terça-feira, 27 de outubro de 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Festival de Brasília divulga selecionados


Fora de competição, Lula, o filho do Brasil, abre o evento

Quatro novos filmes pernambucanos foram selecionados para participar da competição do 42º Festival de Brasília.

Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante, Azul, de Eric Laurence, Faço de mim o que quero, de Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena, e Recife frio, de Kleber Mendonça Filho, concorrem na categoria curta-metragem 35 mm.

Dois realizadores já foram premiados em edições anteriores do festival: Camilo Cavalcante, por História da eternidade e O presidente dos Estados Unidos, e Kleber Mendonça, por Noite de sexta, manhã de sábado e Vinil verde. Nos últimos anos, o Festival de Brasília tem selecionado e premiado longas como Baile perfumado, Amarelo manga e Amigos de risco e o curta Décimo segundo, de Leo Lacca.

Este ano, o evento será entre 17 e 24 de novembro. O filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto, abre o evento em sessão especial para convidados com a presença do diretor e os atores Rui Ricardo Diaz e Glória Pires. Antes, no dia 14, o longa será exibido pela primeira vez, em sessão especial no Recife.

A mostra competitiva começa no dia seguinte, com seis outros longas inéditos: A falta que me faz (MG), de Marília Rocha; É proibido fumar (SP), de Anna Muylaert; Filhos de João, admirável mundo novo baiano (BA), de Henrique Dantas; O homem mau dorme bem (DF), de Geraldo Moraes; Perdão mister fiel (DF), de Jorge Oliveira e Quebradeiras (SP), de Evaldo Mocarzel. A mostra de curtas digitais traz 18 produções de quatro estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Bahia.

No encerramento do festival será exibido o filme Brasília, a última Utopia, assinado por Pedro Anísio, Geraldo Moraes, Vladimir Carvalho, Pedro Jorge de Castro, Moacir de Oliveira e Roberto Pires.

(Diario de Pernambuco, 23/10/2009), com alterações

Pré-estreia // "Alô, Alô, Terezinha", de Nelson Hoineff


Chacrinha e as chacretes, na extinta TV Tupi

Durante as décadas em que trabalhou em rádio e TV, Chacrinha (1917 - 1988) apresentou novos talentos, criou bordões e fez muita gente dar risada. Mais de vinte anos após sua morte, um dos maiores fenômenos da comunicação brasileira está volta às telas através do documentário Alô, Alô, Terezinha!.

Por si, a força e o carisma do personagem criado por Abelardo Barbosa seriam suficientes para segurar qualquer filme. Somente as imagens de arquivo, com calouros dispostos a "ir para o trono" ou amargar buzinadas e o troféu abacaxi já promoveriam o encontro nostálgico para os que assistiam o Cassino do Chacrinha e ainda o apresentaria às novas gerações, descrente de que a TV já deu espaço para aquele carnaval anárquico.

O filme não chega a ser uma biografia, mas mergulha no passado deste pernambucano de Surubim. Por exemplo, Alceu Valença entende Chacrinha como um velhodo pastoril atualizado para as massas. Giberto Gil arremata e diz que o tropicalismo é decisivo para explicar o Velho Guerreiro.

No último Cine PE, Alô, Alô, Terezinha! foi eleito melhor filme (júri oficial e popular). Mês passado, estreou no Festival do Rio em sessão hour concours. O filme, que entra em cartaz no próximo dia 30, está em regime de pré-estreia , às 23h no Multiplex UCI Tacaruna (Santo Amaro) e 23h15 no Recife (Boa Viagem). Ontem, houve sesão especial com presença do diretor Nelson Hoineff, do distribuidor Jean Thomas e do cantor Byafra.

Byafra foi um dos artistas mais presentes nos programas do Chacrinha e no filme protagoniza uma sequência impagável, que sintetiza o espírito galhofeiro do Velho Guerreiro e do próprio documentário. Enquanto cantava seu maior sucesso, Sonho de Ícaro ("Voar, voar, subir, subir"), ele foi atingido por um parapente desgovernado, o que gerouum dos momentos mais engraçados do filme de Hoineff. Há dois meses, o trecho caiu na internet e virou hit do You Tube, com mais de 300 mil visualizações. "Aquilo teve a mão de Chacrinha. Ele deve estar rindo em algum lugar", diz Byafra. Hoineff poderia ter impedido o acidente, mas preferiu não perder a piada. "Quando o parapente se aproximou, deixei rolar a situação. Pedi para o câmera segurar e aconteceu o inusitado total", afirma o diretor.



Mas o diretor foi além e aplica em seu primeiro longa a cartilha politicamente incorreta que trouxe do Documento especial: televisão verdade, programa transmitido nos anos 80 pela extinta Rede Manchete. Veja duas reportagens que marcaram época:





Sem medo de cruzar a linha que separa ética e irreverência, ele entrevista ex-chacretes em sua intimidade e elas dão depoimentos sobre quem ficava com quem nos bastidores dos programas.
Hoje cinquentonas, elas são as verdadeiras estrelas do documentário: Rita Cadillac (na cama com um fã), Leo Toda Pura, Fátima Boa Viagem, Regina Polivalente, Cabocla Jurema, Loura Sinistra e Vera Furacão são algumas que abre o verbo e dão nomes aos garanhões e decepções da MPB. A mais ousada é Índia Potira, que após beber alguns copos de cerveja, dança numa fonte pública, seminua segurando arco e flecha. As imagens devem causar espanto, polêmica e até mesmo indignação.

"Acho que falta de respeito é achar que as chacretes não são mais do que um monte de bundinhas de 18 anos. Humanizei algumas delas, mostrei que atrás de cada uma tem uma mulher de verdade, com sonhos, angústias, aflições, alegrias, tristezas. O que colocamos na tela são pessoas extraordinárias. Muitas delas se tornaram minhas amigas, outras vieram me agradecer", conta Hoineff, cujo segundo longa, Caro Francis, sobre o jornalista Paulo Francis, deve estrear comercialmente em janeiro. Apesar da distância entre os personagens, Hoineff vê semelhança entre os filmes. "Os dois falam sobre transgressão e não são biográficos". Ao que tudo indica, o diretor pretende continuar provocando com seu novo projeto: um documentário sobre Cauby Peixoto.

(Diario de Pernambuco, 23/10/2009), com alterações

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Janela de Cinema faz intercâmbio com festival alemão


Na mostra MuVi, Wolfgang Jeiser apresenta releitura visual para música Videotape, do Radiohead

A 2ª Janela Internacional de Cinema do Recife inicia hoje uma série de programas especiais em parceria com o Festival Internacional de Curtas Oberhausen, um dos mais antigos e importantes do mundo. Ao todo são 24 filmes, divididos em sessões de hoje a sábado. Herbert Schwarze, curador do festival, estará presente e apresentará cada um dos três programas.

Desde 1996, Schwarze participa da seleção de filmes do tradicional festival alemão. Em entrevista ao Diario, ele diz que procura novos filmes durante sua visita ao Brasil. "Tentarei assitir a quantos filmes puder, principalmente aos brasileiros. Entrar em contato com cineastas e suas ideias é um grande privilégio, não só para meu desenvolvimento pessoal, mas também para o festival que represento".

Os filmes apresentados a partir de hoje no Recife são uma amostra de um programa maior exibido na 55ª edição do Festival de Oberhausen. "O objetivo do programa do Recife é dar uma ideia do espírito de Oberhausen. Comosou apenas um curador num grupo de nove pessoas, minha seleção é bastante pessoal. Como escrevi no texto para o catálogo do festival, mesmo que pareçam antagonizar uns aos outros, eles estão unidos do ponto de vista curatorial, pois discutem imagens que existiram previamente. Este é o atual estado do fazer imagens, mais de cem anos depois que o cinema foi inventado", diz o curador.

O primeiro programa será exibido hoje, às 19h50, no Cinema da Fundação. Ele reúne doze videoclipes de realizadores alemães que participaram do MuVi 2009, competição criada pelo festival para abrigar o gênero. Dois deles se apropriaram de músicas famosas dos Beatles e Radiohead. Because, de Oliver Pietsch, aplica a voz multiplicada de Lennon, McCartney e Harrison a uma colagem de imagens celestes. Videotape, de Wolfgang Jeiser, traduz o espírito onírico do Radiohead em objetos digitais que flutuam dentro de um estacionamento subterrâneo.

O segundo será amanhã, às 20h15, no Cinema Apolo, e traz seis curtas de Israel, Canadá, EstadosUnidos, França e Alemanha. Sábado, às 17h30, no Cinema da Fundação, seleção de curtas da China, Rússia, Alemanha, Estados Unidos e Canadá encerra o intercâmbio.

Entrevista // Herbert Schwarze: "Para sobreviver, os festivais precisam se reinventar"

É possível abarcar a crescente produção de curta-metragens em uma única tendência? Ou é preciso separá-los em categorias?
A resposta para a primeira pergunta é claramente um "não". Há muitos filmes e devem haver tendências. É possível pensar que há temas especiais, mas eles são impossíveis de serem generalizados. Mais importante são seus pontos de vista, o que pode definir a "marca" de um festival, do tipo de filme a que as pessoas esperam assistir, por exemplo, em Oberhausen. A única chance de responder à enorme quantidade de filmes é definindo critérios para a qualidade do conteúdo e, em geral, uma posição que possa gerar discussão. Quanto à segunda parte da sua pergunta, sim, podemos colocá-los em diferentes categorias. Torna as coisas mais fáceis comparar um anúncio com outros anúncios, uma animação com outras animações e assim por diante. Nossa exceção é o prêmio Muvi de videoclipes, onde preferimos misturar gêneros e formatos.

Que qualidades um curta-metragem deve ter para ser selecionado por Oberhausen?
Se você um dia puder acompanhar as discussões entre os membros da competição internacional sobre cada filme, vai duvidar que o festival poderia ser baseado em algo geral. No final do processo de seleção, sempre fico surpreso, pois parece haver uma ideia muito clara por trás, algo difícil de descrever. Meus critérios são: filmes abertos ao mundo, de todos os tipos, camadas ou níveis; filmes políticos e sociais, bem como os ligados à fenômenos da mídia; e que tragam a ideia de que há novas maneiras de fazer um filme, com muita consciência e respeito pelos que foram feitos antes.

Oberhausen é um dos mais antigos festivais de cinema do mundo. Que função ele e outros eventos semelhantes podem desempenhar na atual conjuntura?
Posso falar sobre as circunstâncias na Alemanha e Europa. A mídia mudou totalmente nos últimos 20 anos e com ela o mercado e o papel dos pequenos e grandes festivais. Antes, a função dos festivais era ser tanto o mercado onde filmes são oferecidos quanto espaço para intercâmbio cultural. Mas tudo mudou. A maioria dos filmes precisam ser vendidos antes de chegar aos festivais, ou não encontrarão compradores. Não é fácil descrever o que está acontecendo, mas acho que o futuro dos festivais é se tornar algo mais cultural do que econômico, uma espécie de memória do cinema e suas linguagens. Não se trata de administrar o passado glorioso, mas de uma ideia muito nova de fórum público. Ou seja, para sobreviver, os festivais precisam se reinventar.

(Diario de Pernambuco, 21/10/2009), com alterações

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Festival // Janela aberta à produção pernambucana


Confessionário, de Leo Sette

A 2ª Janela Internacional de Cinema do Recife reserva para hoje uma programação especial de curtas e videoclipes. Dividida em duas partes, a Janela Pernambucana traz novos trabalhos de Leonardo Sette, Daniel Bandeira e Vincent Carelli.

Hoje, a partir das 21h30, Sette apresenta o curta 35mm Confessionário, fruto de seu encontro com o missionário católico Silvano Sabatini, que nos anos 50 esteve na área indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, local que passou por recente disputa por terra.

Durante 15 minutos de um plano sem cortes, Sabatini narra à câmera sua experiência com os índios, de acordo com o próprio, pautada pela comunhão que beirava a subversão diante das orientações da Igreja. Enquanto descreve situações como a que os índios se preparam para confessar pecados, é possível perceber como o próprio ambiente construído pelo filme se torna um confessionário em si, um convite a refletir sobre a essência do cinema documental. O filme já passou pelo festivalÉ Tudo Verdade e pela Mostra Internacional de Curtas de São Paulo. Esta será a primeira exibição no estado.

Outros filmes do programa são De volta à terra boa, de Mari Corrêa e Vincent Carelli, Cinema Império, de Hugo Carneiro Coutinho, e Eiffel, de Luiz Joaquim. O inédito Tchau e bênção, de Daniel Bandeira (do longa Amigos de risco) será exibido amanhã, junto com São, de Pedro Severien, Não me deixe em casa, de Daniel Aragão, e Ave Sangria, de Raynaia Uchoa, Rebeca Venice e Thiago Barros. Às 18h, dois curtas pernambucanos - Nº 27, de Marcelo Lordello, e Superbarroco, de Renata Pinheiro - participam da mostra competitiva.

Videoclipes - Às 20h15 haverá uma retrospectiva dos últimos 15 anos do videoclipe pernambucano com a mostra Caos, Noise, Clipes. A curadoria é do jornalista Germano Rabello, que em 2004 dirigiu o curta Vamo fazer um clipe?, ao lado de Aroldo Araújo e Jolly Campello. "Fechamos em 17 clipes marcantes, alguns famosos, outros obscuros, como Iago e Jonathas, dirigido por Grilo, que eu acho um dos melhores da cena local", conta Rabello, que lamenta a falta de cuidado com certos clipes como o emblemático Se Zé Limeira sambasse maracatu, do Mestre Ambrósio, cuja única cópia tem acesso restrito.

Ele não conseguiu incluir a peça na seleção, que conta com pelo menos uma raridade: a versão demo de A cidade, de Chico Science e Nação Zumbi, realizada pela TV Viva antes da banda conquistar a mídia. "É uma curiosidade de valor histórico, pois mostra outra face da banda". A seleção ainda traz clipes da Mundo Livre, Paulo Francis Vai Pro Céu, Re:combo, Devotos, Textículos de Mary, Mombojó, Profiterolis, Asteróide B-612 e Eddie.

(Diario de Pernambuco, 20/10/2009)

Trajetória de Severiano Ribeiro passada a limpo



Fortaleza, 1915: o jovem Luiz Severiano Ribeiro abria sua primeira sala de cinema. Graças ao tino para negócios e uma conjuntura favorável - a TV ainda estava longe de ser ameaça - nas décadas seguintes, ele e seu filho, também Luiz, construíram um verdadeiro império produtor e exibidor de filmes.

Uma história e tanto, contada em detalhes no livro O Rei do Cinema - a extraordinária história de Luiz Severiano Ribeiro (Record, R$ 37), de Toninho Vaz. O autor está na cidade, onde autografa o livro e conversa sobre o tema. O evento será hoje, às 19h, no auditório da Saraiva MegaStore.

A exibição de um documentário de 28 minutos com uma seleta de notícias do cine jornal Atualidades Atlântida promete mexer com a memória afetiva do público. Produzido entre 1940 e 1960 e com narração de Heron Domingues, os temas da coletânea variam entre a eleição de Marta Rocha como Miss Brasil, a construção de Brasília, a copa de 1962 e o carnaval de 1964. Vaz afirma que no cine jornal está parte da história do País. "Durante três décadas, esta foi uma das principais fontes de notícias do Brasil".

A Saraiva MegaStore está localizada no Shopping Recife (andar térreo, Boa Viagem). A entrada é franca.

Matéria completa, escrita na época do lançamento do livro, mais entrevista com Toninho Vaz aqui.

(Diario de Pernambuco, 20/10/2009)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Cinema, caipirinhas e uns lundus


(foto: Rodrigo Pessoa)

A programação do Janela segue hoje com programa especial do Cachaça Cinema Clube, intitulado "Sexo é coisa que quase todo mundo gosta" com um filme pornográfico de autor desconhecido, rodado em 1920, o curta Yoga profunda, de Ludwig Von Papirus e o média Punks, de David Cardoso.

Logo após, no Encontro dos Realizadores, haverá conversa com as cineclubistas Débora Butruce e Karen Black e festa com discotecagem do DJ Tarta, no Castigliani Cafés.

Veja programação completa:

Cinema da Fundação
17h - Programa de curtas Do lado de fora tentando entrar
Metropolis Ferry (Espanha, 2009), de Juan Gautier
Deixados para trás (Alemanha, 2008), de Fabian Daub e Andreas Graefenstein
Uma e outra vez (EUA, 2008), de Antonio Mendez Esparza
Pele nova (França, 2009), de Clara Elalouf

18h30 - Longa: Corumbiara (Pernambuco, 2009)

21h30 - Programa especial de curtas Cachaça Cinema Clube
Filme pornográfico (2009), de autor desconhecido
Yoga profunda (2006), de Ludwig Von Papirus
Punks (1983), de David Cardoso

22h30 - Encontro dos realizadores - Festa Cachaça Cinema Clube

Cinema Apolo
16h30 - Programa de curtas Everestes pessoais
Two ways, (França, 2009), de Viola Groenhart
Nora (EUA, 2009), de Alla Kovgan e David Hinton
Houna anda Manny (EUA, 2009), de Jared Katsiane

18h - Reexibição do programa de curtas Eu me lembro

20h - Reexibição do programa de curtas As imagens doce amargas

Hospital do Câncer
10h - Programa especial de curtas

Sertão onírico de Gomes e Aïnouz


Chico Ribeiro, Marcelo Gomes, Ofir Figueiredo e João Vieira Jr. Diretor do longa de abertura com produtores da REC. 16.10.2009 (foto: Rodrigo Pessoa)

A estreia pernambucana de Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, teve forte significação para o público que compareceu à noite de abertura da 2ª Janela Internacional de Cinema do Recife, na última sexta-feira.

Mas não só para a plateia, que certamente voltou para casa com muito o que digerir. Foi especial também para Gomes, que começou sua carreira naquele mesmo Cineteatro José Cavalcanti Borges, onde hoje funciona o Cinema da Fundação, e há 20 anos sediava o cineclube Jurando Vingar. "Aqui é minha casa", disse Gomes, a uma sala com gente sentada até na escadaria.

O filme - que ganhou sessão extra na tarde de ontem - é de longe o mais experimental da carreira da dupla de cineastas, marcada por pérolas como Cinema, aspirinas e urubus (Gomes, com colaboração de Aïnouz) e O céu de Suely (Aïnouz, com colaboração de Gomes). Apesar da lotação, durante a sessão não se ouviu um ruído sequer além dos que saíam das caixas de som. Na plateia estavam vários realizadores, de iniciantes a veteranos, e pessoas ligadas a demais atividades do audiovisual. E jovens, muitos jovens, cujo silêncio deu a entender que sabiam exatamente o que estavam procurando.

Todos estavam atentos à narração de José Renato (Irandhir Santos), geólogo que parte para o Sertão com a missão de descobrir o lugar ideal para a passagem do canal que fará a transposição das águas do São Francisco. Ao longo da jornada, ele conversa com seu amor, Joana, que ficou em Fortaleza. A dor da separação aos poucos se espalha em imagens que choram cores e sangram luz. Estamos de volta ao Sertão existencial e onírico de Gomes e Aïnouz, que costuram linguagens de forma radical, sem medo de errar. Cada um tem o seu.

Objetivamente, trata-se de uma costura aparentemente sem conexão - algumas documentais e outras que beiram a abstração - unidas pela voz do narrador-personagem, que nunca aparece em cena. Na subjetividade deste protagonista reside a matéria cinematográfica, o extrato que conduzuma delicada história de alguém que fecha os olhos e vê paisagens da amargura e desamparo.

Após a exibição, Gomes, Irandhir e os músicos do grupo Chambaril (que assinam a trilha sonora) conversaram com o público. Gomes disse que sua busca é fazer cinema de invenção: filmes baratos e que procuram novas formas de contar uma história. "Queremos investigar a feitura do cinema. Por exemplo, será que precisamos ver o ator para nos emocionar?". No dia seguinte, durante conversa com jovens realizadores convidados pelo Janela, falou sobre estratégias de exibição alternativa em escolas e outros espaços, que não a sala de cinema. Nestas, disse que seria melhor que seu filme fosse exibido em poucos horários, com mais tempo em cartaz.

Antes da projeção de Viajo porque preciso, pensando no ritmo lento do filme, Gomes pediu paciência ao público. Nem foi preciso. O pedido deveria ser transferido para Politist, adjetiv (Romênia, 2009), novo longa de Corneliu Porumboiu (A leste de Bucareste), que muito bem pode ser resumido na palavra "estranho". Pois, ao contar a história de um agente que espiona três adolescentes que fumam haxixe no fundo do pátio da escola, o diretor contraria a agilidade dos filmes de investigação policial hollywoodianos e testa a resistência do público com longos planos de situações triviais, com especial apreço por corredores, escadarias e calçadas, registrados de forma interminável, como se a elipse não existisse como recurso cinematográfico.

Força dos curtas - Porção majoritária da programação (são mais de 140 em exibição), os curtas apresentados pelo festival Janela confirmam a clara função do formato em oxigenar a produção de filmes. Na noite de abertura, foi apresentada uma prévia do que virá ao longo da semana. A animação Cão tarado (Horny dog, EUA, 2009), de Bill Plympton, é mais um episódio da série indicada ao Oscar. O curta faz parte do programa Amor, Perdas e Danos, que será reprisado amanhã, às 20h, no Cinema Apolo (Bairro do Recife). O programa inclui Noche adentro (Paraguai/Argentina), de Pablo Lasmar (um dos convidados do festival), exibido na semana da crítica em Cannes.

98001075056 (SP, 2009), de Felipe Barros, é um ensaio/experimento de linguagem sobre memória e exploração do espectro de cores, disponível quando fotografias antigas se dissolvem na água. Ele figura no programa Eu Me Lembro, reprisado hoje, às 18h, no Apolo, junto com A montanha mágica, de Petrus Cariry, Três tabelas (SP, 2008), de Tatiana Azevedo, As sombras (SP, 2009), de Juliana Rojas e Marco Dutra, Olhos de ressaca (RJ, 2009), de Petra Costa (melhor curta do Festival do Rio) e Minami em Close Up - A boca em revista, de Thiago Mendonça.

Este último conta a história de Minami Keizi, editor da revista Close Up, que serviu de porta voz do cinema Boca do Lixo. Nos anos 70 produziu filmes de baixo orçamento, estética questionável e grande bilheteria, responsáveis pela marca quase indelével de que cinema nacional tem que ter cena de sexo. "Era um cinema autônomo, feito sem apoio do governo ou leis de incentivo, onde prostitutas viravam atrizes, atrizes viraram prostitutas e que, em apenas um ano, produziu 104 filmes", diz um dos participantes do movimento.

(Diario de Pernambuco, 19/10/2009)

domingo, 18 de outubro de 2009

Cinema a golpes de Taekwondo



Jet Li que se cuide. Inspirado nele e nos ídolos Bruce Lee e Jackie Chan, um professor de artes marciais de Jaboatão dos Guararapes vem dirigindo uma série de filmes de ação ambientados na própria cidade.

No mais recente, O policial kickboxer, ele não só dirige, como produz, escreve e atua como o agente Lin, convocado pela polícia para desbaratar uma máfia que assalta caminhões. O maior inimigo de Lin é Beterraba, implacável chefe da máfia que barbariza mocinhas e aterroriza as transportadoras de Jaboatão.

O policial kickboxer é a terceira obra de Rosiel Santos, que nos últimos anos dirigiu os curtas Missão arriscada (ainda como Ozzy Lee) e O motoboy kickboxer. Com o último, chamou atenção da mídia local. Frequentou quase todos os jornais e TVs, que geralmente adotam o viés burlesco para apresentar a história.


Com 35 anos de idade, Rosiel é faixa-preta em três tipos de luta: Kickboxing, Taekwondo e Hapikdô. Ganhou 32 campeonatos. Até agora, garante a vida dando aulas particulares para jovens e crianças dos bairros da Madalena, San Martin, Parnamirim e onde mais for chamado. Para completar o orçamento, todos os domingos trabalha como entregador da Pizzaria Siciliano, em Candeias.

Mas a vida de professor e entregador de pizza não é suficiente. Seu objetivo é crescer e aparecer como ator e coreógrafo de cenas de luta. Quer apoio para realizar novos roteiros como o curta O policial kickboxer 2 (sobre a corrupção na polícia, inspirado em Tropa de elite) e seu primeiro longa, Inimigo imortal, em que ele precisa enfrentar um rapaz que morre em acidente de carro e volta à vida imbatível, graças a uma experiência de laboratório. Diferente dos filmes anteriores, neste não haverá somente lutas. "Vou fazer uma cena em que estou na piscina, com dez mulheres", afirma, sem medo de represálias da esposa. "Já contei isso a ela".

Para Rosiel, o melhor desfecho possível seria deixar a produção dos próximos filmes na mão de profissionais. "Tenho ideias para encher um rio. Mas o primordial é mostrar minha arte, o talento que Deus me deu". Até agora, conta com o apoio do amigo e advogado Djailton Melo, que no Policial kickboxer fez mais do que dar uma força na produção. Atuou no papel do delegado.

Auxílio de Djailton à parte, os filmes de Rosiel são feitos a custo zero. A câmera? Uma Panasonic bitola VHS-C. O elenco? Lutadores amigos, felizes em aparecer num filme. Até o filho, Rosiel Lee Santos, 5 anos, dá uma canja em uma das cenas. Edição e créditos? O computador de um amigo "desenrolado", da Imbiribeira. Distribuição? Locadoras e camelôs de Prazeres, bairro onde mora. Venda direta ao consumidor? 8836-4914 ou 3462-6988. O DVD custa simbólicos R$ 5.

Há dez anos, quando decidiu se aventurar no cinema, Rosiel sofreu críticas de diferentes pessoas. Não se deixou abater. "Quebrei essa barreira. Sei que não está 100%, mas os filmes têm alguma qualidade. Aprendi que, se eu tenho um sonho, é para colocar em prática com garra e deteminação. Se baixar a cabeça, não vou a lugar nenhum". Se o plano de Rosiel der certo, será a realização do slogan de divulgação de O policial kickboxer: "Jaboatão dos Guararapes nunca mais será a mesma".

(Diario de Pernambuco, 18/10/09)

Hitchcock extrai lições da guerra fria



Qual seria a visão de Alfred Hitchcock sobre os anos da guerra fria? A resposta do belga Johan Grimonprez está em seu primeiro longa, Double take (Alemanha / Bélgica, 2009), fruto do cruzamento dos dois temas, já abordados pelo diretor nos curtas Dial H.I.S.T.O.R.Y. e Looking for Alfred.

Para tanto, ele desconstrói imagens antigas de TV e da filmografia do mestre do suspense, para extrair de seus poros uma versão remixada, em que a história oficial é mero ponto de partida. Um monumental trabalho de pesquisa e montagem, que aos poucos estabelece um diálogo sinistro com a plateia. O filme será exibido hoje, às 15h50, no Cinema da Fundação, como parte da programação da 2ª. Janela Internacional de Cinema do Recife.

"Se você encontrar seu duplo, deve matá-lo. Ou então, ele o matará", diz Hitchcock, em frase replicada em diferentes contextos pelo filme. Primeiro, na tese falsa de que o próprio diretor de Psicose teria sido substituído por um duplo, ou pior, um doppelganger (em alemão, clone maldito), em circunstâncias misteriosas durante as gravações do clássico Os pássaros (1963). Este "outro", interpretado pelo ator Ron Burage, conhecido sósia de Hitchcock, oscila entre o papel e a verdadeira identidade.

Aplicada à história recente, a frase se torna um princípio não-assumido, mas praticado pela corrida armamentista, em que comunistas e capitalistas se negavam como água e óleo, mas em essência se mostravam iguais na luta pelo poder. Líderes dos dois blocos são filmados em encontros sorridentes, enquanto a ameaça da bomba atômica paira no ar junto a pássaros negros que voam nas telas do cinema.

O próprio cinema, ameaçado pelo surgimento da TV, vira argumento para o jogo paranóico. A hipótese é que a TV está matando o cinema, que fechou 50% das portas. "A TV devorou o cinema, como pássaros devoram seus pais", diz o crítico, pouco depois convertido e popularizado pela série televisiva Hitchcock apresenta. Em outra passagem, ele compara a telinha a uma torradeira. "Você aperta o botão e a mesma coisa salta todo dia para fora".


Almodóvar - Coincidência ou não, às 21h20, na exibição de Abraços partidos (Los abrazos rotos, Espanha, 2009), Pedro Almodóvar retoma de alguma forma o tema de Double take.

Aqui, o homem se abriga em seu duplo como fuga psicológica de um acidente traumático, que o deixou cego e matou sua mulher (Penelope Cruz). Antes, Harry Caine era apenas o pseudônimo adotado pelo diretor de cinema Mateo Blanco (Lluís Homar) para escrever o roteiro de seus filmes. Após a tragédia, o alter ego se torna mais real do que toda sua vida e memórias pregressas.

Dado o apelo do diretor de Tudo sobre minha mãe, a sessão deve ser disputada. Abraços partidos dividiu opiniões no último Festival de Cannes e estreia comercialmente no Brasil dia 20 de novembro.

(Diario de Pernambuco, 18/10/09)

sábado, 17 de outubro de 2009

Paisagem do abandono



A abertura do Janela acabou de acontecer e saio no calor do momento com o filme de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz na cabeça. Viajo porque preciso, volto porque te amo é de longe o filme mais experimental da carreira dos dois diretores.

Antes da projeção, Gomes pediu paciência ao público. Nem foi preciso. Mesmo com o Cinema da Fundação lotado a ponto de - cena rara - haver gente sentada no chão, durante a sessão não se ouviu um ruído sequer além dos que saíam das caixas de som.

(para quem perdeu a sessão: amanhã (domingo), às 14h20, no Cinema da Fundação, haverá uma sessão extra do longa)

Na platéia estavam realizadores, de iniciantes a veteranos, e pessoas ligadas a demais atividades do audiovisual. E jovens, muitos jovens. Sabiam exatamente o que estavam procurando.

Estavam atentos à narração de José Renato (Irandhir Santos), geólogo que parte para o sertão com a missão de encontrar o melhor local para passar o canal que conduzirá as águas do São Francisco, de acordo com o projeto da transposição.

Ao longo do filme, ele conversa com seu amor, Joana, que ficou em Fortaleza. A dor da separação aos poucos se espalha por tudo.

As imagens choram cores e sangram luz. Estamos de volta ao sertão existencial de Cinema, aspirinas e urubus (de Gomes) e O céu de Suely (de Aïnouz). Cada um tem o seu.

Só que ainda mais radical e sem medo de arriscar. Que costura linguagens.

Depois da exibição, Marcelo Gomes, Irandhir Santos e os músicos do Chambaril (que assinam a trilha sonora) conversaram com o público. Gomes disse que sua busca é fazer cinema de invenção: filmes de baixo orçamento que procuram novas formas de contar uma história.

Hoje, às 15h, ele retoma a conversa com jovens realizadores convidados pelo Janela Internacional de Cinema do Recife. O encontro será no na Castigliani Cafés Especiais (Fundaj - Derby), por iniciativa do próprio diretor, que pretende compartilhar seu processo de criação.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O cinema que enxerga o mundo



A 2ª. Janela Internacional de Cinema começa hoje, às 19h, com uma seleção surpresa de curta-metragens e a exibição de Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz. Esta será sua primeira sessão pública no estado. O filme estreou mês passado, sob elogios, no Festival de Veneza. Uma semana atrás, foi premiado no Festival do Rio nas categorias direção e fotografia (Heloísa Passos). Após a projeção, Gomes conversa com o público e convidados do evento no Encontro dos Realizadores. Double take (Bélgica, 2009) de Johan Grimonprez, Politist adjectiv (Romênia, 2009) de Corneliu Porumboiu e Los abrazos rotos (Espanha, 2009), de Pedro Almodóvar, são outros longas do fim de semana.

Por telefone, Marcelo Gomes diz ao Diario que ficou surpreso com a receptividade do público de Veneza, Rio de Janeiro e Paraty (onde foi exibido no fim de semana) a um filme que define como pessoal e sem concessões. "São três platéias diferentes que mostraram reações parecidas". Modesto, atribui parte do interesse ao título incomum, que pode muito bem ser encontrado no pára-choque de um caminhão qualquer. "O nome estimula muito a curiosidade. É uma frase ultra-romântica, mas que tem tudo a ver com a narrativa do filme".

Gomes descreve sua parceria com Aïnouz (Madame Satã, O céu de Suely) como um road movie que se abriga dentro de um filme de amor. Construído com elementos de documentário, ficção e videoarte, o enredo é simples e direto: um geólogo (Irandhir Santos) vai para o Sertão em busca de fontes d'água.

A ausência de concessões, diz o diretor, está na opção pela narrativa em primeira pessoa, mesmo que o personagem nunca apareça em cena; nos silêncios narrativos a traduzir seu estado emocional de abandono e solidão; no roteiro que evita situações objetivas de causa e efeito, mas que é conduzido pelo estado de espírito do protagonista. "Para nós, mais importante do que contar uma história é descobrir novas formas de contá-la. Queremos instigar a criatividade e a emoção do público. Que o filme permaneça nas pessoas após a sessão".

Curtas, mostras e programas especiais - Apesar do apelo dos longas, a mostra competitiva de 72 curtas deve render boas surpresas. Eles estão divididos em duas categorias (nacional / internacional) e 14 programas temáticos, distribuidos ao longo da semana. Por exemplo, amanhã, às 17h50, o programa Eu me lembro traz os filmes Olhos de ressaca (RJ), de Petra Costa, A montanha mágica (CE), de Petrus Cariry, 98001075056 (SP), de Felipe Barros, Três tabelas (SP), de Tatiana Azevedo, As sombras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, e Minami em close-up - A boca em revista (SP), de Thiago Mendonça. Às 16h, o programa Amor, perdas e danos traz, entre outros, o curta Noche adentro (Paraguai -Argentina), de Pablo Lamar. Alguns dos realizadores são convidados do evento e estarão presentes nas sessões como Pablo Lamar, Thiago Mendonça, Thiago Ricarte, (Chapa - SP), Claudio Marques e Marilia Hugues (Nego fugido - BA) e Ian Strang (Dearest / Meus Queridos - Canadá).

Durante a semana, a programação da Janela se estende para o Cinema Apolo e se desdobra em programas especiais em parceria com o Festival de Oberhausen, Cachaça Cinema Clube, Aliança Francesa, Trincheira Filmes e o Hospital do Câncer. O formato videoclipe ganha espaço no MoVi Oberhausen e uma retrospectiva 15 anos do videoclipe pernambucano.

2ª Janela Internacional de Cinema do Recife
Quando: de 16 a 24 de outubro
Onde: Cinema da Fundação (Rua Henrique Dias, 609 - Derby) e Cinema Apolo (Rua do Apolo, 121 - Bairro do Recife)
Quanto: R$ 1 (preço único para sessão de curtas-metragens); R$ 4 e R$ 8 (meia-entrada e inteira para sessões de longa-metragem); Entrada franca em sessões do Cineclube Dissenso e na Aliança Francesa.
Informações: www.janeladecinema.com.br

(Diario de Pernambuco, 16/10/2009)

Janela Internacional de Cinema do Recife - programação completa

Programação

Sexta 16
- 19h - Sessão de abertura: seleção surpresa de curtas (Fundação)
- 21h - Longa de abertura: Viajo porque preciso, volto porque te amo (Fundação)*
- 22h30 - Encontro dos Realizadores (Castigliani Cafés)

Sábado 17
- 14h - Cineclube Dissenso (Fundação)
- 16h - Programa Amor, perdas e danos - (Fundação)*
- 17h50 - Programa Eu me lembro (Fundação)*
- 19h50 - Programa As imagens doce amargas (Fundação)*
- 21h40 - Longa Politist adjectiv (Fundação)
- 22h - Festa Bendita na Janela (Poço da Panela)

Domingo 18
- 15h50: Longa Double take (Fundação)
- 17h30: Programa Sensações de inadequação (Fundação)*
- 19h30: Programa Interações humanas peculiares (Fundação)*
- 21h20: Longa Los abrazos rotos (Fundação)

Segunda 19
- 10h - Programa Especial Hospital do Câncer
- 16h30 - Programa Everests Pessoais (Apolo)
- 17h - Programa Do lado de fora tentando entrar (Fundação)
- 18h - Programa Eu me lembro (Apolo)*
- 18h30 - Longa Corumbiara (Fundação)*
- 20h - Programa As imagens doce amargas (Apolo)*
- 21h30 - Pograma Cachaça Cinema Clube (Fundação)*
- 22h30 - Encontro dos Realizadores - festa Cachaça Cinema Clube (Castigliani Cafés)

Terça 20
- 10h - Programa Especial Hospital do Câncer
- 16h30 - Programa Você está aqui (Apolo)
- 16h40 - Programa Everests pessoais (Fundação)
- 18h - Programa Sensações de inadequação (Apolo)*
- 18h15 - Programa Dimensões paralelas (Fundação)*
- 20h - Programa Amor, perdas e danos (Apolo)*
- 20h15 - Retrospectiva 15 anos do videoclipe pernambucano (Fundação)
- 21h30 - Janela Pernambucana prog. 1 (Fundação)*

Quarta 21
- 16h30 - Programa Do lado de fora tentando entrar (Apolo)
- 16h40 - Programa As manobras do olhar (Fundação)
- 18h - Programa Dimensões paralelas (Apolo)*
- 18h - Programa Interações humanas peculiares (Fundação)*
- 19h30 - Programa Especial Aliança Francesa (1)
- 19h50 - PE Muvi - Oberhausen (Fundação)
- 20h - Longa Double take (Apolo)
- 21h - Janela Pernambucana prog. 2 (Fundação)*
- 22h30 - Encontro dos Realizadores - A Reforma do Filme (Castigliani Cafés)

Quinta 22
- 16h30 - Programa Quando eu era pequeno (Apolo)
- 17h - Progrma A solidão dos corredores de longa distância (Fundação)*
- 18h - Programa Áreas construídas (Apolo)*
- 19h - Programa A palavra das imagens (Fundação)*
- 19h30 - Programa Especial Aliança Francesa (2)
- 20h15 - Oberhausen Prog. 1 (Apolo)
- 21h - Longa No meu lugar (Fundação)*

Sexta 23
- 16h - Programa Quando eu era pequeno (Fundação)
- 17h - Programa A palavra das imagens (Apolo)*
- 17h30 - Programa As manobras do olhar (Fundação)
- 18h45 - Programa Áreas construídas (Fundação)*
- 18h50 - Programa A solidão dos corredores de longa distância (Apolo)*
- 20h45 - Longa Double take (Apolo)
- 21h - Longa Um lugar ao Sol (Fundação)*

Sábado 24
- 16h - Programa Você está aqui (Fundação)
- 16h30: Retrospectiva 15 anos do videoclipe pernambucano (Apolo)
- 17h30: Oberhausen prog. 2 (Fundação)
- 19h: Longa Pacific (Fundação)*
- 21h: Premiação (Fundação)
- 22h: Longa de Encerramento - Les herbes folles (Fundação)

* presença dos realizadores, conversa com o público.

Chaplin restaurado na Mostra Infantil



Após estreia movimentada no último fim de semana, o 7º Festival Internacional de Cinema Infantil se prepara para se despedir do público recifense. Hoje, amanhã e domingo, são cinco longas-metragens e dois programas de curtas à disposição da garotada.

Os adultos também podem se sentir contemplados com a exibição de dois clássicos do cinema mudo: O garoto (EUA, 1921), de Charles Chaplin e As aventuras do príncipe Achmed (Alemanha, 1926), de Lotte Reiniger. Uma das obras primordiais de Chaplin (e portanto, do cinema) será exibido em cópia 35mm, retirada da matriz recentemente restaurada pela Cinemateca de Bolonha, na Itália, em comemoração aos 120 anos do nascimento do cineasta.

Narrado com jogos de luz e sombras, As aventuras do príncipe Achmed (Alemanha, 1926) é fruto do empenho de Reiniger, a primeira mulher a se enveredar em técnicas do cinema de animação. Entre as novidades, Eu juro que vi Saci e O segredo de Kells, de Tomm Moore, um dos filmes mais vistos dasemana passada, que encerra o evento no domingo, às 16h30.

(Diario de Pernambuco, 16/10/2009)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Janela do Cinema junta 150 filmes de 23 países


Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, abre a Janela deste ano; os novos de Almodovar e Resnais também estão na programação

A Janela Internacional de Cinema do Recife anunciou ontem a programação completa de sua segunda edição. A partir da próxima sexta-feira e nos oito dias seguintes, 150 filmes de 23 países serão exibidos no Cinema da Fundação (Derby) e no Cinema Apolo (Recife Antigo). A entrada para os longas custam R$ 8 e R$ 4 (meia). As sessões de curtas custam R$ 1.

Confira a programação completa aqui.

Os abraços partidos, de Pedro Almodóvar, será exibido no domingo e é apenas o mais chamativo dos nove longa-metragens selecionados, todos inéditos no Recife. A abertura conta com a exibição de Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz. O filme de encerramento será Les herbes folles, nova obra do francês Alain Resnais.

Politist adjectiv, de Corneliu Porumboiu, prêmio do júri da mostra Un Certain Regard em Cannes 2009, representa a força do cinema romeno; exibido em Berlim, Double take, de Johan Grimonprez, é uma produção belga que narra os anos da Guerra Fria como fosse um filme de Hitchcock; a ficção carioca No meu lugar fez parte da seleção oficial de Cannes e marca a estreia do crítico de cinema Eduardo Valente no formato; encerram a seleção os documentários Um lugar ao sol, de Gabriel Mascaro, Corumbiara, de Vincent Carelli (melhor filme em Gramado) e Pacific, de Marcelo Pedroso, cuja primeira exibição será no Janela. "Há uma queda clara pela produção de Pernambuco, mas isso nem passa perto de dar uma força para o cinema daqui. Eles são pernambucanos quase que por acaso, porque antes de tudo são filmes de valor", diz o curador, Kleber Mendonça Filho.

Carelli também está na mostra Janela Pernambucana, com De volta à terra boa (em parceria com Mari Corrêa), que ainda traz Confessionário, de Leo Sette, São, de Pedro Severien e os inéditos Cinema império, de Hugo Coutinho e Tchau e bênção, de Daniel Bandeira. Os curtas da mostra estão divididos em nacionais e internacionais e somam 72 filmes de 20 países. Um deles é Olhos de ressaca, de Petra Costa, melhor do Festival do Rio.

Entre as mostras em parceria com instituições e produtores independentes, a mais emblemática, no sentido de traduzir o espírito do Janela, é a do Festival de Curtas de Oberhausen. O alemão Herbert Schwarze, curador do evento, apresentará cada sessão. Ano que vem, antecipa Mendonça, o próximo festival amigo será o de Clermont Ferrand. Cachaça Cinema Clube, Aliança Francesa, Cineclube Dissenso e Trincheira Filmes são outros parceiros que ganharam programa especial.

A verba ampliada para R$ 90 mil pelo governo do estado (ano passado orçamento foi de R$ 60 mil) permitiu ao evento investir na vinda de mais convidados de outros estados e países - este ano são 35. Além das sessões seguidas de debate com diretores, na sexta, segunda e quarta-feira, o público poderá confraternizar com os realizadores no espaço do Castiglianni Cafés, em frente ao Cinema da Fundação. Para os produtores, essa movimentação é prioridade.

Em seu segundo voo, o Janela cresceu e parece que não vai parar por aqui. No entanto, Mendonça não vê sentido em comparações. "O Cine PE tem um perfil bem definido, não faz sentido repeti-lo. O Janela oferece outra perspectiva de como filmes podem ser apresentados e escolhidos. Um acrescenta ao outro".

(Diario de Pernambuco, 14/10/09)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Descobridor de Brasis



Um dos principais nomes da fotografia brasileira está no Recife. Thomaz Farkas, 85 anos, traz à cidade Notas de viagem, coleção de fotos realizadas numa expedição que fez pelo Rio Amazonas com o biólogo Paulo Vanzolini e o documentarista Geraldo Sarno. A exposição abre hoje, somente para convidados, na Galeria Arte Plural, onde permanece até 22 de novembro. Amanhã, às 19h, Farkas participa de um bate papo com o público, mediado por Simonetta Persichetti, curadora da exposição.

Notas de viagem consiste em 22 fotos coloridas, retiradas de um universo de 73 imagens inéditas até pouco tempo, quando a editora CosacNaify decidiu publicá-las em livro. Na Arte Plural, elas estão distribuídas nos dois andares da galeria. No térreo, é possível apreciar a paisagem amazônica e aglomerados urbanos. O uso das cores, recurso raro numa obra marcada pelo preto e branco, empresta sutileza e mistério à embarcação retratada em tons de azul crepuscular. E vivacidade à cesta carregada num cruzamento urbano, de onde saltam aos olhos frutas amarelas e vermelhas.

No primeiro andar, dedicado a retratos do povo, há o encontro com um vaqueiro que bebe água depositada numa planta, um violeiro, um trabalhador segura o machado, um senhor que carrega no mesmo ombro espingarda e varinha de pescar, a beleza de um bebê no colo da mãe, ao lado da filha. Todos demonstram dignidade. Imagens feitas a partir de um profundo respeito e o encanto de quem descobre o país com os próprios olhos.

Em seu encontro com a imprensa, Farkas se mostrou disposto e bem humorado. É a primeira vez que Notas de viagem sai de São Paulo, terra onde Farkas e família se estabeleceram em 1920, quando deixaram a Hungria e fundaram a Fotoptica, empresa fundamental para o desenvolvimento da fotografia brasileira.

O pequeno Thomaz chegou ao Brasil em 1930, aos seis anos. Como fotógrafo, começou cedo. Com nove ou dez anos fotografava os gatos da vizinhança. Graças ao conhecimento da família, aprendeu a revelar imagens naluz do sol. "Fotografei muito bichinhos e amigos. Andávamos de bicicleta, nos chamávamos "Esquadrilha invencível". O resultado era ótimo, só que eu não guardei nenhuma foto". Adulto, fez sucesso pela primeira vez com uma série de fotos de partidas de futebol no Ginásio do Pacaembu. Naquela época, já fazia parte do Foto Clube Bandeirante, formado pelos pioneiros da fotografia. No cinema, começou nos anos 50, em produções da Vera Cruz. "Ele foi um dos que romperam com o pictorialismo e inauguraram a fotografia moderna", diz Simonetta. A construção de Brasília foi outro tema que marcou sua carreira. "Para fotógrafos, deu certo. No mais, não sou antropólogo nem arquiteto para dizer se funciona".

Quando assumiu a administração, herdada do pai Desidério e os tios Adalberto e Ladislau, fundou a primeira galeria de fotografia do país e a revista Fotoptica, que fez circular o trabalho de vários profissionais. Formado em engenharia elétrica e mecânica, Farkas foi responsável pelo projeto de dois laboratórios fotográficos, um da própria Fotoptica e outro da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. "Ele queria estudar cinema, só que estourou a guerra e ele não pode ir à Europa. Então escolheu a engenharia, que era o mais próximo do que ele queria na área técnica", conta Marli, sua companheira. Farkas diz que a engenharia influenciou sua relação com a imagem. "Queria transformar a experiência em cinema. Filmava e depois projetava para os alunos".

Quase três décadas depois da última viagem, Farkas está de volta ao Nordeste que conheceu em expedições hoje conhecidas como Caravanas Farkas, assim batizadas pelo amigo e montador Eduardo Escorel. O resultado foram 33 curta-metragens (que serão exibidos nos próximos dias na Arte Plural) e uma vasta coleção de fotografias. As viagens aconteceram entre 1964 e 1980, anos da ditadura militar. O sentido do projeto não era bater de frente com o poder. "A maior revolução que podemos fazer é mostrar o Brasil aos brasileiros. E essa foi minha trajetória. Geraldo Sarno foi meu maior companheironisso. Depois vieram outros", conta o fotógrafo, que sonha em fazer tudo de novo. "O país mudou, precisa ser redescoberto".

Se hoje imagens do povo parecem algo normal, mas até pouco tempo era algo banido da mídia. "Queríamos mostrar a vida do brasileiro. Íamos às feiras gravar com o microfone escondido. Achava coisas tão maravilhosas. Pensei que, mostrando para as pessoas, a fotografia poderia contribuir para o desenvolvimento". Quando prontos, os filmes não puderam ser exibidos nem mesmo na TV Cultura. "Apresentei ao chefe de lá, que era meu amigo, e ele disse que a censura não deixaria". Da mesma forma, suas convicções o levaram a ser dispensado como fotógrafo da Folha de São Paulo.

"O jornal hoje tem um significado social muito maior do que antes. Na parte escrita e gráfica. No fotojornalismo, há uma preocupação artística e social. No meu tempo, fotografia de gente pobre não saía em jornal. Hoje existe uma consciência social que vai além da fotografia de moda e outras coisas".

Mesmo com todas as facilidades, Farkas ainda não fotografa com câmera digital. Trabalha com as clássicas Leica e Rolleiflex. Mas vê a proliferação de câmeras digitais como algo positivo. "Do ponto de vista artístico, não acho o resultado excepcional. É algo quantitativo. Qualquer lugar com 20 pessoas, 15 têm máquina digital. Então o digital mudou a fotografia. A qualidade é um outro passo. Daí vai sair coisa".

Serviço
Notas de Viagem, por Thomaz Farkas
Quando: de 14 de outubro a 22 de novembro - de terça a sexta, das 13h às 19h; sábados e domingos, das 16h às 20h
Onde: Arte Plural (R. da Moeda, 140 - Recife Antigo)
Informações: 3424-4431

(Diario de Pernambuco, 13/10/2009)

domingo, 11 de outubro de 2009

Novo romance de Marcelino Freire sairá primeiro em quadrinhos



É o que diz o autor de Angu de sangue e Racif na entrevista concedida ao repórter Thiago Corrêa, do Diario de Pernambuco.

"Fico ali, reescrevendo, ganhando fôlego, puxando pelo oxigênio. Chama-se Mulungu. Ela primeiro vai sair como uma HQ, desenhada por Guazzelli - via Companhia das Letras, tudo leva a crer. Depois é que sairá como livro - esse, creio, pela Record, lá pelo ano de 2025", afirma Marcelino, em trecho da entrevista.

Leia o papo na íntegra aqui.

A angústia da miséria em "Garapa", de José Padilha



O que há de atraente na fotografia em preto e branco granulada de Garapa (Brasil, 2009) logo se esvai na contundência de suas imagens. Tour de force pelo mundo daqueles que passam fome, o documentário de José Padilha (Ônibus 174, Tropa de Elite) é tão desprovido de recursos quanto as três famílias cearenses por ele apresentadas. Como num teste de resistência, o longa mostra tudo aquilo que as pessoas sabem que existe, mas ninguém quer olhar. Muito menos experimentar, nem que seja durante seus 110 minutos de duração. Para ter uma ideia, na sessão que a reportagem do Diario acompanhou, apenas 15 pessoas compareceram. Destas, cinco deixaram a sala antes do final do filme.

Mas o que torna Garapa um desafio ao espectador? Moscas se emburacando nas feridas de uma criança? O close em dentes cariados na boca dos mais crescidos? A luta da mãe para criar a família na base de papa de farinha? A indiferença do pai bêbado, que não se importa em gerar mais um filho, pois "Deus dará" o que for preciso?

Sem soluções ou porquês à vista, tudo converge para a angústia de que nada pode mudar essa situação. Nesse confinamento que beira o insuportável se revela a principal intenção de Padilha - a de provocar uma reação puramente emocional na plateia. Público que, ao longo da projeção, está condenado a testemunhar um Big Brother às avessas. Não um desfile de corpos bronzeados e bem alimentados, mas pálidos e subnutridos. A se acotovelar não pelo prêmio de 1 milhão, mas por um punhado de leite em pó e os R$ 50 mensais do bolsa-família. Necessário contraponto, frente a euforia pela eleição do Brasil como sede da Olimpíada.

Ao fim da projeção, algumas estatísticas dão o escopo intelectual a possíveis espíritos dilacerados: segundo a FAO (órgão da ONU dedicado à alimentação), quase um bilhão de pessoas passam fome no mundo e 1.400 crianças morreram de fome durante aquela sessão do filme. O que coloca o público médio na difícil posição de sentir culpa ou não por ter investido R$15 em um combo de pipoca com refrigerante.

No Recife, Garapa está em cartaz na Sessão de Arte do Kinoplex Casa Forte (hoje, às 12h10), Multiplex Tacaruna (amanhã, às 19h) e Multiplex Recife (quarta, às 19h, seguido de debate).

(Diario de Pernambuco, 11/10/2009)

Dez longos anos sem João Cabral



Na última sexta-feira completaram-se 10 anos desde que morreu João Cabral de Melo Neto. Na época, a má notícia tomou de assalto o meio literário. Quem poderia subsituí-lo no posto de maior poeta do país? Foram apontados nomes como Ferreira Gullar, os irmãos Haroldo e Augusto Campos e Décio Pignatari. Todos concordaram que, a figurar ao lado de Manuel Bandeira e Carlos Drummond, só haveria João Cabral.

A morte veio suave, aos 79 anos. O coração do poeta parou enquanto rezava, disse a segunda esposa, Marly de Oliveira, com quem estava de mãos dadas. Os últimos anos foram difíceis, marcados pela depressão e a cegueira. "Ele se lamentava da solidão, que a vida era chata, a velhice era insuportável", diz Castello, autor do livro João Cabral de Melo Neto: o homem sem alma (Bertrand Brasil), fruto de mais de 20 entrevistas entre 1991-92, quando especulava-se que João Cabral ganharia o Prêmio Nobel de Literatura.

A maior inspiração da obra de João Cabral era a terra natal Pernambuco, onde viveu a infância e parte da juventude. Nasceu nas margens do Capibaribe, rio presente em toda sua obra, como o famoso poema Morte e vida Severina. Os livros Quaderna e Educação pela pedra são considerados o auge de sua produção.

Palalelamente, fez carreira na diplomacia em países como Inglaterra, Senegal, Suíça e Honduras, onde sua filha, Isabel Cabral, é uma das funcionárias. Mas para João Cabral, a paixão pela literatura falava mais. "No Senegal ele tinha uma série de encontros privados com o romancista Leopold Senghor, presidente do Senegal, para falar sobre literatura", diz o jornalista e crítico de literatura José Castello. Na Espanha, país decisivo para seu processo de formação, conheceu artistas surrealistas. A experiência o levou a escrever o ensaio Joan Miró e poemas como Cão sem plumas. Em outro, revela o desejo de "Sevilhizar o mundo".

Nas artes, é comum que a obra subjugue o autor; no caso de João Cabral, que sua personalidade se confunda com o teor gélido, metódico e racional dos escritos. Ao contrário: o poeta adorava falar de si e seu trabalho. "Ele mesmo se dizia seco e antilírico. Mas as conversas deixaram claro que era organizado porque tinha uma convulsão interior. Ele me disse que a poesia era sua tentativa de se reprimir. Dentro desse homem sem alma havia um sujeito emocionado, cheio de temores e muito sucetível", diz Castello.

O caráter depressivo era outra característica atribuída a João Cabral, que fez mais de um poema sobre as aspirinas que tomava para aplacar as dores de cabeça. A Castello, o escritor contou que, quando pequeno, chegou a ficar internado em hospital psiquiátrico. "Os médicos diziam que ele sofria de forte depressão. Ele dizia que tinha melancolia, a mesma dos poetas do século 19. Ficava revoltado de tomar remédio. Gostava de viver, de escrever. Dizia que melancolia é como uma dor no peito. E que escrevia poesia para conter esse desamparo".

Homenagens - No Brasil, a efeméride dos dez anos sem João Cabral passou praticamente batida, sem homenagens ou novidades no mercado - a última grande reedição de sua obra foi da editora Objetiva, em 2007. Da mesma forma, eventos locais se movimentam timidamente. Na última sexta, a Bienal do Livro de Pernambuco promoveu mesa com Selma Vasconcelos e Janilto Andrade, autores dos Retrato falado do poeta e O erotismo em João Cabral. A Fliporto elegeu o escritor como principal homenageado. No mês que vem, a programação trará conferências com os especialistas Antônio Carlos Secchin e Lawrence Flores Pereira.

Na próxima terça-feira, sua obra e vida na Espanha será objeto de seminário da Fundação Cultural Hispano Brasileira, com sede em Madri, e desdobramentos em Salamanca, Barcelona e Sevilha. No evento haverá representantes do Instituto Joan Miró, da Universidade Federal do Paraná e do Instituto Cervantes de Curitiba. Em virtude do evento, uma versão em espanhol do primeiro volume dos Cadernos de Literatura, dedicado ao escritor, foi rodado pelo Instituto Moreira Salles.

(Diario de Pernambuco, 11/10/2009)

sábado, 10 de outubro de 2009

Experimentações cinematográficas



O Cineclube Dissenso apresenta hoje, às 14h, no Cinema da Fundação, o documentário Balsa, de Marcelo Pedroso (veja detalhes no www.pernambuco.com/diversao). Fruto da parceria entre as produtoras Símio Filmes e Cinemascópio, o filme foi realizado em suporte digital, com câmeras fixas posicionadas dentro de uma balsa que faz o trajeto Japaratinga - Porto de Pedras, no litoral norte de Alagoas. O movimento fica a cargo das pessoas, automóveis e da paisagem ao redor, que varia conforme a posição da embarcação.

O resultado é pouco convencional e instiga a percepção com planos coloridos e contemplativos. Ao longo de 50 minutos, não há trilha sonora, muito menos diálogos. Somente som direto, quase sempre ocupado pelo ruído do motor a diesel que impulsiona a balsa. "É um exercício de desacelerar e olhar para as coisas, perceber detalhes", diz o diretor, que se baseia no conceito "câmera-olho" do russo Dziga Vertov para transformar a balsa num grande intrumento de escrita cinematográfica. "Ao mesmo tempo, a balsa permite uma aproximaçãocom outros elementos, como uma revisão da temporalidade através da noção dos tempos vazios, a própria noção de dispositivo fílmico em substituição ao roteiro".

Pedroso não vê empecilho na opção pelo formato média metragem. "Fiquei meio assustado por conta da dificuldade de escoamento. Fiz uns testes para ver como funcionaria se fosse um longa, mas não gostei do resultado. E, no fim das contas, foi ótimo ter um média, pois além de respeitar o tempo do filme, me ajudou a pensar em outras formas de distribuição".

A ideia é escoar pelo menos mil cópias de Balsa em espaços de exibição ligados ao Conselho Nacional de Cineclubes. Também haverá distribuição em lojas, livrarias e locadoras de vídeo, além de versões digitais para download. Hoje, durante o lançamento, versões em DVD estarão à venda no local, em display que depois será usado para vender filmes pernambucanos.

Blog da Balsa: www.docbalsa.blogspot.com

(Diario de Pernambuco, 10/10/09)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Cinema // Humor cortante de Tarantino



Quentin Tarantino apresenta hoje para o Brasil seu novo atentado à moral e aos bons costumes. Estrelada por Brad Pitt, Bastardos inglórios é uma comédia de humor negro e situações absurdas, uma resposta fantasiosa, catártica e politicamente incorreta para o desejo de se vingar dos nazistas implacáveis, tantas vezes retratados pelo cinema norte-americano.

Pitt é o tenente Aldo "Apache" Raine, líder dos "bastardos", destacamento secreto do exército norte-americano dedicado a matar e arrancar o escalpo de nazistas. Sua nova missão é explodir oficiais da SS reunidos numa avant premiére cinematográfica em Paris. Para isso, conta com o sargento Donny Donowitz (Eli Roth) e a colaboração da estrela de cinema alemã Bridget von Hammersmark (Diane Kruger, em paródia de Marlene Dietrich) e do tenente britânico Archie Hicox (Michael Fassbender), que antes da guerra era crítico de cinema. Do lado oposto está o coronel Hans Landa (Christoph Waltz, prêmio de melhor ator em Cannes), que, apesar de ter subido no escalão de poder, não consegue se desvencilhar da fama de caçador de judeus.

Ele não sabe, mas uma de suas vítimas é a judia Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent), que ainda era criança quando sua família foi covardemente metralhada. Ela se tornou dona do cinema escolhido pela cúpula nazista e não vê a hora de colocar em prática sua própria vingança.

Leia matéria completa sobre Bastardos inglórios aqui.

(Diario de Pernambuco, 09/10/09)

Curta Petrobras // Novo programa se rende à imaginação



O projeto Curta Petrobras às Seis estreia nova programação a partir de hoje, às 18h, no Multiplex UCI Ribeiro. O tema da vez é Imaginário, que inspira quatro curta-metragens da recente safra.

Dois deles são made in Pernambuco e vêm de premiada carreira em festivais. Até o Sol raiá (2007), de Fernando Jorge e Leandro Amorim, é uma animação stop-motion de 12 minutos sobre um grupo de cangaceiros de barro que ganha vida e agita uma vila sertaneja. Copo de leite (2004), de William Cubitz Capela, flerta com o universo feminino e se lança na natureza em profundas inquietações.

A animação Santa de Casa, de Allan Sieber, é representante carioca da seleção. Um Caffé com o Miécio, de Carlos Adriano, é um doc paulista sobre um caricaturista baiano, colecionador de discos e pesquisador que reuniu a maior coleção particular de discos da música brasileira.

Estreia // "O golfinho - a história de um sonhador"



Antes mesmo do sucesso do simpático Flipper, a presença de golfinhos como personagens do cinema fazia a cabeça da criançada. É nesse nicho que aposta a animação O golfinho - A história de um sonhador. O longa adapta livro homônimo de Sergio Bambarén sobre um golfinho adolescente e sonhador chamado Daniel Alexandre (voz de Marcos Mion na versão brasileira), que decide abandonar seu grupo e descobrir o mistério dos sete mares. A mensagem? "Siga os sonhos e escute a voz do coração".

(Diario de Pernambuco, 09/10/2009)

Estreia // "Herbert de perto", de Roberto Berliner e Pedro Bronz


Herbert Vianna e os realizadores Berliner e Bronz

Na esteira dos documentários que mapeiam a história recente da música brasileira, Herbert de perto surge como a retrospectiva da vida do músico Herbert Vianna. O título remete ao curta Bethânia de perto, dirigido em 1966 por Júlio Bressane.

Aqui, o líder dos Paralamas do Sucesso é visto pelas lentes de Pedro Bronz e Roberto Berliner, este último responsável pela direção de vários videoclipes da banda. A longeva relação de amizade entre Berliner e Vianna permite tamanha proximidade, ao ponto de depoimentos de Herbert terem sido filmados entre o closet e o banheiro da suíte onde dorme. As demais participações não são de "especialistas" em MPB, mas dos companheiros de banda e da família - o pai, Hermano Vianna, ex-brigadeiro da aeronáutica, surge como motivador de seu gosto por monomotores.

O episódio do acidente aéreo que quase matou Herbert e levou para sempre sua esposa é tratado com cuidado e delicadeza nos depoimentos do pai e do ex-Legião Urbana Dado Villa Lobos, amigo de longa data.

Chama a atenção o uso das imagens de arquivo. Especialmente a junção do seminal show no Circo Voador, no início dos anos 80, com imagens da turnê de 2006. Cinema como ponte entre o garoto de óculos e camiseta do Mickey e o homem de olhar entristecido na cadeira de rodas.

(Diario de Pernambuco, 09/10/2009), com alterações

Estreia // "9 - a salvação", de Shane Acker



Em 2006, um curta de animação indicado ao Oscar chamou a atenção do cineasta Tim Burton, que convidou seu criador, Shane Acker, para dirigir e transformar a história original em longa-metragem. Assim, Burton assumiu a produção de 9 - A salvação, sombria ficção futurista em que a humanidade foi exterminada por máquinas e uma linhagem de bonecos de pano vivos partem para a revanche.

O filme traz a marca "Burton" e parte disso vem do roteiro de Pamela Pettler, de A noiva cadáver, e da trilha sonora assinada por Danny Elfman. As vozes originais não são menos interessantes. Interpretam os nove bonecos Elijah Wood, John C. Reilly, Jennifer Connelly, Christopher Plummer, Crispin Glover, Fred Tatasciore e Martin Landau. O filme entra em cartaz em três salas, que exibem duas cópias dubladas (Box e Tacaruna) e uma legendada (Recife).

(Diario de Pernambuco, 09/10/2009)

Cinema e a arte de formar plateias



Parceiras na criação do Festival Internacional de Cinema Infantil, a produtora carioca Carla Esmeralda compartilha com Carla Camuratti algo além do que o nome de batismo. Quando crianças, o primeiro filme que assistiram foi Meu pé de laranja lima, de Aurélio Teixeira.

Uma tremenda coincidência, para quem ainda viveria muitos anos até estabelecer parceria na Copacabana Filmes, onde formataram o evento cujo maior objetivo é convidar as crianças a experimentar uma sessão cinema pela primeira vez.

"Isso não tem preço", diz Esmeralda, sobre cada vez que uma criança se emociona ao frequentar o Fici. "O cinema é o templo ideal para formação de público para o audiovisual, pois a criança experimenta o conteúdo com som e imagem de qualidade".

Sediado em duas salas do Cine Rosa e Silva, o 7º Fici começa hoje e segue nos próximos dez dias com uma programação incomum, que passa longe da programação comercial voltada para o público pequeno em estatura, mas cada vez mais exigente. "A ideia não é mostrar só o que é novo, mas o que é bom e mesmo assim não chegou no Brasil", diz Esmeralda.

Este é o terceiro ano em que o Fici chega ao Recife. Quem fez a ponte para que o evento chegasse à cidade foi a arte-educadora Tatiana Braga. "Existe uma lacuna de eventos de cinema para o público infantil. Acreditamos que ética e outros valores humanitários precisam ser trabalhados na infância", diz Braga.

Entre os longas deste primeiro fim de semana estão o novíssimo O segredo de Kells. O pioneiro da animação alemã As aventuras do príncipe Achmed e o recente Príncipes e princesas utilizam a mesma técnica artesanal de teatro de sombras. Da Rússia vem a série Histórias Preciosas, voltada para lendas e contos tradicionais daquela região. A sessão Histórias curtas traz filmes de ficção que retratam o universo infantil. Os Melhores do Prix Jeunesse oferece uma seleção do que a TV mundial traz de melhor para os mais jovens. Na segunda-feira, ainda haverá uma seleção do festival Anima Mundi, a sessãoMúsicas animadas (desenhos inspirados em óperas e cantigas de roda) e dublagem ao vivo do filme alemão Muito prazer, Eugênio.

A programação do 7º FICI continua durante a semana. Na terça, quarta e quinta-feira haverá o projeto Tela na Sala de Aula, voltada para professores e alunos do ensino público desenvolverem os assuntos nas escolas. "Depois da sessão, o professor vai no site, baixa a apostila e trabalha o conteúdo em sala de aula", explica Esmeralda. No próximo fim de semana, além da exibição da cópia restaurada em 35 mm de O Garoto (1921), de Charles Chaplin, haverá oficinas de cinema digital e cinema de animação.

Serviço
7º Festival Internacional de Cinema Infantil
Onde: Cine Rosa e Silva (Av. Rosa e Silva, 1406, Aflitos)
Quanto: R$ 4 (preço único)
Informações: 3207-0100

Programação

Hoje

Cine Rosa e Silva 2
10h, 14h e 16h - O segredo de Kells (Irlanda / França / Bélgica, 2009), de Tomm Moore

Cine Rosa e Silva 3
10h30, 12h30 e 14h30 - Histórias preciosas (Rússia, 2003) - seleção de curtas
16h30 - Panorama Teen - seleção de curtas

Amanhã, dia 10

Cine Rosa e Silva 2
10h, 14h e 16h - O segredo de Kells (Irlanda / França / Bélgica, 2009), de Tomm Moore
12h - Castelo Rá Tim Bum - o filme (Brasil, 1999), de Cao Hamburger

Cine Rosa e Silva 3
10h30 - Os Melhores do Prix Jeunesse 1 - seleção de curtas
12h30 - Os Melhores do Prix Jeunesse 2 - seleção de curtas
14h30 - 14 x Animação - seleção de curtas
16h30 - As aventuras do príncipe Achmed (Alemanha, 1926), de Lotte Reiniger

Domingo, dia 11

Cine Rosa e Silva 2
10h, 14h - O segredo de Kells (Irlanda / França / Bélgica, 2009), de Tomm Moore
12h - Castelo Rá-Tim-Bum - o filme (Brasil, 1999), de Cao Hamburger
16h - Príncipes e princesas (França, 1999), de Michel Ocelot

Cine Rosa e Silva 3
10h30 - Histórias curtas - Panorama do Cinema Infantil no Brasil
12h30 - Os Melhores do Prix Jeunesse 3 - seleção de curtas
14h30 - Sessão Prêmio Brasil de cinema infantil - animação
16h30 - Sessão Prêmio Brasil de cinema infantil - ficção

Segunda-feira, dia 12

Cine Rosa e Silva 2
10h - Castelo Rá-Tim-Bum - o filme (Brasil, 1999), de Cao Hamburger
12h e 14h - O segredo de Kells (Irlanda / França / Bélgica, 2009), de Tomm Moore
16h - Muito prazer, Eugênio (Suíça, 2005), de Michael Steiner

Cine Rosa e Silva 3
10h30 - Músicas animadas
12h30 - Sessão Prêmio Brasil de cinema infantil - animação
14h30 - Sessão Prêmio Brasil de cinema infantil - ficção
16h30 - Sessão Anima Mundi

(Diario de Pernambuco, 09/10/09)

Festival do Rio anuncia vencedores

Em cerimônia na noite de ontem, o Festival do Rio 2009 revelou os filmes eleitos pelo júri popular e oficial, presidido pelo diretor Fernando Solanas e composto pelo produtor alemão Roman Paul, pelo diretor e produtor do canal francês ARTE, François Sauvagnargues, pela cineasta Helena Solberg e pela atriz Julia Lemmertz.

São eles:

Première Brasil
- Melhor Longa-Metragem de Ficção; Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho
- Melhor Longa-Metragem Documentário: Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez e
Reidy, a construção da utopia, de Ana Maria Magalhães
- Melhor Curta-Metragem; Olhos de Ressaca, de Petra Costa
- Menção Honrosa: Sildenafil, de Clovis Mello
- Melhor Direção; Karim Aïnouz e Marcelo Gomes, por Viajo porque preciso, volto porque te amo
- Melhor Ator; Chico Diaz e Luiz Carlos Vasconcelos, por O Sol do Meio Dia
- Menção Honrosa – Fulvio Stefanini, por Cabeça a Prêmio
- Melhor Atriz; Nanda Costa, por Sonhos Roubados
- Melhor Atriz Coadjuvante; Cássia Kiss, por Os Inquilinos
- Melhor Ator Coadjuvante; Gero Camilo, por Hotel Atlântico
- Melhor Roteiro; Beatriz Bracher, por Os Inquilinos
- Melhor Montagem; Renato Martins, por Tamboro
- Melhor Fotografia; Heloísa Passos, por Viajo Porque Preciso e o Amor Segundo B. Schianberg
- Prêmio Especial de Júri: Tamboro, de Sérgio Bernardes

VOTO POPULAR
- Melhor Longa-Metragem de Ficção de Voto Popular; Sonhos Roubados, de Sandra Werneck
- Melhor Longa-Metragem Documentário de Voto Popular; Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez
- Melhor Curta-Metragem de Voto Popular: Sildenafil, de Clovis Mello

Prêmio Fipresci – presidido por Paulo Portugal e composto pelos críticos Rodrigo Fonseca e Mario Abadde.
Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho
**
Premiados da Mostra Geração:
VENCEDOR JURI POPULAR FILMES EM RETROSPECTIVA (10 anos Mostra Geração)
SOMOS TODOS DIFERENTES (Taare Zameen Par / Stars on Earth) de Aamir Khan
India, 2007, Cor, 35mm, 165 min

VENCEDOR JURI POPULAR 2009
QUEM TEM MEDO DO LOBO? (Kdopak By Se Vlka Bál / Who is Afraid of the Wolf) de Maria Procházková
Rep Tcheca, 2008, Cor, 35mm, 90 min
*** ***
Público e mais vistos:

Estimativa total de público: 250 mil espectadores (cinemas e praças)

Os mais vistos:
1. Abraços partidos
2. (500) Dias com ela
3. Aconteceu em Woodstock
4. Bastardos Inglórios
5 . Coco antes de Chanel
6. Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos
7. Tokyo!
8. Distante Nós Vamos
9. Sonhos Roubados
10. Nova York, Eu Te Amo
11. Matadores de Vampiras Lésbicas
12. Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo
13. Dzi Croquettes
14. Julie & Julia
15. O Desinformante!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Thomas Farkas no Recife





O fotógrafo Thomas Farkas, 85 anos, estará no Recife na próxima semana para a abertura da exposição Notas de viagem .

Trata-se de uma série de imagens realizadas nos anos 70, durante viagem que fez nos anos 70 ao longo do Rio Negro, na Amazônia, com o compositor paulista Paulo Vanzolini e o cineasta baiano Geraldo Sarno. Coloridas, as fotos são uma exceção em sua obra, marcada pela imagem em preto e branco.

Nascido em Budapeste, Hungria, Farkas se mudou para o Brasil com a família, ainda criança. Por volta dos 20 anos passou a se dedicar à fotografia, através da qual registrou a construção de Brasília e, mais tarde, as expressões da cultura nordestina em expedições que depois ficaram conhecidas como Caravanas Farkas.

A exposição abre na próxima terça-feira, na Galeria Arte Plural, em evento somente para convidados. A partir da quarta, estará aberta para visitação.

A idade avançada não impedirá Farkas de receber o público na quarta à noite, onde faz uma palestra gratuita às 19h.

A Arte Plural fica na Rua da Moeda, 140, Recife Antigo. Informações: 3424-4431

Bienal // Moda e outras revoluções



A 7ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco traz na programação de hoje, às 19h30, um bate-papo com a jornalista e escritora carioca Nina Lemos. Ela vem ao Recife falar sobre um tema pertinente a nosso tempo, dominado por delírios consumistas: a ditadura da moda.

Esse é também o título de seu primeiro livro, lançado em abril pela Conrad Editora. A apresentação é da jornalista Ivana Moura, editora deste Viver. O encontro com o público será no Auditório Carlos Pena Filho, situado no pavilhão do Centro de Convenções.

Para quem cresceu numa família de esquerda, Nina optou por uma carreira um tanto inusitada: ser jornalista especializada em moda, universo capaz de arrepiar os cabelos de qualquer marxista. A ditadura da moda é seu debut enquanto escritora-solo. Até então, ela trazia no currículo cinco livros de crônicas assinadas com o grupo O2 Neurônio, do qual participa e mantém um blog com Jô Hallack e Raq Affonso.

A ditadura da moda é uma ficção protagonizada por Ludmilla, editora de moda que traz a herança de ser filha de guerrilheiros. No entanto, as histórias e situações vividas pela personagem são reais e baseadas na experiência da autora como repórter de moda. E todas remetem para essa coisa opulenta e superficial que se tornou a indústria da moda.

"Minha crítica não é à moda em si, mas à ditadura das tendências, das modelos supermagras, das imposições de consumo, das pessoas que julgam as outras pelo corpo. É contra revistas que dizem as coisas que todo mundo deve usar. Ninguém tem que usar nada", diz Nina.

Uma verdadeira realidade paralela, regida por códigos de comportamento incomuns, onde é possível encontrar um ator de novela que briga por um lugar na primeira fila de um desfile e a dona de uma grife caríssima que promove um manifesto anticonsumo. "Não precisei inventar nada. Esse meio é rico em histórias absurdas".

Mais atrações - A Bienal reserva outras atividades em sua programação de hoje. Às 19h30, no espaço Café Cultural, o projeto Conversa com o Escritor traz os jornalistas Samarone Lima e Marlos Duarte para a palestra Cuba - 50 anos depois, uma viagem ao cotidiano. Samarone é autor do livro Viagem ao crepúsculo (Editora Casa das Musas), que conta histórias sobre o dia a dia do povo cubano, colecionadas nos dois meses em que esteve na ilha de Fidel. Por sua vez, Marlos Duarte é presidente da Associação Cultural Brasil-Cuba/Casa Gregório Bezerra. Antes, às 10h, Vandeck Santiago, do Diario, ministra a oficina Jornalismo investigativo: como fazer uma reportagem especial?.

(Diario de Pernambuco, 07/10/09)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A arte de sabotar nazistas



Desde maio, quando Bastardos inglórios (Inglorious basterds, EUA, 2009) estreou em Cannes, Quentin Tarantino não parou de viajar. Na China, anunciou (mais uma vez) a terceira parte de Kill Bill. No último domingo, no México, disse que é possível haver um prequel (um filme que mostra o que houve antes) do novo filme, para apresentar a origem de seus "bastardos" e nazistas prediletos.

A única certeza é que a turnê mundial (o filme ainda será lançado no Japão e Coreia do Sul) deixou Tarantino exausto a ponto de cancelar sua primeira visita ao Brasil, marcada para hoje, no Festival do Rio. Tendo em vista a presença do diretor, a Paramount, que distribui o filme no país, antecipou seu lançamento de 24 para 9 de outubro. Apesar da "não-vinda", a data foi mantida e Bastardos inglórios pode ser assistido nos cinemas brasileiros a partir desta sexta-feira.

Dado o grau de provocação e violência explícita (a censura ainda não foi definida, mas deve manter o público abaixo dos 16 ou 18 anos longe das salas), é possível especular algumas reações do público após 153 minutos de projeção. Pois aqui está a oportunidade de vingança contra odiosos nazistas que, após centenas de filmes massacrando judeus, recebem o troco na mesma moeda. Mérito dos "bastardos", grupo de oito soldados que age secretamente, sob a liderança de Aldo Raine (Brad Pitt). A linha de ação dos bastardos é tão complexa quanto sutil: matar nazistas e arrancar seus "escalpos", prática inspirada nos índios Apache, herança que Raine afirma trazer em seu sangue. Os que não morrem, escapam com uma suástica inscrita na testa, à faca.

Fãs entrarão em júbilo, pois o ídolo demonstra estar em forma. Sim, está de volta o Tarantino capaz de prolongar improváveis e criativos diálogos em momentos de tensão e perigo. Que usa referências cinéfilas e bem humoradas do western spaguetti e filmes noir e de horror B. Que parece ser o primeiro - e algumas vezes, o único - a se divertir com as próprias piadas.

A vingança de Tarantino é pessoal e intransferível, mas mexe com desejos reprimidos daquela parte do público que já quis atear fogo num oficial da SS, ou metralhar a todos gritando "porco nazista". O palco para a revanche não poderia ser outro, senão o cinema. Não apenas o cinema-filme, obra que aos poucos se torna irresistível enquanto exercício de humor negro, mas uma pequena sala de cinema em Paris, visada para receber uma premiére nazista planejada por Joseph Goebbles.

Ele quer lançar Orgulho de uma nação, filme que pretende inaugurar uma nova fase do cinema mundial ao representar o fuzilamento de 200 norte-americanos por um único soldado alemão, Fredrick Zoller (Daniel Brühl) que, graças ao feito, se tornou celebridade. É a oportunidade pela qual os bastardos esperam há três anos para colocar em prática o "Kine project", que consiste em detonar dinamites na cúpula nazista.

Embriagado pela fama, Zoller não vê problemas em usar o poder do Reich para forçar Shosanna (Mélanie Laurent) a abrir as portas de seu pequeno cinema para a estreia, que será prestigiada pelo próprio fürher. Apaixonado pela dona do cinema, Zoller não suspeita que, anos antes, a família de Shosanna foi exterminada como ratos pelo coronel Hans Landa (Christoph Waltz), conhecido como "caçador de judeus". Sem que os bastardos saibam, a garota planeja sua própria vingança, o que inclui centenas de rolos de nitrato (material de fácil combustão utilizado em filmes da época).

Caricatural, Aldo "Apache" coleciona as melhores frases dessa comédia, que nem todos vão entender como tal. "É como ir ao cinema", diz, ao assistir um de seus subordinados estourar a cabeça de um soldado alemão com um taco de beisebol. Para quem tem estômago, vale conferir essa divertida inversão de clichês. A violência estetizada de Tarantino pode ser puro entretenimento, mas guarda, ao menos uma frase que precisa ser levada a sério, dita como justificativa para inscrever a suástica na testa da vítima: "se você tirar o uniforme, ninguém saberá que é um nazi".

(Diario de Pernambuco, 06/10/09)

"Balsa", de Marcelo Pedroso, é exibido em circuito alternativo



Após estrear na Semana dos Realizadores do Rio de Janeiro, o média-metragem Balsa, de Marcelo Pedroso, inicia um circuito de exibições seguidas de palestras no Recife.

Todas as sessões são gratuitas e abertas ao público.

Balsa é um documentário pouco convencional, que se reduz a movimentos mínimos e longos planos contemplativos e sem diálogos. Os sons e imagens estão lá, mas nenhuma palavra é emitida ao longo de seus 50 minutos.

O filme foi realizado inteiramente dentro de uma balsa que faz o trajeto Japaratinga - Porto de Pedras, no litoral norte de Alagoas. Supercoloridas, suas imagens foram feitas como se a balsa fosse uma câmera-olho, que registra objetos, pessoas e paisagens.

Não há trilha sonora, somente som direto, quase sempre ocupado pelo ruído do motor a diesel que impulsiona a balsa.

De hoje a quarta-feira, quatro escolas públicas da Região Metropolitana terão sessões de Balsa.

Na quinta-feira, haverá exibição na Faculdade Maurício de Nassau (Graças).

Na sexta-feira, às 11h, o filme vai até a Aeso - Faculdades Barros Melo (Olinda).

No sábado, às 14h, o filme entra na programação do Cineclube Dissenso, sediado no Cinema da Fundação (Derby). Durante o lançamento no Dissenso, DVDs da Balsa estarão à venda no Café Castigliani, a um preço simbólico.

Em uma terceira etapa, DVDs serão enviado aos cineclubes associados ao Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros. Também haverá distribuição em lojas, livrarias e locadoras de vídeo, além de versões digitais para download na internet.

Cinema // Gregório Bezerra encontra Miguel Arraes na ficção



Num fim de tarde de 1963, os amigos Miguel Arraes, Gregório Bezerra e Davi Capistrano trocam confidências na varanda do Palácio do Campo das Princesas.

Entre goles de uísque e baforadas de charuto, falam sobre os rumos políticos do país, entre os quais, a sucessão presidencial.

Um pouco antes, em reunião com usineiros, camponeses liderados por Bezerra conquistam o direito a salário mínimo.

Menos de um ano depois, sob protestos e mortes, os generais tomam conta do país.

Enquanto Arraes é preso no palácio, sua voz ecoa, derradeira, em rádios de todo o estado. Enquanto isso, Bezerra foge para Palmares para desmobilizar os camponeses.

Esta série de acontecimentos foram dramatizados neste fim de semana, in loco, durante as filmagens do longa pernambucano História de um valente, de Cláudio Barroso. É a primeira vez que tais episódios são ficcionados para o cinema. Com produção da Camará Filmes, História de um valente conta a vida de Gregório Bezerra entre 1957 e 1964.O elenco conta com 83 atores, entre eles, Francisco Carvalho (Bezerra), Edmilson Barros (Arraes), Jones Melo (Capistrano), Tuca Andrada, Hermila Guedes, Carol Holanda, Magdale Alves, Rui Dias e Sóstenes Vidal.

Segundo Barroso, os "anos de ferro" têm sido abordados por diferentes filmes, mas nenhum se ateve aos fatos que levaram até esse período. "As pessoas precisam saber como foi este país", diz o diretor. Para abrigar as filmagens, o Palácio das Princesas sofreu poucas alterações -alguns móveis mudaram de posição e objetos atuais foram trocados por antigos. Barroso conta que, a pedido de Dona Madalena Arraes, submeteu o texto ao crivo do filho cineasta, Guel Arraes. "Ele leu, aprovou, e nos ofereceu a íntegra do discurso de despedida".

Não se sabe se o encontro entre amigos realmente ocorreu após a reunião com os usineiros. No entanto, ela é perfeitamente verossímil. "Eles se encontravam pelo menos uma vez por semana", justifica Barroso. Outra licença poética adotada pela produção é a cena em que Arraes discursaao povo, enquanto soldados sobem as escadas do palácio para levá-lo à cadeia. Na verdade, o discurso foi distribuído às rádios em fitas cassete.

A partir de hoje, a equipe segue para a região de Catende, onde permanece nos próximos 30 dias. Lá serão rodadas cenas importantes como a transferência simbólica do governo para Palmares e a prisão de Bezerra, que ganhará contornos dramáticos com uma queimada servindo de fundo para a perseguição. Logo após, eles retornam para a capital, onde farão a sequência em que o líder é arrastado por cordas e torturado em praça pública.

Barroso diz que violência do episódio será tratada de forma a não parecer gratuita. Enquanto explica, cita a tela Guernica, de Picasso, como possível referência visual. "Meu objetivo não é defender partidos ou ideologias, mas contar essa história de maneira cinematográfica".

(Diario de Pernambuco, 05/10/09)