terça-feira, 29 de junho de 2010

Zé Celso e trupe estão a caminho para o Recife e convocam artistas para oficinas



A trupe do Teatro Oficina chega quinta-feira ao Recife. Oficinas preparativas para espetáculo Dionisíacas começam na sexta, no Nascedouro de Peixinhos. O espetáculo estreia no dia 7 de julho.

Os workshops, intitulados Uzynas Uzonas, são gratuitos. Cerca de 60 integrantes do grupo estarão no Nascedouro de Peixinhos, ministrando uma dinâmica técnico-artística nas áreas de direção e atuação, música, sonoplastia, iluminação, vídeo, arquitetura cênica e direção de arte, direção de cena, transmissão online e produção. São disponibilizadas 40 vagas para cada oficina - cada aluno pode se inscrever em apenas uma delas.

Os participantes serão aproveitados nos quatro espetáculos encenados no Recife: Taniko (07/07), Estrela Brazyleira a vagar - Cacilda!! (08/07), Bacantes (09/07) e O banquete (10/07), no Teatro Estádio, estrutura que será especialmente montada na Refinaria Multicultural Nascedouro de Peixinhos (Av. Brasília, s/n).

As oficinas acontecem no mesmo local, de 2 a 11 de julho, das 14h às 20h. As inscrições podem ser feitas na Biblioteca do Nascedouro ou por email (refinariapeixinhos@gmail.com.br), enviando a ficha que deve ser baixada no site da Prefeitura do Recife (www.recife.pe.gov.br).

Dirigido por José Celso Martinez Corrêa, Dionisíacas em viagem é financiada pelo Ministério da Cultura. As oficinas são patrocinadas pela Prefeitura do Recife e governo do estado. Mais informações: 3232-7779 / 3244-3325 e pelo site www.teatroficina.com.br.

Cartum de Jarbas premiado no EcoCartoon



O artista pernambucano Jarbas Domingos foi premiado no salão EcoCartoon, de Brasília.

Afeito à temática ambiental, Jarbas tem se destacado em festivais e salões, como no 2º Salão Internacional de Humor da Amazônia e na primeira edição do EcoCartoon.

O primeiro colocado nesta terceira edição é o cartunista José Antônio, do Piauí.

domingo, 27 de junho de 2010

Noronha quer seu Cinema Paradiso



Sessões de cinema numa ilha a 550 quilômetros do continente podem parecer algo um tanto improvável. No entanto, foi o que houve por mais de meio século em Fernando de Noronha, quando, no período em que o arquipélago era administrado pelas Forças Armadas, a cultura cinéfila estava em alta. Nos últimos meses, projetos de exibição de filmes tentaram recuperar essa tradição - boas iniciativas para um local em que as poucas opções culturais geram neuronha, sensação de confinamento comum aos que permanecem na Ilha mais do que uma temporada. É um desafio, considerando que o hábito de assistir a filmes está adormecido.

Inaugurado em maio passado, o Cine Mabuya é filiado à rede Cine + Cultura (do MinC), que investiu R$ 15 mil em capacitação e equipamento (projetor digital, tela 2,43 x 1,82, reprodutor de DVD, duas caixas de som + subwoofer, amplificadores, mesa de som e microfone. O projeto funciona no Clube das Mães (Vila dos Remédios), espaço multiuso que já foi creche e hojeabriga festas, reuniões e atividades afins. Semanalmente, a estrutura precisa ser montada e desmontada. A plateia é recebida em 60 cadeiras de plástico. Na noite de sexta-feira, quando a reportagem do Diario esteve presente, menos de dez pessoas foram assistir à exibição de Bicho de sete cabeças, de Laís Bodansky.

Mabuya é um réptil malemolente e originário da África. Como as bandeiras dos cartões de crédito, pode ser visto em praticamente todos os cantos da Ilha. O Cine, que parte da imprensa reproduziu afoitamente como "o primeiro cinema de Fernando de Noronha" é resultado do esforço do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/MinC), da administração distrital e do governo de Pernambuco de levar cinema ao arquipélago. De acordo com a turismóloga Manuela Fay, coordenadora do Mabuya, a escolha dos filmes passa pelo voto de estudantes da única escola pública da ilha, a partir das sinopses e dos trailers. A divulgação é feita com cartazes e chamadas em rádio e TV. "Inicialmente nossa parceriaé com a escola. Num segundo momento, vamos nos articular com as associações de taxistas e guias".



Durante a sessão de Bicho de sete cabeças, cerca de 20 pessoas do grupo de capoeira local apareceram para a tradicional roda das sextas-feiras. Não sabiam que o Clube das Mães estaria ocupado por outra atividade. Enquanto o filme era exibido, uma pequena discussão se formou na porta do espaço usado pelos capoeiristas desde que perderam a sala onde funcionará a farmácia do Lafepe. "Adoraria ir ao Cine Mabuya, desde que avisassem antes, para não atrapalhar a minha capoeira", disse uma integrante do grupo, que não quis se identificar. Após o incidente, os organizadores do Mabuya decidiram que as sessões seriam aos domingos. A sessão da sexta foi um teste, já que aos domingos a missa estaria roubando o público do cinema.

Aos sábados já existe outro projeto de exibição de filmes, o Cineclube Noronha, mantido pela Associação dos Artistas e Artesãos, e que tem funcionado no auditório da escola. Foi fundado em novembro, época em que foi contemplado pelo Edital do Audiovisual da Fundarpe. No sábado, Dia dos Namorados, o filme em cartaz foi Se eu fosse você 2, de Daniel Filho. A plateia, com exceção deste repórter e três visitantes, se resumiu a quatro integrantes do cineclube. De acordo com o professor Rafael Marinho, presidente do cineclube, o maior público foi para o filme A mulher invisível: 34 pessoas.

Ponta do iceberg - A notória ausência de público nos cineclubes de Fernando de Noronha passa pela histórica - e por vezes intempestiva - falta de sintonia entre moradores e a administração de Ilha, que desde 1988 foi reanexada a Pernambuco. Nesse contexto, sessões esvaziadas são o menor dos problemas. No paraíso dos turistas, moradores reclamam de precariedade na saúde, educação, infra-estrutura, patrimônio e gestão do meio-ambiente.

A nativa Marilda Martins da Costa diz que, para um projeto de exibição de filmes engrenar em Noronha, é preciso uma sala escura própria para a atividade. "O atrativo do cinema é o ambientefechado e o filme em película. Você acha que vou sair de casa pra ver DVD?".

O que talvez Marilda não saiba é que há planos do Iphan e do governo do estado para que o antigo Cassino dos Oficiais, conhecido como Clube do Pico, se transforme em cinema. "No futuro, pensamos transferir o Mabuya para lá", adianta Manuela Fay. As poltronas já estão a caminho. São uma doação do grupo Severiano Ribeiro à Associação de Artesãos, que ficará com 25 e cederá as restantes ao Mabuya.

Saudade dos tempos áureos


Crédito: Acervo do Programa de Resgate Documental de Fernando de Noronha

A história do cinema em Fernando de Noronha remonta à Segunda Guerra Mundial, quando militares promoviam sessões no chafariz que havia em frente à Igreja de Nossa Senhora dos Remédios. No começo dos anos 1950 foi aberta a primeira sala, o Cine Rio Branco, que se manteve por pouco tempo. Em 1957, o clube dos oficiais também exibia filmes, com acesso restrito a amigos e funcionários do Exército. Até que surgiu o Cine Teatro Independência, que comportava até 50 pessoas e atendeu ao público noronhense até 1985, sob administração das forças armadas.



Ana Martins da Costa, a Dona Ananete, chegou na Ilha em 1947 e se lembra das sessões do Rio Branco, o qual frequentava. "A gente sentava em tábuas de madeira, como na igreja. Dava pra mais de cem pessoas. Quem operava o projetor era Edgar Cobrinha, que hoje mora no Recife. Não esqueço dos filmes que passavam lá: Marcados pela sarjeta, Sete homens e um destino, Trinity, Marcelino Pão e Vinho", diz Dona Ananete, que hoje assiste seus clássicos em DVD, no conforto do lar.


Crédito: Acervo do Programa de Resgate Documental de Fernando de Noronha

Um dos projecionistas do Cine Independência, Manuel Pereira da Silva, vulgo Bolinha, conta que o cinema contava com cadeiras acolchoadas, tapete vermelho e equipamento capaz de exibir em 16mm e cinemascope 35mm. "A cada 15 dias o avião trazia filmes recentes, enviados do Recife pela distribuidora ArteFilme, que ficava na Av. Rio Branco. Uma parte do dinheiro do ingresso ia para os operadores, outra para o bilheteiro e outra para o rapaz que enrolava as fitas com manivela".


Em 1966, público aguarda início da sessão no Cine Independência
Crédito: Acervo do Centro de Pesquisa Histórica e Cultural de Fernando de Noronha

O Cine Indepenência viveu tempos áureos. "Era o único divertimento que tinha aqui na Ilha", diz o morador Ivanildo Ferreira, que se lembra de frequentadores incomuns, como falecido Antônio Boca Rica, que ria tão alto a ponto de ser expulso da sala.


Manuel Pereira da Silva, o "Seu" Bolinha

Seu Bolinha lembra que certa vez, em 1982, a exibição de E o vento levou... foi um fracasso de bilheteria. Assim, como vários cinemas brasileiros, os últimos anos do Independência foram marcados pela combinação de filmes de sexo e violência, como Desejo de matar e Garganta profunda. "Sugeri ao administrador: se o senhor trouxer um filme de sexo muito bom, o povo vem". Apenas na primeira noite, foram necessárias três sessões para dar conta do público, ávido pelo longa Coisas eróticas.

Em 1985, após o roubo de peças facilitado por falhas de segurança, o Independência fechou as portas. Um ano após a reanexação por Pernambuco, ele foi repassado a uma família que abriu uma loja de materiais de construção. "Foi Pernambuco quem acabou com o cinema. Foram eles quem levaram o telão que os norte-americanos deram pra gente", diz Dona Ananete.

Mestre em história social pela UFPE, a pesquisadora noronhense Grazielle Rodrigues do Nascimento diz que a reanexação não foi bem vista pelos olhos da população. "O estado se impôs com força, sem nenhum trabalho de aproximação com a comunidade. O efeito foi arrasador. Culturalmente, os nativos não se reconhecem como pernambucanos".

Para Grazielle, a perspectiva da reinauguração do cinema no Clube do Pico é animadora. "Nós perdemos o hábito de ir ao cinema", diz. "Algum tempo atrás, o projeto Tamar tentou exibir filmes antes das palestras, mas platéia ficava vazia. É preciso reacender o gosto de ir ao cinema, da mesma forma que se vai a qualquer outro evento".

(Diario de Pernambuco, 27/06/2010)

Mickey Mouse vai ao Nordeste



Mickey Mouse sempre foi o personagem mais querido de Walt Disney. Para o empresário, o ratinho que nos anos 1920 sustentou sua família era visto como talismã. Quase um século depois, ele continua firme como principal símbolo da gigante do entretenimento. Baseado nessa força, o sorridente personagem foi escolhido pelo escritório brasileiro da The Walt Disney Company como primeira ação específica para o Nordeste.

Dando um rolê na Terra do Sol, tocando forró ou jogando capoeira, Mickey Mouse nordestino em breve estará circulando em eventos e produtos como canecas, bolsas e camisetas. As releituras são de Derlon Almeida, Cau Gomez e Érica Zoe, artistas das três praças mais economicamente desenvolvidas: Recife, Salvador e Fortaleza.

De acordo com Andréa Salinas, diretora de marketing do escritório brasileiro da The Walt Disney Company, eles foram convidados por serem jovens, com estilo próprio e trabalho expressivo. "É nossa forma de reconhecer e homenagear a riqueza cultural do Nordeste e o talento de artistas que possuem traços tão característicos".

O pernambucano Derlon, que gostava mais do Pato Donald e do Zé Carioca quando criança, viu na proposta uma oportunidade de disseminar seu trabalho. Há cinco anos atuando profissionalmente, seu trabalho deriva do grafite para uma releitura contemporânea da xilogravura. Ano passado, um projeto em conjunto com Gilvan Samico gerou um encontro decisivo para o jovem artista.

"Aprendi muito. Antes meu trabalho era mais despojado. Com Samico, aprendi a equilibrar as formas", diz Derlon. Em seu passeio pelo Recife, o Mickey de Derlon usa calça comprida e camisa reta de botões. O sol é o pano de fundo para a união entre o sorridente rato e um pássaro tropical. Nada de chapéu-de-couro, sombrinha de frevo ou lança de maracatu. "Procurei não envolver o personagem no contexto nordestino. Meu traço já remete a isso".

Ao contrário do que o desenho aparenta, Derlon não utilizou métodos convencionais para produção de xilogravura ou grafite. Ele foi desenvolvido como arquivo digital, vetorizado em computador, o que permite a aplicação de adesivos a painéis, como uma gigantesca arte de cordel.

Vale visitar o blog e Flickr de Derlon, onde há variações do camundongo (batizado de Macunamouse) e estudos para a versão definitiva divulgada pela Disney.



Utilizando a técnica em acrílico, a cearense Érica Zoe não alterou muito a aparência do famoso ratinho, que toca triângulo numa banda de forró. "Imaginei o Mickey em uma pequena cidade do Interior do Ceará. Como ele tem ligação com a música, como no clássico filme Fantasia, não foi difícil imaginá-lo exercendo o seu lado maestro, com banda de pífanos", diz Érica.



Experimental - Com guache em papel canson, Cau Gomez levou o personagem ao Pelourinho, tocando berimbau. "Quis dar a ele um ar faceiro, que é uma das características do baiano". Mineiro radicado na Bahia desde os anos 1990, Gomez é um dos ilustradores mais premiados do país. Sua versão é quase uma caricatura, gênero com o qual se destacou no cenário das artes gráficas. "Refazer o Mickey deu um friozinho na barriga, mas foi interessante. Me vi com o olho de menino. Desde criança quis ser desenhista e os personagens da Disney fazem parte de nosso imaginário".

Multiculturalismo corporativo

Os desenhos de Derlon, Cau Gomez e Érica Zoe servirão de base para um guia de estilo e referência de uso para ações e produtos licenciados pela Disney. Essa é a primeira etapa de uma ação comercial específica para o Nordeste, algo inédito na história da Disney no Brasil - mas não na de seus personagens.

Em 1944, no bojo da "política da boa vizinhança" proposta pelos EUA à América Latina, o Pato Donald sambou, comeu acarajé e até os quindins de iaiá no longa Você já foi à Bahia?. Um ano antes, em Saludos amigos, ele e turma fizeram uma turnê dos Andes aos pampas e chegam no Rio de Janeiro ao som de Tico-tico no fubá. Os filmes também marcaram a estreia do Zé Carioca, criado pelo próprio Walt Disney durante visita à praia de Copacabana.



A estratégia foi eminentemente política. Consta que, durante a Segunda Grande Guerra, Disney colaborou com o FBI, ao denunciar os próprios funcionários, perseguir celebridades e produzir filmes de propaganda militar com os seus personagens, como em A face do Führer, em que o Pato Donald é forçado a trabalhar em uma fábrica da Alemanha nazista.

A utilização dos personagens Disney como instrumento de dominação política na América Latina está radicalmente dissecada no livro Para ler o Pato Donald, de Armand Mattelart. No Chile, duas semanas após o golpe de 1973, todas suas cópias foram jogadas ao mar pela ditadura de Pinochet.

De acordo com o cientista político Michel Zaidan, se hoje o Mickey Mouse vai ao Nordeste, é por motivos estritamente econômicos. "A globalização é acusada de uniformizar o gosto dos consumidores, mas tem adotado a regionalização para escoar seus produtos. O chamado multiculturalismo corporativo se traduz na diversificação de produtos híbridos, que passam a impressão de serem locais. Não se trata de invasão cultural ou mera submissão, mas de um esforço para dialogar com um cosmopolitismo estético".

(Diario de Pernambuco, 27/06/2010)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Estreia // "Mary and Max", de Adam Eliott



A animação Mary and Max (Austrália, 2009) retrata o drama de gente triste e solitária a partir da história de duas pessoas confinadas a lados opostos do mundo, que trocando cartas se tornaram melhores amigos. Com oito anos, Mary Daisy Dinkle mora no subúrbio de uma cidade da Austrália. Aos 44, Max Jerry Horovitz vive num pequeno apartamento em Nova York. De tão desajustados às suas realidades, eles se apegam a uma amizade à distância, movida a confidências, fotografias e estranhas receitas de chocolate. Ao longo dos anos, a cumplicidade se torna o alento para seguir adiante.

É preciso reconhecer o profundo carinho com que o diretor Adam Eliott apresenta seus personagens, demasiadamente humanos em suas inseguranças e frustrações - e as vozes de Philip Seymour Hoffman (Max), Toni Collette (Mary) e Eric Bana (Damien, o namorado de Mary) contribuem muito nesse sentido. Famoso mundialmente pelo curta Harvie Krumpet (2003), vencedor do Oscar de melhor animação, o diretor segue desenvolvendo predileção por bitucas de cigarro e cenários sombrios e artificiais, como a tortuosa NYC. Max, por sinal, leva amarrado no pescoço um guia para leitura de rostos humanos, que remete diretamente a Krumpet e seu livro de fatos.

Eliott explora nostalgia via técnica artesanal do stop-motion. Não só por sua trama se desenrolar há 30 anos, mas pelo aspecto antigo e monocromático das imagens, marcado por um cinza azulado que só se quebra pela cor vermelha. A música também contribui com o old times felling.



Outro ponto positivo é o ritmo. Na era da comunicação instantânea, que transpõe tempo e espaço com um clique, o hábito de redigir cartas alongadas a punho ou em barulhentas máquinas de escrever está praticamente esquecido. É certo que a o intervalo de tempo entre uma mensagem e outra não diz respeito à limitação imposta pelos oceanos. Até que a próxima seja colocada na caixa do serviço postal, é preciso que sentimentos e situações estejam elaborados. E para Mary e Max, isso leva uma vida inteira.

(Diario de Pernambuco, 25/06/2010)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Lançamentos, bastidores, Eu indico e ranking da semana

Lançamentos DVD



Laços de amor - No amor incondicional entre pai (Mark Wahlberg) e filha adolescente (Saoirse Ronan) reside a força deste filme estranho e belo. Especialista em construir mundos, o diretor de Senhor dos Anéis e King Kong se dedica a arquitetar um paraíso cor-de-rosa para a garota. Vítima de um estripador serial (Stanley Tucci), ela continua por ali, dividida entre cenários de photoshop e as tentativas de contato com a família e amigos. A dor da mãe (Rachel Weisz) e a presença da avó (Susan Sarandon) equilibram a tensão para que a viagem prossiga fluente.
Um olhar do paraíso (The lovely bones, EUA, 2009). De Peter Jackson. 135 minutos. Paramount.



Boa Música - O espírito da música country está devidamente representado neste filme de bons atores e belas landscapes. Nelas não há cavalos, mas estradas por onde roda a velha caminhonete de Bad Blake (Jeff Bridges), estrela decadente que se apresenta em bodegas e clubes de boliche. Tudo vai mal para ele, até que a chance amorosa com a mãe solteira Jean (Maggie Gyllenhaal) o livra do alcolismo. O encontro com o antigo pupilo Tommy Sweet (Colin Farrell) é igualmente crucial para o compositor retomar a carreira com dignidade.
Coração louco (Crazy heart, EUA, 2009). De Scott Cooper. 111 minutos. Fox.



Comédia - Michael Barton é Bobby Funkie, estudante de jornalismo que investiga o sumiço de provas para o jornal da universidade, dirigida com estilo por um veterano da guerra do Iraque (Bruce Willis). Publicada, a matéria derrubou o presidente dos estudantes (Patrick Taylor) e tornou o jovem repórter celebridade instantânea e namorado da bonita meia-irmã do novo líder estudantil. Quando inconsistências começam a cair no colo de Funkie, ele precisa decidir entre a ética e a popularidade antes de conseguir a cobiçada bolsa de estudos.
Provas e trapaças (EUA, 2008). De Brett Simon. 90 minutos. Imagem.



Vingança - Na busca do assassino de sua filha, morta a tiros na porta de sua casa, nada é capaz de deter o policial Thomas Craven (Mel Gibson). Para desvendar o assassino, ele precisa romper com o código de boa conduta que o conduziu por toda a sua carreira. Recurso comum em filmes de conspiração, o filme cresce em complexidade ao longo da trama e, a partir da tragédia pessoal de Craven, desvela-se um sistema de corrupção e morte. Característica comum aos últimos filmes de Gibson, há sangue, alusões ao cristianismo e justiça com as próprias mãos.
O fim da escuridão (The edge of darkness, EUA, 2010). De Martin Campbell. 117 minutos. Imagem.

Bastidores

O cinema independente latino-americano ganhou programa especial no FilmFest München, Alemanha. A partir de amanhã, participam da mostra Visiones Latinas os pernambucanos Avenida Brasília Formosa, de Gabriel Mascaro, O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira e Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz.

A história do Facebook vai virar filme dirigido por David Fincher (Clube da luta). Social network traz Jesse Eisenberg como Mark Zuckerberg, fundador da rede social; Justin Timberlake como Sean Parker, co-fundador do Napster e atual presidente do Facebook; e Andrew Garfield interpretará o brasileiro Eduardo Saverin, co-fundador que se afastou quando a rede social se tornou um sucesso.

O filme Sonhos roubados, de Sandra Werneck, terá estreia recifense dia 2 de julho, no Cine São Luiz. Atriz pernambucana Kika Farias interpreta uma das protagonistas.

Lula Cardoso Ayres volta do Cine Ouro Preto (Minas Gerais) com novas parcerias. Disse que Maria Andrade, filha do diretor Joaquim Pedro de Andrade (Macunaíma), abriu seu acervo de filmes restaurados para o Cine São Luiz. O mesmo vale para Ana Luíza Azevedo, da Casa de Cinema de Porto Alegre.

Inscrições abertas para o Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro - Curta Cinema, um dos maiores do País. Até 30 de julho, no www.curtacinema.com.br.

Eu indico

Um homem sério (A serious man, EUA, 2009), o último filme de Joel e Ethan Coen. Assisti recentemente e fiquei impressionada, mais uma vez, com o roteiro e a direção. Já vi alguns filmes deles: Fargo, Onde os fracos não tem vez, Queime depois de ler e Arizona nunca mais, sempre impecáveis e com senso de humor bem ácido.

Alessandra Leão, cantora e compositora

Mais locados

Amor sem escalas (Up in the air, EUA, 2009), de Jason Reitman
Sherlock Holmes (EUA, 2009), de Guy Ritchie
Percy Jackson e o ladrão de raios, de Chris Columbus
Idas e vindas do amor (Valentine's Day, EUA, 2010), Garry Marshall
Encontro de casais (Couples Retreat, EUA, 2009), Peter Billingsley
O fada do dente (The tooth fairy, EUA, 2009), de Michael Lembeck
Avatar (EUA, 2009), de James Cameron
Invictus (EUA, 2009), de Clint Eastwood
O amor pede passagem (Management, EUA, 2009), de Stephen Belber
A caixa (The box, EUA, 2010), de Richard Kelly

(Diario de Pernambuco, 24/06/2010)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

terça-feira, 22 de junho de 2010

Festival com sotaque francês

A noite de hoje é especial para apreciadores da chanson francesa - uma tradição romântica que passa por Edith Piaf, Serge Gainsbourg e Charles Aznavour. É quando se realiza a semifinal regional do Festival da Canção Francesa, que levará dois candidatos à final nacional, dia 24 de setembro, no Rio de Janeiro. O primeiro colocado ganha uma bolsa de estudos na Aliança Francesa, a realizadora do evento, apoiado pela Prefeitura do Recife e Fundação Joaquim Nabuco. O segundo colocado ganha uma viagem à capital carioca e o terceiro, um jantar no restaurante Maison do Bonfim.

Apesar de contar com inscrições de seis estados, dos dez selecionados para a semifinal, nove são de Pernambuco e um, do Pará. São eles: Eduardo Maranhão, Hamilton Mendes, Jeanne Darwich, Leo Zadi, Marcelo Donato, Marleide dos Anjos, Michelle Silva, Milton Raulino, Susie Nobre e Tales Maniçoba. Os chanteurs se apresentam acompanhados pela Bande Ciné, que faz releituras da música francesa de1960 e 1970.

A maioria dos candidatos escolheu cantar músicas de origem francesa. No entanto, o funcionário público e aluno da Aliança Francesa, Tales Maniçoba escolheu cantar Samba de verão, de Marcos do Vale. Ele acredita que a música brasileira tem afinidadaes com a francesa. Já Marleide dos Anjos, ou melhor, Leda D'Angelus, apresenta Nossa trama, composição própria traduzida para o francês.

Criado em 2008 pela Aliança Francesa de Porto Alegre, em 2010 o Festival da Canção este ano ganhou dimensão nacional ao realizar semifinais em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife. Em setembro, dez finalistas concorrem a uma viagem à França. O projeto surgiu em Cuba, idealizado por Christophe Benest e Eric Lahille, que atualmente dirigem a Aliança Francesa de Porto Alegre e do Recife. "Trabalhamos juntos em Cuba e agora adotamos o modelo para o Brasil", diz Lahille. "A Aliança Francesa sempre procurou o intercâmbio de culturas e achamos que a chanson francesa é perfeita para promover esse diálogo".

Serviço
Festival da Canção Francesa
Onde: Teatro Barreto Júnior (Rua Estudante Jeremias Bastos, 121 - Pina)
Quando: hoje, às 19h
Informações: 9984-2408
Entrada franca

(Diario de Pernambuco, 22/06/2010)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Pedra na vidraça dos indiferentes



Esta semana, o Recife tem o privilégio de receber nos cinemas dois filmes de Sérgio Bianchi. Em cartaz na Sessão de Arte dos multiplexes (veja roteiro), Os inquilinos - Os incomodados que se mudem (Brasil, 2010), é seu longa mais recente. Já o curta documentário Mato eles? (1982), um de seus primeiros trabalhos, será exibido hoje no Cine São Luiz, em sessão única, promovida pelo projeto CineCabeça.

Os inquilinos inaugura novo momento estético na carreira de Bianchi, cuja escrita a mão de ferro rendeu Cronicamente inviável (2000) e Quanto vale ou é por quilo? (2005), vigorosos manifestos sobre um Brasil que não presta. Sem abrir mão do discurso, o novo filme abandona a narrativa episódica, investe na performance dos atores e fecha o foco na intimidade de uma família que se esforça para manter a harmonia em meio ao caos da periferia de São Paulo. Quando três arruaceiros se mudam para casa ao lado, situações de tensão ficam cada vez mais sufocantes.

O principal incomodado é o pai da família, Valter (Marat Descartes), que durante o dia carrega caixas de maçãs (sem carteira assinada) e à noite estuda num curso supletivo. Com os novos vizinhos, o pouco tempo que lhe resta com a mulher (Ana Carbatti) e filhos se transforma em inferno. Como pano de fundo, bombas na escola e ônibus incendiados pelo PCC são enfrentados em outro núcleo narrativo, uma sala de aula em que a professora (Cássia Kiss¸ premiada pela atuação no Festival do Rio 2009) lida com a revolta de um aluno (Caio Blat).


Bianchi, no set de Os inquilinos

Os inquilinos chega ao Recife com um público de 9 mil pessoas. Número modesto, mas suficitente para ocupar o sexto posto no ranking nacional de 2010. Para Bianchi, resolver o gargalo de exibição é algo vital. "Com 85% das salas comerciais estão ocupadas pelos norte-americanos e blockbusters nacionais, nos resta saber como ganhar dinheiro pressupondo que seu filme não vai passar nos cinemas, o que leva ao superfaturamento das produções. Se não for definida uma política específica, ficaremos restritos aos festivais às milhões de ONGs que distribuem filmesem espaços alternativos".

Desde o início da carreira, Sérgio Bianchi exercita o talento de expor as feridas do país de forma lúcida e rara no cinema nacional. Paranaense radicado em São Paulo, ele fez de seu notório mau humor o combustível para uma obra impiedosa, recém-reunida em caixa de cinco DVDs lançados pela Versátil, um tijolo na vidraça dos indiferentes. "Meus filmes não têm final feliz. Sou uma exceção, meu papel é fazer os filmes que minha cabeça manda", diz o diretor.



Em Mato eles?, um de seus poucos documentários, o diretor denuncia uma serraria da Funai na última floresta de Araucárias, situada na reserva de Mangueirinha, no Sul do Paraná. Depoimentos de padres, gestores públicos e indigenistas são misturados dramatizações, em opiniões de acordo com o senso comum. Longe de levantar bandeiras, o filme ironiza a postura hipócrita das autoridades diante da questão indígena, no caso dos Kaingang, explorada como mão de obra barata.

Mato eles? está repleto de enquadramentos e elementos para expressar opinião e provocar estranhamento no espectador, como comentários nos créditos finais em que o diretor ensina como faturar com o genocídio indígena: "Você faz documentário, ganha prêmio, negocia... Agora tem que ir rápido. Tá acabando".

Bianchi define interferências como essas de "distúrbios de linguagem", recurso que por ora abre mão em sua atual produção. Seu novo roteiro, ainda sem nome, aborda a ditadura através de um filho de classe média-alta que teve a mãe torturada pelos militares. Mesmo sem os "distúrbios", garante ele, veneno não vai faltar.

Os inquilinhos pode ser assistido de segunda a quinta (24) no UCI Ribeiro Recife, às 19h30.

(Diario de Pernambuco, 19/06/2010)

Blues e Jazz na Universitária FM

A grade de programação da Universitária FM ganhou uma nova atração. A partir de hoje, das 20h às 21h, será transmitido o programa Do Mississippi ao Capibaribe. Comandado pelo músico e produtor Giovanni Papaleo, o programa vai ao ar todas as segundas-feiras, com músicas de Pernambuco e o melhor do jazz e blues norte-americano e brasileiro. A frequência da rádio é 99,9 MHz.

Paulínia apresenta sua programação

O Festival Paulínia de Cinema, marcado para 15 de julho no interior paulista, acaba de divulgar os filmes selecionados para a mostra oficial competitiva. No total, os filmes concorrem a troféus "Meninas de Ouro" e R$ 650 mil em dinheiro.

Dos longas em competição, 5xFavela e Bróder foram lançados mês passado, em Cannes. Entre os curtas participa 1:21, da pernambucana Adriana Câmara.

Na noite de abertura, haverá homenagem a Hector Babenco, com a exibição de cópia restaurada de O beijo da mulher aranha (1985). 400contra1 – Uma História do Crime Organizado, de Caco Souza, encerra o festival no dia 22.

Longas de Ficção
1. Malu de Bicicleta, de Flávio Tambellini (RJ)
2. Desenrola, de Rosane Svartman (RJ)
3. Broder, de Jeferson De (SP)
4. Dores e Amores, de Ricardo Pinto e Silva (SP)
5. 5 X Favela, Agora Por Nós Mesmos, de Manaíra Carneiro e Wagner Novaes; Rodrigo Felha e Cacau Amaral; Luciano Vidigal; Cadu Barcellos; Luciana Bezerra (RJ)

Documentários
1. Leite e Ferro, de Claudia Priscilla (SP)
2. São Paulo Cia de Dança, de Evaldo Mocarzel (SP)
3. Lixo Extraordinário, de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley (RJ)
4. Uma Noite Em 67, de Renato Terra e Ricardo Calil (RJ)
5. Programa Casé, de Estevão Ciavatta (RJ)
6. As Cartas Psicografadas de Chico Xavier, de Cristina Grumbach (RJ)

Curtas Nacionais
1. Retrovisor, de Rogério Zagallo (SP)
2. Estação, de Marcia Faria (SP)
3. Eu Não Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro (SP)
4. Quem vai comer minha mulher? (Who’s Gonna F… My Wife?), de Rodrigo Bittencourt (RJ)
5. Tempestade, de César Cabral (SP)
6. 1:21, de Adriana Câmara (PE)
7. Ensolarado, de Ricardo Targino (RJ)

Curtas Regionais
1. Depois do Almoço, de Paula Pripas (Campinas)
2. Nicolau e as Arvores, de Lucas Hungria (Campinas)
3. Meu Avô e Eu, de Cauê Nunes (Campinas)
4. Um Lugar Comum, de Jonas Brandão(Sumaré)
5. Dona Tota e o Menino Mágico, de Adriana Meirelles
6. Só Não Tem Quem Não Quer, de Hidalgo Romero

Mostra Paralela
1. Pixote in Memmorian, de Felipe Briso e Gilberto Topczewski
2. Coração Iluminado, de Hector Babenco
3. É Proibido Fumar, de Anna Muylaert
4. Chico Xavier – o filme, de Daniel Filho
5. Salve Geral, de Sérgio Rezende
6. Cabeça a Prêmio, de Marco Ricca

Especial Infantil
1. Eu e Meu Guarda Chuva, de Toni Vazolini
2. Gui, Estopa e a Natureza, de Mariana Caltabiano

Seu Gaspar toca gaita amanhã (terça), no Teatro de Santa Isabel

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O perigo mora ao lado



Em Os inquilinos - os incomodados que se mudem, Sérgio Bianchi aponta a câmera para a dura vida de uma família da periferia de São Paulo. Além de trabalhar o dia inteiro e estudar à noite, Valter (Marat Descartes) precisa conviver com os novos vizinhos, três bandidos que não respeitam nada ou ninguém. Sua mulher (Ana Carbatti) quer se mudar para outro bairro. Mesmo impotente, Valter não se curva à bandidagem e tenta defender o núcleo familiar em meio à barbárie. Em meio a tragédia particular, há o contexto maior de ataques do PCC, que em 2006 incendiou ônibus e rendeu a cidade. Com narrativa fluente, o filme se mostra sofisticado na composição da imagens e valoriza boas performances de Cássia Kiss, Caio Blat, Leona Cavalli e Umberto Magnani. Uma amenidade que não chega no discurso sobre um tema sério e que diz respeito a todos os brasileiros.

(Diario de Pernambuco, 18/06/2010)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Fernando Trueba apresenta "A dança da Victoria" no Recife



Nem o jogo da Seleção ou o dedicado aguaceiro que caiu sobre o Recife impediu o público de lotar o Cinema da Fundação na última terça-feira. O motivo foi a exibição de A dança da Victoria (El baile de la Victoria, Espanha/Chile, 2009), novo filme de Fernando Trueba, com a presença do cineasta, que conversou com a platéia até às 23h. O evento, promovido pelo Instituto Cervantes, faz parte do projeto de intercâmbio Encontro com Diretores do Cinema Espanhol, que agora estabelece bem-vinda parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.

Com marcante narrativa noir e western, A dança da Victoria nos leva a Santiago do Chile, onde encontramos Vergara Grey (Ricardo Darín) e Ángel Santiago (Abel Ayala), que acabam de ser anistiados da prisão. Enquanto o primeiro, respeitado ativista político, precisa lidar com o sumiço da esposa, o segundo, ladrão despreparado e afoito, se apaixona pela bela e afônica dançarina Victoria (Miranda Bodenhofer) e quer roubar um cofre de Pinochet.

O roteiro é assinado pelo próprio Trueba, em parceria com Antonio Skarmeta, autor de O carteiro e o poeta e autor do livro que serviu de base para o novo longa, representante espanhol para o Oscar 2010 de melhor filme estrangeiro. Em 1994, trouxe a cobiçada estatueta para Madri com Sedução (Belle Èpoque, 1992). Entre os novos projetos está a ficção O artista e a modelo, co-roteirizada por Jean Claude-Carrière, longevo colaborador de Luís Buñuel.

Em conversa com o Diario, Trueba diz que, para realizar A dança da Victoria, foi preciso superar muitas dificuldades: a doença da esposa, a falência do produtor italiano e um acidente com Ricardo Dárin, estrela maior do cinema argentino, a quem o diretor compara a Cary Grant. “Adoro atores que são sempre os mesmos. Darín era quem eu mais tinha desejo de trabalhar. Além de ter provocado muitos risos no set, algo que dou muito valor, ele trabalha muito bem. O que mais posso querer?”

Nascido em Madri, Trueba é um entusiasta da cultura do Brasil, onde já rodou um documentário e prepara outro, sobre o desaparecimento do pianista Tenório Junior, durante turnê com Vinícius de Moraes na Argentina de 1974. Ele “sumiu” em Buenos Aires, deixando quatro filhos e a mulher grávida de mais um. Com mais de 170 horas captadas no Brasil, EUA, Argentina e França, ele agora pensa no formato que o filme pode assumir. Uma possibilidade é o da animação dos depoimentos, inspirada nas experiências de Valsa com Bashir, Persépolis e Waking life. “Ele saiu para passear na madrugada, a quatro dias do golpe militar na Argentina, e numa mais voltou. Foi torturado por sete dias e, após um ataque cardíaco, teve o corpo jogado no mar. Oficiais brasileiros participaram disso. Fiquei obcecado por essa história. É muito possível que eu saiba mais sobre ela do que a própria polícia, amigos ou a família de Tenório”.

Em 2004, a paixão pela música brasileira o levou a realizar El milagro de Candeal, documentário sobre a favela em que nasceu o compositor Carlinhos Brown, com participação de Brown, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Exibido na Europa, o filme despertou investimento de instituições e voluntarismo entre os espanhóis, que construíram duas escolas e estimularam a formação de associações e cooperativas. Trueba, que sempre acreditou na na inutilidade do cinema (seu filme preferido é o clássico Contrastes humanos, de Preston Sturges), se viu surpreendido pelas possibilidades provocadas pelo documentário. “Sempre fiz comédias, adoro ouvir risadas nos meus filmes. Penso que a maior ambição do cinema é ser cinematográfico, antes de ser social ou ególatra. Como cidadão, tenho compromissos sociais, mas como diretor, minha maior responsabilidade é fazer um bom filme”.

(Diario de Pernambuco, 17/06/2010)

Coluna lançamentos, bastidores, eu indico e ranking da semana



Messias - Nesta comédia baseada em A vida de Brian (1979), clássico do grupo inglês Monty Python, uma orquestra toca Haendel, Mozart, Bob Dylan em sequências adaptadas do filme original, inclusive a impagável Always look to the bright side of life, cantada por pessoas crucificadas. Na história, o filho de um soldado romano com uma judia se torna líder involuntário de uma revolução. Semelhança com a história de Cristo não é mera coincidência. Gravado ao vivo, com participação de ex-membros da trupe, Eric Idle, Terry Jones, Michael Palin e Terry Gilliam.
Monty Python's Not the messiah (Not the messiah - He's a very naughty boy, Inglaterra, 2010). 91 min. Sony.



Aliens x EUA - O marco da ficção científica dos anos 1990 chega em Blu-Ray, em que a alta definição compensa a falta de extras do DVD duplo, lançado em 2001. Nele, uma gigantesca nave alienígena ameaça a Terra e cabe ao presidente dos Estados Unidos (Bill Pullman) liderar a resistência, com a colaboração essencial de um cientista (Jeff Goldblum) e um exímio piloto (Will Smith). A nave pousa bem em cima da Casa Branca, magistralmente destruída numa sequência que fez história. Superado o discurso ufanista, a diversão é garantida.
Independence day (EUA, 1996). De Roland Emmerich. 145 minutos. Fox.



Símios - Manifesto antibélico conta a iminência da bomba atômica, a franquia Planeta dos Macacos gerou seis longa-metragens, alguns memoráveis, outros nem tanto. Esta caixa comemorativa reúne todos, inclusive o remake de Tim Burton em 2001, com Mark Wahlbergh e Tim Roth. O filme original conta a história de Taylor (Charlton Heston), astronauta que aterrisa num mundo onde macacos falam inglês e humanos são seres caçados e trancados em jaulas. Lá ele conhece os chimpanzés Cornelius (Roddy McDowell) e Zira (Kim Taylor), cientistas que o ajudam a escapar.
Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, EUA, 1968 - 2001). Fox.



Gótico - Nesta refilmagem do clássico de 1941, Benicio Del Toro é Lawrence Talbot, ator que volta dos EUA para a Inglaterra Vitoriana após morte violenta de seu irmão. Quando chega no castelo da família, encontra seu soturno pai (Anthony Hopkins) e entristecida cunhada (Emily Blunt), com quem se compromete a desvendar o autor do crime. Mordido por um lobisomem, ele passa de perseguidor a perseguido. A atmosfera gótica, principalmente dos telhados de Londres na lua cheia, contam a favor. Não é o caso do roteiro, trilha sonora e atuações.
O lobisomem (The wolfman, EUA, 2010). De Joe Johnston. 103 minutos. Universal.

Bastidores

Dois séculos depois, o general pernambucano Abreu e Lima retorna à Venezuela onde ajudou Simón Bolívar a libertar a América espanhola. O reencontro se dá através do longa documentário Tudo isto me parece um sonho, de Geraldo Sarno. Após vitoriosa carreira em festivais (melhor direção e roteiro em Brasília), o filme será oficialmente lançado no próximo dia 23, na Cinemateca Nacional de Caracas.

O Centro Cultural Brasil Alemanha promove hoje, às 20h, sessão de Berlim Alexanderplatz (Alemanha, 1980), de Rainer Werner Fassbinder. A sessão faz parte do projeto Aprenda Alemão com Cinema e será no auditório do CCBA (Rua do Sossego, 364 - Boa Vista). Informações: 3421-2173.

Promovido pela UFPE, o 2º Festival do Filme Etnográfico está com inscrições abertas até 31 de julho. O resultado sai no fim de agosto. Regulamento em www.filmedorecife.com.br.

O Canne abre 20 vagas para cursos de montagem com Virgínia Flores, que tem no currículo filmes de Júlio Bressane, Lírio Ferreira e Sandra Werneck. Inscrições abertas até 30 de junho, pelo site www.fundaj.gov.br/canne.

Começa hoje a 5ª Mostra de Cinema de Ouro Preto. Competem três filmes inéditos de Pernambuco: O homem dela, de Luiz Joaquim, A banda, de Chico Lacerda e À felicidade, de Carlos Nigro. Ainda na pauta, os 80 anos da Cinédia e o Encontro Nacional de Acervos Audiovisuais, do qual participa Lula Cardoso Ayres e mais 70 representantes de arquivos e acervos do Brasil.

A Sessão de Arte do São Luiz está cada vez melhor. Amanhã (20h) e sábado (10h) ela traz Os incompreendidos (Les quatre cents coups, França, 1959), primeiro longa de François Truffaut. Segundo informações do programador, a cópia está em ótimas condições. Imperdível.

Eu indico

Gostei do filme O homem que engarrafava nuvens, pois ele mostra um pouco da vida do compositor Humberto Teixeira, que com Luiz Gonzaga formatou o que veio a ser chamado de baião e posteriormente forró. Outra coisa bacana é que o filme é contado pela ótica de sua filha, sem retoques, inclusive com depoimentos que mostram um lado frágil do compositor, enquanto pai e marido. O que mais gostei foi conhecer sua história e a importância dela para a nossa música popular.
Cláudio Rabeca, cantor e compositor do Quarteto Olinda.

Mais locados

Avatar (EUA, 2009), de James Cameron
Sherlock Holmes (EUA, 2009), de Guy Ritchie
Idas e vindas do amor (Valentine's Day, EUA, 2010),
Bastardos Inglórios (Inglorious basterds, EUA, 2009), de Quentin Tarantino
2012 (EUA, 2009), de Roland Emmerich
Lua nova (New moon, EUA, 2009), de Chris Weitz
Coco antes de Chanel (Coco avant Chanel, França, 2009), de Christian Duguay
Julie & Julia (EUA, 2009), de Nora Ephron
Estão todos bem (Everybody's fine, EUA, 2009), de Kirk Jones
Percy Jackson e o ladrão de raios (Percy Jackson & the Olympians, EUA, 2010), de Chris Columbus

Fonte: www.smsvideo.com.br

sábado, 12 de junho de 2010

O Papa Capim de João Lin



Piteco, Astronauta, Horácio, Jotalhão, o Louco. Das dezenas de personagens de Maurício de Souza, o Papa Capim talvez seja o menos lembrado. E foi justamente ele que o ilustrador pernambucano João Lin elegeu para homenagear o maior nome dos quadrinhos brasileiros. A HQ participa do projeto MSP + 50, a ser lançado em agosto, durante a Bienal do Livro de São Paulo.

Veja prévia dos trabalhos aqui.

Coordenado por Sidney Guzman, o livro trará histórias assinadas pelos maiores artistas gráficos do país, como Rafael Grampá, Allan Sieber, Marcatti, Caco Galhardo, Rafael Coutinho e André Kitagawa. Junto com o MSP 50, publicado em 2009 com participação de Angeli, Laerte, Lélis, Casal, Mascaro, Fábio Moon e Gabriel Bá, trata-se da mais completa homenagem a Maurício realizada pelos seus pares.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Diversão Classe A



Com situações absurdas e engraçadas, Esquadrão Classe A (The A-Team, EUA, 2010) é um ótimo programa, não só para os nostálgicos que lembram do seriado original na TV. Com tanques caindo do céu e a explosão de contêineres como fossem peças de Lego fazem do filme de Joe Carnahan um exercício de ação-pipoca que não abre mão dos neurônios.

Um inspirado Liam Neeson vive o novo Hannibal Smith, líder do grupo de rebeldes "do bem", que após operação mal-sucedida, é destituído injustamente do exército e detido atrás das grades. Determinados a limpar seus nomes, eles partem para um engenhoso plano para expor a verdade por trás de um esquema de falsificação de dinheiro.

O filme está no contexto dos "prequels", produções que contam (ou reinventam) a origem de personagens já conhecidos pelo público. Bradley Cooper é Face (no Brasil, Cara-de-pau), com talento para disfarces e conquistas baratas; Shalrto Copley é o louco Murdock, piloto destemido que garante boas piadas, inclusive no momento em que é resgatado de um hospício que exibe versão 3D do seriado original; e Quinton Jackson é o emblemático B.A. (abreviação para Bad Attitude), motorista e pau-pra-toda-obra originalmente vivido por Mr. T.


The original A-Team: justiceiros politicamente incorretos

A adaptação está dentro do espírito da série transmitida na TV entre 1983 e 1987, em que um grupo de mercenários coloca seus serviços à disposição de causas justas em troca de um pouco de grana para manter cheio o tanque do furgão. Mas contemporaniza o contexto da guerra do Vietnã para o Iraque, onde placas de metal que servem de matriz para dólares falsos desaparece, após intervenção do ambicioso oficial Lynch (Patrick Wilson). Bode expiatório, o A-Team se organiza para desvendar a corrupção institucional.

(Diario de Pernambuco ,11/06/2010)

A vida na grande cidade



O projeto Tokyo consiste em três crônicas autônomas que partem da fria realidade de uma metrópole para nos levar à situações fantásticas, para então tratar do que realmente importa. Cada diretor responde por um minifilme de 30 minutos. Michel Gondry (Brilho eterno de uma mente sem lembranças) dirige Interior design, história doce e melancólica de uma mulher que acompanha seu namorado, do interior para a capital japonesa. Cineasta, ele quer a fama, enquanto ela se sente um mero instrumento para isso.

Leos Carax (Pola X) assina o episódio Merde, severa crítica social em que um ser demente e incontrolável surge dos canais de esgoto para espalhar anarquia nas calçadas do capitalismo. Ele fala um idioma estranho, come flores e dinheiro e se coloca como a resposta do planeta para a degradação humana.

Com Shaking Tokyo, Joon-ho Bong (Mother) trata da solidão rompida após dez anos, quando um homem olha apaixonado para uma entregadora de pizza e percebe que todos estão encasulados e as ruas, vazias. Em conjunto, uma bela e vigorosa reflexão sobre o que há de insano na vida de uma metrópole.

Neste fim de semana, Tokyo está em cartaz no Multiplex Boa Vista (sexta às 21h; sábado às 11h) e UCI Ribeiro Casa Forte (domingo às 12h10).

(Diario de Pernambuco, 11/06/2010)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Lançamentos DVD, coluna bastidores, "eu indico" e ranking da semana

Lançamentos em DVD



Mestre - Iluminado por ótimas atuações, Eastwood olha para o processo de redemocratização da África do Sul através do esporte. No minuto inicial, um movimento de câmera resume a situação social do país. De um lado da estrada, brancos bem-vestidos e paramentados jogam rúgbi; do outro, garotos negros batem bola num campo empoeirado. No meio, um carro conduz Nelson Mandela (Morgan Freeman) para a posse presidencial. O filme enfoca na final do mundial de rúgbi - e na imagem do capitão do time nacional (Matt Damon) - como estratégia principal para o combate ao Apartheid.
Invictus (EUA, 2009). De Clint Eastwood. 134 minutos. Warner.



Cobiça - Esta refilmagem de episódio da antiga série Além da imaginação (Twilight Zone), uma fábula sobre a cobiça em tom fantástico, funciona melhor nos primeiros 40 minutos. É quando a história original é recontada, com novos e estranhos detalhes. Tudo começa quando o endividado casal Norma (Cameron Diaz) e Arthur (James Mardsen) encontra uma dispositivo entregue por misterioso visitante de rosto deformado (Frank Lagella). Ele explica que, se o botão for acionado, eles recebem automaticamente US$ 1 milhão, ao preço da morte de uma pessoa desconhecida.
A caixa (The box, EUA, 2009). De Richard Kelly. 116 minutos. Imagem.



Superação - Baseado no livro Push, o filme narra a trágica história de Preciosa (Gabourey Sidibe), adolescente negra, grávida e vítima de violência doméstica. Transferida para uma escola alternativa, a convivência com a professora e as novas colegas abre novos caminhos para a jovem. Na intensa atuação de Sidibe e Mo'Nique, que interpreta a mãe perturbada, está um dos trunfos do longa produzido por Oprah Winfrey. A participação de Mariah Carey e Lenny Kravitz, a montagem esperta e a trilha sonora de música negra norte-americana tornam o filme ainda mais interessante.
Preciosa (Precious, EUA, 2009). De Lee Daniels. 110 minutos. PlayArte.




Doce vida - Longa narra momentos alegres e tristes de uma adolescente (Dakota Fanning) que se esforça para superar o sentimento e abandono, após a mãe ter sido assassinada. Os produtores, entre eles, o ator Will Smith, conceberam um universo que pode ser dividido entre "mundo perigoso" e "doce lar". No primeiro, Lilly vive o inferno na mão do pai (Paul Bettany) racista, bêbado e rancoroso. Ela foge e encontra uma espécie de rancho cor-de-rosa onde é adotada por três irmãs lideradas por August (Queen Latifah). É lá que, embalado por clássicos da soul music, garotas produzem o mel que quase transborda para fora da tela.
A vida secreta das abelhas (The secret life of bees, EUA, 2009). 110 minutos. Fox.

Bastidores

Mais de 50 profissionais do cinema pernambucano se reuniram na noite de terça. Na pauta, a criação de uma delegacia regional do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Cinematográfica e do Audiovisual, com sede no Rio de Janeiro. Com a regionalização, normas do Stic poderão ser melhor aplicadas para regular as atividades do segmento. Segundo Cynthia Falcão, presidente da seção pernambucana da Associação Brasileira de Documentaristas, com o aumento da produção independente, é importante ter por perto um órgão que fiscalize condições de trabalho. Na próxima segunda, uma nova reunião elegerá o representante local.

O cineasta Fernando Trueba estará no Recife na próxima terça-feira para a exibição de seu novo longa-metragem, El baile de la Victoria (2009), com Ricardo Darín (O segredo dos seus olhos) no papel principal e candidato ao Oscar 2010 de melhor filme estrangeiro. Será às 19h30, no Cinema da Fundação. Depois da sessão, um bate-papo com o diretor. Promoção do Encontro com Diretores do Cinema Espanhol, do Instituto Cervantes. Entrada franca.

Ontem à tarde a Fundarpe reinaugurou o Cineteatro Apolo, em Palmares. Erguido em 1914, o espaço volta reformado em parceria com o Promata, que investiu R$ 2 milhões. Com o Apolo, o Guarany (Triunfo) e o Polytheama (Goiana), o Governo do Estado soma três salas de cinema no interior. Uma ótima iniciativa entregues às moscas, a menos que, a exemplo do São Luiz, engrenem uma programação efetiva.



O projeto Aprenda Alemão com Cinema, do Centro Cultural Brasil-Alemanha, apresenta o primeiro episódio da série Berlin Alexanderplatz, de Rainer Werner Fassbinder. A sessão será hoje, às 20h, na unidade Boa Viagem (Rua Senador Hélio Coutinho, 206). Na quinta que vem, o programa se repete na unidade Boa Vista (Rua do Sossego, 364). Informações: 3421-2173.

Eu indico
Gosto muito do filme Sem reservas (No reservations, EUA/ Austrália, 2007), de Scott Hicks. É a história de uma chef de cozinha que perde a irmã e se vê na missão de tomar conta da sobrinha. A criança é daquele tipo que só quer comer nuggets, se alimenta muito mal. Até que começa a trabalhar no restaurante um subchef que atiça a concorrência na cozinha e mostra um forma mais leve de se trabalhar. Kate (Catherine Zeta-Jones) é uma figura sisuda, que quer passar e não consegue lidar com a sobrinha. Mas aí, entre desentendimentos com o subchef, rola romance. E ele, Nick (Aaron Eckhart) consegue fazer a criança comer de tudo, até foie gras!

Biba Fernandes, chef de cozinha do Chiwake

Mais locados
Sherlock Holmes (EUA, 2009), de Guy Ritchie
Amor sem escalas (Up in the air, EUA, 2009), de Jason Reitman
Encontro de casais (Couples Retreat, EUA, 2009) , Peter Billingsley
Avatar (EUA, 2009), de James Cameron
O fada do dente (The tooth fairy, EUA, 2009), de Michael Lembeck
2012 (EUA, 2009), de Roland Emmerich
Onde vivem os monstros (Where the wild things are, EUA, 2009), de Spike Jonzie
O solista (The soloist, EUA, 2009), de Joe Wright
Nine (EUA, 2009), de Rob Marshall
Código de conduta (Law Abiding Citizen, EUA, 2009), de F. Gary Gray

(Diario de Pernambuco, 10/06/2010)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Mostra especial traz cinco curtas de Kleber Mendonça ao Cine São Luiz


Recife frio, um dos melhores filmes do ano, é atração principal

Cinco curtas-metragens de Kleber Mendonça Filho serão exibidos hoje, às 20h, no Cine São Luiz (Boa Vista). Pela primeira vez será possível assistir Recife frio (2010), Noite de sexta manhã de sábado (2007), Eletrodoméstica (2005), Vinil verde (2004) e A menina do algodão (2002) em conjunto, numa sala de cinema. Com aproximadamente 80 minutos, a sessão será seguida de diálogo entre a plateia e o realizador, que mês que vem começa a rodar seu primeiro longa de ficção, O som ao redor.

Colocados em perspectiva, os filmes remontam a recente e premiada trajetória do cineasta pernambucano. Realizados em diferentes formatos e bitolas, eles acumulam quase uma centena de prêmios em festivais do mundo. Codirigido com Daniel Bandeira (Símio Filmes), A menina do algodão traz uma visão atual para a lenda urbana que nos anos 1970 circulava nas escolas do Recife; montado apenas com imagens em still (como uma colagem de fotografias), Vinil verde contemporaniza um antigo conto russo para a realidade urbana; Eletrodoméstica faz um retrato da intimidade da classe média recifense, caminho que o diretor deve seguir em O som ao redor; E Noite de sexta manhã de sábado narra de forma etérea o amor de duas pessoas separadas por um oceano.

Ficção travestida de documentário para a TV, Recife frio é a grande estrela da programação. Esta visão ácida e bem-humorada da cultura da capital pernambucana tem provocado repercussão por onde passa. Para quem não assistiu, esta é uma boa oportunidade para fazê-lo. Talvez leve algum tempo para surgir outra. Por isso, rever também é um bom programa.

Opção menos atraente, mas acessível para o público que não mora no Recife é assistir aos curtas de Kleber via internet. Desde janeiro, com exceção de Recife frio, toda a sua produção está disponível no site de compartilhamento Vimeo (www.vimeo.com/cinemascopio), inclusive Homem de projeção (1992), Enjaulado (1997) e o experimental Luz, industrial, mágica (2008).

(Diario de Pernambuco, 08/06/2010)

sábado, 5 de junho de 2010

Papa-Figo não poupa ninguém



Com mais de 25 anos de atividade, o Papa-Figo é quase uma instituição pernambucana. Quase, pois se fosse certamente iria contra a verve anarquista que a guiou por mais de 300 edições, um programa de TV e, em breve, no site www.papafigo.com. Para comemorar este primeiro quarto de século, o editor Bione bancou do próprio bolso uma edição especial retrospectiva, com praticamente todos os números do Papa-Figo, encadernados em dois livros cartonados, mais dez pôsteres do cartunista Miguel e um DVD com depoimentos de fundadores, admiradores e colaboradores como Jaguar, Nani, RAL, Samuca, Paulo Bruscky, Tarcísio Sete, Jomard Muniz de Brito e o cantor Falcão.

O conjunto, impresso na Companhia Editora de Pernambuco, vem acomodado em uma caixa gigante, que estará à venda na festa organizada hoje à tarde no Bar Biruta e a partir de segunda-feira no Empório Sertanejo, Bodega do Véio, bancas Globo e Jornal Magazine e demais anunciantes do jornal.

O valor histórico da publicação, que repassa a história recente sob o ponto de vista do humor cafajeste, é incontestável. Na sessão "Papa-Figo Recomenda", por exemplo, há espaço publicitário para o sebista Pedro Américo e para a filmes em cartaz no Teatro do Parque e no extinto Cine Bajado da Praça do Carmo (Olinda).

O Papa-Figo começou a circular em agosto de 1984, no formato tabloide, encartado no Jornal da Semana, editado por Nagib Jorge Neto. Na origem está a vontade de RAL e Paulo Santos de fazer uma publicação de charges e cartuns. "Fazíamos a Xepa, que não durou muito. Na mesma linha de pensamento, surgiu o nome Prato Feito, ou PF. Aí Paulo Santos falou: 'Papa-Figo' e fez o primeiro desenho, inspirado no mascote do Pasquim, o rato Sig. Depois eu desenvolvi o desenho", conta Ral.

Enquanto isso, Bione voltava de São Paulo, com o desejo de fazer um jornal que parodiasse a grande imprensa. "Com Amin Stepple, Geneton Moraes Neto, Manuel Costa, Clériston e Paulo Santos fizemos O Rei da Notícia, que durou apenas três números. RAL estava ilustrandoum livro com texto de um amigo, José Teles, que na época trabalhava na Caixa Econômica. Com ele, formamos um trio que era imbatível", conta Bione.

RAL seguiu no Papa-Figo até 1994. "Terminei minha gestão porque meu fígado não aguentava mais", brinca o artista. Teles seguiu até 2000, tendo assinado boa parte dos textos até meados dos anos 1990. Depois disso Bione passou a contar com colaboradores fictícios como Ivan Pé de Mesa, que assina a coluna Sociedade Pernambucana.

De lá para cá, o Papa-Figo assumiu formatos, mídias, periodicidade e tiragens variadas. "Na eleição municipal de 2000, fizemos uma edição de 5 mil cópias com um pôster colorido de Roberto Magalhães posando de Mona Lisa. O pessoal do PT gostou tanto que mandou rodar mais 10 mil e ainda imprimiu a imagem em camisetas", lembra Bione.

No entanto, o jornalista nega qualquer inclinação partidária no periódico, que inclusive, ostenta o título de "o único com voto de repúdio da câmara dos vereadores" e o lema "o Papa-Figo não poupa ninguém". "No fim dos anos 80, recebi ameaças de uma turma que se identivicava como de Collor, porque fizemos um perfil dele com o título "o candidato que cheira bem", diz Bione. Entre as paródias estão a do Rock in Coque, promovido pelo empresário Roberto Mendingo e a cobertura do Festival de Cannes, por Kleber Mão de Onça.

Serviço
Festa dos 25 anos do Papa-Figo
Quando: Hoje, a partir das 12h
Onde: Bar Biruta (Rua Bem-Te-Vi, 15, Brasília Teimosa - Pina)
Quanto: Entrada franca

(Diario de Pernambuco, 05/06/2010)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Dia de Risco no Mercado da Boa Vista



Hoje é Dia de risco no Mercado da Boa Vista. Das 12h às 16h, a Associação dos Cartunistas de Pernambuco - Acape promove uma tarde de produção de quadrinhos, sketchbook, pinturas, cartuns e caricaturas ao vivo. Para levar uma caricatura para casa, basta trocar por um quilo de alimento não-perecível, à venda nas alamedas do mercado. Após o encontro, o restante do material será reunido para futura exposição.

De acordo com o cartunista Samuca, presidente da Acape, o objetivo é movimentar e agregar mais pessoas em torno da associação. "Longe daquela reunião chata de associação, queremos resgatar aquele espírito de confraria, até para que os interessados possam se sentir à vontade para se aproximar".

Proxima de completar uma década de vida, a Acape congrega cerca de 30 artistas pernambucanos. Na pauta das reuniões, periódicas, incluem salões de humor, exposições e publicações, além de discussão das tabelas de preço, disponível no site www.acape.org.br. "A tecnologia está avançando e com isso surgem situações novaspara o mercado", diz Samuca.

Até 2004, eles aconteciam num restaurante na Praça Chora Menino, sempre abertas para convidados. Com exceção do projeto Caras do Recife, que pelo oitavo ano consecutivo atua na Rua do Bom Jesus durante o Carnaval, esta é a primeira ação pública da Acape desde o último Festival de Humor e Quadrinhos, realizado em 2007.

(Diario de Pernambuco, 05/06/2010)

Obra-prima de mistério e paixão



O segredo dos seus olhos, a melhor estreia da semana, chega ao Recife cercado de merecidos elogios e prêmios, sendo o Oscar de filme estrangeiro o maior deles. Com mão de mestre, o argentino Juan José Campanella (O filho da noiva, Clube da Lua) assina uma história bem escrita e conduzida sobre um misterioso assassinato que por 20 anos se torna a obsessão para um oficial de justiça aposentado (Ricardo Darín). O resultado é uma obra antológica, que se movimenta sem culpa pela linguagem do cinema norte-americano e elementos típicos de Hollywood: bela jovem assassinada por maníaco, bastidores de tribunal, perseguições, diálogos e situações bem-humoradas e, por trás de tudo isso, uma história de amor.

Poderia ser um grande acúmulo de clichês, não fossem eles utilizados e descartados com a pertinência de quem constrói uma poderosa narrativa, de ritmo cadenciado, cujo ápice é um incrível plano-sequência em estádio lotado em Buenos Aires, um gigantesco movimento aéreo que e termina com uma perseguição interna. Outro momento memorável está no interrogatório, em que a promotora (Soledad Villamil) arranca a confissão das entranhas do sujeito, em inusitado jogo de provocações. O que faz a diferença em O segredo de seus olhos está na forma de contar essa história, construída a partir da percepção do protagonista, o investigador. Assim como o viúvo da vítima e seu assassino, ele vive um tempo dilatado pela paixão. É esta quem motiva e governa virtudes e fraquezas. De resto, tome elegância e cosmética.

(Diario de Pernambuco, 04/06/2010)

Estreia // Príncipe da Pérsia - As areias do tempo



Dos videogames para a tela grande, Príncipe da Pérsia - As areias do tempo é daqueles filmes que tem a matriz industrial estampada na cara, milimetricamente desenhada com protagonistas bonitinhos, cenários grandiosos e diálogos redundantes. Tudo em ritmo acelerado que, se não permite ao público sair da superfície, quanto mais, respirar. Deve ser um sucesso em termos de lucro instantâneo, a ser colhido pelo produtor Jerry Bruckheimer (Piratas do Caribe) não somente entre o público infanto-juvenil doutrinado pelo game.

Dirigida pelo inglês Mike Newell (Quatro casamentos e um funeral, Donnie Brasco, Harry Potter e o cálice de fogo), a produção conta com Jake Gyllenhaal (Brokeback Mountain) e Gemma Arterton (Fúria de Titãs) como um casal determinado a salvar o mundo da cobiça desencadeada por uma adaga mística, capaz de controlar o fluxo do tempo. Gyllenhaal é Dastan, órfão retirado das ruas pelo Rei da Pérsia, que percebeu nele virtudes de guerreiro. Gemma é a bela Tamina, princesa da cidade sagrada de Alamut, conquistada por exército liderado por Dastan, que com desenvoltura acrobática se pendura em cordas e corre pelas paredes.

Alamut é tomada sob alegações de concentrar armas de guerra. Mas, assim como na história recente, o interesse bélico só diz respeito a concentração de poder. Daí o racha na família real, formada por Dastan, seus irmãos e o tio, Nizam (Ben Kingsley), agora abalados pela morte do Rei.

A visão Disney para o Oriente antigo continua estereotipada, vide a figura caricata Sheik Amar, mercenário de barba, turbante e dente de ouro vivido por Alfred Molina, que ainda conta com um servo negro atirador flechas. Antes de desvendar o mistério por trás da morte do Rei, Dastan e amigos ainda precisam lutar contra uma horda da tribo hassassins e com serpentes do mal. Faz falta um larguiné na "romântica" sequência final. Seria mais fácil aguentar o açúcar goela abaixo.

(Diario de Pernambuco, 04/06/2010)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Lançamentos, bastidores, "eu indico" e ranking da semana



Coen - Os oscarizados irmãos Coen continuam a investigar o comportamento humano neste filme rigorosamente estranho sobre gente aparentemente normal. Em algum ponto dos anos 1960 encontramos o professor Larry (Michael Stuhlbarg), responsável pai de família, judeu praticante, pessoa de personalidade correta e límpida como o céu que paira azul sobre sua casa. Quando sua mulher (Sari Lennick) pede o divórcio e ele é acusado de corrupção na escola, suas convicções cartesianas se abalam e sua vida se torna uma espiral de proporções kafkianas. O tom de fábula moderna predomina, ironicamente precedida por um conto judeu.
Um homem sério (A serious man, EUA, 2009). De Joel e Ethan Coen. 104 minutos. Universal.



Anos dourados - Numa Londres do começo dos anos 1960 encontramos Jenny (Carey Mulligan), adolescente dedicada aos estudos e sob o jugo de pais controladores (Alfred Molina e Olivia Williams). Assim como seu país Jenny está à beira de mudanças radicais, provocadas pelo galante David (Peter Sarsgaard), que a introduz em rodas de boêmios de inclinação beatnik e nas instâncias do amor carnal. Nem tudo é o que parece, mas Jenny precisa amadurecer. Para isso, nada como o bem amarrado roteiro de Nick Hornby (Alta fidelidade), que evita obviedades. E uma trilha sonora por vezes superior ao próprio filme.
Educação (An education, Inglaterra, 2009). De Lone Scherfig. 100 minutos. Sony.

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Vida bandida - Em 2006, dois dias de terror mostraram a força do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa cujos tentáculos alcançaram mais do que as autoridades puderam imaginar. Transformada em filme, a história ganha contornos de drama e ação. Drama de Lúcia (Andréa Beltrão), professora de piano que faz de tudo para salvar Rafa (Lee Thalor), filho único preso após ato impensado de delinquência. Em Beltrão, cuja personagem sai do conforto classe média para impensáveis atos de sobrevivência, está um dos trunfos do filme. Outro está na reconstituição dos eventos que precederam o inferno em que São Paulo se tornou.
Salve geral (Brasil, 2009). De Sérgio Resende. 119 minutos. Sony.



Rebeldia - Relançado em blu-ray, o clássico da contracultura ganha ainda mais importância após a recente morte de seu diretor. Nele, dois motoqueiros (Peter Fonda e Dennis Hopper) viajam por estradas e observam a mudança de comportamento provocadas pelo preceito hippie do sexo, drogas e rock'n'roll. No caminho, dão carona a um advogado (Jack Nicholson), com quem encontram uma comunidade alternativa. Datado em termos de linguagem, o filme paira como documento de uma época em que palavras como rebeldia e liberdade faziam algum sentido. Brilhante trilha sonora com Jimi Hendrix, Bob Dylan e Steppenwolf.
Sem destino (Easy rider, EUA, 1969). De Dennis Hooper. 105 minutos. Sony.

Bastidores

O 20º Cine Ceará divulgou esta semana os filmes em competição. Entre selecionados de vários países latino-americanos estão os pernambucanos Ave Maria ou Mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante e Azul, de Eric Laurence. O evento será de 24/06 a 01/07.

Na próxima terça-feira, às 20h, o Cine São Luiz recebe mostra retrospectiva com curtas de Kleber Mendonça Filho. Na programação, Eletrodoméstica, A menina do algodão, Noite de sexta manhã de sábado, Vinil verde e o premiado Recife frio.

O Festival do Rio, o maior do país, abre inscrições para mostras competitivas até 21 de junho. O festival acontece entre 24 de setembro e 7 de outubro.

Até 30 de junho, moradores de cidades com até 20 mil habitantes podem participar do Revelando os Brasis, que seleciona 40 projetos para transformar histórias reais ou de ficção em curta-metragens. www.revelandoosbrasis.com.br.



Cine São Luiz montou uma ótima programação para a semana. No clima da Copa, entra em cartaz o documentário Pelé Eterno (2004), de Aníbal Massaini e o curta Barbosa (1988), de Jorge Furtado. Na sessão de arte, entra Quanto mais quente melhor (1959), de Billy Wilder e na sessão infantil, a animação As bicicletas de Belleville (2003).

Eu indico

Recomendo Naked (Inglaterra, 1993), de Mike Leigh. A trama é intrigante. O roteiro bem desenvolvido e uma boa direção são potencializados pelas atuações, como a de David Thewlis em um personagem cheios de complexos existencialistas e questionamentos que refletem em vários aspectos e questões culturais, político-sociais. O filme também revela um ser humano destrutivo e desiludido com a vida moderna.

Paulo Paes, músico e compositor

Mais locados
Amor sem escalas (Up in the air, EUA, 2009), de Jason Reitman
O mensageiro (The messenger, EUA, 2009), de Oren Moverman
Sherlock Holmes (EUA, 2009), de Guy Ritchieq
Lunar (Moon, Inglaterra, 2009), de Duncan Jones
Idas e vindas do amor (Valentine's day, EUA, 2009), de Gary Marshall
Sobrevivendo com lobos (Survivre Avec Les Loups, França/Alemanha/Bélgica, 2007), de Véra Belmont
A batalha dos três reinos (Red Cliff, EUA, 2009), de John Woo
Onde vivem os monstros (Where the wild things are, EUA, 2009), de Spike Jonzie
Contatos de quarto grau (The fouth kind, EUA, 2009), de Olatunde Osunsanmi
Avatar (EUA, 2009), de James Cameron

Fonte: Classic Video (3228-4302)