quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Janela de Cinema faz intercâmbio com festival alemão


Na mostra MuVi, Wolfgang Jeiser apresenta releitura visual para música Videotape, do Radiohead

A 2ª Janela Internacional de Cinema do Recife inicia hoje uma série de programas especiais em parceria com o Festival Internacional de Curtas Oberhausen, um dos mais antigos e importantes do mundo. Ao todo são 24 filmes, divididos em sessões de hoje a sábado. Herbert Schwarze, curador do festival, estará presente e apresentará cada um dos três programas.

Desde 1996, Schwarze participa da seleção de filmes do tradicional festival alemão. Em entrevista ao Diario, ele diz que procura novos filmes durante sua visita ao Brasil. "Tentarei assitir a quantos filmes puder, principalmente aos brasileiros. Entrar em contato com cineastas e suas ideias é um grande privilégio, não só para meu desenvolvimento pessoal, mas também para o festival que represento".

Os filmes apresentados a partir de hoje no Recife são uma amostra de um programa maior exibido na 55ª edição do Festival de Oberhausen. "O objetivo do programa do Recife é dar uma ideia do espírito de Oberhausen. Comosou apenas um curador num grupo de nove pessoas, minha seleção é bastante pessoal. Como escrevi no texto para o catálogo do festival, mesmo que pareçam antagonizar uns aos outros, eles estão unidos do ponto de vista curatorial, pois discutem imagens que existiram previamente. Este é o atual estado do fazer imagens, mais de cem anos depois que o cinema foi inventado", diz o curador.

O primeiro programa será exibido hoje, às 19h50, no Cinema da Fundação. Ele reúne doze videoclipes de realizadores alemães que participaram do MuVi 2009, competição criada pelo festival para abrigar o gênero. Dois deles se apropriaram de músicas famosas dos Beatles e Radiohead. Because, de Oliver Pietsch, aplica a voz multiplicada de Lennon, McCartney e Harrison a uma colagem de imagens celestes. Videotape, de Wolfgang Jeiser, traduz o espírito onírico do Radiohead em objetos digitais que flutuam dentro de um estacionamento subterrâneo.

O segundo será amanhã, às 20h15, no Cinema Apolo, e traz seis curtas de Israel, Canadá, EstadosUnidos, França e Alemanha. Sábado, às 17h30, no Cinema da Fundação, seleção de curtas da China, Rússia, Alemanha, Estados Unidos e Canadá encerra o intercâmbio.

Entrevista // Herbert Schwarze: "Para sobreviver, os festivais precisam se reinventar"

É possível abarcar a crescente produção de curta-metragens em uma única tendência? Ou é preciso separá-los em categorias?
A resposta para a primeira pergunta é claramente um "não". Há muitos filmes e devem haver tendências. É possível pensar que há temas especiais, mas eles são impossíveis de serem generalizados. Mais importante são seus pontos de vista, o que pode definir a "marca" de um festival, do tipo de filme a que as pessoas esperam assistir, por exemplo, em Oberhausen. A única chance de responder à enorme quantidade de filmes é definindo critérios para a qualidade do conteúdo e, em geral, uma posição que possa gerar discussão. Quanto à segunda parte da sua pergunta, sim, podemos colocá-los em diferentes categorias. Torna as coisas mais fáceis comparar um anúncio com outros anúncios, uma animação com outras animações e assim por diante. Nossa exceção é o prêmio Muvi de videoclipes, onde preferimos misturar gêneros e formatos.

Que qualidades um curta-metragem deve ter para ser selecionado por Oberhausen?
Se você um dia puder acompanhar as discussões entre os membros da competição internacional sobre cada filme, vai duvidar que o festival poderia ser baseado em algo geral. No final do processo de seleção, sempre fico surpreso, pois parece haver uma ideia muito clara por trás, algo difícil de descrever. Meus critérios são: filmes abertos ao mundo, de todos os tipos, camadas ou níveis; filmes políticos e sociais, bem como os ligados à fenômenos da mídia; e que tragam a ideia de que há novas maneiras de fazer um filme, com muita consciência e respeito pelos que foram feitos antes.

Oberhausen é um dos mais antigos festivais de cinema do mundo. Que função ele e outros eventos semelhantes podem desempenhar na atual conjuntura?
Posso falar sobre as circunstâncias na Alemanha e Europa. A mídia mudou totalmente nos últimos 20 anos e com ela o mercado e o papel dos pequenos e grandes festivais. Antes, a função dos festivais era ser tanto o mercado onde filmes são oferecidos quanto espaço para intercâmbio cultural. Mas tudo mudou. A maioria dos filmes precisam ser vendidos antes de chegar aos festivais, ou não encontrarão compradores. Não é fácil descrever o que está acontecendo, mas acho que o futuro dos festivais é se tornar algo mais cultural do que econômico, uma espécie de memória do cinema e suas linguagens. Não se trata de administrar o passado glorioso, mas de uma ideia muito nova de fórum público. Ou seja, para sobreviver, os festivais precisam se reinventar.

(Diario de Pernambuco, 21/10/2009), com alterações

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