segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Temporada do audiovisual



Quatro dias de mostra competitiva e uma noite de premiação fazem do Festival de Vídeo de Pernambuco um programa para a semana inteira, com entrada franca

O 11º Festival de Vídeo de Pernambuco começa hoje, trazendo ao Teatro do Parque extensa programação. A essência do evento, uma produção conjunta do governo do estado com a Prefeitura do Recife, continua a mesma: abrir espaço para a nova safra audiovisual feita em território pernambucano.

Já o formato traz algumas novidades, entre elas, uma segunda mostra competitiva, oficinas, debates, novas parcerias e programação estendida para cinco dias, onde quatro estão reservados para exibição e um para a cerimônia de premiação. O encerramento está marcado para a próxima sexta-feira, na Torre Malakoff, quando será anunciado o edital 2010 do concurso Ary Severo / Firmo Neto. Em todas as atividades, a entrada é gratuita.

Realizadores de diferentes gerações estão representados na seleção, o que revela o caráter abrangente do festival. Do estreante Hugo Carneiro e seu documentário Cine Império, sobre o espaço de exibição do grupo Severiano Ribiro, que funcionou até 1979 no bairro de Água Fria, ao veterano Fernando Spencer e seu mais novo trabalho, Nossos ursos camaradas. De cineastas reconhecidos em festivais brasileiros como Daniel Bandeira e Daniel Aragão (Não me deixe em casa estreou em Gramado) aos fotógrafos Gil Vicente (editor-assistente de fotografia do Diario) e Chico Lacerda.

O programa está dividido entre mostra geral (curtas de ficção, documentário, videoclipes, animação e experimentais) e mostra universitária, dedicada esta crescente produção. Além dos tradicionais prêmios em dinheiro e certificados, os trabalhos vencedores também receberão troféus - outra novidade do evento.

Os 68 vídeos concorrem a R$ 42 mil em prêmios e foram selecionados pela equipe técnica da Fundarpe e da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, a partir de 107 títulos inscritos. O júri é formado por duas comissões: Cátia Oliveira, Fernando Weller e Marcos Enrique Lopes (mostra universitária) e Sérgio Dantas, Osman Godoy e Marcos Toledo (mostra geral).

De acordo Carla Francine, da coordenadoria de audiovisual da Fundarpe, entraram todas as obras que cumpriram os requisitos técnicos mínimos para ser exibidos. "Procuramos contemplar o máximo de produções inscritas. Acreditamos que todas devem ter a chance de ser vistas". Além da capital, realizadores do interior do estado participam da mostra. "Somos parceiros do Fest Vale Curtas Juazeiro, no qual o vídeo Vida de maluco, um dia de cada vez (Petrolina), de Rinaldo Lima, foi vencedor. A expectativa é que, com as atividades extras, o público seja maior que a média do ano passado (cerca de 400 pessoas por dia).

Oficinas - De hoje a quarta, o Espaço Pasárgada será sede de uma oficina de roteiro cinematográfico ministrada por Leo Falcão. Já a Torre Malakoff recebe a oficina Realizando em 1 minuto, com a jornalista e professora do curso de Cinema da UFPE, Alice Gouveia. Francine vê na parceria um salto qualitativo para o evento. "A oficina faz parte do projeto de aproximação do curso de cinema da UFPE com a Fundarpe".

Amanhã e quarta, haverá dois debates, sempre às 15h, no Teatro do Parque. Amanhã, o tema é Circulação de produtos audiovisuais, com os produtores João Jr., Emilie Lesclaux, Marcelo Pedroso e Cynthia Falcão. Na quarta, é hora de retomar a discussão iniciada no ano passado, sobre a possibilidade do festival abrir ou não para a produção nacional. "O assunto pode ser mote para discutir coletivamente o formato do evento do ponto de vista dos realizadores e também do público", diz Francine, que estará na mesa com Oscar Malta, Antonio Carrilho, Pedro Severien, Daniel Bandeira e Ernersto Barros.

(Diario de Pernambuco, 30/11/2009)

Festival de Vídeo de Pernambuco - programação

Segunda-feira

19h - Cerimônia da Abertura / Mostra Geral
A quase tragédia de Mané ou o bode que ia dando bode (Animação, 2008, 14 minutos), de Ricardo Mello
Tchau e benção (Ficção, 2009, 10 minutos), de Daniel Bandeira
Nossos ursos camaradas (Documentário, 2008, 12 minutos), de Fernando Spencer
O dinheiro nosso de cada dia - Série (Experimental, 2008, 6 minutos), de Ted Henrique Cézar
As entoadas do mestre Zé de Bibi (Documentário, 2009, 15 minutos), de Janaina Felix e Michele Santana
Ménage à trois (Ficção, 2007, minutos), de Hugo Harten
Os dois lados da ponte do Pina - The Playboys (Videoclipe, 2009, 2 minutos), de Filipe Novais
Sessão Especial: Vida de maluco, um dia de cada vez (Documentário, 2009, 15 minutos), de Rinaldo Lima

20h30 - Mostra Geral
Esse filme deve ser visto no cinema (Experimental, 2009, 4 minutos), de Chico Lacerda
Pontacabeça (Ficção, 2009, 3 minutos), de André Pinto
Olinda Bagdá (Documentário, 2009, 13 minutos), de Igor Colares e Pinheiro Neto
A vida é um jogo (Ficção, 2009, 6 minutos), de Amanda Beça
Eterno domingo (Videoclipe, 2009, 7 minutos), de Zeca Viana
O silêncio do tempo (Ficção, 2009, 9 minutos), de Andréa Cohim
AntiNarciso (Experimental, 2008, 2 minutos), de Lenice Queiroga
A sorte (Videoclipe, 2009, 4 minutos), de Leonardo Domingues

Terça-feira

17h30 - Mostra Universitária
Ave sangria - sons de gaitas violões e pés (Documentário, 2008, 20 minutos), de Raynaia Uchôa, Rebeca Venice e Thiago Barros
Meu amigo Charlie (Ficção, 2009, 15 minutos), de Petla Pammela
Os meus guris (Documentário, 2009, 20 minutos), de Petla Pammela e Lívya Fernandes
Desengano (Ficção, 2009, 9 minutos), de Marlom Meirelles

19h - Mostra Geral
Tereza - cor na primeira pessoa (Documentário, 2009, 20 minutos), de Amaro Filho e Marcílio Brandão
Súbito (Experimental, 2009, 6 minutos), de Breno César
Amigo é pra essas coisas (Ficção, 200, 14 minutos), de Rafael Dantas
Sossega sereia (Videoclipe, 2009, 3 minutos), de Igor de Lyra
Zangoma (Experimental, 2009, 4 minutos), de Orlando Nascimento
Parádora (Aimação, 2009, 3minutos), de Paulo Leonardo
Restos de carnaval (Ficção, 2008, 8 minutos), de Leo Rodrigues

20h30 - Mostra Geral
O baque da zabumba centenária contra o tic-tac do tempo (Documentário, 2008, 15 minutos), de Genaldo Barros
Automaníacos (Videoclipe, 2008, 4 minutos), de Media Sana
Ô (Experimental, 2009, 20 minutos), de Marcelo Coutinho
Lugar nenhum (Ficção, 2009, 11 minutos), de Gustavo Monteiro
O circo (Animação, 2009, 8 minutos), de Hugo Luna
De galho em galho (Videoclipe, 2009, 5 minutos), de Weré Lima e Luccas Maia

Quarta-feira

17h30 - Mostra Universitária
Xambá - uma nação quilombola (Documentário, 2009, 19 minutos), de Ana Elisa Freira, Camilla Lopes e Vanessa Cortez
Feito algodão doce (Ficção, 2009, 9 minutos), de Natali Assunção
Noemia: escola das possibilidades (Documentário, 2008, 17 minutos), de Carla Amorim Lyra
Tempos de crise (Ficção, 2009, 5 minutos), de Adalberto Oliveira e Tarcísio Camêlo
Menina sem nome (Documentário, 2007, 18 minutos), de Adriano Portela

19h - Mostra Geral
Cinema império (Documentário, 2009, 20 minutos), de Hugo Carneiro
Beijo (Experimental, 2009, 2 minutos), de Victor Dreyer
Dia azul (Videoclipe, 2008, 5 minutos), de Leo Rodrigues
Alice ao cubo (Ficção, 2009, 12 minutos), de Elielson Damascena
Olé Larinda, o canto das raspadeiras de mandioca (Documentário, 2009, 19 minutos), de Everaldo Costa
A torneira (quanto tempo faz?) (Videoclipe, 2009, 6 minutos), de Zeca Viana

20h30 - Mostra Geral
Bleffe (Experimental, 2009, 3 minutos), de Edver Hazin e Wellington Silva
Saldo devedor (Animação, 2009, 3 minutos), de Jarmeson de Lima
Livres tempos (Experimental, 2009, 6 minutos), de Daniel Monteiro
Prenúncio (Ficção, 2009, 17 minutos), de Adriano Portela
De pé em pé (Documentário, 2007,15 minutos), de Iezu Kaeru
Elevador (Ficção, 2009, 9 minutos), de Manuela Piame
Téo e sua tuma em: o menino que não gostava de tomar banho (Animação, 2009, 10 minutos), de André Rodrigues

Quinta-feira

17h30 - Mostra Universitária
Abril pro rock-fora do eixo (Documentário, 2008, 20 minutos), deRicardo Almoêdo, Everson Teixeira e Júlio Neto
Depois do jantar (Ficção, 2009, 8 minutos), de Alba Azevedo e Nara Viana
Um carpinense chamado Aguinaldo (Documentário, 2008, 17 minutos), de Thalita Belo Pereira
Devaneio (Ficção, 2009, 3 minutos), de Marlom Meirelles
Ô de casa (Documentário, 2008, 16 minutos), de Júlia Araújo, Sheyla Florêncio, Mirthyani Bezerra

19h - Mostra Geral
A invenção do cotidiano (Documentário, 2009, 20 minutos), de Diogo Luna
Refém (Experimental, 2009, 2 minutos), de Luna Silva Matos
A maldição de Simeão (Ficção, 2009, 15 minutos), de José Manoel da Silva
Acima da chuva (Videoclipe, 2009, 4 minutos), de Taciana Oliveira
Hoje tem espetáculo (Documentário, 2008, 17 minutos), de Andreza Leite
The skate boy (Animação, 2009, 3 minutos), de Marco Machado

20h30 - Mostra Geral
Fairies (Ficção, 2009, 1 minuto), de André Pinto
Viagem ao centro do Mangue (Experimental, 2009, 11 minutos), de Gil Vicente
Todo dia (Ficção, 2009, 10 minutos), de Daniel Barros
Dilema - Bob Black (Videoclipe, 2009,4 minutos), de Taciana Oliveira
Mamulengo riso do povo (Documentário, 2009, 13 minutos), de Amanda Marques e Vilma Silva
Não me deixe em casa (Ficção, 2009, 18 minutos), de Daniel Aragão
Difusão (Experimental, 2009, 4 minutos), de Daniel Barros

Berlusconi, rockstar do ano


Garotas de 17 anos, travestis e capa da Rolling Stone italiana.

domingo, 29 de novembro de 2009

Um mutante em DVD



A história de Arnaldo Baptista é tão incrível que parece ter sido inventada.

Para contá-la no documentário Loki, Paulo Henrique Fontenelle (diretor) e André Sady (produtor) propuseram ao artista que pintasse uma tela para buscar as mais remotas lembranças. A ideia rendeu momentos preciosos e reveladores.

Produzido e distribuído em cerca de 20 salas de forma independente pelo Canal Brasil, o filme teve carreira positiva em festivais e foi lançado ontem em formato DVD. Vale visitar o hotsite.

Leia aqui matéria publicada em maio no Diario de Pernambuco e no Quadro Mágico.

No filme a história dos Mutantes é mostrada como fosse o DNA de Baptista. A inocência perdida com a separação de Rita Lee e consequente fim da banda gerou Lóki?, álbum que dá nome ao filme, prenúncio do processo de negação (que rendeu duas outras bandas - Uns e outros em 1976 e Patrulha do Espaço em 1978) e loucura (quis contratar um amigo para ser o capitão da nave espacial que ele estaria construindo) que estaria por vir. Os amigos concordam que o ex-mutante não conseguiu superar a perda de Lee e o fim da banda, tornando-se cada vez mais obscuro e triste. Seriam exageradas as comparações com Syd Barret, criador do Pink Floyd - seu disco solo, Madcap laughs, foi produzido pelo pupilo David Gilmour e lançado uns cinco anos antes de Lóki??



O filme de Fontenelle traz depoimentos de todos os envolvidos, direta ou indiretamente nessa trajetória. Menos Rita Lee, figura envolvida até o pescoço em seu passado (literalmente, pois a garota loira figura no meio da tela), que se recusou a falar, mas liberou o uso de imagens de arquivo.

Parece que nunca teremos a versão de Lee para o notório episódio do suicídio de Baptista, que em 31 de dezembro de 1980 se jogou da janela do manicômio onde estava contra a vontade. "Disse para mim mesmo: vou comemorar o aniversário de quem me colocou aqui pela primeira vez. Me joguei, e parece um milagre, acordei na cama com minha menina”.

A "minha menina" é Lucinha, a fã que com paciência e amor trouxe Baptista de volta à criação artística, num sítio no interior de Minas, onde vive entre guitarras e tintas coloridas, e finalmente o mito encontrou a redenção.

Dos amigos, Lobão (que lançou seu último disco, Let it bed) e Tom Zé são destaques. Ex-companheiros como o irmão Sérgio e Liminha também estão lá.

Fã confesso, Sean Lennon conta como foi descobrir Os Mutantes: "Não sabia que havia uma banda como essa no mundo. Foi uma das melhores gravações que ouvi na vida. Parecia que eles notaram a psicodelia britânica, mas tinham uma sonoridade compeltamente particular. Mas ainda assim, psicodélica. Os arranjos de metal são mais particulares nos mutantes do que numa gravaçao dos Beatles ou dos Rolling Stones. Estes são mais orquestrados, mas os arranjos dos mutantes são muito misteriosos, interessantes e muito sofisticados. Toquei com Arnaldo Baptista no Rock in Rio e achei inacreditável pois foi um dos primeiros shows dele em muitos anos. Foi uma honra para mim facilitar a volta dele. Parece que ele tem alma de criança".

No Barbican Theatre (Londres), eleito para ser palco do retorno da banda, um dos entrevistados fala o que Sean Lennon não teve coragem: "Os Mutantes são melhores do que os Beatles".

No sítio onde vive com a companheira Lucinha, entre plantas e bichos, a imagem de Lennon sobre Baptista se confirma. Através do filme, temos a certeza de que somente se entregando plenamente à sua originalidade, Baptista encontrou a realização da profecia cantada há quase 40 anos em Balada do louco - e deve ser mais feliz do que a maioria de nós, loucos que fingem ser normais.

O mar de Suzana Amaral



Hotel Atlântico, em cartaz no Cinema da Fundação, é cinema de primeira grandeza. Com mão segura, Suzana Amaral (A hora da estrela) constroi narrativa livre, solta, infinita como o mar que o enfermeiro Sebastião (João Miguel) quer encontrar pela primeira vez.

Nas palavras do Artista (Julio Andrade), o ator que se abandona em prol da viagem aleatória: "O mar não acaba nunca. Você até vê o fim. Mas ele continua".

Assim como os melhores filmes.

Em curta e ótima entrevista para o site da Saraiva, Amaral defende mais do que o direito, mas a necessidade de ser incoerente e assumir riscos como algo imprescindível à criação artística.

E diz que não adapta obras da literatura (A hora da estrela é Clarice Lispector, Hotel Atlântico , de João Gilberto Noll):

"Eu transmuto".

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Sessão de Arte UCI Ribeiro apresenta: O milagre de Sta. Luzia



Radiografia do Brasil que toca sanfona, o documentário paulista O milagre de Santa Luzia (Brasil, 2008) tem Pernambuco como seu princípio e fim. Já no primeiro plano, Dominguinhos desponta no horizonte, a pé, na estrada que leva à Exu de Luiz Gonzaga. Da terra de Januário ao litoral, há vaqueiros e seus aboios e a poesia de Patativa do Assaré e sua voz trêmula, prestes a se despedir de nosso plano existencial.

Na capital, Dominguinhos encontra Arlindo dos Oito Baixos em seu reduto, no bairro de Dois Unidos, onde juntos animam um arrasta-pé. No interior da Paraíba, Pinto do Acordeon faz uma divertida versão para New York, New York, cantada em inglês caboclo, mais enrolado impossível. Joquinha Gonzaga, Camarão, Hélder Vasconcelos e Gennaro dão sua contribução antes da equipe pegar a estrada para o Sul - pois nem só de forró vive o acordeon.

No Mato Grosso, Dominguinhos apresenta músicos e ritmos diferentes dos nordestinos. Em São Paulo ele encontra Osvaldinho, amigo de longa data e jovens talentos como Gabriel Levy e Toninho Ferragutti e seus projetos experimentais e cosmopolitas. No Rio Grande do Sul, além de Renato Borghetti, seu nome famoso do "fole" no estado, somos apresentados a músicos de raiz, que vivem na área rural dos pampas.

De volta ao Nordeste, há o depoimento do pesquisador Raymundo Campos, com quem Dominguinhos gravou uma versão inédita de Triste partida. Num dos momentos mais emocionantes, Sivuca recebe Dominguinhos no seu apartamento em João Pessoa. Debilitado, o compositor fala sobre a nobreza e versatilidade do acordeon. E chora.

A despeito do mérito cinematográfico, momentos como este fazem o filme de Roizemblit importante documento sobre a música brasileira.

(Diario de Pernambuco, 27/11/2009)

Estreia // A trilha



A trilha (A perfect gateway, EUA, 2009) segue a linha de filmes que exploram violência sangrenta em locações paradisíacas. Assassinatos ocorrem em paisagens remotas do Havaí, justamente onde o casal Cliff (Steve Zahn) e Cydney (Mila Jovovich) escolheu passar a lua-de-mel. Lá eles encontram outro casal de aventureiros, Nick (Timoty Olyphant) e Kiele Sanchez (Gina), com quem seguem como carneirinhos para o abatedouro.

Mostra Cine Chinelo no Pé começa hoje



O Bairro do Recife recebe hoje e amanhã a 9ª edição da mostra audiovisual Cine Chinelo no PE. A novidade é que, após cinco anos, o evento movido a cinema e boêmia não será na movimentada Rua da Moeda, mas na Rua da Alfândega, que fica entre a Igreja Madre de Deus e o Shopping Paço Alfândega.

O formato do evento, que intercala projeção de filmes e shows, continua o mesmo. Às 20h começa a Sessão Caldo-de-Cana, em que qualquer pessoa pode levar seu filme e compartilhar com o público a criação. Para tanto, é preciso se inscrever das 18h e 20h, no Bar do João (Rua da Moeda). "O objetivo é promover a desglamourização do cinema e estreitar os laços entre público e realizadores", diz o produtor Gê Carvalho.

Às 22h30, começa a etapa musical do evento, com shows de Cinval Coco Grude (sexta) e a banda Mandala (sábado), com espaço aberto para VJs exibirem seus sets no telão. A entrada é franca.

(Diario de Pernambuco, 27/11/2009)

Estreia // Julie e Julia



Dirigido por Nora Ephron, a comédia Julie e Julia (Julie & Julia, EUA, 2009) traz performances de Meryl Streep e Amy Adams, que recentemente contracenaram no drama Dúvida (2008). O filme intercala duas épocas - a França dos anos 40 e os EUA do século 21. No primeiro ambiente, ficciona a história de Julia Child (Streep), conhecida autora de livros de culinária e apresentadora de programas de TV (alguns disponíveis no YouTube). Um de seus livros de receitas influencia Julie Powell (Adams), que está frustrada profissionalmente e desesperada para fazer algo novo, como cozinhar todas as 524 receitas do livro de Child e registrar a experiência num blog, ao longo de um ano. A história é real e o blog, fundado em 2003 e encerrado em 2004, continua no ar.

Estreia // Casamento Silencioso



Em cartaz no Rosa e Silva, a comédia Casamento silencioso (Nunta muta, 2008) remonta a 1953, ano em que morreu um dos ícones do regime soviético, Joseph Stalin. Em decorrência, o prefeito de uma cidade romena instaurou uma semana de luto oficial, que proibia qualquer tipo de celebração. Dessa forma, estragaram-se os planos de Mara (Meda Andreea Victor) e Iancu (Alexandru Potocean), noivos às portas do casamento, que já tinham convidado toda a vila em que moram para a festa. Frente ao impedimento, o grupo de romenos irredutíveis e boêmios precisa inventar outra forma para comemorar. Primeiro filme de Horatiu Malaele, ator e diretor de teatro da Romênia, que confirma a vocação do país para filmes bem-humorados, estranhos e irônicos.

Cinema francês no Dissenso



O Cineclube Dissenso (Cinema da Fundação - Derby) apresenta neste sábado, às 14h, O intruso (L'intruse, França, 2004), de Claire Denis. O filme conta a história de Louis Trebor (Michel Subor), um homem de aproximadamente 70 anos, que vive sozinho numa floresta, apesar de ter um filho que mora por perto. À noite, ele sonha com situações violentas, até que deixa a cama para matar um intruso. Após a sessão haverá debate. A entrada é franca.

Cinema // No planeta dos outros



A animação Planeta 51 inverte a lógica tradicional dos filmes de ficção-científica, em que visitantes extraterrestres são temidos e perseguidos por humanos. O astronauta americano Charles T. Baker experimenta a situação na própria pele, quando aterrissa e finca a bandeira dos EUA no Planeta 51, sem saber que é habitado por pequenos seres verdes. Baker estava pronto para voltar à Terra, mas a imprensa alien o trata como ameaça. Perseguido por militares e cientistas, antes de voltar para casa, ele precisa lutar pela própria vida. Para não acabar como mais um integrante do Museu de Alienígenas, ele conta com a ajuda de seu robô e de Lem, um alien adolescente que um dia pretende trabalhar num planetário.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pernambucanos faturam prêmios em Brasília



Brasília (DF) - O 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro terminou na última terça-feira, com uma cerimônia de premiação que privilegiou o longa paulista É proibido fumar, de Anna Muylaert. O filme foi contemplado em oito categorias: melhor filme, ator (Paulo Miklos), atriz (Glória Pires), atriz coadjuvante (Dani Nefussi), roteiro (Anna Muylaert), direção de arte (Mara Abreu), trilha sonora (Márcio Nigro), montagem (Paulo Sacramento) e o prêmio da crítica. Uma pré-estreia e tanto - a estreia comercial será em 4 de dezembro.

Entre os curta-metragens, Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante, e Recife frio, de Kleber Mendonça Filho, receberam prêmios principais. O primeiro ganhou prêmios de melhor filme, fotografia (Beto Martins) e som (Nicolas Hallet, também premiado pelo trabalho em Azul, de Eric Laurence). Esta é a primeira vez que Cavalcante, duas vezes eleito melhor diretor em Brasília, vence nessa categoria. Já o crítico e programador de filmes Kleber Mendonça se consagra como realizador - apesar de já ter vencido em Brasília com Noite de sexta, manhã de sábado e Vinil verde, ele nunca colecionou tantas estatuetas e prêmios: melhor filme (júri popular), melhor direção, melhor roteiro, Prêmio Aquisição Canal Brasil, Prêmio Saruê, Prêmio Vagalume e prêmio da crítica. Kleber confirmou que em dezembro o Cinema da Fundação fará uma sessão especial com os quatro curtas locais exibidos em Brasília. Diretor de Faço de mim o que quero ao lado de Sérgio Oliveira, Petrônio Lorena disse que artistas do brega que participam do filme serão convidados a fazer uma performance.

Após a cerimônia, Evaldo Mocarzel, eleito melhor diretor pelo longa Quebradeiras, evocou não somente mineiros como pernambucanos como vanguarda do cinema nacional. "Da mesma forma que o documentário mineiro está bombando, Pernambuco continua imbatível na ficção". Para o ano que vem, ele pretende apresentar o novo filme, São Paulo Cia de Dança, no festival É tudo verdade. Assim como em Quebradeiras, ele investe na estética sensorial e radical que explora imagens de composição rigorosa e trilha de áudio desprovida de palavras. E quer voltar a Brasília com Cuba libre, um "doc gay almodovariano".

Merecido o destaque para o longa Filhos de João - admirável mundo novo baiano, que recebeu o voto do júri popular, prêmio especial do júri oficial e troféu Vaga-lume, concedido por integrantes do projeto Cinema para Cegos. Com depoimentos generosos de Tom Zé, o filme foi de longe o mais querido do festival. "A todos os filhos de João espalhados por aí, crentes de que podemos fazer algo diferente, porque o mundo está muito chato", disse o diretor estreante Henrique Dantas. Representando o grupo na noite de terça, Moraes Moreira cantou, declamou poesia e disse que o sonho dos Novos Baianos não acabou. "Ele continua no filmes, nos filhos, nos shows de cada um de nós, através do som dos 'novos novos' baianos", disse o compositor.

* O repórter viajou a convite do festival

(Diario de Pernambuco, 26/11/2009)

Entrevista // Kleber Mendonça Filho: "Recife frio é um lamento de amor sobre a minha cidade"



Recife frio causou reação imediata e muitos aplausos. Que tipo de retorno e interpretações você teve depois da sessão?
Aquilo que ocorreu na sessão é muito raro pela intensidade e pela emotividade. Levei três horas para me recompor. O que mais me impressionou foi uma reação não apenas às idéias, mas às imagens do filme. As pessoas mostraram para mim, Emilie (Lesclaux, produção e montagem), Juliano (Dornelles, produção e direção de arte), Simone e Andrés (Shaffer, ator) que há uma beleza emotiva no filme. A surpresa é ver que essa beleza chega forte em muitos. Isso também é raro. O maior retorno foi a dúvida esclarecida de que o filme, que é muito pernambucano, local, se comunica com pessoas que nunca foram ao Recife. Sempre nos perguntávamos se o filme seria compreendido por não-pernambucanos.

Recife frio faz comédia com valores arraigados da cultura recifense. Você acredita que pessoas podem se ofender?
A maneira como o Recife vem sendo tocado do ponto de vista urbanístico precisa ser questionado, e uma boa saída para ilustrar questões como essa é usando a força implacável do cinema. Recife frio é um lamento de amor sobre o Recife, e esse lamento, claro, tem dor. O filme junta-se a filmes atuais do cinema pernambucano que estão exatamente abordando essa questão, como Menino aranha, de Mariana Lacerda, Eiffel, de Luiz Joaquim e Um lugar ao Sol, de Gabriel Mascaro. Não vejo como algumas pessoas individualmente poderiam se sentir ofendidas. Recife frio é um olhar pessoal sobre a minha cidade.

A sequência com Lia de Itamaracá encerra o filme de forma transcendente, quase sobrenatural. Como surgiu a ideia de inseri-la no filme como algo positivo, depois de tantas críticas demolidoras ao Recife way of life?
Lia é uma mulher linda. Seu rosto é especial e a câmera a adora. Filmar Lia bem era uma obrigação minha. Fico feliz que o tom de rainha que ela tem esteja no filme. Ela é cativante e sua presença emocionante. Para completar, sua música é bela, e a letra promove uma sensação de generosidade ampla "minha ciranda não é minha só, ela é de todos nós". A sequência talvez mostre que, por mais que as coisas mudem para pior, há sempre a riqueza de uma cultura para iluminar tudo.

Entrevista // Camilo Cavalcante: "O sertão tem mil vieses a serem descobertos"



Ave Maria... foi premiado em três pontos fortes do filme. Qual é sua avaliação?
A alma desse filme é muito simples, acho que o mais simples que já fiz. Ele tem a poesia da simplicidade que não se forja, mas a que simplesmetne existe e nós conseguimos captar. Sem dúvida o trabalho de Nicolas Hallet e Beto Martins foram essenciais. Eles tiveram não só técnica, mas muita sensibilidade e generosidade a partir do momento em que fizeram oficinas e treinaram assistentes. Eles mergulharam no sertão e compartilharam a experiência com quem não tinha experiência alguma. Creio que o filme foi premiado porque a honestidade do processo está na tela. O sertão é mostrado de maneira íntima e o júri reconheceu essa verdade no projeto.

Você sempre defendeu o cinema enquanto arte coletiva. Desta vez, abriu mão do crédito de diretor para assinar com toda a equipe, da qual participaram moradores de Serrita. Como isso funcionou na prática?
Antes fizemos uma parte teórica, hisória e linguagem do cinema, depois introduzimos noções de roteiros e pedimos que trouxemos ideias em torno da Ave Maria. Depois de tudo selecionado, escrevemos o roteiro. Paralelamente havia a pesquisa de locação, com todo mundo numa kombi e discutimos em sala os lugares mais interessantes. Filmamos somente as tardes, o que dava tempo para fazer um set tranquilo e participativo. Os sets estão cada vez mais estressados, todos ficam nervosos e a magia se perde no ritmo de trabalho. Não existiu hierarquia. Eu estava como a pessoa que propôs o exercício, o desafio. De certa forma, era o pilar de referência, sem impor nada. Quando via algo que do meu ponto de vista era muito importante, colocava para discutir com eles. Por exemplo, na edição, os alunos julgaram o primeiro plano muito longo e ele foi diminuido até surgir o consenso.

O que te levou a adotar esse método?
Para fazer um filme sobre uma realidade que não é a minha, achei interessante esse tipo de mergulho. Foi uma grande experiência. Cheguei com informações e as pessoas me deram sua forma de enxergar o mundo. Quem vai para Lisboa de avião, gasta sete horas. Para Serrita, de ônibus gasta o mesmo, mas não tem o abismo geográfico do oceano, mas do contato, da percepção. Sou uma pessoa urbana e pensei que esse contato poderia dar alma a um filme que a gente não vê muito por aí. Na maioria dos filmes, o sertão acaba sendo estereotipado por quem se apropria dele para construir uma obra. Quis o contrário, um filme onde as pessoas pudessem se expressar, que não entra como um colonizador, que passa como um trator em cima dos outros, coisa que transparece num filme. O sertão é muito mais do que um território geográfico, mas da alma humana. Apesar de muitos críticos dizerem que o tema está desgastado, acho que ele ainda tem mil vieses a serem descobertos.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Festival de Brasília // Bastidores

Glauber
O anúncio da restauração de O leão de sete cabeças, de Glauber Rocha, trouxe a Brasília a mãe do cineasta, Dona Lúcia, e sua filha, Paloma. Filmado em 1970, na República do Congo, o longa é o primeiro de Glauber rodado no exílio e nunca foi oficialmente lançado no Brasil. A restauração está a cargo da Cinemateca Brasileira e custará R$ 960 mil. O financiamento é do Fundo de Cultura da Bahia. Quem também esteve no festival foi Zélia Gaitan. A víuva de Glauber veio promover Diários de Sintra, longa que registra os últimos momentos do diretor, morto em 1981. O filme estreia no início de 2010.

Segunda Guerra
Em 2010, o documentarista Evaldo Mocarzel, que concorre no festival com Quebradeiras, pretende rodar pelo menos três projetos em Pernambuco. Um deles será em parceria com o casal Bertini (BPE Produções, responsável pelo Cine PE) e remonta à Segunda Guerra Mundial, quando um grupo de imigrantes alemães se mudou para o Recife e fundou uma extensão do partido nazista na Fábrica de Tecidos Paulista.

Novos Baianos
Desde segunda-feira passada, Moraes Moreira circula pelo evento para promover o documentário Filhos de João - Admirável mundo novo baiano, de Henrique Dantas. O assédio tem sido grande. Terça à noite, no Hotel Nacional, ele foi vítima de uma admiradora empolgada dos Novos Baianos, que o acusou de ter "acabado" com o grupo. Como o filme de Dantas mostra, Moreira foi o primeiro a deixar a comunidade que vivia em "estado de sítio" em Jacarepaguá.

50 anos
Outro cineasta baiano também teve espaço garantido: Roberto Pires (1934 - 2001), diretor de Redenção, o primeiro longa-metragem realizado na Bahia. O filme acaba de completar 50 anos, está sendo restaurado graças ao acervo do Instituto Lula Cardoso Ayres, detentor da única cópia em 16mm, e deve ser lançado em março de 2010. Uma biografia sobre o diretor, assinada por Alexis Góis, foi lançada no festival. O livro conta como o cineasta conseguiu lançar o filme independente, estratégia que serviu de referência para as gerações seguintes.

Paulínia
Uma comitiva do Pólo Cinematográfico de Paulínia (SP) veio a Brasília exclusivamente para anunciar o segundo edital de fomento de 2009. São R$ 9 milhões disponíveis para dez longa-metragens, mais R$ 2 milhões para quatro projetos de televisão. Em almoço para jornalistas, o secretário de cultura da cidade, Emerson Alves, e o diretor do Festival de Paulínia, Ivan Melo, revelaram ajustes no concurso, que fica aberto para inscrições até 20 de janeiro. "Nosso interesse é que os cineastas incluam Paulínia em seu calendário de produção", disse Alves.

Ainda Lula
O filme Lula - o filho do Brasil, que abriu o festival semana passada, continua rendendo comentários nos corredores. O mais recorrente é que o filme parece ter sido feito com menos dinheiro que os R$ 12 milhões captados pela produção.

Vladimir Carvalho
Após quase 40 anos em Brasília, o documentarista Vladimir Carvalho doou o acervo de sua fundação, o Cine Memória, para a Universidade de Brasília. São mais de dois mil itens, entre livros, filmes, fotos, documentos e obras de arte. "Não sou museólogo nem quero uma cinemateca só para mim. Doei tudo, inclusive a casa, com a seguinte condição: enquanto eu viver, estou lá; depois, os bens não podem ser alienados", disse Carvalho, ao Diario. Com a doação, ele espera ter mais tempo para se dedicar à finalização de seu filme sobre o rock de Brasília, com enfoque nas bandas Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso (Herbert Vianna morava na cidade antes de ir para o Rio) e Detrito Federal.

Festa pernambucana no Cine Brasília

Brasília (DF) - Curtas metragens pernambucanos foram destaque na cerimônia de premiação do 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na noite de ontem. Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante, foi vencedor em três categorias: melhor filme (júri oficial), fotografia (Beto Martins) e som (Nicolas Hallet). "Esse é um filme muito especial, feito coletivamente, e o prêmio é resultado desse trabalho. O pessoal de Serrita vai ficar muito feliz. Vamos fazer uma grande festa para comemorar", disse Cavalcante, emocionado.

Recife frio, de Kleber Mendonça Filho, ganhou em sete categorias: melhor filme na votação do júri popular e crítica, melhor direção e melhor roteiro, assinados por Kleber Mendonça. Além disso, o curta ganhou troféus em quatro categorias especiais. "Espero que esse filme traga algumas ideias novas para pensar como Recife está sendo tocado", disse o diretor.

Na categoria longa-metragem, É proibido fumar foi vencedor em nove categorias: melhor filme (voto da crítica), ator (Paulo Miklos), atriz (Glória Pires), atriz coadjuvante (Dani Nefussi) roteiro (Anna Muylaert), direção de arte (Mara Abreu), trilha sonora e montagem (Paulo Sacramento). "É a primeira vez que estou competindo em um festival. Obrigado a Brasília, ao júri e a todos os colegas que estiveram comigo no filme e à minha família, que segura todas as ondas quando estou fora de casa", disse Glória Pires, emocionada e fortemente aplaudida.

O prêmio de melhor direção foi para Evaldo Mocarzal, pelo documentário Quebradeiras. Filhos de João - admirável mundo novo baiano, de Henrique Dantas, foi eleito melhor filme pelo júri popular, prêmio especial do júri oficial e em duas outras categorias extra-oficiais. Representando a banda, o cantor e compositor Moraes Moreira subiu ao palco e fez todos cantar Preta pretinha, uma das músicas mais conhecidas do o antológico grupo de músicos. "Já se passaram alguns anos e o sonho dos Novos Baianos ainda não acabou", disse Moreira, ovacionado pelo público.

Festival de Brasília // Os premiados

PRÊMIOS OFICIAIS - TROFÉU CANDANGO

LONGA-METRAGEM EM 35MM

MELHOR FILME (JÚRI OFICIAL) – R$ 80.000,00
FILME: “É PROIBIDO FUMAR”, DE ANNA MUYLAERT


PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI - R$ 30.000,00
FILME: “FILHOS DE JOÃO, ADMIRÁVEL MUNDO NOVO BAIANO”, DE HENRIQUE DANTAS

PRÊMIO JÚRI POPULAR
MELHOR LONGA-METRAGEM EM 35MM – R$ 30.000,00
E AINDA
PRÊMIO EXIBIÇÃO TV BRASIL
R$ 30 MIL AO MELHOR LONGA-METRAGEM E O TÍTULO PREMIADO INTEGRARÁ A PROGRAMAÇÃO DA EMISSORA.
FILME: “FILHOS DE JOÃO”, ADMIRÁVEL MUNDO NOVO BAIANO, DE HENRIQUE DANTAS

MELHOR DIREÇÃO - R$ 20.000,00
EVALDO MOCARZEL (“QUEBRADEIRAS”)

MELHOR ATOR – R$ 10.000,00
PAULO MIKLOS (“É PROIBIDO FUMAR”)

MELHOR ATRIZ - R$ 10.000,00
GLÓRIA PIRES (“É PROIBIDO FUMAR”)

MELHOR ATOR COADJUVANTE - R$ 5.000,00
BRUNO TORRES (“O HOMEM MAU DORME BEM”)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE – R$ 5.000,00
DANI NEFUSSI (“É PROIBIDO FUMAR”)

MELHOR ROTEIRO – R$ 10.000,00
ANNA MUYLAERT (“É PROIBIDO FUMAR”)

MELHOR FOTOGRAFIA – R$ 10.000,00
GUSTAVO HADBA (“QUEBRADEIRAS”)

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE – R$ 10.000,00
MARA ABREU (“É PROIBIDO FUMAR”)

MELHOR TRILHA SONORA – R$ 10.000,00
MÁRCIO NIGRO (“É PROIBIDO FUMAR”)

MELHOR SOM – R$ 10.000,00
E AINDA
PRÊMIO DOLBY: CONSISTE NA LICENÇA PARA USAR O SISTEMA DE SOM DOLBY (EQUIVALENTE A QUATRO MIL DÓLARES).
MIRIAM BIDERMAN, RICARDO REIS E ANA CHIARINI (“QUEBRADEIRAS”)

MELHOR MONTAGEM - R$ 10.000,00
PAULO SACRAMENTO (“É PROIBIDO FUMAR”)

CURTA OU MÉDIA-METRAGEM EM 35MM

MELHOR FILME (JÚRI OFICIAL) - R$ 20.000,00
FILME: “AVE MARIA OU A MÃE DOS SERTANEJOS”, DE CAMILO CAVALCANTE

PRÊMIO JÚRI POPULAR
MELHOR CURTA-METRAGEM EM 35MM – R$ 20.000,00
E AINDA
PRÊMIO MEGACOLOR/ ESTUDIOS MEGA
R$ 8.000,00 EM SERVIÇOS DO ESTUDIOS MEGA E R$10.000,00 EM SERVIÇOS DO MEGACOLOR
FILME: “RECIFE FRIO”, DE KLÉBER MENDONÇA

MELHOR DIREÇÃO – R$ 10.000,00
KLÉBER MENDONÇA FILHO (“RECIFE FRIO”)

MELHOR ATOR – R$ 5.000,00
ELENCO MASCULINO DE “A NOITE POR TESTEMUNHA” (ALESSANDRO BRANDÃO, ANDRÉ REIS, DIEGO BORGES, IURI SARAIVA E TÚLIO STARLING)

MELHOR ATRIZ – R$ 5.000,00
MARIAH TEIXEIRA (“ÁGUA VIVA”)

MELHOR ROTEIRO – R$ 5.000,00
KLÉBER MENDONÇA FILHO (“RECIFE FRIO”)

MELHOR FOTOGRAFIA – R$ 5.000,00
BETO MARTINS (“AVE MARIA OU A MÃE DOS SERTANEJOS”)

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE – R$ 5.000,00
VICENTE SALDANHA (“OS AMIGOS BIZARROS DO RICARDINHO”)

MELHOR TRILHA SONORA – R$ 5.000,00
MARCUS SIQUEIRA E THIAGO CURY (“A NOITE POR TESTEMUNHA”)

MELHOR SOM – R$ 5.000,00
NICOLAS HALLET (POR “AVE MARIA OU A MÃE DOS SERTANEJOS” E “AZUL”)

MELHOR MONTAGEM – R$ 5.000,00
GUILE MARTINS (“BAILÃO”)

CURTA-METRAGEM DIGITAL

MELHOR FILME (JÚRI OFICIAL) – R$ 15.000,00
“ENSAIO DE CINEMA”, DE ALLAN RIBEIRO

MELHOR DIREÇÃO – R$ 10.000,00
MAURÍCIO OSAKI – “LEMBRANÇA”

MELHOR ATOR – R$ 5.000,00
JOÃO VÍTOR D’ALVES – “OBRA-PRIMA”

MELHOR ATRIZ – R$ 5.000,00
LARISSA SARMENTO – “MAS NA VERDADE UMA HISTÓRIA SÓ”

MELHOR ROTEIRO – R$ 5.000,00
THEREZA JESSOURON – “DOIS MUNDOS”

MELHOR FOTOGRAFIA – R$ 5.000,00
PIERRE DE KERCHOVE – “LEMBRANÇA”

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE – R$ 5.000,00
HENRIQUE DANTAS – “APREÇO”

MELHOR TRILHA SONORA – R$ 5.000,00
VÍTOR ARAÚJO – “DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ”

MELHOR SOM – R$ 5.000,00
RENATO CALAÇA – “DOIS MUNDOS”

MELHOR MONTAGEM – R$ 5.000,00
JIMI FIGUEIREDO – “QUASE DE VERDADE”

OUTROS PRÊMIOS

CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
Melhor longa em 35mm R$ 75.000,00
E ainda Prêmio Quanta
R$ 10.000,00 em equipamentos de iluminação e maquinaria
FILME: “PERDÃO MISTER FIEL”, DE JORGE OLIVEIRA

CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
Melhor longa em 35mm R$ 35.000,00
2º lugar em classificação
FILME: “O HOMEM MAU DORME BEM”, DE GERALDO MORAES

CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
Melhor média ou curta em 35mm R$ 20.000,00
E ainda Prêmio Quanta
R$ 8.000,00 em equipamentos de iluminação e maquinaria
FILME: “VERDADEIRO OU FALSO”, DE JIMI FIGUEREDO

CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
Melhor média ou curta em 35mm R$ 10.000,00
2º lugar em classificação
FILME: “DIAS DE GREVE”, DE ADIRLEY QUEIRÓS

CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
Melhor filme Digital R$ 10.000,00
E ainda Prêmio Quanta
R$ 4.000,00 em equipamentos de iluminação e maquinaria
FILME: “EL CINE NO MUERTO”, DE ANDRÉ MIRANDA

AQUISIÇÃO CANAL BRASIL
Cessão de um Prêmio de Aquisição, no valor de R$ 10.000,00, ao Melhor Curta 35mm selecionado pelo júri Canal Brasil.
FILME: “RECIFE FRIO”, DE KLÉBER MENDONÇA

PRÊMIO DA CRÍTICA - TROFÉU CANDANGO
Melhor longa 35mm
FILME: “É PROIBIDO FUMAR”, DE ANNA MUYLAERT
PRÊMIO DA CRÍTICA - TROFÉU CANDANGO
Melhor curta em 35mm.
FILME: “RECIFE FRIO”, DE KLÉBER MENDONÇA

PRÊMIO ABCV DF 2009
Troféu conferido pela Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo do Distrito Federal ao Melhor Curta em 35mm do Distrito Federal.
FILME: “SENHORAS”, DE ANDRIANA VASCONCELOS

PRÊMIO VAGALUME
Troféu conferido por integrantes do projeto Cinema para Cegos, da Diretoria de Inclusão Sociocultural, da Secretaria de Cultura do DF
Melhor Longa 35mm.
FILME: “FILHOS DE JOÃO, ADMIRÁVEL MUNDO NOVO BAIANO”, DE HENRIQUE DANTAS

PRÊMIO VAGALUME
Melhor Curta 35mm
FILME: “RECIFE FRIO”, DE KLÉBER MENDONÇA

PRÊMIO SARUÊ
Conferido pela equipe de cultura do jornal Correio Braziliense.
PELO ARREBATAMENTO QUE A EXIBIÇÃO PROVOCOU NOS ESPECTADORES, PELA ORIGINALIDADE E CRÍTICA SOCIAL CONTIDAS NA OBRA E PELA PRESENÇA VIBRANTE DE DONA LIA DE ITAMARACÁ NA TELA DO CINE BRASÍLIA, A EQUIPE DE CULTURA DO CORREIO BRAZILIENSE DESTINA O PRÊMIO SARUÊ AO CURTA-METRAGEM RECIFE FRIO, DE KLEBER MENDONÇA FILHO.

MARCO ANTÔNIO GUIMARÃES - TROFÉU CANDANGO
Conferido pelo Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro para o filme que melhor utilizar material de pesquisa cinematográfica brasileira.
FILME: “FILHOS DE JOÃO, ADMIRÁVEL MUNDO NOVO BAIANO”, DE HENRIQUE DANTAS

Festival de Brasília // Duas faces da cultura pernambucana

Brasília (DF) - Azul, de Eric Laurence, e Faço de mim o que quero, de Petrônio Lorena e Sérgio Oliveira apresentaram anteontem em Brasília duas faces do cinema - e da cultura pernambucana. Recebidos positivamente pelo público, eles foram exibidos anteontem à noite, no Cine Brasília, antes do longa mineiro A falta que me faz, de Marília Rocha.

Ambientado no interior do estado, o curta de Laurence tem composição rigorosa, tanto na imagem de Antonio Luiz Mendes, que explora tonalidades, texturas e a geometria de espaços vazios, como no áudio de Nicolas Hallet, que reconstrói o ambiente sonoro em torno da personagem na sala de projeção. O detalhismo foi tanto que a produção, coordenada por Isabela Cribari, levantou uma casa especialmente para contemplar o roteiro. "Passei dois meses procurando uma casa no vazio e não encontrei. A solução foi contruir uma", disse Laurence, na coletiva de ontem.

Em outro eixo criativo, o filme de Lorena / Oliveira procura trazer para si o espírito da música brega contemporânea - a ponto de uma jornalista na coletiva rotulá-lo como "brega-movie". O fato é que o curta estampou na tela do Cine Brasília uma série de símbolos do universo do brega atual, como o carrinho de CD pirata, cabelos oxigenados ou alisados na chapinha, cabarés, travestis e dançarinas, no que pode ser a primeira produção exclusivamente voltada para o tema no cinema. Assim como no título (retirado de uma das músicas), o curta "faz de si o que quer". Há participações do Conde do Brega, Kelvis Duran, banda Vício Louco, João do Morro e Rodrigo Mell, que contracena com a atriz Sâmara Cipriano numa espécie de fotonovela às margens da praia de Brasília Teimosa. "O brega hoje é multifacetado, uma mistura de ritmos caribenhos. Por isso optamos pelas várias linguagens", disse Lorena.

Questionado sobre a ausência de informações que contextualizem o espectador (principalmente os que não conhecem o Recife), Oliveira disse que era exatamente essa a intenção. "Outros veículos como a TV podem ser mais didáticos. Nós preferimos não seguir nada. Fizemos o filme com muita liberdade".

Curiosamente, o longa documentário A falta que me faz contém elementos dos dois curtas. Nele, Marília Rocha acompanha a vida de quatro garotas adolescentes na Serra do Espinhaço, interior de Minas Gerais. Isoladas do resto do mundo, elas se divertem dançando e se auto-afirmam, conscientes de que a violência machista e outras ameaças estão à espreita.

(Diario de Pernambuco, 25/11/2009)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Festival de Brasília // Dionísio como guia



Com trilha sonora de Naná Vasconcelos, o curta brasiliense A descoberta do mel, da artista plástica Joana Limongi, foi destaque na Mostra Brasília 35mm, no último domingo. Adaptação da tela homônima do século 16, do pintor italiano Piero di Cosimo, o filme mostra um delírio dionisíaco onde uma mulher se banha em mel e delira com sátiros em torno de uma árvore. Jura Capela (fotografia), Grilo (montagem) e Pablo Lopes (som) fazem parte da equipe.

O jardim das delícias, por sinal, é a inspiração do primeiro longa de Jura Capela, Jardim Atlântico. Ele se prepara para filmar no Recife a última etapa de seu primeiro longa, Jardim Atlântico. Será em meados do mês de março, durante festa a ser escolhida. Enquanto a festa rola, sem que o público saiba, Hermila Guedes participa de uma cena de violência regada a tiros no quarto ao lado.

Festival de Brasília // "É proibido fumar", de Anna Muylaert: promessa não cumprida



Brasília (DF) - A 42ª. edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro termina hoje, com a cerimônia que premiará os melhores filmes com um total de R$ 470 mil e vários Candangos, a mais antiga estatueta dourada do país. Antes, haverá a exibição do curta Brasília, capital do século (1959), de Gerson Tavares, e Brasília, a última utopia (1989), de Vladimir Carvalho, Geraldo Moraes, Pedro Jorge de Castro, Moacir de Oliveira e Roberto Pires. Trata-se de uma sessão especial, em virtude dos 50 anos de aniversário da capital federal, a serem completados em 2010.

Seis longas e doze curtas estão na expectativa da escolha do júri oficial, formado pelo cineasta Paulo Caldas, a atriz e produtora Denise Dummont, o jornalista Carlos Heli de Almeida, o produtor Flávio Tambelinni, a atriz Rosane Mulholland e o produtor Mauro Giuntini. Se depender da reação da plateia, até o encerramento desta matéria, a escolha do público aponta para Recife frio, de Kleber Mendonça, Filhos de João - admirável novo mundo baiano, de Henrique Dantas e É proibido fumar, de Anna Muylaert.

Durval Discos 2 - Exibido na noite de anteontem, o longa de Muylaert estabeleceu sintonia imediata com o público, que riu bastante na primeira metade e na segunda permaneceu em silêncio, não se sabe se compenetrado ou por simples indiferença. Com várias participações especiais (Lourenço Mutarelli, Marcelo Mansfield, Antonio e André Abujamra) na manga, É proibido fumar parte do encontro Baby (Glória Pires) e seu novo vizinho Max (o titã Paulo Miklos), casal improvável que tem ao menos um ponto em comum: a predileção pelos anos 70, algo já trabalhado pelo personagem principal de Durval Discos. Ela, pelo viés do passado afetivo - sai a mãe de Lula, entra a garota interrompida; ele, vive na prática os valores ripongas que conserva até hoje, apesar de tocar samba numa churrascaria para ganhar uns trocados, numa das cenas mais inusitadas já que Miklos sempre investiu na imagem roqueira. Pires é outra a romper com a imagem de boa moça ao fumar um cigarro de maconha.

Na verdade, sua personagem é uma viciada em cigarros que abandona o vício a pedido do pretendente. "Mas o filme é sobre as zonas onde é proibido pisar numa relação", diz a diretora, em conversa com o Diario. Com o novo longa, Muylaert retoma a estética "lado A / lado B" com a qual chamou atenção em 2002 com Durval Discos.

Uma manobra arriscada, que pode ser recebida como um balde de água fria por quem entrou na viagem do início. Pois há a chance do espectador lidar com a sensação de promessa não cumprida. Claro que mudança de comédia de costumes para thriller de suspense pode também agradar. A prova de fogo virá no dia 4 de dezembro, quando o filme estreia nacionalmente.

Curtas - Antes do longa de Muylaert, dois curtas foram exibidos no Cine Brasília, que estava lotado. O baiano Carreto, de Marília Hughes e Cláudio Marques e o curta brasiliense A noite por testemunha, de Bruno Torres. O último demonstrou força ao narrar o famoso episódio de 1997 que culminou na morte de um índio pataxó na mão de um grupo de jovens da capital federal. Não linear, o roteiro devolve à vítima a imagem digna que ele não teve direito nos últimos instantes de vida. A produção, no entanto, deixa a desejar melhor condução e acabamento.

(Diario de Pernambuco, 24/11/2009)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Festival de Brasilia // Curtas de Pernambuco são favoritos


Cena de Recife frio, de Kleber Mendonça Filho

Brasília (DF) - Com a exibição de Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante e Recife frio, de Kleber Mendonça Filho, o Festival de Brasília mais uma vez se confirma como reduto do cinema pernambucano. Ambas as produções foram bem recebidas por crítica e público durante o fim de semana. O último, exibido na noite de sábado, foi motivo de longa ovação, com direito a urros do tipo "dá-lhe Recife!", o que o coloca como franco favorito ao Candango de melhor curta-metragem. A programação encerrou com o longa O homem mau dorme bem, de Geraldo Morais, onde Luis Carlos Vasconcelos interpreta um romântico vítima da miséria humana, que busca vingança para dormir o sono dos justos.

Assim que for exibido no Recife, o curta de Kleber vai dar o que falar. Com humor ácido (o grupo inglês Monty Python é referência explícita) e vingativo, Recife frio coloca a capital pernambucana como cenário de uma ficção distópica, onde convenções sociais, culturais e arquitetônicas são levadas ao limite. No caso, é criada uma realidade paralela onde uma reviravolta climática faz a temperatura da capital pernambucana oscilar entre 5 e 10ºC. Mendigos morrem congelados; pinguins invadem as praias; pessoas se trancam em shopping centers. Em falso documentário televisivo, um repórter mostra um vendedor de artesanato (Junior Black) explicando a mudança nas casinhas de madeira de Olinda, que agora têm chaminé. Há inversões sociais, como a evasão de novos-ricos dos apartamentos na beira-mar de Boa Viagem e a migração de filhinhos de papai para o quarto da empregada (que agora dorme numa suíte espaçosa e gelada) e uma visão petrificante das pontes sobre o Capibaribe, descrito como uma "calda escura que um dia foi um rio".

A irreverência corrosiva transborda para o próprio filme, híbrido de ficção-científica, documentário, comédia e videoclipe. Este último foi a linguagem utilizada para o nobre tratamento dado a Lia de Itamaracá, que anima uma ciranda movida a gorros e cachecóis. A grandeza de Lia nunca esteve tão bem representada quanto aqui. É o momento em que o filme transcende para algo quase sobrenatural. Depois de tanta iconoclastia, um momento de afirmação do que há de bom em nossa cultura. De quebra, prova cabal de que é possível representar a cultura popular sem recorrer a meia dúzia de clichês.

Busca semelhante de Ave Maria ou mãe dos sertanejos, exibido na noite de sexta-feira. Na tela grande, o apelo visual de ganha força e grava na retina um Sertão belo e melancólico, construído em tons de azul, verde e dourado (de sol e luz de velas). Assim como Lia, a voz de Luiz Gonzaga foi aplaudida pela plateia. Camilo Cavalcante afirma que o filme é o Sertão "de dentro pra fora", já que contou com um grupo de moradores de Serrita na produção, em que a câmera parece assumir o ponto de vista da própria Virgem Maria, que no fim do dia direciona seu olhar piedoso para os sertanejos. De acordo com o diretor, não há viés religioso no projeto. "O fim do dia é um momento reflexivo, em que as pessoas buscam a redenção, algo que as sustente e dê força para seguir adiante".

Exibido logo depois, Quebradeiras, novo longa de Evaldo Mocarzel, dialoga diretamente com o filme de Camilo. Os dois prescindem da palavra (sem diálogos ou depoimentos) em prol do rigor estético (visual e sonoro, que realça o som do ambiente) e recursos de ficção. Dedicado aos representantes do "documentário mineiro contemporâneo": Cao Guimarães, Helvécio Marins, Pablo Lobato e Marília Rocha, Quebradeiras mostra o cotidiano de mulheres que trabalham em plantações de babaçu na região do Bico do Papagaio, entre os estados do Maranhão, Tocantins e Pará. Uma realidade quase ancestral, fotografada pela lente precisa do veterano Gustavo Hadba. "Durante nove filmes persegui a imponderabilidade do real. Para fazer este, criei alguns dogmas: aboli entrevistas; não há câmera na mão e todos os planos foram pensados antes de rodar; e pela primeira vez trabalhei com trilha sonora", disse o diretor, antes da sessão começar.

Após décadas de jornalismo (foi editor do Caderno 2 do Estado de São Paulo) Mocarzel já dava pistas da mudança de estilo em À margem do lixo (exibido em Brasília no ano passado), onde constroi pequenas vinhetas "sensoriais" para representar o processo de reciclagem industrial. Formato mais do que interessante, vindo de alguém que, mesmo depois de migrar para a linguagem do cinema, continuou se expressando através da palavra. Talvez por se tratar da primeira experiência, a ideia torna-se cansativa quando estendida para 85 minutos de projeção. O que torna Quebradeiras uma pedra bruta a ser lapidada. A conferir.

Na noite de hoje, a última da mostra competitiva, haverá a estreia de dois novos curtas pernambucanos: Azul, de Eric Laurence e Faço de mim o que quero, de Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena.

(Diario de Pernambuco, 23/11/2009), com alterações e acréscimos.

sábado, 21 de novembro de 2009

Festival de Brasília // Política e sexo na tela do cinema


Recife Frio, de Kleber Mendonça, estreia hoje em Brasília

Brasília (DF) - O presidente Lula voltou a surgir na tela do 42º Festival de Brasília, desta vez como participante do documentário brasiliense Perdão, mister Fiel.

Dirigido pelo jornalista Jorge Oliveira, o filme foi exibido na mostra competitiva da noite de quinta-feira e conta a história de Manoel Fiel Filho, operário comunista torturado e morto em 1976 pelo DOI-CODI, órgão de repressão da ditadura militar. O assassinato ocorreu após o "enforcamento" do jornalista Vladimir Herzog. Logo depois, o governo mudou de postura e abrandou seus métodos. Na plateia estavam a viúva do operário, Tereza Fiel, e o político ex-comunista Roberto Freire. Ao final, aplausos sóbrios e solenes no lotado Cine Brasília.

Tortura é o filme
Com sofríveis recursos de ficção (sessões de tortura em preto e branco e alguns objetos coloridos), Oliveira optou por intercalar depoimentos da família de Fiel com os de políticos como Sarney e FHC (ambos vaiados), brasilianistas (o filme afirma que a culpa de tudo é da política intervencionista dos EUA) e de quem conduziu aqueles tempos com mão de ferro, como o ex-ministro Jarbas Passarinho, o ex-presidente Geisel (arquivo) e um ex-funcionário do GOE, que abre o jogo e revela o nome dos agentes responsáveis pelas torturas. Como tema, imprescindível; enquanto cinema, nem tanto.

Neste sentido, os curtas da noite se garantiram mais que a cine-reportagem de Oliveira. Bailão, de Marcelo Caetano, tem como tema a homossexualidade masculina e mescla depoimentos sonoros de senhores gays que viveram na época pré-AIDS, com imagens dos mesmos num salão de uma boate da noite paulistana. Os primeiros minutos trazem um ótimo diálogo com cenas de O baile, de Ettore Scolla. Logo após, o carioca Água viva, de Raul Maciel, traz a atriz Mariah Teixeira como uma estudante adolescente que se envolve com um empregado de seu pai.

Estreia - Entre os filmes da noite de hoje está o curta Recife frio, de Kleber Mendonça Filho. Originalmente concebido como um falso documentário sobre uma suposta mudança climática na capital pernambucana, o filme é considerado pelo diretor como um ensaio de ficção. "Comecei o projeto em 2006, estimulado por uma insatisfação com o Recife como espaço urbano, uma cidade tropical totalmente abandonada. As pessoas não andam nas ruas durante o dia porque a arquitetura e o sol não ajudam, o que terminar por tornar o Recife em uma cidade fria", explica Kleber.

Com 26 minutos de duração, o filme incorpora locações em diversas cidades para simular o Recife em baixa temperatura, entre elas São Paulo, Belo Horizonte, Garanhuns, Gravatá, Calhetas, Gramado e uma inusitada praia na África do Sul.

(Diario de Pernambuco, 22/11/09)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Festival de Brasília // Camilo Cavalcante busca terceiro Candango



Com dois Candangos na prateleira, Camilo Cavalcante concorre a uma terceira estatueta brasiliense na noite de hoje, com o novo curta, Ave Maria ou mãe dos sertanejos. Rodado em Serrita, Sertão central de Pernambuco, o documentário tem cerca de 12 minutos e apresenta cenas da vida cotidiana em vários sítios da região, regidos pela música Ave Maria sertaneja, de Luiz Gonzaga, transmitida diariamente às 18h.

A estrutura é a mesma de Ave Maria ou mãe dos oprimidos, dirigido por Cavalcante em 2003. A metodologia é outra.

Para realizar seu 13º curta, o diretor abriu mão da própria autoria e ofereceu oficinas de cinema para 17 moradores de Serrita, terra da Missa do Vaqueiro. Um deles, o geógrafo Lula Peluzio, acompanha Camilo no festival e quer seguir carreira no cinema.

"Com a comunidade pensando o filme, ele sai da superficialidade de ver o Sertão de fora pra dentro, como um estrangeiro. Com a equipe local, me senti muito próximo das pessoas e essa intimidade só foipossível porque seus parentes e amigos estavam na filmagem". Em retribuição, nos créditos finais, o nome de Camilo - assim como o do fotógrafo Beto Martins e o técnico de som Nicolas Hallet - foi colocado na mesma categoria que os alunos, despersonalizando a lógica que quase sempre recai no bordão "um filme de...".

Na época da filmagem, a chuva interferiu no ambiente, assim como no dia a dia das pessoas. "Conseguimos o cheiro de Sertão verde, de celebração, do regresso em vez do êxodo, diferente do chão rachado muitas vezes mostrado pelo cinema. As pessoas agradecem a Nossa Senhora por isso. Esse e outros costumes arcaicos que daqui a pouco pode não existir mais por conta da globalização, que navalha hábitos seculares. No filme há pessoas de 90 anos, talvez a última a sustentar certos costumes. Não é uma crítica, mas uma constatação de que parabólica chegou".

Ave Maria ou mãe dos sertanejos é o segundo projeto de uma trilogia que se encerrará com uma visão de como a burguesia se relaciona com a Virgem Maria,cujo tema musical será a Ave Maria de Gunot. "Eles também respeitam a música tocada todo dia na mesma hora, mas diferente da quase resignação dos oprimidos e da intimidade sertaneja, é algo impregnado pela formação católica".

(Diario de Pernambuco, 20/11/09)

Festival de Brasília // Leveza dos Novos Baianos depois de Lula



Brasília (DF) - A primeira noite da mostra competitiva do Festival de Brasília serviu de antídoto para a tumultuada abertura com a exibição de Lula - o filho do Brasil. Na última quarta-feira, o Cine Brasília foi tomado pela leveza das canções dos Novos Baianos, que ganharam documentário à altura com direção do estreante Henrique Dantas. Filhos de João - admirável mundo novo baiano despertou a plateia para a aventura insólita protagonizada por Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Dadi, Paulinho Boca de Cantor, Gato Félix e Galvão - os três últimos, presentes na sessão, intensamente aplaudida.

Ideologicamente, o filme é um elogio às experiências libertárias que vieram à tona nos anos 70, sob o signo da cultura hippie. Feito com poucos recursos ao longo de dez anos, ele se apropria da inventividade guerrilheira de seus personagens. "A atitude de fazer é maior do que os limites técnicos", disse Dantas, na coletiva de ontem. Imagens de Superoutro de Edgard Navarro e Caveira my friend, de Alvaro Guimarães e Meteorango Kid, de André Luiz Oliveira, fincam referencial no cinema marginal baiano. "As imagens digitais que fizemos há dez anos também se transformaram em arquivo", disse o técnico de som Nicolas Hallet, sobre a unidade estética do projeto.

Compositor de Acabou chorare, Galvão é figura-chave na gênese do grupo que viveu princípios anarquistas em plena ditadura militar. Sob as bençãos de Tom Zé, amigo de Irará, ele foi apresentado a Moreira. Anos mais tarde, foi ele quem convidou João Gilberto, conterrâneo de Juazeiro, para uma visita ao apartamento e colocar a turma roqueira no eixo da reinvenção da MPB (daí o nome do filme). Ausente nas imagens, João paira sobre o filme onipresente como um deus. O grupo, por sinal, é apresentado em certo ponto como um sonho que ele teve, de tocar com músicos que moram na mesma casa. Outra forte ausência é a de Baby Consuelo, que gravou, mas condicionou a liberação das imagens ao pagamento de um cachê.

Mais do que banda, os Novos Baianos eram um coletivo movido a música e futebol. Como time, por sinal, eles chegaram a jogar no Recife. Há divergências, porém, sobre qual foi o time adversário. Gato Félix diz que foi o Náutico; pela memória de Galvão, foi contra o Santa Cruz. Com o resultado, os dois concordam: 11 x 1 para os pernambucanos.

(Diario de Pernambuco, 20/11/2009)

"Se nada mais der certo", de José Eduardo Belmonte, estreia no Recife



"A gente é educado para não roubar, mas não é educado para não ser roubado". A partir dessa premissa, Se nada mais der certo, de José Eduardo Belmonte, se constrói como uma crônica urbana protagonizada por três habitantes de uma metrópole genérica.

Cauã Reymond é Léo, jornalista desempregado que precisa sustentar a família com demandas de classe média. Certo dia, sua esposa (Leandra Leal) o apresenta a Marcin (Caroline Abras), figura de comportamento andrógino e vida noturna radical. A amizade entre eles é instantânea e leva à revolta contra as durezas da vida. A decisão por ações ilegais como fonte de renda os leva ao taxista Wilson (João Miguel), que vive uma melancólica crise existencial.

Enquanto os três assaltam um banco disfarçados com máscaras de José Sarney, FHC e Collor, a antiga música dos Saltimbancos diz: "todos juntos somos fortes". Nesse contexto, a evocação nostálgica da canção infantil dos anos 80 aponta para a inocência perdida pelo trio de cúmplices, agora marginais. Ao mesmo tempo, relativiza o banditismo em que se metem. Enquanto os anti-heróis de Belmonte buscam a liberdade perdida em algum lugar do passado (a trilha com Jimi Hendrix, na fuga para a natureza dá a pista ideológica), os senhores da República cometem delitos por motivos bem diferentes.

(Diario de Pernambuco, 20/11/09)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Filme sobre retirante que virou presidente é testado no Recife



Brasília (DF) - Somente para convidados, Lula, o filho do Brasil teve sua primeira exibição pública durante a abertura do 42º. Festival de Brasília. Com inegáveis qualidades técnicas e recursos narrativos direcionados a grandes audiências, o longa-metragem dirigido por Fábio Barreto "nasceu" em sessão hour concours, na noite de anteontem, no Teatro Nacional. No Recife, o filme que dramatiza a biografia do presidente em exercício Luiz Inácio Lula da Silva tem pré-estreia marcada para hoje, às 20h, no Teatro Guararapes, com a presença do elenco principal. Até janeiro, quando estreia em pelo menos 500 salas do circuito nacional, haverá sessões especiais em São Bernardo do Campo, João Pessoa (durante o Fest Aruanda) e no Rio de Janeiro.

Desde o ano passado, quando anunciaram o início das filmagens, os Barreto e demais membros da equipe (inclusive atores) reiteram o mantra de que não há intenção política em dramatizar a história do retirante pernambucano que chegou à presidência. Não por acaso, a estrutura é similar à de Dois filhos de Francisco. Só que em vez do show triunfante no final da história, há imagens de arquivo da posse presidencial de 2003. "Este não é um filme político, mas um melodrama épico. Antes de tudo, é a história de uma mãe e seu filho. Em segundo lugar, está o drama das milhares de famílias que migraram do nordeste em busca de melhores condições", disse Fábio Barreto, em coletiva de imprensa promovida na manhã de ontem.

Mesmo com todas as negativas, não há dúvida de que o filme se tornará um poderoso agente mitificador da figura do presidente - e claro que isso tem sua função política. Por sua vez, a ascendente popularidade e prestígio de Lula alimenta o interesse pela película. Os produtores agradecem: de que outra forma empreiteiras, fabricantes de automóveis e de bebidas e outros representantes da iniciativa privada bancariam uma produção com orçamento de R$ 16 milhões, o maior do cinema nacional?

A presença da GloboFilmes como co-produtora é no mínimo curiosa. Afinal, em 1989, a TV Globo, foi acusada de manipular a edição do último debate entre Lula e Collor, o que teria sido decisivo na derrota do petista. Vinte anos depois, uma das empresas do grupo - responsável pela estratégia de Os normais e Se eu fosse você - pretende tornar a cinebiografia do atual presidente, além de possível candidata ao Oscar de melhor filme estrangeiro, na maior bilheteria do cinema nacional.

Para tanto, apelo popular não falta à produção. De forma direta, a vida pregressa de Lula (Rui Ricardo Dias, longe da caricatura fácil) é contada cronologicamente, de 1945, quando nasceu nas mãos da parteira em Caetés, agreste pernambucano, a 1980 quando morre a mãe, Dona Lindu (Glória Pires). Entre a bondade do irmão Jaime (Maicon Gouveia), decisiva para a migração da família, e a violência do pai Aristides (Milhem Cortaz), surge o operário prestes a ser mutilado, no corpo pelo acidente na fábrica, e na alma, pela perda de Lurdes (Cléo Pires), a primeira esposa, no momento do parto.

Combalido, no colo da mãe, o heroi retoma o poder ao lado da nova companheira, Marisa (Juliana Baroni), cujo primeiro encontro tem um viés engraçado e gerou o momento mais descontraído na plateia. Ao que Lula ascende enquanto liderança sindical, a reconstituição do discurso para 80 mil trabalhadores no Estádio da Vila Euclides, feito com 600 figurantes multiplicados digitalmente, se torna um dos momentos mais vibrantes dos 125 minutos de projeção.

Apelo popular de Lula não contagia Brasília
Nunca antes na história do Festival de Brasília uma cerimônia de abertura foi tão tumultuada. Do lado de dentro da sala Villa Lobos do Teatro Nacional, pelo menos 200 pessoas, entre ministros, congressistas e até parte do elenco principal ficaram sem ter onde sentar.

Do lado de fora, foi grande o empurra-empurra para conferir o mais polêmico filme brasileiro dos últimos tempos. Muita gente ficou pra fora. Outros conseguiram entrar na base da "carteirada". Sintomas de um evento disputado em Brasília.

Ao mesmo tempo, nada poderia ser mais simbólico para o festival, famoso por acolher filmes polêmicos e de inclinação política, do que começar as atividades recebendo uma plateia em grande parte formada por políticos e funcionários públicos de diferentes escalões. Lula, personagem principal da produção, não compareceu. Esteve representado pela primeira-dama Marisa Letícia, que no final da sessão abraçou emocionada Glória Pires, disse que se viu na interpretação de Juliana Baroni e as convidou para, junto com os Barreto, tomar um drinque com o presidente no Palácio do Planalto.

A mesma elegância não ocorreu antes da projeção, quando quase rolou um barraco. Dispensando qualquer formalidade, o clã Barreto criticou a falta de cadeiras para o elenco. Irritado com a organização, Fábio praticamente arrancou o microfone da mão da irmã e ameaçou não começar a sessão enquanto o problema não fosse resolvido. Chegou a sugerir que uma fileira de 30 pessoas se levantasse para acomodar o grupo. Como resposta, ouviu vaias e brincadeiras de mau gosto. A situação inclusive ofuscou uma tentativa de protesto a favor da extradição de Cesare Battisti, promovido pelo grupo cearense Crítica Radical.

A confusão certamente não se repetirá hoje à noite, no Recife, já que o Teatro Guararapes comporta 3 mil pessoas. De acordo com a assessoria de imprensa da Bertini Produções, responsável pelo evento, 1.500 convites duplos foram distribuídos a autoridades, formadores de opinião, empresários, profissionais liberais, estudantes e cineastas. Entre osconvidados especiais estão o governador Eduardo Campos e a família de Lula (uma parte vem de São Paulo e outra de Caetés e Garanhuns). O presidente, que originalmente estaria na sessão cancelou a viagem porque quer evitar conotação política. Assistirá o filme com os sindicalistas, no próximo dia 28, em São Bernardo do Campo. De qualquer forma, por precaução, uma dica para possíveis coquetéis que antecedam ou encerrem tais eventos: evitem a gafe do buffet de Brasília, que serviu, entre outros quitutes, picadinho de lula no casquinho.

Barretão pendura chuteiras
Aos 81 anos, Luiz Carlos Barreto encerrou a coletiva de ontem com a inesperada declaração de que Lula, o filho do Brasil foi a última produção de sua longa trajetória no cinema.

"Depois de 46 anos de militância cinematográfica, estou entregando o leme a Paula, Fábio, Bruno e Júlia", disse Barretão, ao lado de sua esposa Lucy. "Esse filme, que tive a felicidade de estar vivo para fazer, completou minha carreira", garantiu o veterano produtor de Dona Flor e seus dois maridos (1978), a maior bilheteria da história do cinema nacional.

Cearense de Sobral, Barreto começou a carreira como fotógrafo da revista Cruzeiro, ofício que transpôs para o cinema em pelo menos dois clássicos: Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos, e Terra em transe, de Glauber Rocha. Em 1961 fundou a LC Barreto, cuja primeira produção foi Assalto ao trem pagador, de Roberto Farias. De lá para cá, mais de 80 filmes foram lançados sob a marca da produtora.

Sobre o derradeiro trabalho, que nasceu sob sua iniciativa com base no livro homônimo de Denise Paraná, Barreto afirmou com veemência que nele não há qualquer sentido eleitoreiro. "É um filme didático. Para mostrar aos brasileiros ricos e pobres que as relações familiares devem ser reforçadas. Pois é assim que se transforma uma nação", disse, enquanto a filha Paula contia as lágrimas.

(Diario de Pernambuco, 20/11/2009)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Festival de Brasília // Daqui a pouco: Lula, o filme



A expectativa é alta com a primeira exibição nacional de Lula - o filho do Brasil.

Mais de 500 cadeiras, quase a metade do Teatro Nacional, estão reservadas a diferentes escalões de funcionários do Planalto. Há quem especule que a pré-candidata Dilma Rousseff está a caminho de Copenhagen para a sessão.

A imprensa do Brasil inteiro está aqui. Agências internacionais também. Mal chegaram ao Hotel Nacional de Brasília, os Barreto foram abordados por repórteres, principalmente de TV. O mesmo acontece com Rui Ricardo Diaz, o ator mineiro que interpreta o presidente, Milhem Cortaz, que faz o pai de Lula, Aristides, e a estrela maior, da produção, Glória Pires, ou melhor, Dona Lindu.

Denise Paraná, a autora a biografia que inspirou o filme, foi vista no saguão do hotel com Barretão, Lucy e Paula Barreto. O assunto foi o presidente Lula, que não estará na sessão que logo mais abre o Festival de Brasília.

Lula também desistiu de comparecer na pré-estreia do Recife, organizada por Alfredo Bertini, do Cine PE. Quer evitar conotação eleitoral.

Como se isso fosse possível.

"Nunca na história deste país" um presidente em exercício teve sua vida biografada pelo cinema. Pelo que me consta, somente George W. Bush, nos EUA, teve tratamento bastante crítico dado por Oliver Stone.

O que está longe de ser o caso do filme dos Barreto.

Daqui a pouco, mais notícias.

Festival de Brasília // Pernambucanos de olho no Candango



A 42ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro começa hoje, com a pompa de sediar a primeira exibição pública do filme Lula, o filho do Brasil. Até o dia 24, seis longas e doze curtas-metragens concorrem ao troféu Candango, sinônimo de prestígio para os realizadores.

Afinal, falamos do mais antigo e um dos mais conceituados festivais do país. Quatro novos curtas pernambucanos estreiam no evento: Faço de mim o que quero, de Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena, Azul, de Eric Laurence, Recife frio, de Kleber Mendonça Filho e Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante.

Juntos, eles correspondem a um terço dos filmes em competição, clara demonstração da força do cinema feito no estado. Laurence, que concorre pela primeira vez no festival, enxerga na situação favorável mais do que talento de seus realizadores. "É reflexo do apoio e incentivo que o cinema têm recebido em Pernambuco", diz o cineasta.

Estrelado por Zezita Matos, Magdale Alves e Irandhir Santos, Azul é o terceiro curta de ficção dirigido por Laurence (Entre paredes), que também assume a montagem. Na equipe estão Antonio Luiz Mendes (fotografia), Isabella Cribari (produção executiva), Dantas Suassuna (direção de arte) e Carlinhos Borges (trilha sonora). Inspirado em conto de Luzilá Gonçalves (Uma doce maneira de ir morrendo), o roteiro gira em torno da solidão de uma mulher analfabeta que mora numa casa isolada e todos os dias procura uma amiga que lê a mesma carta, escrita pelo filho.

Se o curta de Laurence estabelece um locus existencial / ficcional (o cenário foi especialmente construído pela produção), Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante, se debruça nas possibilidades da interseção documentário / poesia. O filme utiliza a mesma estrutura de Ave Maria ou mãe dos oprimidos (2003), desta vez aplicada ao universo do Sertão, onde, às 18h, as rádios executam a música Ave Maria sertaneja, de Luiz Gonzaga.


Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante

"Diferente do anterior, que mostrava a quase resignação dos moradores do centro do Recife com Nossa Senhora, entre os sertanejos há uma relação mais íntima", fala Camilo, duas vezes premiado em Brasília (por História da eternidade e O presidente dos Estados Unidos). Seu novo "filho" conta com fotografia de Beto Martins, som de Nicolas Hallet, edição de Caio Zad e produção de Stella Zimmermann.

Recife frio, do crítico e cineasta Kleber Mendonça Filho (outro ganhador de Candangos por Vinil verde e Noite de sexta, manhã de sábado), parte da suposição de que a capital pernambucana passou por mudanças climáticas que inverteram a temperatura proporcionada pelo sol intenso. O plano inicial era simular um falso documentário, com depoimentos dos cidadãos que mudam hábitos para se adaptar às novas condições que tornaram o Recife, nas palavras do diretor, "um cenário de ficção científica". Enxuta, a equipe é formada por Kleber, Emilie Lesclaux e Juliano Dornelles.

O universo da música brega é o mote de Faço de mim o que quero, parceria entre Petrônio Lorena (O som da luz e do trovão, 2004) e Sérgio Oliveira (Porcos corpos, 2003). Rodado em locações como a praia de Brasília Teimosa (entre Boa Viagem e o centro do Recife), o filme procura traduzir a cultura mais popular da capital ao acompanhar um carrinho de CDs que propaga o som de compositores do gênero, como o Conde do Brega, não por acaso, um dos personagens.

(Diario de Pernambuco, 17/11/09)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Andanças de um lambe-lambe



Cinema de dois tões, média-metragem dirigido por Luiz Santos, se constroi entre intervalos de luz e tempo. Registro de uma série de viagens fotográficas do diretor ao lado de Tonho Ceará, um dos últimos do país a trabalhar com equipamento lambe-lambe, o filme será lançado hoje à noite no Cinema da Fundação, como parte das atividades da 3ª Semana de Fotografia do Recife.

A sessão será seguida de um bate-papo com os fotógrafos e dois outros integrantes da produção: Mestre Júlio, especialista em retratos pintados à mão, e Abdênago Souza Leite, também conhecido como "Microfone", que assume a narração do documentário que ainda conta com imagens de Oscar Malta e Francisco Baccaro.

Este é mais um produto do projeto A volta do lambe-lambe, que rendeu imagens realizadas entre agosto de 2006 e março de 2008, em viagens que marcaram o retorno de Tonho Ceará à terra natal, Juazeiro do Norte. Ele saiu de lá há 32 anos, para viver no Recife, onde se estabeleceu fazendo fotos no Mercado deSão José. Dez anos atrás, Santos conheceu Tonho e viu no encontro a oportunidade de contemporanizar o antigo ofício de retratista popular.

De lá pra cá, Tonho entrou em evidência em exposições, imprensa e conquistou o Prêmio Porto Seguro de Fotografia, um dos mais importantes do país. O próximo passo da parceria - ou "simbiose", como descreve Santos - será a exposição Pé de parede, com fotos das andanças da dupla sertão adentro, que abre amanhã no Centro Cultural dos Correios (Recife Antigo).

No caminho de volta para casa, Tonho Ceará fotografou moradores de pequenas cidades como Catimbau, Ibimirim, Riacho da Bandeira e Conceição das Crioulas. No filme, o processo de montagem rendeu um trajeto não-linear, desprendido da veracidade geográfica. "A gente não roteirizou nada. A narrativa foi criada junto com o montador Douro Moura, uma das grandes almas do filme", diz Santos.

O despojamento que busca a poesia se traduz já no título do filme. "Dois tões", expressão popular, corruptela de "tostões", usado para o que é feito sem dinheiro ou tem pouco valor. Em ambos os casos, o termo define a alma de um projeto feito com poucos recursos, que coloca em evidência uma arte cada vez mais esquecida e aqui transvalorizada.

(Diario de Pernambuco, 16/11/09)

Lembranças do Super 8 recifense

Fernando Spencer foi o epicentro de um encontro cada vez mais raro de fundadores do Ciclo do Cinema Super 8 recifense. Aos 82 anos, o cineasta é um dos Patrimônios Vivos de Pernambuco a figurar numa série de 15 minidocumentários realizados pelo projeto Olaria Cultural, com recursos do Edital do Audiovisual da Fundarpe. Eles serão veiculados em cinco programas de televisão com duração de 26 minutos cada.

Onze patrimônios já foram filmados, entre eles Lia de Itamaracá, Zé do Carmo, Índia Morena, o Homem da Meia Noite e a Confraria do Rosário dos Homens Pretos. O objetivo é não só apresentar, mas registrar como cada um deles vive e sentem o reconhecimento da condecoração social. "A ideia é que cada documentário tenha uma identidade própria", diz Hanna Godoy, coordenadora do projeto ao lado de Márcia Mansur.

O grupo de veteranos do cinema pernambucano se encontrou no Cinema da Fundação, na tarde da última segunda-feira. Estavam lá Flávio Rodrigues, Geraldo Pinho, Celso Marconi,Lula Gonzaga, Osman Godoy e Kátia Mesel. Enéas Alvares, Amin Stepple, Jomard Muniz de Brito, Paulo Menelau e Paulo Cunha estiveram ausentes por diferentes motivos, mas foram lembrados pelo grupo. Falecidos, Firmo Neto, Walderes Soares e Lima, técnico de banda sonora foram devidamente evocados. Nos anos 70, eles realizaram dezenas de filmes pessoais, experimentais ou com a marca "de autor". Até então o "fazer cinema" estava restrito aos grandes centros detentores de materiais, equipamentos e mão de obra de alto custo. Nesse sentido, o Super 8 foi precursor da geração video/digital, dado o nível de liberdade na produção e exibição.

Ponta de lança do movimento, Spencer foi recebido pelos amigos, com quem assistiu alguns filmes realizados na bitola Super 8, como Adão foi feito de barro (1978). Entre um rolo e outro, histórias e memórias voltam à tona. Após a sessão, surge o lamento com o descaso com a conservação e circulação de um acervo restrito a fitas pouco acessíveis ao mundo digital. Triste constatação: filmes do Ciclo do Recife dos anos 1920 estão mais preservados do que os do Super 8.

Hanna Godoy diz que a produção do documentário é apenas o pontapé inicial para a realização de um projeto maior sobre os ciclos regionais. "Pretendemos promover uma bateria de palestras e encontros e ampliar o foco para outros estados do país".

(Diario de Pernambuco, 16/11/09)

sábado, 14 de novembro de 2009

It won't be long - músicas para uma solitária noite de sexta


With The Beatles (1963) remasterizado para o século 21.


The Puppini Sisters - Betcha Bottom Dollar (2006)


Otto - Certa manhã acordei de sonhos intranquilos (2009)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Estreia // "2012", de Roland Emmerich: fim do mundo espetacular



2012 é o filme-catástrofe da vez. Nele, o herói norte-americano continua a salvar o mundo, mas desta vez o faz com ajuda global. Sinal dos tempos. Frente ao dilúvio iminente, provocado pelo mesmo cataclisma que varreu os dinossauros da face da Terra, previsto há séculos pelo calendário maia, a cúpula do G8 organiza um plano de sobrevivência capitalista que consiste numa série de "Arcas de Noé" reservada a líderes e milionários que patrocinaram o projeto.

Sintomas da crise real e da geopolítica século 21 assaltam o roteiro: tudo é construído em cooperação internacional; a tecnologia e mão de obra é chinesa; e a África resurge como território central. Os ideais, conflitos e piadas, no entanto, continuam tipicamente norte-americanos. Nem o fim do mundo é capaz de acabar com isso.

Conhecido por outros filmes que expõem a fragilidade dos humanos quando confrontam forças da natureza (10.000 AC, O dia depois de amanhã) e ameaças gigantes (Godzilla, Independence Day), o diretor Roland Emmerich redimensionou o apocalipse na tela grande com impressionante realismo digital.

A devastação começa na Califórnia e logo chega ao Rio de Janeiro (cujo Cristo Redentor desmorona via Globo News), Vaticano e capitólio dos EUA. Como em Titanic, há o naufrágio de um transatlântico, mas isso é apenas um detalhe.

Assim como na vida real, o presidente norte-americano é negro e benevolente (Danny Glover). Alertado pelo geólogo Adrian Helmsley (Chiwetel Ejiofor), ele naturalmente se estabelece como líder global. À sua sombra está o tecnocrata Carl Anheuser (Oliver Platt), chefe de gabinete da Casa Branca. Entre o humanismo do presidente/geólogo (também negro, que aos poucos se estabelece como sucessor potencial e o pragmatismo imperialista de Anhauser, reside o cerne do embate ideológico interno dos EUA.

Entre os mortais que ignoram o dilúvio iminente está Jackson Curtis (John Cusack), escritor da ficção-científica Fuga de Atlântida. Divorciado e em crise, ele leva os filhos ao parque florestal onde encontra uma operação militar e um maluco disposto a transmitir o apocalipse via rádio (Woddy Harrelson).

Sem o imediatismo de quem sabe que o mundo vai acabar amanhã, mas sim como quem tem o chão literalmente abrindo sob os pés, cabe a Curtis/Cusack recuperar o sentido de família - a admiração dos filho; a confiança da ex-esposa. De quebra, salvar algumas vidas. Eis o legado de Hollywood ao resto mundo: as estruturas podem entrar em colapso, mas o american way segue como tábua de salvação.

(Diario de Pernambuco, 13/11/09), com alterações.

Estreia // "Hotel Atlântico", de Susana Amaral



Hotel Atlântico (Brasil, 2009) é o esperado retorno de Suzana Amaral (A hora da estrela) aos 77 anos e após oito anos longe da direção.

Baseado no livro homônimo do autor gaúcho João Gilberto Noll e estrelado por Júlio Andrade, Gero Camilo, João Miguel e Mariana Ximenes, o filme estreia no Recife em apenas uma sala, no Box Cinemas (veja roteiro).

Andrade (Cão sem dono) é o protagonista sem nome, um artista que parte para uma viagem após presenciar a retirada de um corpo do hotel que dá nome ao filme para o IML.

Na estrada, ele cruza com pessoas diferentes: uma polonesa no ônibus (Lorena Lobato); um sacristão (Camilo) que lhe empresta a batina; um enfermeiro (Miguel) e a filha do médico (Ximenes) do hospital de uma pequena cidade, em episódio que marcará sua vida.

(Diario de Pernambuco, 13/11/09)

Cinema // Roteiro da semana em Pernambuco

Após três semanas longe do roteiro de cinema, de volta ao batente.

Fim de semana de poucas estreias. 2012 entra em 15 salas do estado (14 da Grande Recife mais o Eldorado, em Garanhuns).

O brasileiro Hotel Atlântico e o "terror" Garota infernal chegam à cidade via Box Cinemas, onde ganharam uma sala cada.

Paralelo à exibição de Aquele querido mês de agosto, o Cinema da Fundação dá continuidade à "Mostra Cinema Espanhol Atual", realizada pela Embaixada da Espanha no Brasil com apoio do Instituto Cervantes no Recife. Na sexta-feira, Abaixo das estrelas (2007) conta a história de um trompetista deplorável e desocupado, que volta à cidade natal para o enterro de seu pai. No sábado, Rec (2007) apresenta uma jovem repórter de TV à procura de histórias diferentes. A mostra encerra no domingo com Sete mesas de bilhar francês (2007). A entrada é franca.

Bastardos inglórios, de Tarantino, só continua em cartaz graças ao Cinema do Parque, que agora funciona também aos sábados e domingos.

Che 2 - a guerrilha segue firme no Rosa e Silva.

This is it, documentário musical sobre os últimos dias de Michael Jackson ensaia sua partida em salas do Tacaruna, Plaza e Box. O desenho Up resiste somente no Tacaruna, em sessões diurnas no sábado e domingo.

Herois da resistência da semana: Se beber não case e A verdade nua e crua (algo em torno de três meses em cartaz).

Roteiro completo com locais e horários aqui.