encontro. As dúvidas giraram em torno de quem terá direito ao Vale-Cultura, quais produtos e serviços estarão disponíveis aos usuários e de que forma o sistema funcionará.
O Vale-Cultura é a primeira política pública federal voltada para o consumo de bens culturais. Ele funcionará nos mesmos moldes do vale-transporte e vale-alimentação, em que créditos mensais de até R$ 50 serão depositados pelas empresas em cartões eletrônicos dos trabalhadores formais. O beneficiado poderá gastar seu crédito da forma que quiser, em empresas credenciadas. Paulo Rubem defende o Vale-Cultura como um benefício que "visa sanar a disparidade histórica do acesso à cultura no Brasil", que hoje conta com cerca de 40 milhões de trabalhadores formais. Inicialmente, 12 milhões serão beneficiados com o acesso a eventos como teatro, shows e cinema e produtos como CDs e DVDs.
De acordo com Nascimento, o Vale-Cultura funcionará através da renúncia fiscal. "A empresa pode descontar até 1% do imposto de renda. Mais do que isso, será por conta dela. Isso gera um benefício para a própria empresa, pois capacita a mão de obra com senso crítico. O resultado é uma empresa mais competitiva". Para obter o crédito, o trabalhador também precisa pagar. Quem recebe menos de cinco salários, terá 10% do total descontado na folha de pagamento. Os que recebem mais, o valor pode oscilar entre20% e 90%. O Vale-Cultura custará R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos. "Não se trata de doação. Se houver adesão total, teremos R$ 7,2 bilhões injetados na economia da cultura. Isso aumenta a arrecadação, gera empregos. É um investimento que dinamiza o mercado cultural", diz Nascimento.
O que pode ser comprado com o Vale-Cultura foi outra questão do encontro. Enquanto o projeto estava aberto para emendas, foi proposto a inclusão de eventos esportivos na cesta de produtos disponíveis. Afinal, esporte, moda e gastronomia podem ser considerados cultura. Para Paulo Rubem, essa possibilidade pode ser perigosa. "Vivemos sob a influência de uma indústria onde produtos são ditados por programas dominicais na TV. Precisamos incentivar a circulação de produtos que não tem tanta entrada nesse esquema". Silvana Meirelles, por sua vez, defende o livre arbítrio. "Não dá para dirigir o consumo. Mas é possível criar ambientes para ampliar esse cardápio, multiplicando o número de bibliotecas, renovando acervos, transformandoequipamentos culturais em local de encontro e fruição cultural. Esse é um processo lento, que dá oportunidade a cada um construir seu repertório".
(Diario de Pernambuco, 16/09/09)
Cerca de 80 pessoas participaram do encontro. As dúvidas giraram em torno de quem terá direito ao Vale-Cultura, quais produtos e serviços estarão disponíveis aos usuários e de que forma o sistema funcionará.
O Vale-Cultura é a primeira política pública federal voltada para o consumo de bens culturais. Ele funcionará nos mesmos moldes do vale-transporte e vale-alimentação, em que créditos mensais de até R$ 50 serão depositados pelas empresas em cartões eletrônicos dos trabalhadores formais. O beneficiado poderá gastar seu crédito da forma que quiser, em empresas credenciadas. Paulo Rubem defende o Vale-Cultura como um benefício que "visa sanar a disparidade histórica do acesso à cultura no Brasil", que hoje conta com cerca de 40 milhões de trabalhadores formais. Inicialmente, 12 milhões serão beneficiados com o acesso a eventos como teatro, shows e cinema e produtos como CDs e DVDs.
De acordo com Nascimento, o Vale-Cultura funcionará através da renúncia fiscal. "A empresa pode descontar até 1% do imposto de renda. Mais do que isso, será por conta dela. Isso gera um benefício para a própria empresa, pois capacita a mão de obra com senso crítico. O resultado é uma empresa mais competitiva". Para obter o crédito, o trabalhador também precisa pagar. Quem recebe menos de cinco salários, terá 10% do total descontado na folha de pagamento. Os que recebem mais, o valor pode oscilar entre20% e 90%. O Vale-Cultura custará R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos. "Não se trata de doação. Se houver adesão total, teremos R$ 7,2 bilhões injetados na economia da cultura. Isso aumenta a arrecadação, gera empregos. É um investimento que dinamiza o mercado cultural", diz Nascimento.
O que pode ser comprado com o Vale-Cultura foi outra questão do encontro. Enquanto o projeto estava aberto para emendas, foi proposto a inclusão de eventos esportivos na cesta de produtos disponíveis. Afinal, esporte, moda e gastronomia podem ser considerados cultura. Para Paulo Rubem, essa possibilidade pode ser perigosa. "Vivemos sob a influência de uma indústria onde produtos são ditados por programas dominicais na TV. Precisamos incentivar a circulação de produtos que não tem tanta entrada nesse esquema". Silvana Meirelles, por sua vez, defende o livre arbítrio. "Não dá para dirigir o consumo. Mas é possível criar ambientes para ampliar esse cardápio, multiplicando o número de bibliotecas, renovando acervos, transformandoequipamentos culturais em local de encontro e fruição cultural. Esse é um processo lento, que dá oportunidade a cada um construir seu repertório".
(Diario de Pernambuco, 16/09/09)
Embriagado de Blues
O guitarrista John Primer, de Chicago, se apresenta hoje, às 22h, no festival Oi Blues by Night. Ele é a principal atração do evento, que ainda conta com a abertura do grupo de jazz norte-americano Rodney Block & The Real Music Lovers, originária do Arkansas. Não é a primeira vez que um representante da cena de Chicago se apresenta no Recife. Especialmente nesta edição do Oi Blues, que em agosto trouxe Willie Big Eyes Smith e em novembro encerra as atividades com a dupla Billy Branch (gaita) e Carlos Johnson (guitarra).
Primer chega ao Recife após uma série de shows na Argentina, São Paulo e Minas Gerais. Daqui, ele segue para Natal e Fortaleza, dentro da itinerância do Oi Blues. Ele se apresenta com banda formada pelo argentino Adrian Flores (que produz a turnê sul-americana), do gaitista mineiro Luciano Boca e de músicos Uptown Band, que comemora 12 anos de existência. Aos 64 anos, este negro de sotaque carregado esculpido na região do Mississippi pode ser considerado um “filho” de Muddy Waters (1915 - 1983), com o qual tocou em sua banda, no fim da carreira.
Assim como outros bluseiros de Chicago, Primer não necessariamente canta as dores do abandono feminino e outras tragédias. Dentro em pouco, quando ele plugar sua Gibson Epiphone no amplificador, ele estará pronto para tocar o que ele define como “the real blues”. “Dizem que o blues vem do delta, dos escravos, mas não é verdade. O blues vem de todos os lugares. Não somente os negros, mas todos podem tocar o blues”, diz Primer, ao Diario.
John Primer nasceu em Camden, Mississipi. Começou a tocar guitarra aos oito anos de idade, observando parentes e pessoas que visitavam a casa de seu avô. O estilo era algo aproximado a John Lee Hooker. “Old stuff”, define o músico, que é filho único (sua irmã mais morreu ainda criança e seu pai morreu quando tinha seis anos) e aos 18 anos seguiu com a mãe para Chicago, onde vive desde 1963. Primer foi à meca do blues elétrico não para tocar e seguir carreira artística, mas sim para arrumar um emprego e pagar as contas. Trabalhou em hospital, lavador de carros, operário. “Havia muitos bluesman em Chicago, como Junior Wells e Howling Wolf, mas eu não os conhecia”.
O trabalho duro não o impediu de, em 1964, fundar a própria banda, o The Maintainers. Deixou o grupo logo após receber convite para liderar o grupo de rithm’n’blues The Brotherhood. Nos anos 70, teve oportunidade de tocar com Sammy Lawhorn, Junior Wells, Buddy Guy, Smokey Smothers e Lonnie Brooks, até que, em 1979, o baixista Willie Dixon o convocou para participar do The Chicago All Stars. Um ano depois, ele trocou o posto por um convite irrecusável: integrar a banda de Muddy Waters, que retomava sua carreira sob produção dos Rolling Stones.
“Quando tinha 14 anos, no Mississipi, sonhei que um dia tocaria com Muddy. Em 1980, o sonho se realizou”, conta Primer, que se manteve fiel ao mestre até sua morte, três anos depois.
Durante ensaio, realizado no Estúdio Toca na última segunda-feira à noite, Primer tocou diferentes estilos de Chicago, aquele em que a guitarra solo conversa com a gaita, a guitarra base cria o ambiente e o contrabaixo e bateria fazem uma “cozinha” pesada e visceral. “Quando eu toco, pessoas pensam que estou bêbado. Mas quando pego a guitarra, é o jeito que eu me sinto. Se eu tomo um copo de uísque, é um desastre”.
Sua voz tem timbre aveludado, algo próximo ao estilo Muddy Waters. “Minha mãe disse que quando nasci, eu não chorava, mas sim, fazia o ‘humming’ (tipo de canto com os lábios fechados e sem articular as palavras)”. Enquanto canta, ele brinca com ruídos, dá risadas e faz caretas que lembram Screamin’ Jay Hawkins. “Gosto do tipo de música que as pessoas podem rir. Quero manter as pessoas felizes a noite toda. Eu conto histórias, boas ou ruins, para deixar as pessoas alegres”. Era o recado que faltava para sair voando ao som do “real blues”.
Serviço
Oi Blues by Night
Quando: Hoje, às 22h
Onde: Spirit Music Hall, Rua Futuro, 821 - Graças, zona norte do Recife
Quanto: R$25 e R$20 (mulher)
Informações: 3241-9446
(Diario de Pernambuco, 16/09/09)
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
"Lebanon", de Samuel Maoz, leva Leão de Ouro em Veneza
Cena de Lebanon, de Samuel Maoz
Desde a I Guerra Mundial, a cada conflito armado do qual os EUA participam, Hollywood corre atrás e lança bom número de produções.
Raras exceções, são filmes-propaganda. A indústria cultural participou ativamente da Segunda Grande Guerra? Mickey Mouse nos acuda. Goebbles vem aí.
Desde 2001, quantos filmes - A, B ou Z - foram feitos no bojo da "guerra contra o terror"? Destes, poucos se arriscam a pensar qual o verdadeiro papel das supostas vítimas (os ricos) na geopolítica dos homens-bomba (os pobres).
Após massacrar o Líbano ao longo das últimas décadas, Israel entrou na jogada e resolveu fazer filmes sobre o assunto.
Segurem seus turbantes.
O melhor filme do 66º Festival de Veneza, Líbano, de Samuel Maoz, mostra a incursão de um tanque israelense no território árabe, do ponto de vista do ... tanque. Ex-soldado, Maoz se baseou na própria experiência para realizar seu primeiro longa.
Parece que Israel encontrou no massacre (de palestinos) a seu redor um filão cinematográfico. Ano passado, Valsa com Bashir gerou comoção em Cannes e foi indicado a Oscar de melhor filme estrangeiro. As produções trazem em comum o tema (a Guerra do Líbano de 1982) e o fato de serem dirigidas por ex-soldados assombrados pela experiência.
Em Veneza, a premiação de Lebanon foi questionada por uma jornalista libanesa. Para ela, o filme poderia mostrar outros pontos de vista. Mas será que um filme árabe chegaria a tanto?
Música é cinema no Coquetel Molotov
Não é preciso esperar até sexta-feira para começar a curtir o festival No Ar Coquetel Molotov, que este ano inaugura nova etapa com shows principais no Centro de Convenções.
Na verdade, a programação começa hoje, em diferentes endereços. O Nascedouro de Peixinhos será o centro de quatro oficinas para músicos, produtores e designers. Na Torre Malakoff, haverá workshops (ficha de inscrição no site www.coquetelmolotov.com.br. Já o Cinema Apolo (Recife Antigo) abriga debates, pocket-shows e a mostra de cinema Play The Movie. Todas as atividades são gratuitas.
Esta é a terceira edição do Play The Movie, que este ano traz nove filmes. Metade da mostra foi criada em parceria com integrantes do site de compartilhamento Som Barato, que garimpou documentários instigantes e pouco conhecidos. Como o nome já diz, a Sessão Première de Documentários Nacionais faz justiça com filmes sobre personalidades musicais lançados este ano, mas que ainda não foram exibidos na cidade.
Jards Macalé: um morcego na porta principal (hoje, às 18h30) e Loki - Arnaldo Baptista (amanhã, no mesmo horário) são dois hits do último Festival do Rio, onde, respectivamente, levaram o prêmio especial do júri e melhor documentário pelo júri popular.
Todos os dias, haverá debates entre as sessões. Hoje, às 17h30, José Teles e Marco Polo falam sobre os 35 anos da banda Ave Sangria e a repercussão do movimento Udigrudi. Amanhã, no mesmo horário, Marcos Leite e Ricardo Brazileiro debatem música computadorizada e novas possibilidades sonoras. Na quarta, também às 17h30, Tomaz Alves e Yuri Queiroga tratam de produção e composição de trilhas. E na quinta, às 15h, DJ Dolores e William Paiva conversam sobre música eletrônica tocada ao vivo.
Após as duas sessões, às 20h30, haverá pocket-shows com as bandas Dunas do Barato (hoje), a paulista Tigre Dente de Sabre (amanhã), A Banda de Joseph Tourton (quarta) e a cearense O Garfo (quinta).
Play the movie - Programação
Hoje - 14/09
16h - Sessão Som Barato
Novos Baianos FC (Brasil, 1973), de Solano Ribeiro - Documentário sobre os Novos Baianos em seu auge, logo após o reconhecimento nacional com o álbum Acabou chorare. Novos Baianos F.C. é o terceiro álbum, considerado por muitos como o melhor. O filme mostra momentos do grupo no "Sítio do Vovô", onde viviam em Jacarepaguá, divididos entre música e futebol.
Ave Sangria - sons de gaitas, violões e pés (Brasil, 2008), de Raynaia Uchoa, Rebeca Venice e Thiago Barros - Durante os anos 70, o Ave Sangria chocou com canções poéticas e libertárias, misturando ritmos regionais com o rock pesado. Entrevistas e imagens de arquivo contam a história desde a origem, quando o grupo se chamava Tamarineira Village, aos ecos dos dias atuais.
18h30 - Première - Documentários Nacionais
Jards Macalé: um morcego na porta principal (Brasil, 2008), de Marco Abujamra - Uma luz sobre a trajetória nada linear de Jards Macalé, artista contestador e personagem controverso na cultura e na música brasileira. Autor de Vapor barato, principal parceiro de Waly Salomão, arranjador de Gal Costa e Caetano Veloso, amigo de Lygia Clark e Hélio Oiticica. O "maldito" que sonha em ver a palavra amor na bandeira do Brasil.
Amanhã
16h - Sessão Som Barato
Rockers (Jamaica, 1978), de Ted Bafaloukos - Gregory Isaacs, Burning Spear e outros ícones do reggae jamaicano estrelam esta produção que conta em formato de ficção musical a história de um rapaz pobre que está tentando abrir um novo negócio distribuindo discos com uma moto. Em cada cena, um retrato socio-cultural da Jamaica dos anos 70.
18h30 - Première - Documentários Nacionais
Loki (Brasil, 2008), de Paulo Fontenelle - A cinebiografia de Arnaldo Baptista, fundador dos Mutantes, tem sua narrativa costurada por depoimentos emocionantes do artista, enquanto o próprio pinta um quadro emblemático. Embalado por músicas que marcaram época, o filme revela a trajetória de um dos maiores nomes do rock brasileiro.
Quarta-feira
16h - Sessão Som Barato
Christmas on Mars (EUA, 2008), de Wayne Coyne - Ficção científica musical criada pela banda Flaming Lips, que atua, produz e é responsável pela trilha sonora. A história se passa no Natal, durante a colonização de Marte. Quando um gerador de oxigênio e um controle gravitacional apresentam defeito, o comandante tem alucinações sobre o nascimento de um bebê, enquanto um alienígena ajuda os astronautas isolados.
18h30 - Première - Documentários Nacionais
Ruído das Minas: a origem do heavy metal em Belo Horizonte (Brasil, 2009), de Filipe Sartoreto - O heavy metal mineiro se tornou um dos mais representativos do Brasil. Belo Horizonte deu origem a bandas como Overdose, Sarcófago e Sepultura, uma das maiores do mundo. O filme apresenta a história contada por quem viveu os primórdios do heavy metal na capital mineira.
Quinta - 17/09
16h - Sessão Som Barato
Electroma's Daft Punk (França, 2006), de Guy Manuel de Homem Christo e Thomas Bangalter - Musical psicodélico acompanha dois robôs em sua busca para se tornarem humanos. É um roadmovie cibernético num planeta desolado. A produção não tem diálogos e é permeada por música do começo ao fim, não do grupo Daft Punk, mas por composições de Brian Eno, Sebastien Tellier, Curtis Mayfield, Haydn e Chopin.
18h30 - Première - Documentários Nacionais
Guidable: a verdadeira história do Ratos de Porão (Brasil, 2009), de Fernando Rick e Marcelo Appezzato - Quase três décadas com a história sem censura de uma das mais antigas e importantes do cenário hardcore. O termo Guidable foi inventado pelos integrantes da banda como forma de expressarem bagunça, confusão ou simplesmente um xingamento.
(Diario de Pernambuco, 14/09/09)
domingo, 13 de setembro de 2009
Milton Nascimento e Lô Borges como antigamente
Nada daquela banda obscura de um país distante. Nem adolescentes hypados pela mídia ou descobertos pela internet. A atração mais inusitada do Festival No Ar: Coquetel Molotov 2009 é velha conhecida dos brasileiros.
Milton Nascimento e Lô Borges encerram a programação do evento, no próximo sábado, no Teatro Guararapes. Eles vêm à cidade com um projeto que revisita as canções do Clube da Esquina, projeto dos anos 70 que rendeu dois álbuns antológicos e cujos desdobramentos mal poderiam os criadores imaginar.
É de supor que o Coquetel Molotov, até pouco tempo rotulado como evento indie, ao convidar ícones da MPB e migrando para o Centro de Convenções, queira diversificar seu público e com isso consolidar uma imagem mais madura. Outro viés é a admiração que o Clube da Esquina, projeto surgido na adversidade política da ditadura, desperta nos jovens ligados à nova música independente. Em qualquer caso, é para celebrar que Milton e Lô, que quase nunca se encontram, voltem a pisar no mesmo palco.
Lô Borges convida Milton Nascimento traz 20 canções novas e antigas e foi apresentado somente em São Paulo, no início do ano. O show funciona assim: na primeira metade, Lô canta, acompanhado por sua banda, músicas próprias, do início de carreira, e dos três últimos álbuns (inclusive Harmonia, que lança em outubro). Quando Milton entra em cena (com dois de seus músicos), é hora de canções como Trem azul, Girassol, Nada será como antes, Cais e Para Lennon e McCartney. Entre uma e outra, há intervalos de prosa entre compadres. Algumas terão arranjos diferentes dos originais.
"A divisão maior era entre eu e ele. E Lô é o que eu sempre gostei mais", diz Milton, em entrevista ao Diario. "Reviver isso agora é algo muito feliz. É algo forte porque nossa amizade musical nunca diminuiu, mas quando chegamos no palco foi forte. Tenho certeza que o show do Recife será especial".
"O normal seria Milton convida Lô Borges, pois sei bem distinguir o meu tamanho e o dele", diz Borges, por telefone. Ele explica que o conceito do show foi ideia do Museu Clube da Esquina, instituição virtual dedicada a recuperar a memória do projeto. "Fiquei muito satisfeito, pois Milton é meu padrinho musical, foi o primeiro a gravar minhas músicas. Ele já era um artista conhecido, quando me encontrou nas ruas de Santa Tereza, em Belo Horizonte e convenceu a gravadora a lançar um disco com um desconhecido. Ali começou minha carreira, eu tinha 17 anos".
Dependendo dos convites, os shows podem continuar. No entanto, a possibilidade de um terceiro volume do projeto está descartada. "O Clube da Esquina 3 já existe e se chama Angelus (álbum de Milton lançado em 1993). Ele começou em uma fazenda em Minas Gerais chamada Esmeraldas. Armamos um estúdio no curral, onde no fim da tarde precisava parar a gravação para tirar leite da vaca. E ele foi acabar em Nova York, com vários músicos brasileiros e americanos do jazz e pop, entre eles Peter Gabriel", diz Milton.
Ele diz que o Clube da Esquina repercute até hoje e isso tem rendido visibilidade não só para ele, mas para músicos como Toninho Horta, Flávio Venturini e Beto Guedes. "Foi algo muito feliz, abriu caminho, inclusive lá fora. Há 5 anos, graças à remasterização feita por João Marcelo Bôscoli, outros países descobriram o Clube da Esquina. Mas ele não era um clube, como as pessoas de fora pensam. Até hoje tem gente que vem para Minas e pergunta onde fica o Clube da Esquina".
Serviço
Show Lô Borges convida Milton Nascimento
Onde: Teatro Gurarapes (Centro de Convenções)
Quando: Sábado, dia 19, a partir das 20h (o show encerra a programação do sábado)
Quanto: R$ 40 ou R$ 20 (meia-entrada), à venda nas lojas Chili Beans (Shopping Tacaruna, Plaza Casa Forte e Shopping Recife) e na loja 3 Meninas (Paço Alfândega)
(Diario de Pernambuco, 13/09/09)
sábado, 12 de setembro de 2009
Cinema // A garota de Mônaco, de Anne Fontaine
Não é a Belle de Jour
A certa altura da produção francesa A garota de Mônaco (La fille de Monaco, 2008), de Anne Fontaine, tudo leva a crer que o mundo frívolo e superficial das celebridades sairá triunfante.
É algo como se tais valores estivessem tão incrustados na vida moderna, que seus personagens podem resistir, mas nunca escapar do jogo de sedução e poder a que são expostos. Desde ontem, o filme está em cartaz no Cine Rosa e Silva (veja roteiro).
O protagonista é Bertrand (Fabrice Luchini) é um advogado de meia-idade, beneficiado pela evidência midiática graças à especialidade em resolver casos difíceis. Ele passa temporada em Mônaco, pois acaba de assumir a defesa da endinheirada senhora Lassalle, que assassinou o amante russo. Para protegê-lo da família da vítima, o filho contrata um segurança, o eficiente e leal Christophe (Roschdy Zem).
Numa entrevista para a TV local, ele conhece a "garota do tempo" Audrey (Louise Bourgoin), uma pin-up de trajes sumários e comportamento vulgar que vê em Bertrand o atalho que a levará a Paris - e à fama. Emocionalmente confuso, ele procura sentido na situação, mesmo após conhecer o quarto da garota, com papel de parede rosa e uma foto da Princesa Diana na parede.
Incapaz de conter qualquer metafísica, Audrey pretende conquistar a presa ao propor um reality show sobre advogados onde ele seria o primeiro de uma série. Mesmo sob dúvidas, Bertrand aceita. Com o casal apaixonado, cabe a Christophe alçar sua função protetora a níveis inesperados.
O problema é que tudo se resolve de forma abrupta.
O julgamento, único motivador da situação, praticamente desaparece em importância ao longo do filme. E a amizade entre Bertrand e Christophe, desenvolvida de forma interessante, resulta em consequências possíveis, mas improváveis.
(Diario de Pernambuco, 12/09/09)
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Quem quer comprar bananas?
Arte, alegria e bananas. Esse é o mote da exposição criada pelo grafiteiro Galo de Souza, intitulada O vendedor de bananas. Referência direta à música homônima cantada por Jorge Ben nos idos dos anos 70.
Galo traduz esse universo popular em desenhos feitos com spray e pincel. Como suporte ele usa paredes, colunas e objetos encontrados no mangue. A inauguração será hoje, às 19h, na galeria de arte do Sesc Casa Amarela. A exposição começa amanhã e segue até 16 de outubro.
Esta é a primeira mostra individual de Galo. Até então, ele havia participado de exposições coletivas ou com o Êxito D'Rua, coletivo no qual se desenvolveu e despontou como artista. O spray como instrumento de expressão, porém, vem de 15 anos, quando fazia pichação para se comunicar de tribo para tribo.
Da pichação ao grafite; da ação clandestina ao reconhecimento institucional. Esta é a primeira vez que a galeria do Sesc abre as portas para a grafitagem. O convite foi feito após enquete com osvisitantes. Fabiana Rocha, curadora do espaço, convocou Galo por ser um nome em evidência nessa modalidade.
O convite não mexeu com as convições do artista. "Nem quero discutir o que é pintura e o que é grafite. Quero somente expressar o que eu acredito. Não sou eu quem vai dizer o que é ou não é. Tenho 30 anos e hoje não brigo com todo mundo. Continuo minha briga no sentido de melhorar os espaços e gerar produto. Quero expor, cuidar do meu trabalho e dialogar com o mercado e a academia".
Há oito dias o espaço da galeria vem sendo transformado. Desenhos de folhas de bananeira cobrem uma das faces da coluna central. Todas as paredes trazem desenhos de bananas, animais, folhagens e figuras humanas, cujo personagem principal Galo faz a defesa. "Apesar de estar em situação informal, ele procura estar bem, se comunica com todo mundo, frequenta os mercados populares". Do lado de fora, um dos muros externos do Sesc agora é um painel que convida o público para uma visita.
Outros elementos visuais dos anos 70 são explorados, junto com referências contemporâneas do hip hop. Um embolador em preto e branco é claramente inspirado na arte da capa do disco solo de Zé Brown; um fusca surge por trás de Wilson Simonal, que veste a camisa da Seleção tricampeã. "Ele também virou banana da mídia", comenta. J. Dilla, rapper morto precocemente, está representado em uma das telas.
Enquanto pinta, Galo escreve, ouve música, fotografa. "A ideia é gerar subprodutos que possam ser vendidos, como CD, poesia, adesivos". Objetos reciclados, grafitados e pintados à mão, também estarão à venda. Alguns foram retirados do mangue, como uma tampa de ar condicionado, placas de Raio X e um gabinete de computador. Durante a exposição, o espaço terá equipamento de som e câmeras que serão usadas para postar vídeos na internet.
Serviço
Exposição O vendedor de bananas
Quando: de 12 de setembro a 16 de outubro, das 14h às 19h.
Onde: Sesc Casa Amarela (Av. Professor José dos Anjos, 1109 - Mangabeira)
Informações: 3267-4400
Entrada franca
(Diario de Pernambuco, 11/09/09)
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Cine Revezes convida Isabela Cribari e Eric Laurence
Na primeira exibição do semestre, realizada em parceria com a Universidade Católica de Pernambuco, o Cineclube Revezes convidou Eric Laurence para participar exibir o curta Entre Paredes (2005) e falar sobre a construção de roteiros para cinema.
Hoje, às 19h, Isabela cribari fará uma dobradinha com Laurence. Os dois, que já trabalharam juntos em alguns projetos, irão falar sobre sobre produção cinematográfica.
Para as próximas exibições, que ocorrerão a cada 15 dias (sempre nas quintas-feiras) na sala 510 da Unicap, estão programadas discussões sobre o processo de criação de um filme.
Hoje, às 19h, Isabela cribari fará uma dobradinha com Laurence. Os dois, que já trabalharam juntos em alguns projetos, irão falar sobre sobre produção cinematográfica.
Para as próximas exibições, que ocorrerão a cada 15 dias (sempre nas quintas-feiras) na sala 510 da Unicap, estão programadas discussões sobre o processo de criação de um filme.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Exposição de Maurício Arraes e Guida Charifker em Olinda
Tela de Arraes em exposição no Maison
Os artistas plásticos Maurício Arraes e Guida Charifker expõem seus trabalhos a partir de hoje, às 20h, no restaurante Maison do Bonfim.
Charifker cria telas de temas idílicos feitos com aquarela.
Com diferentes técnicas e estilos, Arraes pinta paisagens urbanas e tipos humanos.
O Maison do Bonfim fica na Rua do Bonfim, 115 - Olinda. Informações: 3429-1674.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Minissérie "Abreu e Lima - General de Bolívar" estreia na TV Brasil
Amigos, faço uma pausa no meu feriado para um convite: hoje, às 20h30, na TV Brasil, estreia Abreu e Lima - General de Bolívar, de Geraldo Sarno, mini-série da qual tive o privilégio de participar como pesquisador e produtor.
Nosso trabalho, realizado em 2008, rendeu um documentário longa-metragem premiado em Brasília (melhor direção e melhor roteiro), chamado Tudo isto me parece um sonho.
O filme foi considerado pelo cineasta Carlos Reichenbach, em seu blog, como "a maturidade política do documentário brasileiro".
"Uma generosa aula de história que não subestima o espectador, na tradição mais avançada do materialismo dialético e da inspiração visionária de Antônio Gramsci e Palmiro Togliatti. Sarno fez um filme que celebra o exercício do pensamento ("todos os homens são filósofos" - Gramsci). Para poucos sim; mas ninguém me convence que o cinema precise eternamente bajular o grande público e ficar subserviente à ditadura do borderô e da preguiça que faz evitar a reflexão. TUDO ISSO ME PARECE UM SONHO pressupõe cultura política, fina informação, fé na liberdade e o prazer do debate (nunca do discurso e do proselitismo). Um troféu audiovisual à inteligência e ao amor à América Latina", escreve Reichenbach.
Agora, o diretor volta ao tema no formato série de 4 episódios, voltados para a TV. Abreu e Lima - General de Bolívar é inspirado na vida do militar, político, jornalista e escritor. Aborda o período desde a Revolução de 1817, em Pernambuco, onde o pai de Abreu e Lima, Padre Roma, foi um dos líderes, até sua morte, em 1869. Nesse período, Abreu e Lima participou das lutas de libertação das colônias espanholas na América, sob comando de Simon Bolívar, e da Revolução Praieira de 1848, no Recife.
Há diversas locações na Venezuela e Brasil (Recife, Salvador, Brasília e Rio de Janeiro). E participações especiais do núcleo de artistas populares de Chã de Camará (município de Aliança, Zona da Mata Norte Pernambucana): Biu do Coco, Mestre Zé Duda e Pai Mário, todos do Maracatu Estrela de Ouro.
Dividida em quatro capítulos de 24 minutos, a série conta com a participação dos professores de história, Vamireh Chacon, da Universidade de Brasília e biógrafo do general Abreu e Lima; e Pedro Sosa, da Universidade Central de Venezuela. Eles revivem os fatos históricos referentes às duas revoluções pernambucanas e à saga bolivariana, nos locais onde eles ocorreram.
O primeiro capítulo trata das motivações políticas, sociais e culturais da Revolução de 1817, em Pernambuco, estendendo-se até a morte do Padre Roma e a fuga de Abreu e Lima para o exterior. O capítulo seguinte está inteiramente dedicado à sua participação nos embates políticos e ideológicos e nas batalhas militares, sob o comando de Bolívar, pela libertação das colônias espanholas. Após a morte do líder, Abreu e Lima volta ao Brasil e participa da Revolução Praieira de 1848, em Pernambuco.
O passado de lutas, a defesa do direito dos protestantes distribuírem suas bíblias e a morte de Abreu e Lima são assuntos do último capítulo da série. Seu retrato o imortaliza ao lado de Bolívar e dos próceres que libertaram as colônias espanholas e instituíram as atuais nações: Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia.
Atualmente, Sarno produz um longa sobre Honoré de Balzac, a partir de uma obra transcrita por um espírita brasileiro e do conto do próprio Balzac, A pele de Onagro. Detalhes aqui, em matéria escrita para o Diario de Pernambuco. Entrevista com Geraldo Sarno, aqui.
sábado, 5 de setembro de 2009
Sessão de arte apresenta "A vida secreta das abelhas"
A vida secreta das abelhas (The secret life of bees, EUA, 2008), de Gina Prince-Bythewood, entra em cartaz amanhã no circuito Sessão de Arte, promovido pela rede de exibição UCI / Severiano Ribeiro. Estrelado por Dakota Fanning e Queen Latifah, o longa mistura momentos alegres e tristes ao narrar o esforço de uma adolescente em superar a condição de abandono a que foi submetida após a morte da mãe, assassinada em condições trágicas quando a garota tinha quatro anos.
O filme será exibido amanhã, ao mieo-dia, no Kinoplex Plaza Casa Forte, e segunda-feira, às 19h, no Multiplex Tacaruna. Semana que vem, ele retorna aos mesmos locais e horários, para então migrar para os Multiplex Boa Vista e Recife (Boa Viagem).
Os produtores, entre eles o ator Will Smith, conceberam um universo que gira em torno de Lily (Fanning), garota que transita em ambientes que podem ser divididos entre "mundo perigoso" e "doce lar". No primeiro, ela vive o inferno na mão do pai (Paul Bettany), perfeito espécime do sulista branco, racista, bêbado e rancoroso. A menina foge dali após Rosaleen (Jennifer Hudson), a negra que cumpre a função de mãe postiça, ser vítima de violência porque queria tirar o título de eleitor. Ambientado em 1964, o filme apresenta outras situações trágicas provocadas pelo racismo.
Impelida por uma pista deixada pela mãe numa fotografia antiga, Lily e Rosaleen viajam para Tiburon, Carolina do Sul, onde encontram uma espécie de rancho de paredes cor-de-rosa, onde é produzido o mel Black Madonna (uma santa cultuada pelos locais). Lá são recebidas por três irmãs lideradas por August (Queen Latifah), uma negra de peitos grandes e instinto maternal, que imediatamente as adota. É lá que, entre clássicos da soul music e cenários campestres, o mel extraído pelas mulheres parece transbordar para fora da tela.
(Diario de Pernambuco, 05/09/09)
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
"Budapeste", de Walter Carvalho, tem sessão na Fundaj
O diretor e fotógrafo Walter Carvalho cancelou sua vinda ao Recife, onde participaria do Cine Design 2009 com uma palestra e debate após a exibição de seu último longa, Budapeste. Mesmo com a ausência do autor, a produção do evento confirma a sessão de hoje, às 16h, no Cinema da Fundação (Derby). A entrada custa R$ 1.
Com participação especial de Chico Buarque, autor do livro adaptado por Carvalho, o filme acompanha a história de José Costa (Leonardo Medeiros), um ghost-writer brasileiro em crise. Após participar de um congresso da categoria em Istambul, problemas com a conexão aérea o forçam a passar uma noite em Budapeste.
Cinema // estreia: "A partida"
Nas últimas décadas, os japoneses construíram uma imagem praticamente indissolúvel de eficiência e dedicação vinculada ao trabalho.
No longa A partida (Okuribito, 2008), o diretor Yôjirô Takita aplica esse conceito a uma profissão comumente desprezada: a de preparador de corpos para a cremação.
Em cartaz no Cinema da Fundação, o filme ganhou o Oscar 2009 de melhor filme estrangeiro, em detrimento de Valsa com Bashir (Israel), Entre os muros da escola (França), A revanche (Áustria) e Complexo de Baader Meinhoff (Alemanha).
A explicação talvez esteja na intenção de provocar lágrimas com uma história simples e linear, sobre vida, morte e amor. Há o fator "exótico" de estar em contato com uma cultura distante, mesmo que isso se concretize em poucos elementos e clichês disfarçados de lições de vida. Partindo daí, não é de estranhar a recepção positiva dos americanos.
O título do filme se aplica a diferentes movimentos. O primeiro é o de Daigo Kobayashi, que sofre como abandono do pai desde que era criança. Nós começamos a acompanhá-lo quando ele desiste do sonho de tocar violoncelo e abandona Tokio para retornar à cidade natal. Lá ele consegue emprego na NK (sigla japonesa para "Pôr no caixão") empresa especializada nos rituais de despedida cheios de detalhes e códigos próprios dos japoneses.
Com a ajuda do patrão, uma figura zen cercada de plantas e que se alimenta de esperma de baiacu grelhado com sal, Daigo encontra no ofício a plenitude que faltava para se sentir realizado. Ele trata cadáveres com tal cuidado, tranquilidade e respeito que transforma familiares perdidos na dor do luto em pessoas sinceramente agradecidas. Ele não pode imaginar (nós, sim), que em breve precisará encarar seu maior fantasma para seguir em frente.
(Diario de Pernambuco, 04/09/09)
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
O Genesis segundo Crumb
Robert Crumb assina a capa da revista Piauí de setembro.
Ela foi divulgada ontem, pelo Twitter.
Trata-se de prévia da versão que Crumb faz para o livro do Gênesis.
The book of Genesis ilustraded by Robert Crumb terá 224 páginas e deve ser lançado nos EUA em outubro.
A Conrad Editora está cotada para publicar a versão nacional ainda este ano.
Eis a capa original:
Mimo 2009 é música também na tela grande
A Mostra Internacional de Música em Olinda - Mimo 2009 começou ontem, em João Pessoa.
É isso mesmo. A Mimo começou em João Pessoa, Paraíba. E nos próximos dias, estará em duas igrejas do Recife.
Programação completa aqui.
As atividades em Olinda começam somente hoje, com concerto dos violinistas Didier Lockwood e Ricardo Herz, que se encontram com os rabequeiros Luiz Paixão, Antonio Nóbrega, Siba Veloso e Renata Rosa na Igreja da Sé. E terminam na próxima segunda, com apresentação do incrível Hermeto Pascoal.
Antes de cada concerto, a mostra Cine Mimo exibe um filme que tem música como tema.
E o universo musical tem servido de mote para o cinema brasileiro. A recente safra rendeu bons filmes e parte dessa produção está representada no evento, que este ano, selecionou nove títulos.
Os longas-metragens serão projetados no pátio externo da Igreja da Sé, a partir de hoje. Para os médias e curtas foi reservado o espaço do Seminário de Olinda, às 18h. O acesso é gratuito e antecipa os concertos no interior das igrejas. Hoje, a programação começa às 18h30, com a exibição do longa Orquestra dos meninos, de Paulo Thiago. O filme é uma ficção baseada na história real do maestro pernambucano Mozart Vieira, perseguido nos anos 80 por conta de seu projeto de ensino de música para crianças, em São Caetano.
Amanhã, o curta Nós somos um poema, de Sérgio Sbragia e Beth Formaggi, resgata uma parceria entre Pixinguinha e Vinicius de Moraes. Logo após, em Música é perfume, o documentarista francês George Gachot faz um paralelo entre a formação da cantora Maria Bethânia e da própria MPB. No sábado, o curta Raphael Rabello, de Lara Velho e Mônica Ramalho, conta a história do instrumentista a partir de relatos da família e parceiros. Aplaudido no último Cine PE, o longa Um homem de moral, de Ricardo Dias, aproxima o público do compositor e cientista Paulo Vanzolini, que ao lado de Adoniran Barbosa figura como pilar do samba feito em São Paulo.
No domingo, o curta é No tempo de Miltinho, de André Weller. Premiado no festival É Tudo Verdade, o filme dá voz ao veterano cantor, com participação de Elza Soares e Zeca Pagodinho. Mais tarde, o longa Simonal - Ninguém sabe o duro que dei, de Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, procura reestabelecer a imagem do cantor, dando-lhe a dimensão que merece. De quebra, reacende e esclarece pontos obscuros da polêmica que o jogou para sempre no limbo da MPB.
Encerrando o evento, o média Quebrando tudo, de Rodrigo Hinrichsen, coloca o mago Hermeto Pascoal para falar sobre sua história e criação artística. Deve ser um belo aperitivo para seu concerto, que começa em seguida, na Igreja da Sé. Recentemente exibido no Cinema da Fundação, o longa Palavra (En) Cantada, de Helena Solberg, convida artistas como Chico Buarque e os pernambucanos Lirinha e Lenine a participar de uma investigação sobre a relação entre música e poesia.
(Diario de Pernambuco, 03/09/09), com alterações
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