domingo, 6 de março de 2011

Comunhão de ritmos



Robertinho Silva, um mestre do ritmo, abre as atividades de hoje no 4º Garanhuns Jazz Festival. Aos 70 anos, 52 de carreira, o baterista que já tocou com praticamente todos os grandes nomes da MPB se apresenta com os jovens do Grupo Batuque de Garanhuns. No palco, eles apresentam o resultado de uma das oficina promovidas pelo evento. "Ao maracatu, vou acrescentar outros ritmos do folclore brasileiro como a congada mineira, que aprendi nos anos 1970, quando fui baterista do Clube da Esquina", disse o músico ao Diario. "O nome do show será Tocando e contando história".

E história não falta para Robertinho, que foi apresentado a Milton Nascimento em 1965, através de Wagner Tiso. Antes disso, ele já tocava em boates e bailes da noite carioca. "Como os jogadores de futebol, havia os olheiros e as pessoas vinham me ver tocar. Eles achavam curioso porque eu tocava com orquestra lendo a partitura. Além disso, cheguei tocando o samba moderno".

De acordo com Robertinho, a tríade que modernizou o samba foi Milton Banana, Dom Um Romão e Edson Machado. Deste último, ele foi seguidor. "A bossa nova nasceu em 1958 e eu comecei no ano seguinte. A batida foi tirada do samba de tamborim, só que era tocado na caixa e no prato da bateria americana. Samba e jazz é a mesma harmonia, só muda o compasso".

Nascido no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro, Robertinho cresceu não com o samba, que ele ouvia somente no carnaval, mas ouvindo bastante forró. Criado em comunidade nordestina (seu pai é pernambucano), ele aprendeu o ritmo ainda criança. "Fui autodidata mas depois estudei os métodos americanos, porque só o talento não basta. Estudei teoria musical, estou pra lançar meu próprio método sobre ritmos brasileiros".

Entre os ritmos está o maracatu, que conheceu não pela raiz familiar, mas em 1995, quando veio ao Recife participar de um encontro internacional de percussão promovido por Giovanni Papaleo no Teatro de Santa Isabel. "Sou o único músico da família. Quando assisti o maracatu, pensei: foi daqui que veio meu DNA". No show de hoje, além de sambas, maracatu e baião, Robertinho toca forrós, entre eles, um arranjo próprio para Mulher rendeira.

Outras atrações da segunda noite do Garanhuns Jazz são Sonoris Fabrica, um encontro de guitarras com Big Joe Manfra (RJ), Igor Prado (SP) e Fernando Noronha (RS), com participação da banda The Bluz, de Caruaru. O encerramento com chave de ouro fica a cargo do guitarrista norte-americano Carlos Johnson, representante direto do blues elétrico de Chicago. Todos os shows se realizam no Palco Ronildo Maia Leite, montado na Praça Guardalajara, com entrada franca.

(Diario de Pernambuco, 06/03/2011)

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