quinta-feira, 31 de março de 2011

70 anos de um mito americano



* matéria originalmente publicada na revista Continente, junho de 2008

Há 70 anos, circulava nos Estados Unidos o primeiro número da revista em quadrinhos Action Comics. O desenho da capa chama a atenção pela violência incomum para a época: um desconhecido trajando azul e vermelho destrói um carro, em torno de pessoas assustadas. Em seu peito há um grande S maiúsculo, símbolo que marcaria definitivamente o imaginário coletivo do século 20. Na última página a própria revista anuncia o novo herói como aquele que irá “refazer o destino de um mundo”. Esta foi a primeira aparição pública do Superman, personagem que não somente inaugurou, mas serviu de protótipo para um novo gênero de quadrinhos: os super-heróis.

No Brasil, a data será lembrada com extensa programação e lançamentos. A editora Panini, detentora dos direitos de publicação do herói no Brasil, começou o ano lançando a série Superman Crônicas, em que as primeiras histórias são apresentadas em ordem cronológica. Já a Devir Livraria deve lança ainda este mês o quarto e último volume da série Supremo, em que Alan Moore faz inteligente e sarcástica paródia do herói, no que talvez seja a melhor síntese de sua trajetória estética e conceitual.

Edições comemorativas à parte, é curioso observar como essa mitologia de semideuses defensores do american way, cujo maior representante é o Superman, está intimamente vinculada com o estabelecimento e manutenção da hegemonia dos EUA. “70 anos fazendo o mundo acreditar”, diz um site especializado no personagem.

É de fazer inveja a qualquer ditadura, fascista ou comunista. Afinal, ambas sabem qual o poder dos bens simbólicos sobre uma nação. Tanto que Stálin patrocinou gênios do cinema russo enquanto mandava dissidentes para a Sibéria. E Hitler investiu em publicidade anos antes de adotar campos de extermínio como política pública. De todas, predominou a indústria cultural norte-americana. Foram sete décadas de prosperidade, estiradas entre dois períodos de refluxo: a grande depressão dos anos 30 e a paranóia pós-11 de setembro.

Assim como o país em que foi criado, ao longo dos anos o Superman mudou bastante. Inclusive de discurso. Criado em 1933 por dois adolescentes judeus adoradores de ficção científica, Jerry Siegel e Joe Shuster, o personagem foi concebido como uma ameaça do futuro, com o objetivo de fazer da Terra o reino do Superman. Sua roupa teve inspiração nas histórias do espaço sideral, como Flash Gordon. A cueca por cima da calça, no entanto, era algo inédito que logo se tornaria padrão.



No ano seguinte ele ressurge como herói justiceiro, capaz de desrespeitar poderes instituídos para resolver os problemas de gente comum. Essa foi a versão publicada em 1938 pela National, futura DC Comics, que comprou os direitos do personagem de Siegel e Shuster por míticos 130 dólares. Os desenhistas aceitaram prontamente. Estavam há cinco anos procurando uma editora disposta a assumir o risco de publicar um material tão diferente - é bom lembrar que os personagens da época eram Tarzan, Príncipe Valente e Mandrake. A popularidade imediata pegou todos de surpresa, inclusive os criadores, que nunca mais obtiveram nada parecido em termos de sucesso.

A chegada do protetor dos oprimidos foi mais do que conveniente para aquele tempo de vacas magras iniciado em 1929, com a quebra da bolsa de valores. Só que nas primeiras histórias, Superman lembrava em quase nada o mocinho politicamente correto que se transformou nos anos seguintes. Ele tinha poderes modestos se comparados com os atuais, mas suficientes para esmurrar – e algumas vezes até torturar – pessoas comuns que se comportavam mal. Os vilões eram mafiosos e ladrões de galinha, mais interessados em extorquir trocados do que em controlar o planeta.

Com o advento da guerra fria, sob a égide do macartismo e a aprovação do código de ética, os comics eram obrigados a trazer exemplos cívicos e de bom comportamento. Foi quando Superman virou o homem de aço. Seu único calcanhar de Aquiles, a kryptonita, não era desse planeta. Passou a voar entre mísseis em vez de pular edifícios. Não raro, figurava com águia no ombro e bandeira listrada ao fundo. Seus poderes garantiram paz no planeta, ameaçado por inimigos empenhados em escravizar a humanidade como Lex Luthor, Brainiac e Darkseid. E assim se passaram três décadas de planos mirabolantes, dimensões paralelas, engenhocas e cientistas malucos, organizados em torno de maniqueísmos e fugas fantasiosas. A ressaca foi grande.

Império em xeque, heróis no divã – Nos anos 80, os super-heróis estavam tão distantes da realidade que o próprio mercado dos comics entrou em crise. Do outro lado do mundo, os mangás japoneses esboçavam uma revolução nos quadrinhos. Por isso, a própria DC Comics chamou o roteirista inglês Alan Moore (autor de V de Vingança) para tentar algo novo. O resultado foi a série Watchmen, em que novos encapuzados e superseres enfrentam problemas de alcolismo, depressão e traumas sexuais. Ao mesmo tempo, se alistam na Guerra do Vietnã e lutam no Afeganistão contra tropas soviéticas.

Nessa mesma época, Frank Miller (criador de Sin City e 300), lançou Batman - O Cavaleiro das Trevas, em que Superman faz uma ponta no papel de marionete da Casa Branca. A surpresa é que ele apanha - e muito. Meses mais tarde, foi reformulado por John Byrne, menos poderoso e mais próximo dos dilemas humanos.

Entre os trabalhos recentes está a elogiada série All Star Superman, onde o escocês Grant Morrison coloca o herói em contagem regressiva para a morte. Provavelmente porque, assim como o país que representa, o mito do Superman busca seu lugar no século 21. Entre infinitas crises, mortes e ressurreições, seu maior desafio é conciliar o discurso de democracia, liberdade e justiça com atentados terroristas e invasões a países árabes. Se é que isso faz algum sentido.

domingo, 27 de março de 2011

Em busca do cinema perfeito



O Recife conta com 47 salas de cinema. Um parque de exibição e tanto, se comparado com o de 15 anos atrás, quando poucos cinemas de rua restavam na cidade. Hoje podemos assistir a filmes projetados com a última palavra em tecnologia digital, a definição 4K, duas vezes maior do que o Full HD. Ou ao filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Entre tantas opções, escolher a sala certa pode ser um tiro no escuro. Cada uma tem qualidades e problemas e cabe ao espectador adequar necessidades e realidades.

Ir ao cinema é coisa cara - ingressos chegam até a R$ 23 e nada mais justo que exigir um serviço à altura. Em busca da sala perfeita, a reportagem do Diario visitou todos os cinemas do Recife - e não a encontrou. Há sempre o que melhorar, até mesmo entre os que estão próximos da excelência. Nosso test drive confirmou o que já era consenso: o complexo UCI Kinoplex Casa Forte tem a melhor infraestrutura e é tecnicamente impecável. Ficou ainda melhor desde janeiro, quando chegou o projetor Sony 4K, capaz de exibir em 2D ou 3D com ótimo resultado.

´Gosto daqui porque tem mais conforto e é mais moderno que os outros. Só não gosto tanto das poltronas, as do Box são melhores`, diz o estudante de pós-graduação Marcone Madruga. ´O Plaza é ótimo. Antes eu pegava uma fila para pagar e outra para sentar. Alguns cinemas da cidade têm cheiro de mofo e pouco espaço para sentar`, diz a economista Maíra Cavalcanti.

Há pouco tempo, os complexos Recife (Boa Viagem) e Tacaruna (Santo Amaro) passaram por melhorias e já ostentam a marca Kinoplex. Mas, com exceção das salas digitalizadas (duas em cada), o make up que reformou cadeiras, piso e modernizou terminais de atendimento não chegou à imagem e som.

O esmero da exibição faz falta na maioria das salas, comerciais ou independentes. Mês passado, a sala 2 do UCI Tacaruna exibiu O discurso do rei com som tão ruim que parecia radinho de pilha. Ontem, a mesma sala exibiu Bruna Surfistinha com som adequado, o que comprova erro operacional no passado. É comum filmes chegarem à tela com bordas borradas, chiados, som restrito às caixas frontais, imagem turva ou desfocada e outras imperfeições. Ou seja falta manutenção e outros cuidados.

Com exceção das salas acima citadas, todas precisam de algum tipo de reforma. A mais urgente é a do Cine Rosa e Silva, que apesar da ótima iniciativa de unir filmes comerciais e ´de arte`, faz tempo que deve a seu público um upgrade. De acordo com a direção do cinema, há planos de reforma das três salas, mas ainda sem cronograma definido.

O mesmo ocorre com o Box Guararapes, um ótimo cinema que carece de mais atenção dos administradores. Apesar da reforma recente, não há guias luminosos em corredores e escadas. Na sala 3D, há uma sombra permanente na parte esquerda da tela. Durante nossa visita, a sala THX (7) exibia Bruna Surfistinha com um som de dar dó. A assessoria do grupo informa que ainda neste ano serão instalados totens de autoatendimento e mudanças no foyer, incluindo iluminação moderna.

2012 é a data para o Multiplex BoaVista se tornar Kinoplex. Antes disso, em junho, um novo estacionamento abre no shopping, com mil vagas a mais. Enquanto isso, problemas são comuns. ´É um bom cinema, mas não se pode comparar com os outros`, diz Fernando Teixeira, engenheiro.

Cinema da Fundação - a melhor sala alternativa

À margem do circuito comercial, salas independentes agonizam. Grandes distribuidoras preferem grandes exibidores. De forma que pequenas salas precisam esperar a vez para reprisar o que já foi exibido pelos complexos de shopping. É o último estágio da cadeia de exibição - veja o caso do Cinema Apolo (em cartaz, Bravura indômita) e do Cinema São Luiz (De pernas pro ar e Enrolados), antes dos filmes serem lançados em DVD.

Caso à parte é o Cinema da Fundação, uma das poucas do Brasil a manter padrões de qualidade técnica, de conforto e no trato com o público. ´É um cinema público que tem uma imagem melhor que a dos cinemas comerciais, que cobram o dobro para exibir filmes lançados em escala mundial, sem oferecer em retorno um serviço à altura`, diz Kleber Mendonça Filho, programador da sala ao lado de Luiz Joaquim. Ele informa que, ainda neste ano, o sistema de som atual, analógico, será substituido por um sistema digital. ´A projeção está boa, mas queremos ela perfeita`.

O Cine São Luiz é mantido pelo estado e é um dos poucos cinemas de rua a funcionar no país. É de longe o cinema mais bonito da cidade e ainda aguarda direcionamento programático que o leve a uma identidade própria. Aos poucos, o público volta a frequentá-lo. ´É o meu cinema preferido. Ele tem história, enquanto cinemas de shopping não têm alma, são só uma tela e uma cadeira`, diz a agente ambiental Schirleide dos Santos Silva.

Tecnologia melhorou projeção

Enquanto isso, no reino do 3D, as opções têm melhorado. Até o ano passado, eram duas salas na cidade. Hoje são seis. As mais recentes são também as mais interessantes: as salas 1 e 10 do UCI Recife, 1 e 8 do Tacaruna e 5 do Casa Forte. São as mesmas que oferecem projeção 4K, da Sony.

O 3D destas salas também é melhor, não somente porque a tecnologia superior evita o efeito ´estrobo`, que cansa e causa enjoo em algumas pessoas. Mas porque os óculos são mais leves e higiênicos - todos passam por esterilização em água quente, sabão especial e são entregues ao público em embalagem de plástico. Não é o caso dos óculos do Box Guararapes (sistema Xpand), entregues à reportagem com manchas nas lentes e sem bateria. Em segunda tentativa, o aparelho falhou algumas vezes durante a sessão.

Especialista em cinema digital, o carioca Daniel Leite diz que a projeção das salas locais são superiores do que as do Rio de Janeiro. ´Se calibrados corretamente, esses aparelhos garantem que o filme seja visto da forma original. Ao contrário da película, que desbota a cor e arranha após certo número de projeções`. Ele atribui a qualidade da imagem projetada por esse equipamento mais ao fato dele ser novo do que pela alta definição obtida. ´Estudos afirmam que o olho humano não é capaz de perceber a diferença entre o Full HD (1920 x 1080 pixels) e o 4K (4096 x 2.160). Mas o grande trunfo da indústria do cinema é oferecer algo que ainda não temos em casa`.

Com a palavra, os cinéfilos - Além da investigação in loco, convidamos profissionais de cinema e cinéfilos de plantão para eleger o melhor cinema da cidade. O resultado, unânime, foi o Cinema da Fundação. Sinal de que, apesar de todas as inovações técnicas e confortos possíveis, a qualidade da programação e o cuidado com a exibição dos filmes são requisitos essenciais para fazer um bom cinema. Para justificar suas decisões, também pedimos para nossos especialistas explicarem seus critérios, sendo a categoria ´melhor cinema`, uma média das demais.

Leo Sette cineasta

Melhor cinema: Cinema da Fundação
Melhor sala de shopping: UCI Casa Forte
Melhor sala alternativa: Cinema da Fundação
Melhor projeção: Cinema da Fundação
Melhor som: UCI Casa Forte
Melhor programação: Cinema da Fundação
Sala mais confortável: Cinema da Fundação
Melhor atendimento: Cinema da Fundação

Acho muito desconfortável ter que pagar estacionamento, sentir cheiro e ouvir barulho de pipoca. Ter que andar pelos corredores do shopping para poder ver um filme, fora o preço alto dos ingressos. É importante apontar o problema sério que é a projeção das salas da prefeitura, o Cinema do Parque e Apolo. O projecionista de lá não tem o menor espírito de cinema, faz de qualquer jeito e não aceita críticas, é super mal-educado. Ele erra janela, foco, conversa e ri alto durante a projeção ao ponto de se poder ouvir da sala às vezes. Todo mundo já faz piada, apesar do carinho que temos pelas salas.

Tomaz Alves compositor de trilhas sonoras

Melhor cinema: Difícil responder essa. Seria mais fácil dizer os piores
Melhor sala de shopping: UCI Casa Forte
Melhor sala alternativa: Cinema da Fundação
Melhor projeção: UCI Casa Forte
Melhor som: UCI Casa Forte
Sala mais confortável: UCI Casa Forte e Cinema da Fundação
Melhor atendimento: UCI Casa Forte

É uma pena que o hábito de ir ao cinema, para muita gente, não passa de mais uma coisa que se pode fazer no shopping. Isso porque quase todas as salas são de shopping. E aí fica o meu maior incômodo: a sujeira. As salas estão muito sujas, com exceção do Cinema da Fundação, onde se proíbe entrar com comida, e do Plaza, porque ainda é novo. Fora outros problemas como má projeção, defeitos de som. A única sala que eu continuava frequentando era o Box Guararapes, mas um dia cheguei até a ver foto de ratos na sala do cinema - um cara postou no Twitter. Foi o fim da picada!

Rodrigo Carreiro professor e crítico de cinema

Melhor cinema: Cinema da Fundação
Melhor sala de shopping: UCI Casa Forte 5
Melhor sala alternativa: Cinema da Fundação
Melhor projeção: UCI Casa Forte 5
Melhor som: Box Guararapes 5
Melhor programação: Cinema da Fundação
Sala mais confortável: Box Guararapes

No geral a qualidade das projeções é apenas razoável: o som digital se desgasta muito rápido, a maior parte das salas do UCI Recife e Tacaruna tem apenas quatro canais de áudio e a manutenção dos projetores anda vacilando. Projeções muito escuras são quase uma rotina. Nesse sentido o Plaza (por ter instalações mais recentes, talvez) e o Box Guararapes me parecem os complexos mais preparados para projeções de boa qualidade. A menção ao Cinema da Fundação é obrigatória e eu destacaria o conforto alcançado após a reforma, e não apenas dentro da sala, mas no programa como um todo.

Fernando Vasconcelos designer e crítico de cinema

Melhor cinema: Cinema da Fundação
Melhor sala de shopping: UCI Plaza Casa Forte
Melhor sala alternativa: Cinema da Fundação
Melhor projeção: UCI Recife 1 (Digital 4K)
Melhor som: UCI Recife 1 (Digital 4K)
Melhor programação: Cinema da Fundação
Sala mais confortável: UCI Plaza Casa Forte
Melhor atendimento: Cine Rosa e Silva

Melhor projeção e som, me refiro à sessão cabine de Invasão do mundo, visto no UCI Recife. Melhor atendimento, me refiro à gerência e funcionários do Cine Rosa e Silva, por serem muito atenciosos, informados e educados. Faz muita diferença, apesar do cinema ser deficiente tecnicamente em relação aos demais. Cabe um comentário sobre a péssima programação atual do São Luiz, que voltou depois do recesso de fim de ano com a pior programação da cidade, reprisando os piores filmes vindos dos multiplexes.

Clara Moreira arquiteta e ilustradora

Melhor cinema: Cinema da Fundação
Melhor sala de shopping: UCI Casa Forte.
Melhor sala alternativa: Cinema da Fundação
Melhor projeção: UCI Casa Forte
Melhor som: UCI Casa Forte
Melhor programação: Cinema da Fundação
Sala mais confortável: UCI Casa Forte
Melhor atendimento: Cinema da Fundação

Predomina nos shoppings um grande descaso com as sessões de cinema. O problema mais recorrente e mais aparente é a projeção - geralmente escurecida ou levemente desfocada. Na última vez que fui ao Cine Rosa e Silva, além da projeção escurecida e do foco desajustado, tinha uma região da tela que estava ainda mais desfocada que o resto, durante todo o filme. Sente-se claramente a preocupação dos que fazem o Cinema da Fundação para fazer o melhor em termos de programação, imagem e som, com um projecionista realmente preocupado em fazer o melhor.



Conheça o parque exibidor do Recife:

Box Cinemas Guaararapes. 12 salas; inaugurado em 2004. Projeção 35mm e digital Rain com lâmpada de 3 mil e 6 mil watts (salas 5, 6 e 7); som Dolby digital e analógico; funciona diariamente; café, bomboniére (dinheiro e débito) e estacionamento; acesso para cadeirantes; banheiro infantil; bilheteria: dinheiro e débito.
Endereço: Av. General Barreto de Menezes, 800 - Shopping Guararapes (Piedade).
Telefone: 3207-1212.

Cine Rosa e Silva. 3 salas; inaugurado em 1997; lotação: 371; média mensal de público: 11.992 espectadores; projeção 35mm com lâmpadas de 2 mil watts; áudio: Dolby CP45; bomboniére (só dinheiro) e estacionamento; acesso para cadeirantes. bilheteria: dinheiro e débito.
Endereço: Av. Rosa e Silva, 1406 (Aflitos).
Telefone: 3207-0100.

Cinema Apolo. 1 sala; inaugurado em 1842 (como teatro); lotação 282; projeção 35mm; áudio: Dolby analógico; bilheteria: dinheiro.
Endereço: Rua do Apolo, 121 (Recife Antigo).
Telefone: 3355-3118.

Cinema da Fundação. 1 sala; inaugurado em 1998; lotação: 200 pessoas; média mensal de público: 2,5 mil pessoas; projeção 35mm e digital Rain com lâmpada de 2 mil watts; som Dolby 4.1; aberto de terça a domingo; café e bomboniére (dinheiro, débito e crédito); bilheteria: somente dinheiro.
Endereço: Rua Henrique Dias, 609 (Derby).
Telefone: 3073-6688.

Cinema São Luiz: 1 sala com balcão; inaugurado em 1952 (reinaugurado em 2010); Lotação: 992; média mensal de público: 4 mil espectadores; projeção 35mm com lâmpada de 3 mil watts; som Dolby Stereo; aberto de terça a domingo; Acesso para cadeirantes; Bilheteria: somente dinheiro.Endereço: Rua da Aurora, 175, Boa Vista.Telefone: 3184-3000.

Multiplex Boa Vista. 6 salas; inaugurado em 2003; lotação: 887; média mensal de público: 44 mil espectadores. Projetores 35mm; som Dolby stereo analógico; aberto diariamente; bomboniére (dinheiro e débito) e estacionamento; acesso para cadeirantes; sanitário infantil; bilheteria: dinheiro e débito.
Endereço: Shopping Boa Vista (Rua do Giriquiti, 48 - Boa Vista).
Telefone: 3184-3000.

UCI Kinoplex Casa Forte (Shopping Plaza). 5 salas; inaugurado em 2007. Lotação: 957 pessoas. Média mensal de público: 54.930 espectadores. UCI Kinoplex Shopping Recife (Boa Viagem). 10 salas; inaugurado em 2000.
Lotação: 2.187 espectadores. Média mensal de público: 92.528 pessoas. UCI Kinoplex Shopping Tacaruna (Santo
Amaro). 8 salas; inaugurado em 2000. Lotação: 1.378 espectadores. Média mensal de público: 62.803 pessoas. Projetores 35mm, 3D e 4K. Som Dolby digital e analógico. Aberto diariamente. Bomboniére (dinheiro, crédito e débito) e estacionamento. Acesso para cadeirantes; Bilheteria: dinheiro, crédito e débito.
Telefone: 3207-0000.

(Diario de Pernambuco, 27/03/2011)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Coluna de lançamentos, bastidores e "eu indico" da semana



O milagre de Santa Luzia (Brasil, 2009). De Sérgio Roizemblit. 104 min. Playarte.

Sanfona - Documentário imprescindível para quem gosta de música brasileira. Ou melhor: uma viagem conduzida com emoção por Dominguinhos, no papel de embaixador da sanfona. De Exu, berço do maior nome do instrumento, Luiz Gonzaga, ao interior do Rio Grande do Sul, o filme faz um mapa de sanfoneiros. Destaque para o encontro de Dominguinhos com Arlindo dos Oito Baixos e o derradeiro encontro com Sivuca, regado a lágrimas.



Oceanos (Oceans, França, 2009). De Jacques Perrin, Jacques Cluzaud. 104 min. Playarte.

Água - Um tratamento cinematográfico, quase operístico, à natureza subaquática é o grande trunfo deste longa. Impressiona a precisão das imagens e sons, captadas ao longo de quatro anos, em cores vívidas e áudio cristalino. Há momentos em que a câmera chega tão perto dos seres marinhos que a imagem fica abstrata. É também um testemunho da atual condição dos mares, em oportuno viés ecológico.

Eu indico



Recomendo A vida de Brian (Life of Brian, Inglaterra, 1979), de Terry Jones. Entra em qualquer lista de melhores filmes de comédia de todos os tempos. É o segundo longa do grupo inglês Monty Python, abordando fatos bíblicos com o humor nonsense que é característico dos britânicos. Tira onda com a ideia do "messias", mas, se duvidar, registra algumas passagens com mais fidelidade do que muito filme "de época" por aí.

Marcelo Tarta é jornalista

Bastidores

Tatuagem - Conforme antecipado nesta coluna, Hilton Lacerda está no Recife, à procura de locações para seu novo projeto, o longa Tatuagem. Olinda também está no projeto, que abordará a ditadura militar e seus reflexos.

Cine PE - Está confirmado: este ano, a Mostra Pernambuco do Cine PE será no Cinema da Fundação. A programação de curtas não foi divulgada, mas já está definida a partir de filmes inscritos que ficaram de fora da mostra oficial.

Digital - Realizadores não precisam mais ir ao Rio ou São Paulo para finalizar seus filmes em digital. Esta semana começa a funcionar, em Casa Forte, o CineLab, do carioca Daniel Leite. Com o equipamento, ele traz um currículo com trabalhos de Silvio Tendler e Vladimir Carvalho.

Crítica - Nos dias 7 e 8 de abril, o papel da crítica cinematográfica será tema de encontro promovido pelo Sesc em São Paulo. De Pernambuco, participa o colega Luiz Joaquim.

Sul - Entre os brasileiros no 29º Festival Cinematográfico Internacional do Uruguai estão Gabriel Mascaro (Avenida Brasília Formosa) Marcelo Lordello (Vigias). Já o Cine Esquema Novo, de Porto Alegre, acaba de selecionar filmes de Mascaro (Paulo Bruscky), Juliano Dornelles (Mens sana in copore sano), Marcelo Pedroso (Pacific), Camilo Cavalcante (My way)e Victor Furtado (Raimundo dos queijos).

sábado, 19 de março de 2011

Cultura e preconceito



O circuito Sessão de Arte da rede UCI Ribeiro estreia hoje (domingo) o filme London river - destinos cruzados. Somente este mês, é o segundo filme do diretor francês de ascendência argelina Rachid Bouchareb a ser exibido no Recife. O primeiro é o recente Fora-da-lei, seleção oficial do Festival de Cannes e indicado ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira. Esta semana Fora-da-lei está de molho e deve voltar na próxima, no Kinoplex Recife (Boa Viagem).

Com foco no drama dos pais de jovens que desapareceram durante os atentados que atingiram o sistema de metrô londrino, London river será exibido em horários únicos hoje no Kinoplex Plaza, amanhã no Tacaruna e quinta-feira no Multiplex Boa Vista. O filme já está disponível em DVD pela California Filmes, ou seja, chega aos cinemas do Recife com bastante atraso.

Os "destinos cruzados" a que o subtítulo nacional se refere diz respeito ao cerne do ponto de vista desenvolvido por Bouchareb, que busca nas gerações anteriores as chaves para entender os problemas contemporâneos. Pois Elisabeth (Brenda Blethyn) e Ousmane (Sotigui Kouyaté, em atuação que lhe rendeu um Urso de Prata no Festival de Berlim de 2009) dificilmente se (re)conheceriam não fossem seus filhos terem desaparecido.

A princípio, tudo parece se resumir à dor pessoal de Elisabeth, que vive no campo e não perdeu contato telefônico com a filha desde o incidente terrorista. Ela faz as malas e vai para Londres, onde descobre que a filha mora em bairro multi-étnico, com forte presença árabe-muçulmana, condições chocantes para a conservadora matriz anglo-saxônica da qual pertence.

A pobre mãe não encontra a filha, mas monta vigília em seu apartamento e resolve espalhar fotografias nos muros da vizinhança. Na mesma foto está o filho de Ousmane, também desaparecido. Ele supõe que sejam um casal de namorados e liga para Elisabeth juntar forças e procurar mais pistas.

Ao visualizar a figura exótica de Ousmane, um negro alto, de cabelos compridos e o mais grave, muçulmano, a senhora o rejeita imediatamente. É a partir dessa relação enviezada que o filme levanta importantes questões culturais e preconceitos, que não por acaso levaram ao choque de civilizações. Apesar da profundidade do tema, a história se desenrola de forma leve e otimista. Um belo filme sobre a viabilidade humana.

(Diario de Pernambuco, 20/03/2011)

A hora dos mortos-vivos



Se comparados a Drácula e Frankenstein, eles são monstros de segunda categoria. No entanto, cada vez mais, zumbis povoam a cultura contemporânea. Exemplos não faltam: em encontros marcados via internet, eventos batizados Zombie walks arrastam para as ruas milhares de mortos-vivos. Também na rede, não é difícil acessar um manual de sobrevivência para lidar com zumbis e até um dicionário de grunhidos básicos para bater um papo com os monstrengos. Na TV, sucesso recente é a série The walking dead, baseada em história em quadrinhos publicada desde 2003.

Destituída da tradição literária que ampara os membros da elite do terror, foi através do cinema que a cultura zumbi se estabeleceu ao longo do século 20. Ou melhor, a partir de um relato de lendas do Haiti, uma nova mitologia foi inventada.

Para saber essa história em detalhes, basta ler Zumbis - o livro dos mortos (464 páginas, R$ 44,90), que acaba de ser lançado pela Leya Cult / Barba Negra. Em minucioso trabalho de pesquisa, Jamie Russell remonta às antigas lendas vudu do oeste africano trazidas ao Haiti por escravos da cana-de-açúcar para então serem apropriadas e adaptadas pela indústria cultural norte-americana.

O livro é ricamente ilustrado, e inclui uma filmografia de títulos disponíveis no Brasil. Nele, é curioso constatar a evolução do personagem ao longo do século, do seminal Zumbi branco (1932), em que um feiticeiro (Bela Lugosi) usa mortos como força de trabalho para colher e moer a cana-de-açúcar, ao divisor de águas que são os filmes de George Romero, onde zumbis se integram irreversivelmente à vida moderna: vestem camisetas, assistem TV e, claro, vão ao supermercado.

"Ao usar zumbis para criticar a sociedade, Romero elevou o gênero dos filmes terror", diz o cinéfilo Osvaldo Neto. Especialista no assunto, ele diz que a trilogia de Noite dos mortos vivos (1968), Despertar dos mortos (1978) e Dia dos mortos (1985) é essencial para qualquer apreciador que se preze. "Nesses filmes os vilões são os seres humanos, não os zumbis, pois se as pessoas fossem mais unidas e compreendessem o próximo, sobreviveriam aos ataques".

Filmes inéditos no Recife - Se ainda restava certa metafísica nos zumbis carnívoros de George Romero, a produção italiana dos anos 1970 se encarregou de esvaziá-la. É como se retirassem os miolos dos roteiristas, o que resultou em histórias com pouca ou nenhuma coerência. Em compensação, não faltam vísceras à vista. Foi o triunfo do subgênero splatter (ou gore), surgido nos EUA e elevado a níveis pornográficos por diretores como Lucio Fulci.

A partir de hoje, a Mostra Spaghetti Zombies traz ao Recife essa produção regada a sangue feito com molho de tomate. "São filmes indisponíveis comercialmente no Brasil que precisam ser conhecidos. Alguns eu descobri em VHS e guias de vídeo, antes da internet facilitar esse trabalho", diz Osvaldo Neto, que há tempos idealizava o evento e já pensa uma segunda edição.

"Coproduzido por Dario Argento, O despertar dos mortos fez sucesso monstruoso na Itália, que vivia boa fase no cinema popular, com faroeste e filmes de gladiador. Não foi problema seguir o filão".

Com cabeças voadoras e ataques de zumbis ninjas, não é preciso explicar muito sobre a essência do programa. "São filmes que usam do experimentalismo de som e imagem para provocar o espectador. Por exemplo, a primeira vez em que assisti a Terror nas trevas, eu odiei. Depois percebi que ele é o mais próximo de um pesadelo filmado que já vi. Nada faz sentido, é um filme de terror em estado puro". Sediada na Fundação Joaquim Nabuco, a Mostra Spaghetti Zombies estreia hoje no Cinema da Fundação e segue até sexta na Sala João Cardoso Ayres, com entrada franca.

Mostra Spaghetti Zombies - Programação

Hoje, 14h
Pelo amor e pela morte (Dellamorte Dellamore, 1985), de Michele Soavi

Segunda, 19h
Zombie 3 (1988) , de Lucio Fulci

Terça, 19h
A casa do cemitério (Quella villa accanto al cimitero, 1981), de Lucio Fulci

Quarta, 19h
Let sleeping corpses lie (1974)

Quinta, 19h
Terror nas trevas (E tu vivrai nel terrore), de Lucio Fulci

Sexta, 19h
Burial ground (Le notti del terrore, 1981), de Andrea Bianchi


Os dez melhores filmes, por Osvaldo Neto

1. Zumbi branco (1932), de Victor Halperin
2. A morta-viva (1943), de Jacques Tourneur
3. A noite do terror cego (Tombs of the blind dead, 1971), de Amando de Ossorio
4. Zumbi 3 (Let sleeping corpses lie, 1974), de Jorge Grau
5. Zombie (1979), de Lucio Fulci
6. Os mortos vivos (Dead and buried, 1981), de Gary Sherman
7. Terror nas trevas (The beyond, 1981), de Lucio Fulci
8. Re-animator (1985), de Stuart Gordon
9. A volta dos mortos vivos (The return of the living dead, 1985), de Dan O'Bannon
10. Pelo amor e pela morte (Dellamorte dellamore, 1985), de Michele Soavi

(Diario de Pernambuco, 19/03/2011)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Estreia // Invasão do mundo: batalha Los Angeles, de Jonathan Liebesman


Um pouco mais de pudor ideológico e bons roteiristas cairiam bem

Alienígenas implacáveis dominam a Terra, destroem cidades inteiras, ameaçam acabar com a vida humana. Guerra dos Mundos? Independence Day? Sim e também Invasão do mundo: Batalha de Los Angeles (Battle: Los Angeles, EUA, 2011), a nova superprodução a glorificar a supremacia do exército norte-americano.

Cada época reedita invasores de outro planeta de acordo com a paranoia da vez. Se um dia eles representaram a ameaça comunista, hoje estão mais para o terrorismo pós-11 de setembro. Atacam sem motivo aparente, explicação ou ao menos esboçar a intenção de diálogo. Ao espectador, resta acompanhar a resistência voraz do destacamento de mariners liderados pelo sargento Nantz (Aaron Eckhart), tipo durão, patriota, que joga granada com uma mão enquanto protege criança inocente com a outra.

Aos que procuram alguma novidade, resta o deslumbre tecnológico provocado pelo formato de captação e exibição 4k, duas vezes superior à resolução Full HD, disponível em três salas do Recife: Kinoplex Recife 1, Tacaruna 1 e Plaza 5. Nelas é possível enxergar a invasão com precisão microscópica, como no momento em que milhares de naves se unem para formar uma única superestrutura voadora.

Sucesso comercial nos EUA, o longa de Jonathan Liebesman funciona bem como showroom de novas possibilidades do cinema digital. É uma pena, mas ao fim da projeção, fica a sensação de não ser nada que vá para além disso.

A não ser o game que foi lançado semana passada.

(Diario de Pernambuco, 18/03/2011)

Estreia // "Tio Boonmee que pode recordar de suas vidas passadas", de Apichatpong Weerasethakul



Após pré-estreia disputada no último sábado, Tio Boonmee que pode recordar de suas vidas passadas (Lung Boonmee Raluek Chat, Tailândia, 2010), entra em cartaz como atração principal do Cinema da Fundação. Tendo como foco a jornada espiritual de Boonmee, que sofre de insuficiência renal e ao lado da irmã se recolhe na casa próxima à natureza, o filme é uma obra incomum, no sentido de que o centro está no fazer cinema e tudo o mais se torna periférico.

Isso fica claro na capacidade de Apichatpong Weerasethakul, apelidado Joe pela ironia ocidental, de fazer uma obra inesperada a partir de temática recorrente, as reencarnações tão em voga nos filmes de evocação espírita e até no recente Além da vida, de Clint Eastwood. E que não se enganem os que veem em Tio Boonmee ligações com a cultura religiosa de seu país, a Tailândia. Até mesmo naquele país marcado pela filosofia budista, diz o diretor, o filme é visto como um alienígena.

Tio Boonmee chegou ao país com um ano de atraso, mas nada de reclamar. A Palma de Ouro conquistada em Cannes foi decisiva para que um filme de Joe, que realiza filmes desde 1993, fosse recebido nos nossos cinemas. Agora é aproveitar a oportunidade e conferir um dos melhores filmes da temporada. Como toda boa viagem, há estranhamento, mistério e o sentimento fascinante de que algo mudou na nossa forma de ver o mundo.

(Diario de Pernambuco, 18/03/2011)

O cinema como viagem espiritual



Que o título quilométrico e o nome quase impronunciável de seu autor não sejam impedimentos para assistir a um dos melhores filmes dos últimos tempos. Em pré-estreia no Cinema da Fundação, Tio Boonmee que pode recordar de suas vidas passadas (Lung Boonmee Raluek Chat, Tailândia, 2010), de Apichatpong Weerasethakul, foi o grande vencedor do último Festival de Cannes do ano passado.

É verdade que prêmios e medalhas não são garantia de satisfação, mas é justamente pela consagração de júri (presidido por Tim Burton) e crítica no festival mais renomado do mundo que o filme de Joe (como Weerasethakul foi ironicamente apelidado pelos ocidentais) pode chegar ao circuito brasileiro, dando ao público a oportunidade de julgar seu mérito.

Se assistido sem preconceitos, Tio Boonmee pode levar a lugares inesperados. Aos mais apressados, nada de colocá-lo no rol de filmes sobre espiritismo. Antes de mais nada, ele trata do mistério. E o principal: o faz pelo uso excepcional da linguagem do cinema. É através dela que podemos mais do que acompanhar, mas experimentar sensorialmente a jornada de Boonmee, no limiar entre a vida e a morte. A saúde não vai bem e ele se refugia na casa de parentes, onde pode se reconectar com a natureza.

Durante a despedida surge o fantasma da esposa, já falecida e seu filho, transmutado em entidade verde-musgo com olhos vermelhos que brilham no escuro. A partir deste momento, o filme vai para além do tema e salta para o território da criação cinematográfica. A maior síntese disso está na impressionante composição da floresta em imagens e sons, onde natural e sobrenatural coexistem sem sobressaltos. Vale reafirmar: Tio Boonmee trata de uma realidade que não poderia ser representada de outra forma, a não ser pelo cinema.

No Recife, o filme entra em cartaz na sexta-feira que vem, no Cinema da Fundação. Antes, haverá uma sessão de pré-estreia, às 18h deste sábado (12). A segurr mais imagens e dois cartazes especiais de Tio Boonmee, um deles assinado pelo artista gráfico Chris Ware (de Jimmy Corrigan, o garoto mais esperto do mundo)








Discurso antigo em alta definição



A partir desta sexta-feira, o público do Recife poderá conferir o que há de mais avançado na produção e exibição digital de filmes. É quando estreia Invasão do mundo: Batalha de Los Angeles (Battle: Los Angeles, EUA, 2011), o primeiro filme da Sony Pictures concebido integralmente para a tecnologia 4K, grau máximo de resolução de imagem alcançada pela indústria cinematográfica - até o momento. Para se ter uma ideia, a imagem em 4K pode chegar a 4.096 linhas horizontais por 2.160 verticais, mais que o dobro alcançado pela tecnologia Full HD.

Em parceria com a rede UCI, as sessões poderão ser vistas em 16 salas do Brasil. Três destas estão no Recife, nos complexos Kinoplex Recife, Plaza e Tacaruna, que desde janeiro contam com equipamento de projeção Sony Real D. O formato, que permite mais qualidade com menos custo, já toma conta do parque exibidor da Europa e Estados Unidos. Aos poucos, vai dominar o resto do mundo e aposentar as centenárias projeções em 35mm.

O que há de impressionante a experimentar em Invasão do Mundo: batalha de Los Angeles, é a alta definição de imagem e som, mais perceptíveis em explosões que jogam estilhaços e grãos de areia com precisão microscópica. Fora isso, é um misto de filme de guerra com ficção científica que não tem muito a acrescentar nem a um gênero, nem ao outro. Mas o que importa? A produção de 100 milhões dirigida por Jonathan Liebesman já é um dos sucessos comerciais do ano: lidera as bilheterias dos Estados Unidos, onde estreou na semana passada.

A impressão é a de que já vimos esse filme antes (a presença da atriz Michelle Rodriguez, já vista em Avatar e Machete como a latina boa de briga, só reforça isso): sem muita explicação, alienígenas rendem o planeta, enquanto um destacamento de fuzileiros navais liderados pelo sargento Nantz (Aaron Eckhart) resiste até o fim. Em boa atuação, Eckhart personifica o mito do herói norte-americano, que preservavalores forjados no front. Sob ataque cerrado, seu grupo reage, range os dentes, destroi o inimigo e, de quebra, cuida de criancinhas.

Como diz o título, o palco do combate está em Los Angeles, onde aliens pegajosos e de grunhidos estranhos fincam base. Construído do ponto de vista dos soldados - qualquer informação externa vem da TV ou internet, o filme alterna entre a ação tensa do tipo ´Go, go, go!` e o drama de quem perde companheiros e teme pelo futuro imediato. Há repetição de fórmulas, tanto da ficção (Guerra dos Mundos, Independence day) quanto de filmes guerra - como o recente Guerra ao Terror, só que piorado por uma música que insiste em conduzir emocionalmente cada ataque ou momento dramático.

(Diario de Pernambuco, 18/03/2011)

quinta-feira, 17 de março de 2011

Coluna lançamentos, bastidores e "eu indico" da semana

Lançamentos



Tron - o legado (Tron legacy, EUA, 2010). De Joseph Kosinski. 127 minutos. Disney.

Neon - Trinta anos depois, a Disney expande o conceito neon claustrofóbico do filme que marcou época. O resultado é ainda mais fascinante do que o original, em que Kevin Flyyn (Jeff Bridges) fica preso em videogame controlado por programa maligno. A próxima vítima é seu filho Sam (Garret Hedlund), que precisa enfrentar a inteligência artificial e reassumir o controle da empresa de software que herdou. Tudo fica melhor com a música do Daft Punk.



A lenda dos guardiões (Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole, BEUA, 2010). De Zack Snyder. Warner.

Batalha - Nesta animação protagonizada por corujas falantes, o diretor de 300 e Watchmen, que já vinha trabalhando com cenários e efeitos digitais, estreia no cinema 100% virtual. Baseado na literatura infantil, o desenho mostra filhotes que precisam se tornar guerreiras para salvar a raça da escravidão. É o mesmo método espartano de coragem forjada a ferro e fogo, agora defendido por minoria frágil que não abre mão da compaixão e lealdade.



Enterrado vivo (Buried, EUA, 2010). De Rodrigo Cortés. 95 minutos. California.

Caixão - Realizar um longa com um único personagem lacrado em caixão no subsolo poderia ser uma ousadia, não fosse o argumento que reforça a fobia contemporânea em torno do terrorismo. Enquanto explora narrativa no limite de enquadramentos e iluminação, a coisa vai bem. Quando Paul Conroy (Ryan Reynolds) descobre que se tornou refém de iraquianos, o filme desanda para um melodrama que resvala para outra paranoia moderna: a duração da bateria do celular.

Eu indico

Dizem que os anos 1990 foi uma década fraca para o cinema de horror. Pode ser verdade, mas temos algumas pérolas, muitas hoje esquecidas. Uma delas é O mestre das ilusões, onde o autor e diretor Clive Barker (Hellraiser) mistura com propriedade o noir com o horror em resultados memoráveis. Assista a versão do diretor lançada em DVD.

Osvaldo Neto, crítico de cinema e editor do blog Vá e Veja

Bastidores

Argentina - O longa Vigias, de Marcelo Lordello, é o único filme pernambucano na seleção oficial do Festival de Cinema Independente de Buenos Aires, o BAFICI.

Festivais - Inscrições abertas para vários festivais. O Festival de Paulínia recebe candidatos até 15 de maio e é conhecido por ter uma das maiores premiações do país. Este ano, o melhor longa de ficção ganha R$ 250 mil e o melhor documentário, R$ 100 mil. Já o Cine Ceará recebe inscrições até 10 de abril e o Festival Internacional de Cinema Infantil (Fici), até 22 de abril.

Cineclube 1 - Após longa pausa, o Cineclube Revezes está de volta hoje, às 18h30, com exibição de Crepúsculo dos deuses (Sunset boulevard, EUA, 1950), do diretor Billy Wilder. O filme será apresentado na sala 510, bloco A, da Universidade Católica (Boa Vista). Após a sessão, debate com o professor e crítico Alexandre Figueroa.

Cineclube 2 - O Espaço Passárgada (Rua da União, 263 - Boa Vista) apresenta hoje, às 18h, o filme Só dez por cento é mentira, documentário de Pedro Cézar sobre o escritor matogrossense Manoel de Barros. Comenta a sessão o documentarista Marcos Enrique Lopes (Composição do vazio, Janela molhada).

Imoralidade - Ao que parece, abusos do Ecad não são um problema só dos músicos. Em seu blog, o cineasta Jorge Furtado (Meu tio matou um cara) afirma que cobrar por música no cinema é uma imoralidade legal. E que mesmo a exibição de filmes que não têm música são taxadas em 2,5% do bruto da bilheteria para esta simpática entidade.

Mais vendidos

1. Tropa de elite 2 (Brasil, 2010), de José Padilha
2. O segredo dos seus olhos (Argentina, 2010), de Juan José Campanella
3. A rede social (The social network, EUA, 2010), de David Fincher
4. A origem (The inception, EUA, 2010), de Christopher Nolan
5. Bravura indômita (True grit, EUA, 1969), de Henry Hattaway
6. Cartas para Julieta (Letters to Juliet, EUA, de Gary Winick
7. A partida (Departures, Japão, 2008), de Yôjirô Takita
8. Laranja mecânica (Clockwork orange, Inglaterra, 1971), de Stanley Kubrick
9. Entre os muros da escola (Entre les murs, França, 2010), de Laurent Cantet
10. The Karate Kid (EUA, 2010), de Harald Zwart

Fonte: Livraria Cultura

Vitanima agora é do Recife

Começa hoje o Vitanima - Mostra Livre de Animação Contemporânea, que traz um programa com mais de cem títulos, além de oficinas e debates. O evento nasceu há três anos no Rio de Janeiro e pela primeira vez se realiza no Recife, com patrocínio do Centro Cultural Correios. É uma mostra que contempla diferentes formatos, gêneros e técnicas de animação. Por isso, não vale se assustar com conteúdos estranhos, como os do programa Igor Kovalyov, realizador russo capaz de perturbar almas sensíveis. Claro que as crianças não ficam de fora, foram contempladas com mostras infantis, destaque para o longa Garoto cósmico, de Alê Abreu.

Para maiores de 16 anos, será possível assistir trabalhos de respeitados autores do leste europeu, como a tcheca Michaela Pavlatová ou os russos Signe Baumanye e Konstantin Bronzit (do indicado ao Oscar Lavatory Lovestory). Há também a mostra especial do coletivo de animadores novaiorquinos Avoid Eye Contact. Da produção local serão exibidos O Jumento Santo e a cidade que se acabou antes de começar, de Leo D. e William Paiva, e o curta Voltage, de Filippe Lyra e William Paiva. Há espaço inclusive para o videoclipe, como Bonequinha do Papai, produzido para o projeto Pequeno Cidadão.

´A produção nacional já consegue alimentar mais de 50% da mostra. Isso é uma conquista, em outros momentos não seria possível`, diz a designer e curadora Ilana Braia. Pernambucana radicada no Rio, ela quer fazer intercâmbio com realizadores locais e ressalta a liberdade de expressão como característica principal do cinema de animação. ´Quando era pequena achava que só poderia haver desenhos de grandes estúdios, mas os festivais me mostraram que há um circuito autoral. Essa produção mais intrigante me interessa`.

A programação vai até domingo, com destaque para O divino, de repente, de Fábio Yamaji e Santa de casa, adaptação mais incorreta impossível de Allan Sieber para conto de Adir Blanc ambientado no carnaval carioca. Inicialmente anunciada para estar no Vitanima, Sieber cancelou sua participação pois está envolvido com o curta Peréio eu te odeio.

Presença confirmada é a do carioca Marcelo Marão. Fundador da Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), Marão faz palestra e exibe os curtas O anão que virou gigante e Eu queria ser um monstro.

Todas as atividades serão no Centro Cultural Correios (Av. Marquês de Olinda, 262, Recife Antigo). Entrada franca.

Confira a programação da mostra:

Programação de 17/03 - 19 horas
SESSÃO ABERTURA - faixa etária 16 anos
Caixa - Luciana Eguti - Brasil
Lavatory Love Story - Konstantin Bronzit - Rússia
The Deep - PES - EUA
O Anão que virou Gigante - Marcelo Marão - Brasil
Tauro - Matthias Daenschel - Alemanha
Menina da Chuva - Rosária Moreira - Brasil
Fetch - Nina Paley - EUA
Smoke - Claudia Romero Caorsi - Alemanha
Perfeito - Mauricio Bartok - Brasil
Carnival of Animals - Michaela Pavlátová - República tcheca

Programação de 18/03 - a partir das 18 horas
18h PANORAMA 1 - faixa etária 16 anos
Contemporânimos - Julio Carvalho - Brasil
Despejo ou memórias de Gabiru - Sergio Glenes - Brasil
Voltage - Filippe Lyra e William Paiva
God - Kostantin Bronzit - Rússia
O Anão que virou gigante - Marcelo Marão - Brasil
Caixa - Luciana Eguti - Brasil
Homo Erectus - Rodrigo Burdman - Brasil
X-Coração - Lisandro Santos - Brasil
Perfeito - Mauricio Bartok - Brasil
Words, words, words - Michaela Pavlátová - Rep. Tcheca

19h SESSÃO Avoid Eye Contact - faixa etária 16 anos
Filmes do coletivo de animadores novaiorquinos
Bath time in Clerkernwell - Aleksey Budovsky
Sub - Jesse Schmal
Roof Sex - PES
Box Factory - Fran Kraune
Mr. Smile - Fran Kraune
Drink - Patrick Smith
Dirdy Birdy - John Dilworth
I was a Thanksgiven Turkey - John Schanall
Pee-nut - PES
Eat - Bill Plympton
Atlas gets a drink - Michael Overbeck
Fetch - Nina Paley

20h FILMES DEBATE: ANIMANDO A CONVERSA COM MARCELO MARÃO
Programação de 19/03 - 14:30 horas
SESSÃO INFANTIL 1 - faixa etária livre
Vivi Viravento - Alê Abreu - Brasil
Dias de Sol - Luciano Lagares - Brasil
A Linda Rosa Juvenil - Wagner de Freitas - Brasil
Juro que vi: Saci - Humberto Avelar - Brasil
Trim time - Gil Alkabetz - Alemanha
Zoia a Zebra - Alexander Geifman - Brasil
A Lenda das Cataratas - Fernando Marcondes Macedo - Brasil
Marcha Soldado - Humberto Avelar - Brasil
Eu queria ser um monstro - Marcelo Marão - Brasil

Programação de 19/03 - 15:30 horas
LONGA INFANTIL - GAROTO CÓSMICO
Alê Abreu - 77 minutos - Brasil
Faixa etária: livre

Programação de 19/03 - a partir das 17 horas
17h - SESSÃO SIGNE BAUMANE - faixa etária 16 anos
The Witch and the cow - Letônia
Love story - EUA
Natasha - EUA
Five fucking fables - EUA
Woman - Letônia
Dentist - EUA

18h - PANORAMA 2 - faixa etária 16 anos
O Divino De repente - Fabio Yamaji - Brasil
Graveyard - Michaela Pavlátová - Republica Tcheca
Dossiê Rê Bordosa - Cesar Cabral - Brasil
Balloons - Jonas Brandão - Brasil
Terra - Sávio Leite - Brasil
Volver A Sorte - Leonardo Domingues e William Paiva - Brasil
Companheiro Pop-up - Ricardo e Rodrigo Piologo Rogério Vilela - Brasil
Western Spagheti - PES - EUA
Fantástico Morales - Jossie Malis - Espanha
Une historie Vertebrale - Jeremy Clapin - França

19h - PANORAMA 3 - faixa etária 16 anos
Rubicom - Gil Alkabetz - Alemanha
The Seed - Johnny Kelly - Reino Unido
Jumento Santo e a cidade que se acabou antes de começar - Leonardo Domingues e William Paiva - Brasil
Black thin King - Denis Kamioka, Luciana Eguti e Paulo Muppet - Brasil /Espanha
Aula de Yoga nº34 - Gordeeff, Cláudio Roberto - Brasil
Santa de Casa - Allan Sieber - Brasil
One - Diego Stoliar - Brasil
Praxedes - Bruno Maron - Brasil
Lavatory Love Story - Konstantin Bronzit - Russia

Domingo, 13 de março de 2011
Programação dia 19/03 - 20 horas
Programa IGOR KOVALYOV - faixa etária- 16 anos
Hen, his Wife - Rússia, 1989
Andrei Svislotsky - Rússia, 1991
Bird in the Window - EUA, 1996
Flying Nansen - EUA, 2000
0Milch - EUA, 2005

Programação de 20/03 - 15 horas
SESSÃO INFANTIL 2 - faixa etária livre
Meu AmigãoZão Castelo nas Nuvens - André Lieban - Brasil
Cantigas de Roda: Como pode viver o peixe - Frata Soares - Brasil
Rua das Tulipas - Alê Camargo - Brasil
Musicaixa - Jackson Abacatu - Brasil
Minhoca na Cabeça - Alexander Geifman - Brasil / Israel
Cantigas de Roda: Atirei o pau no gato -Sergio Glenes - Brasil
Menina da chuva - Rosária Moreira - Brasil
Juro que vi: Matinta Pereira - Humberto Avelar - Brasil

Programação de 20/03 - 16 horas
SESSÃO INFANTIL 3 - faixa etária livre
Cantigas de roda:
Eu entrei na roda - Eduardo Duval - Brasil
Wilbor - Rodrigo Gava - Brasil
Pacha - Jossie Malis - Espanha
A Noite de Saguanel - Janete Kriger - Brasil
Aquarela - Andrés Lieban - Brasil
Bolota e Chumbrega
Um guarda chuva muito especial - Frederico Pinto - Brasil
Doce Ballet - Lina e Maira Fridman - Brasil
A velha a fiar - Wagner de Freitas - Brasil
Tromba Trem - O estrangeiro - José Luiz Brandão Albuquerque - Brasil

Programação de 20/03 - 17 horas
PANORAMA 4 - faixa etária 16 anos
The Deep - PES - EUA
Sereia - Yannet Briggiler e Rodrigo Amboni - BR
A Mosca - Samira Daher - Brasil
Sexteens - Juan Pablo Zaramella - Argentina
Josué e o pé de macaxeira - Diogo Pereira Viegas - Brasil
Cortejo - Marilia Poggiali - Brasil
Uh. uh. uh. lá. lá. lá. ié. ié! - Leonardo Gibran, Luciana Eguti, Paulo Muppet e Rafael Coutinho - Brasil
Passo - Alê Abreu - Brasil
Morir de amor - Gil Alkabetz - Alemanha

Programação de 20/03 - 18 horas
PANORAMA 5 - faixa etária 16 anos
Butler - Erik Rosenlund - Suécia
Bonequinha do Papai - Luciana Eguti, Paulo Muppet -Calango Lengo
Morte e vida sem ver água - Fernando Miller - Brasil
O Artilheiro - Gordeeff, Cláudio Roberto
e Clementino Jr. - Brasil
Animadores - Allan Sieber - Brasil
Imagine uma menina com cabelos do Brasil - Alexandre Bersot - Brasil
Dr. Frankenstein - Alessandro Correa
Um Lugar comum - Jonas Brandão - Brasil
Patty, short film in perverses - Matej Lavrencic - Eslovênia

Programação de 20/03 - 19 horas
Melhores animações da Universidade HFF KONRAD WOLF - faixa etária 16 anos
Gack Gack - Olaf Encke
Lazy Sunday Afternoon - Bert Gottschalk
Bsss- Felix Gönnert
Cherchez Le femme - Daniel Höpfner
Tauro - Matthias Daenschel
Jam Session - Izabela Plucinska
Berggeheimnis - Jana Müller
Liebelei - Theresa Strozyk
Smoke - Claudia Romero Caorsi

Programação dia 20/03 - 20 horas
LONGA-METRAGEM ADULTO - faixa etária 16 anos
WOOD & STOCK, Sexo, Orégano e Rock'n?roll 81 minutos
de Otto Guerra Neto - Brasil

terça-feira, 15 de março de 2011

São Paulo sedia congresso internacional sobre quadrinhos

Em agosto São Paulo sediará um congresso científico internacional de quadrinhos. Quem avisa e convoca para inscrições é o jornalista e pesquisador Paulo Ramos (http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br), que participa da organização do evento através do Observatório de Histórias em Quadrinhos da USP, fundado há 20 anos e presisido pelo professor Waldomiro Vergueiro.

De acordo com Ramos, as I Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos terão moldes inéditos no país. "Ele conta com um comitê científico formado por 21 pesquisadores de universidades brasileiras e de outros países, todos doutores e de áreas diferentes. São eles que irão avaliar os resumos e artigos inscritos".

Os resumos podem ser enviados até 31 de março e a inscrição para ouvintes vai até 31 de julho, no site do evento.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Cine PE divulga seleção de curtas

O Cine PE acaba de divulgar a seleção competitiva de curtas de sua 15ª edição, que se realiza entre 30 de abril a 6 de maio, no Teatro Guararapes.

Os curtas digitais foram selecionados pela pesquisadora Amanda Mansur, a fotógrafa e diretora Tuca Siqueira e o diretor de arte e cenografia Diogo Balbino. Já os curtas em 35mm foram escolhidos por pela documentarista Cynthia Falcão, o cineasta Lula Gonzaga e o produtor Marcos Castro.

Entre os títulos estão obras inéditas como Calma, Monga, Calma!, de Petrônio Lorena, e outras já conhecidas de outros festivais, como As aventuras de Paulo Bruscky, de Gabriel Mascaro. Acercadacana, de Felipe Peres Calheiros, foi o grande vencedor do último Festival de Brasília.

Leia matéria sobre Acercadacana aqui.

A seguir, a lista completa dos curtas do Cine PE.

CURTAS-METRAGENS EM DIGITAL

-A Casa da Vó Neyde (SP), Documentário, Direção: Caio Cavechini, 20’
-As Aventuras de Paulo Bruscky (PE), Documentário, Direção: Gabriel Mascaro,19’
-Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo (RS), Animação, Direção: Rodrigo John, 07’
-Flash (SP), Ficção, Direção: Alison Zago, 17’
-Muita Calma Nessa Hora (RS), Ficção, Direção: Frederico Ruas, 8’
-O Rei e Eu (PR), Ficção, Direção: Diego Lopes e Cláudio Bitencourt, 22’
-O Som do Tempo (CE), Documentário, Direção: Petrus Cariry, 10’
-Ovos de Dinossauro na Sala de Estar (PR), Documentário, Direção: Rafael Urban, 12’
-Peixe Pequeno (PE), Documentário, Direção: Vicent Carelli e Altair Paixão, 03’
-Tempo de Criança (RJ), Ficção, Direção: Wagner Novais, 12’
-Traz Outro Amigo Também (RS), Ficção, Direção: Frederico Cabral, 14’
-Vou Estraçaiá (PE), Documentário, Direção: Tiago Leitão, 20’


CURTAS-METRAGENS EM 35MM

- A Casa das Horas (CE), Ficção, Direção: Heraldo Cavalcanti, 19’
- ACERCADACANA (PE), Documentário, Direção: Felipe Peres, 20’
- Braxília (DF), Documentário, Direção: Danielle Proença, 17’
- Cachoeira (AM), Ficção, Direção: Sérgio Andrade, 14’
- Café Aurora (PE), Ficção, Direção: Pablo Polo, 19’
- Calma Monga, Calma (PE),Ficção , Direção: Petrônio Lorena, 19’
- Carreto (BA), Ficção, Direção: Cláudio Marques e Marília Hughs, 12’
- Estação (SP), Ficção, Direção: Márcia Faria, 15’
- Fábula das Três Avós (SP), Ficção, Direção: Daniel Turini, 17’
- Falta de Ar (DF), Ficção, Direção: Ércio Monerat, 20’
- Haruo Ohara (PR), Documentário, Direção: Rodrigo Grota, 16’
- Janela Molhada (PE), Documentário, Direção: Marcos Enrique Lopes, 20’
- Matinta (PA), Ficção, Direção: Fernando Segtowick, 20’
- Mens Sana In Corpore Sano (PE), Ficção, Direção: Juliano Dornelles, 20’
- Náufragos (SP), Ficção, Direção: Gabriel de Almeida e Matheus Rocha, 15’
- O Céu no Andra de Baixo (MG), Animação, Direção: Leonardo Cata Preta, 15’
- O Contador de Filmes (PB), Documentário, Direção: Elinaldo Rodrigues, 15’
- Tempestade (SP), Animação, Direção: César Cabral, 10’

Jehovah leva a vida na gaita



Jehovah da Gaita é um dos maiores instrumentistas brasileiros, mas continua praticamente desconhecido em sua terra natal. Em 52 anos de carreira ele gravou e tocou com mais de 200 artistas. E ainda hoje tem garra para mostrar seu trabalho em palcos da cidade. Jehovah Tavares de Lucena nasceu no bairro da Boa Vista e, apesar de ter sangue artístico na família (é sobrinho de Aberlardo da Hora e Claudionor Germano), quando jovem ele queria entrar para a Aeronáutica. Mudou de ideia quando, aos 14 anos, assistiu o filme Sempre no meu coração (EUA, 1942), que contava com uma orquestra de gaitas liderada pelo harmonicista russo Borrah Minevitch. "Aquilo me deixou fascinado", lembra o mestre, que comprou uma gaita na feira assim que pode e aprendeu a tocar por conta própria. "Era o único instrumento que dava pra colocar no bolso e levar pra todo canto".

No começo dos anos 1960, Jehovah se juntou com os irmãos Damasceno e sob o nome de Trio Harmônico gravou seu primeiro disco, Cha Cha Cha, Twist, etc, lançado pela Rozemblit. Hoje, o artista que já acompanhou Toots Thielemans, Paulo Moura e Raul de Souza se dedica ao ensino do instrumento às novas gerações (ele dá aula no bairro das Graças, onde mora) e a shows esporádicos. O próximo será sexta-feira, 22h, ao lado de Renato Bandeira, na Casa de Seu Jorge (Av. Santos Dumont, 1066 - Rosarinho).

Jehovah também é referência nacional em manutenção e conserto de gaitas, sendo o único no Norte e Nordeste que oferece esse tipo de serviço. A tarimba rendeu a ele o status de endorsee da Bends, famosa marca' de harmônicas, que fabrica um modelo especial de acordo com suas orientações. Tirei todos os defeitos que encontrei nas outras, como a chave dura, a oxidação".

Em entrevista concedida ao Diario durante o último Garanhuns Jazz Festival, Jehovah contou sobre sua arte e vida, sem deixar de fora uma crítica aos conterrâneos: "Nunca vi terra tão madastra com os filhos. O povo tem vergonha até de aplaudir, mas qualquer porcaria que vem de fora leva tudo, até cachê adiantado". Leia mais a seguir.

Entrevista // Jehovah da Gaita: "Artista hoje é igual programa de computador, programado para ter seis meses de sucesso e depois sumir"

Como foi sua formação musical?
Fui criado na casa da minha avó, onde tio Abelardo tinha uma vitrola antiga, daquelas de corda, onde passava o dia ouvindo música erudita. Tanto que o aparelho se acabou e o meu grande troféu foi ele ter me dado todos os discos e a vitrola, que eu consertei. Aí comecei a conviver com os grandes mestres: Korsakov, Tchaikovsky, Dvorák, Politov, Ivanov. E abri o leque para os compositores com quem eles aprenderam. São grandes mestres, que comiam, dormiam, acordavam, bebiam e viviam música e apesar disso serem tratados como pessoas de segunda categoria, empregados da corte.

E por que elegeu a gaita como instrumento?
Tem instrumentos que ou você rejeita imediatamente ou ama de paixão. É o caso da harmônica, conhecida vulgarmente como gaita. É um instrumento extremamente melódico e que revela muito do músico que a toca. Costumo dizer que ela está na boca, bem pertinho do coração. Tanto que ela nasceu para ser companhia de pastores, marinheiros, andarilhos, que passavam muito tempo longe de suas casas.

De onde veio o gosto pela harmônica cromática (com botão, capaz de tocar as 12 notas da escala)?
Minha primeira gaita era diatônica, de escala simples, que me decepcionou pois queria tocar Maracangalha, de Dorival Caymmi, mas faltava uma nota. Pensei: que gaita vagabunda! Até que conheci um cara chamado Eduardo Nadruz, conhecido como Edu da Gaita e me apresentou a harmônica cromática, o que me permitiu tocar todas as notas da música.

A gaita ficou popular a partir dos anos 1940, através de Hollywood. E hoje, como está o instrumento?
Apesar de serem vendidas 13 milhões de unidades por ano, a gaita ainda é considerada por muitos como brinquedo pra criança. Então antes é preciso provar que ela é um instrumento para depois o músico ser creditado para trabalhar. Ainda assim, é como um sacerdócio, pois ser músico no Brasil é ser cidadão de segunda categoria. Você toca numa casa e a última pessoa que o garçom pergunta se quer água é ao músico.

Então você se sente como os músicos da corte?
Sim. Apesar de que tenho um público fiel que vai para os shows, isso é que gratifica. É como uma eleição em que não fui eleito, mas estou recebendo votos de qualidade. Jamais estive em paradas de sucesso, não quero, detesto, nunca vi parada de sucesso que prestasse para o músico. Tenho 67 anos e já vi muita gente subindo e descendo. Artista hoje é igual programa de computador, programado para ter seis meses de sucesso e depois sumir.

Você também tem uma carreira na publicidade como criador de jingles. Ainda recebe encomendas?
Desisti da publicidade nos anos 1990, mas continuei aceitando compor por encomenda. Mas hoje estou me precavendo. A melodia que concebi com arranjos de Sérgio Campelo (do Sá Grama) para ser usada na série de TV Auto da Compadecida já comprei como tema pra celular, sem o crédito dos artistas. Nunca recebi um tostão por isso. A música foi pro cinema e também não recebi nada.

Nos últimos anos, você se apresentou em restaurantes e praças de alimentação. O que tem feito atualmente?
Graças a essas atividades, sou convidado a me apresentar em eventos. Mas parei de fazer música de fundo, onde você convive com celular tocando, gente discutindo o preço do arroz ou política... O povo não vai pra ouvir a música, que vira um mero digestivo.

(Diario de Pernambuco, 14/03/2011)

domingo, 13 de março de 2011

Recife sediará 1º Encontro Nacional de Estudos sobre Quadrinhos e Cultura Pop

O Recife será sede do primeiro Encontro Nacional de Estudos sobre Quadrinhos e Cultura Pop. O evento será realizado entre 20 a 31 de julho, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e reunirá pesquisadores que se dedicam a estudar as histórias em quadrinhos e o universo a seu redor.

"Os interessados em participar podem propor atividades como mesas-redondas, grupos de trabalho e comunicações livres", informa o professor Amaro Braga, presidente da comissão organizadora.

O envio de propostas pode ser feito até 14 de abril através do email encontrohq@gmail.com. Mais informações estão disponíveis no blog do evento.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Coluna de lançamentos e notas de bastidores da semana

Lançamentos



A rede social (The social network, EUA, 2010). De David Fincher. 117 minutos. Sony.

Dizem que é sobre a criação do Facebook e seus nada agradáveis bastidores, mas o que o novo filme de David Fincher (Clube da luta, Benjamin Button) faz é expor o modo operacional da geração 2.0. Tanto faz se nome do personagem principal é Mark Zuckerberg ou se os fatos estão posto como ocorreram. Vencedor de três Oscar (roteiro adaptado, montagem e trilha), o filme usa narrativa tradicional para mostrar como a alienação contemporânea pode ser bastante lucrativa.



Red - aposentados e perigosos (EUA, 2010). De Robert Schwentke. 105 minutos. Paris.

Os herois dos filmes de ação estão ficando velhos e, claro, é preciso fazer um filme sobre isso. A ideia original veio dos quadrinhos. A adaptação traz elenco liderado por Bruce Willis, Morgan Freeman, John Malkovich e Helen Mirren, com participação de ícones do passado como Ernest Borgnine e Richard Dreyfuss. Willis é agente aposentado da CIA que quando vira alvo de assassinos, convoca ex-companheiros de volta à ativa, Uma homenagem onde não faltam clichês e bom humor.



London River - destinos cruzados (Inglaterra/França, 2008). De Rachid Bouchareb. 87 minutos. Califórnia.

Os atentados ao metrô de Londres mobilizaram Elisabeth (Brenda Blethyn), que interrompeu a vida campestre porque não consegue falar com a filha, e Ousmane (Sotigui Kouyaté, Urso de Prata em Belim 2009), que veio da França à procura do filho que não vê há 15 anos. Enquanto o preconceito cultural não permite maiores aproximações - Elisabeth representa a Inglaterra branca e cristã, enquanto Osmane é negro e muçulmano - eles descobrem que os filhos viviam juntos e podem ter participado ativamente da ação terrorista.

Bastidores

Caos - Durante o carnaval, foi impossível assistir filmes nos complexos UCI Ribeiro Recife (Boa Viagem) e Tacaruna (Olinda). Na terça, apesar das filas gigantescas, nem todos os caixas estavam abertos. A demora gerou irritação e, para piorar, o ar-condicionado do complexo de Boa Viagem funcionava apenas a 60% da capacidade.

Novo - João Jr. e equipe da REC Produtores pesquisam locações para o longa Tatuagem, de Hilton Lacerda (Cartola - música para os olhos). O filme será rodado em outubro, no Recife e em Olinda.

Edital 1 - Produtores locais apontam desproporção no primeiro peneirão do BNDES Cinema 2010. De 29 projetos, fazem defesa oral um candidato do Sul e três do Nordeste, entre eles o pernambucano Armorialma. Os 25 projetos restantes vêm do Sudeste.

Edital 2 - A Ancine abre inscrições em seu site para edital de coprodução com o Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA). US$ 800 mil serão investidos em quatro longas. Inscrições até 11 de abril.

Histórico - Desde o começo deste mês o histórico Cinema Polytheama voltou a exibir filmes. Fundado em 1912 em Goiana e reformado em abril do ano passado, a sala esteve ociosa até o último 6 de fevereiro, quando foi ocupada pelo Cineclube Iapôi. As sessões são sempre aos domingos, 16h, com entrada franca.

(Diario de Pernambuco, 10/03/2011)

quarta-feira, 9 de março de 2011

O lagarto é a lei



Um desenho animado ou um inventário de referências cinéfilas? Eis a dúvida levantada por Rango (EUA, 2011), novo longa da Paramount dirigido por Gore Verbinski (Piratas do Caribe). Estrelada por um lagarto (voz original de Johnny Deep), a produção acerta ao revisitar um velho oeste habitado por animais do deserto. E funciona bem tanto como produto de entretenimento como homenagem a grandes filmes do passado.

Em determinados momentos, estúdios revisitam o gênero western, e este parece ser um deles. Recentemente, Bravura indômita, deixou sua marca. Assim como o filme dos irmãos Coen, o de Verbinski está situado no período de transição entre a América antiga e moderna. A pistola ainda era a lei, mas começava a perder espaço para políticos e seus projetos de urbanização.

Essas questões estão no desenho de forma enviezada, mais como tributo aos filmes de Sam Peckimpah (Meu ódio será tua herança) do que preocupação legítima. O motivo maior de Rango é fazer rir, e isso ele consegue. Principalmente pela inépcia do lagarto em cumprir papel de heroi. E de uma banda de corujas mexicanas, que se esfprã para entrar com o tema musical na hora errada.

Apesar do excesso de citações, que vão de Pulp fiction a Star Wars, os que não conhecem tais filmes não deixam de acompanhar a história. Ou seja, funciona bem com crianças. Para estas, não deixa de ser uma introdução ao faroeste, principalmente ao cinema de Sérgio Leone.

Aos poucos, o lagarto assume o papel que já foi de Clint Eastwood, o justiceiro sem nome cujo maior inimigo é uma cobra gigante com chapéu, olhos e bigode do eterno vilão vivido por Lee Van Cleef. Ao serem manipulados por um prefeito ganancioso, eles vivem a mesma rivalidade de Pat Garret & Billy the Kid (Jason Coburn e Kris Kristofferson), de Peckimpah. Não há mais espaço para heroísmos e outras liberdades. Eles representam um período, como diz o jargão, crepuscular.

O dilema de Rango, que na verdade é um lagarto de estimação e vive em ambiente urbano, é voltar para casa ou assumir a identidade de xerife. Enquanto descobre o que realmente quer, defende os seus. Durango Kid não faria melhor.

(Diario de Pernambuco, 09/03/2011)

Garanhuns Jazz Festival - 3ª noite



O retiro musical do Garanhuns Jazz Festival não foi propriamente religioso, mas certamente elevou o espírito de cerca de cinco mil pessoas que optaram por evitar o carnaval sem apelar para a TV. Tome como exemplo o arranjo de Jehovah da Gaita para Georgia on my mind, o famoso spiritual de Ray Charles. Suas frases se uniram com a voz da cantora Cida Maria, o que gerou o momento mais emocionante dos três dias de programação. Assim como Jehovah, o festival está de parabéns por ter apresentado grandes instrumentistas de Pernambuco, que só não aparecem mais por falta de oportunidade e valorização.

Jehovah fez parte do encontro de harmônicas, promovido na noite de segunda-feira. Ladeado por Jefferson Gonçalves e Flávio Guimarães, Uptown na ´cozinha`, Jehovah foi reverenciado no palco e na plateia, formada por diferentes gerações. Houve tempo para lembrar de Tavares da Gaita, mestre de Caruaru, em homenagem de Jefferson Gonçalves, que tocou Baião fazendo a base e o solo ao mesmo tempo. Pena que durou pouco.

Os gaitistas brasileiros fizeram um show enxuto para não atrasar a performance de Rick Estrin & The Nightcats. O grupo chegou a Garanhuns no fim de tarde e logo depois estava tocando a mil por hora um repertório que nos teleportou aos loucos anos 1950. A figura caricata, teatral e divertida de Mr. Estrin, que dançou sobre clichês do rock'n'roll, foi a sensação do festival.

Veja video aqui e galeria de fotos aqui.

As pessoas deliraram quando ele tocou sem as mãos, com a gaita dentro da boca. Igualmente quando todos os músicos tocaram de costas para o público, com os instrumentos nas costas. Minutos depois do bis de Estrin o clima ainda estava quente e a Irmandade do Blues jogou a favor. Sem André Matos, que cancelou participação, o grupo encerrou o festival entre o rock e o blues.

Em sua quarta edição, o evento Garanhuns Jazz começou bem e manteve o alto nível em toda a programação. De acordo com o produtor Giovanni Papaleo, o público foi ainda maior do que no ano passado. Enquanto, o festival ganha estrutura (este ano a área coberta foi maior). “Procuramos crescer com qualidade. Muita gente quer um festival mega mas preferimos manter numa dimensão intermediária, sem apelar para o fácil, mas para atrações inusitadas”. Ele diz que a participação da iniciativa privada é essencial para manter a independência, como a do uisque Jack Daniels, a bebida oficial do Garanhuns Jazz. “Queremos que o governo participe, mas não podemos depender disso”.

Pai e filho - No palco e fora dele, durante os demais shows, Jehovah da Gaita e Jefferson Gonçalves circularam juntos como pai e filho. Eles são parceiros de longa data e Jehovah colaborou no último álbum de Jefferson. Ponto positivo para o festival, que os reuniu novamente. E se Jefferson lembrou de Tavares da Gaita no palco, outro participante do festial, Flávio Guimarães disse nos bastidores que guarda sete gravações inéditas dele, feitas em 1999. ´São composições dele, tocadas só na gaita, que na minha opinião deveriam ser lançadas do jeito em que estão, pelo valor de arquivo`, argumentou Guimarães.

Quatro dias - Antes da homenagem ao jornalista Fernando Castelão, recebida pelo seu filho Sérgio, o prefeito de Garanhuns Luiz Carlos de Oliveira anunciou que em 2012 o festival ganhará um dia a mais: a terça-feira. Ou seja, se estenderá pelos quatro dias de carnaval. “Sempre foi a minha
vontade. Agora que contamos com o apoio de empresas do sul e multinacionais, podemos realizar”, disse Papaleo. Fica a dica para que a prefeitura apoie a programação paralela, que ano passado movimentou a cidade após a programação oficial.

(Diario de Pernambuco, 09/03/2011)

terça-feira, 8 de março de 2011

Garanhuns Jazz Festival 2011 - 3ª noite (as fotos)


Rick Estrin & The Nightcats, deram as costas para o público, que pediu mais


O estilo caricato de Estrin em um dos melhores momentos do festival


Flávio Guimarães, Jefferson Gonçalves e Jehovah da Gaita: grande encontro fez tributo a Tavares da Gaita


Flávio Guimarães toca Got my mojo working


Jehovah tocou bela versão para Georgia on my mind

segunda-feira, 7 de março de 2011

Rick Estrin acaba de chegar a Garanhuns



Rick Estrin & The Nightcats acabam de chegar ao Garanhuns Jazz Festival, onde participa hoje à noite do encerramento. Nem bem chegou à cidade e o grupo subiu no palco para a passagem de som. O pouco que ele mostrou foi suficiente para sentir que o show de logo mais vai dar o que falar.

Para quem estiver no Recife e arredores, ainda há tempo para conferir. O show de Mr. Estrin deve começar por volta da meia noite, ou "after midnigth", como preferem os bluseiros.

Garanhuns Jazz Festival 2011 - 2ª noite



Carlos Johnson foi a grande estrela da segunda noite do Garanhuns Jazz Festival. Já era tarde (1h) quando o bluesman começou a tocar, mas parte do público esperou e assistiu a um show de primeira linha. Assim que plugou a guitarra e soltou as primeiras notas, algo especial surgiu no palco. Uma sonoridade e presença que não estão na técnica ou no instrumento, mas que só os nascidos naquela cultura podem reproduzir. Seus solos, ora contidos, ora caudalosos, trazem a lição de que uma única nota retirada do silêncio pode dizer mais do que centenas espremidas no mesmo espaço. Aliás, o silêncio é o blues. Com a segurança tranquila de quem não precisa provar nada a ninguém, é de Johnson o melhor show do festival, até o momento.



Abrindo a programação de domingo, Robertinho Silva mandou bem com os dezesseis garotos do grupo Batuque de Garanhuns, que há quatro anos pesquisa os ritmos pernambucanos. Aos tradicionais maracatu, afoxé, um dos mestres bateristas da MPB introduziu batidas de outras regiões do país como o jongo da serrinha e a congada mineira. “Ele também nos ensinou a improvisar novos instrumentos, como as tampas de lata nos joelhos e o próprio corpo”, disse Cristal Notaro, que coordena o projeto. Faltou a matriz indígena, a única que Garanhuns teria ligação direta.

Na sequência, Sonoris Fábrica não deixou a bola cair. Com arranjos ousados para músicas tradicionais, o grupo impressionou o público de Garanhuns. Foi um momento especial para o violinista e Sergio Ferraz, que nasceu na cidade.


Sonoris Fabrica


Big Joe Manfra

Setenta quilos mais magro, Big Joe Manfra injetou agilidade e adrenalina no encontro de guitarristas, que trouxe o paulista Igor Prado e o gaúcho Fernando Noronha. Começou bem, mas o excesso de músicos na metade final (foram seis, contando com Artur Menezes, Danny Boy da Uptown e de Jonathan Richard, do The Bluz) bagunçou o coreto. De qualquer forma, foi bom assistir Manfra em boa forma e solos arrasadores. E a performance de Igor Prado, citado por Rick Estrin como um dos bons exemplos do blues made in Brazil, é realmente de tirar o chapéu.

Mestres de fôlego



Haja fôlego para a noite de encerramento do Garanhuns Jazz Festival. São nada menos que cinco mestres do sopro reunidos no Palco Ronildo Maia Leite, na Praça Guadalajara. O maior deles, Rick Estrin, fez sua história com a gaita cromática (com botão, capaz de tocar as 12 notas da escala) e acaba de chegar da Califórnia com o grupo The Nightcats, a saber: J. Hansen, Loranzo Farrell e Kid Andersen. Por 30 anos, eles foram conhecidos como Little Charlie and The Nightcats. Com o afastamento de Charlie Baty, em 2008, Estrin assumiu a banda.

Antes de Estrin, que concedeu entrevista a seguir, haverá um encontro de três gerações da harmônica brasileira: o pernambucano Jehovah da Gaita e os cariocas Flávio Guimarães (fundador do Blues Etílicos, banda pioneira do gênero no país) e Jefferson Gonçalves. Jehovah toca gaita cromática há mais de meio século. Nos anos 1960 fundou o Trio Harmônico com os irmãos Emílio e Ênio Damasceno. É talvez um dos músicos de gaita mais antigos em atividade no Brasil.

´Ele tem um conhecimento musical que poucos têm`, diz Flávio Guimarães, que conheceu e tocou com Jehovah durante um encontro internacional de harmônicas, promovido por ele em São Paulo. ´Hoje, para demonstrar destreza, as pessoas estudam muito técnica e velocidade, um virtuosismo quase atlético. Antes, o estilo que se tocava era mais voltado para melodia. Eu prefiro assim.` Guimarães, que toca a gaita diatônica (de dez furos, usada para o blues), se coloca em uma geração intermediária entre Jehovah e Jefferson Gonçalves (que foi seu aluno).

Também adepto da diatônica, Jefferson começou na banda Baseado em Blues, com rápida passagem na Blues Etc, para se lançar em bem sucedida carreira solo. Em 2004 lançou o álbum Gréia.

Todos os músicos que tocam hoje à noite devem concordar que a grande ausência do encontro é a do mestre de Caruaru, Tavares da Gaita (1925-2009). ´O que ele fazia eu nunca vi ninguém fazer. Ele inventou uma forma de tocar. Tinha um balanço único pra o baião, fazia ritmo e acompanhamento ao mesmo tempo, parecia que estava ouvindo um acordeon`, diz Flávio.

Abrindo a programação está a Banda de Pífanos Folclore Verde, do Mestre Romão & João Faustino, fundada em 1817 e formada por músicos da comunidade quilombola do Castainho, no município de Garanhuns.

Entrevista//Rick Estrin: "Hoje os artistas são muito parecidos entre si"

Como será o show?

Vai ser divertido e espontâneo. Com exceção de uma ou duas, todas as músicas são minhas ou de membros da banda.

Você é conhecido pela grande presença de palco. De onde vem esse talento?
Quando era jovem tive a chance de ficar próximo de grandes performers como Muddy Waters, Junior Wells e BB King. Quando fiz 18 anos, Roger Collins me levou para a estrada e pude constatar como uma boa performance é capaz de atrair audiência. Então resolvi investir na minha personalidade e construir a minha própria carreira.

Quando você percebeu ter chegado a um estilo próprio?
Comecei a me diferenciar em 1978, quando me juntei ao Charlie e fundamos o The Nightcats.

Seu trabalho remete aos anos 1950. O que há de tão especial nessa década?
Foi um tempo especial, de grandes músicos. Hoje os artistas são muito parecidos entre si, mas naquela época, você ouvia algo novo e sabia de quem era. Além disso, havia diferentes ritmos e jovens procurando por algo estimulante. Havia mais estilo e música honesta, nãoera como um evento olímpico pra ver quem toca mais rápido. A ideia era entregar uma mensagem, fazer o público sentir a música.

E o seu visual?
Foi natural, desde quando comecei tocando em clubes. Apenas quis me parecer com aquilo em que acredito.

Como foi sua formação musical?
Queria ser músico desde criança, mas comecei a tocar gaita com 15 anos. Aprendi a tocar sozinho, ouvindo discos de Jimmy Reed, Little Walter, Sonny Boy Williamson e outros clássicos. Aos 18, comecei a tocar em clubes, onde tive a oportunidade de estar com o Lowell Fulson, um grande cara.

O que você aprendeu com Muddy Waters?
O principal foi a validação de que eu estava no caminho certo. Ele me deu muita confiança nesse sentido.

O que acha do blues feito no Brasil?
Acho que, se a música vem do coração e for boa, não importa em que país ela é feita.

Algumas pessoas no Brasil dizem que você se parece um comediante da TV, chamado Zé Bonitinho. O senhor o conhece?
(Risos) Não, mas gostaria de conhecê-lo.

(Diario de Pernambuco, 07/03/2011)

domingo, 6 de março de 2011

Garanhuns Jazz Festival 2011 - 1ª noite



Metaleiros dançando blues é a imagem que melhor resume a primeira noite do Garanhuns Jazz Festival. Tudo a ver com o objetivo democrático do evento. O maior responsável se chama Andreas Kisser. Apesar de ter vindo sem o Sepultura, o guitarrista atraiu uma legião de fãs, que se misturou à gente boa que tomava uísque nas mesas em frente ao palco. Estes curtiram bastante os shows anteriores. Mas começaram a sumir na medida em que as notas distorcidas de Kisser e Artur Menezes convocavam cada vez mais jovens com garrafas de vinho barato, camisetas pretas, tatuagens e cabelos coloridos. Nem todas as barreiras podem ser quebradas de uma vez.

O show dos guitarristas com a Uptown Band ateou fogo em uma noite que foi esquentando aos poucos. Às 21h, quando o grupo Grupo Afro Estrela abriu as atividades, nem havia tanta gente. Logo depois, Dom Angelo Jazz Combo atraiu atenção com standards famosos na voz de Frank Sinatra, interpretadas por Arthur Philipe. O projeto é instrumental mas para o festival investiu em músicas facilmente reconhecíveis. Mais animosidade despertou Atiba Taylor, que entre outras cantou Take me to the river e Unchain my heart. Norte-americano radicado em Alagoas, Taylor ocupa posto ocupado que ano passado foi de Karl Dixon, só que com mais talento musical e menos presença de palco.

Quanto a Don Angelo, fica a impressão de que o talento dos músicos talvez tenha sido desperdiçado em repertório óbvio demais. Após o show, Angelo Mongiovi disse que a oportunidade de conferir suas músicas autorais será no próximo dia 19, em show no Santander Cultural.

Caso à parte foi o Quinteto Violado, que apesar de ter passado o dia na maratona do Galo da Madrugada, chegou em tempo e fez um show de classe baseado em música nordestina e também no samba paulista, em arranjo jazzy para Trem das onze, de Adoniran Barbosa, um dos melhores momentos da noite. No backstage, Dudu Nobre disse que os 40 anos do Quinteto serão comemorados a partir de maio, em exposição no Centro Cultural Correios, lançamento de livro e gravação do DVD em outubro, no Teatro da UFPE.

Ao som dos primeiros riffs de Heartbreaker, do Led Zeppelin, Andreas Kisser provocou assim que subiu no palco. Talvez a melhor síntese entre o metal e o blues, Whole lotta love, também do grupo britânico, eletrizou a plateia e caiu como uma luva para entender a presença de Kisser no festival. Seu único rival foi Artur Menezes, jovem prodígio que esbanjou talento e agilidade em solos que remetem a seus ídolos BB King, Albert Collins e Stevie Ray Vaughan. O público deliroue continuou a se manifestar por quase uma hora depois do show terminar. Sinal de que o Garanhuns Jazz começou bem.

Comunhão de ritmos



Robertinho Silva, um mestre do ritmo, abre as atividades de hoje no 4º Garanhuns Jazz Festival. Aos 70 anos, 52 de carreira, o baterista que já tocou com praticamente todos os grandes nomes da MPB se apresenta com os jovens do Grupo Batuque de Garanhuns. No palco, eles apresentam o resultado de uma das oficina promovidas pelo evento. "Ao maracatu, vou acrescentar outros ritmos do folclore brasileiro como a congada mineira, que aprendi nos anos 1970, quando fui baterista do Clube da Esquina", disse o músico ao Diario. "O nome do show será Tocando e contando história".

E história não falta para Robertinho, que foi apresentado a Milton Nascimento em 1965, através de Wagner Tiso. Antes disso, ele já tocava em boates e bailes da noite carioca. "Como os jogadores de futebol, havia os olheiros e as pessoas vinham me ver tocar. Eles achavam curioso porque eu tocava com orquestra lendo a partitura. Além disso, cheguei tocando o samba moderno".

De acordo com Robertinho, a tríade que modernizou o samba foi Milton Banana, Dom Um Romão e Edson Machado. Deste último, ele foi seguidor. "A bossa nova nasceu em 1958 e eu comecei no ano seguinte. A batida foi tirada do samba de tamborim, só que era tocado na caixa e no prato da bateria americana. Samba e jazz é a mesma harmonia, só muda o compasso".

Nascido no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro, Robertinho cresceu não com o samba, que ele ouvia somente no carnaval, mas ouvindo bastante forró. Criado em comunidade nordestina (seu pai é pernambucano), ele aprendeu o ritmo ainda criança. "Fui autodidata mas depois estudei os métodos americanos, porque só o talento não basta. Estudei teoria musical, estou pra lançar meu próprio método sobre ritmos brasileiros".

Entre os ritmos está o maracatu, que conheceu não pela raiz familiar, mas em 1995, quando veio ao Recife participar de um encontro internacional de percussão promovido por Giovanni Papaleo no Teatro de Santa Isabel. "Sou o único músico da família. Quando assisti o maracatu, pensei: foi daqui que veio meu DNA". No show de hoje, além de sambas, maracatu e baião, Robertinho toca forrós, entre eles, um arranjo próprio para Mulher rendeira.

Outras atrações da segunda noite do Garanhuns Jazz são Sonoris Fabrica, um encontro de guitarras com Big Joe Manfra (RJ), Igor Prado (SP) e Fernando Noronha (RS), com participação da banda The Bluz, de Caruaru. O encerramento com chave de ouro fica a cargo do guitarrista norte-americano Carlos Johnson, representante direto do blues elétrico de Chicago. Todos os shows se realizam no Palco Ronildo Maia Leite, montado na Praça Guardalajara, com entrada franca.

(Diario de Pernambuco, 06/03/2011)