quarta-feira, 9 de março de 2011

O lagarto é a lei



Um desenho animado ou um inventário de referências cinéfilas? Eis a dúvida levantada por Rango (EUA, 2011), novo longa da Paramount dirigido por Gore Verbinski (Piratas do Caribe). Estrelada por um lagarto (voz original de Johnny Deep), a produção acerta ao revisitar um velho oeste habitado por animais do deserto. E funciona bem tanto como produto de entretenimento como homenagem a grandes filmes do passado.

Em determinados momentos, estúdios revisitam o gênero western, e este parece ser um deles. Recentemente, Bravura indômita, deixou sua marca. Assim como o filme dos irmãos Coen, o de Verbinski está situado no período de transição entre a América antiga e moderna. A pistola ainda era a lei, mas começava a perder espaço para políticos e seus projetos de urbanização.

Essas questões estão no desenho de forma enviezada, mais como tributo aos filmes de Sam Peckimpah (Meu ódio será tua herança) do que preocupação legítima. O motivo maior de Rango é fazer rir, e isso ele consegue. Principalmente pela inépcia do lagarto em cumprir papel de heroi. E de uma banda de corujas mexicanas, que se esfprã para entrar com o tema musical na hora errada.

Apesar do excesso de citações, que vão de Pulp fiction a Star Wars, os que não conhecem tais filmes não deixam de acompanhar a história. Ou seja, funciona bem com crianças. Para estas, não deixa de ser uma introdução ao faroeste, principalmente ao cinema de Sérgio Leone.

Aos poucos, o lagarto assume o papel que já foi de Clint Eastwood, o justiceiro sem nome cujo maior inimigo é uma cobra gigante com chapéu, olhos e bigode do eterno vilão vivido por Lee Van Cleef. Ao serem manipulados por um prefeito ganancioso, eles vivem a mesma rivalidade de Pat Garret & Billy the Kid (Jason Coburn e Kris Kristofferson), de Peckimpah. Não há mais espaço para heroísmos e outras liberdades. Eles representam um período, como diz o jargão, crepuscular.

O dilema de Rango, que na verdade é um lagarto de estimação e vive em ambiente urbano, é voltar para casa ou assumir a identidade de xerife. Enquanto descobre o que realmente quer, defende os seus. Durango Kid não faria melhor.

(Diario de Pernambuco, 09/03/2011)

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