quarta-feira, 9 de março de 2011

Garanhuns Jazz Festival - 3ª noite



O retiro musical do Garanhuns Jazz Festival não foi propriamente religioso, mas certamente elevou o espírito de cerca de cinco mil pessoas que optaram por evitar o carnaval sem apelar para a TV. Tome como exemplo o arranjo de Jehovah da Gaita para Georgia on my mind, o famoso spiritual de Ray Charles. Suas frases se uniram com a voz da cantora Cida Maria, o que gerou o momento mais emocionante dos três dias de programação. Assim como Jehovah, o festival está de parabéns por ter apresentado grandes instrumentistas de Pernambuco, que só não aparecem mais por falta de oportunidade e valorização.

Jehovah fez parte do encontro de harmônicas, promovido na noite de segunda-feira. Ladeado por Jefferson Gonçalves e Flávio Guimarães, Uptown na ´cozinha`, Jehovah foi reverenciado no palco e na plateia, formada por diferentes gerações. Houve tempo para lembrar de Tavares da Gaita, mestre de Caruaru, em homenagem de Jefferson Gonçalves, que tocou Baião fazendo a base e o solo ao mesmo tempo. Pena que durou pouco.

Os gaitistas brasileiros fizeram um show enxuto para não atrasar a performance de Rick Estrin & The Nightcats. O grupo chegou a Garanhuns no fim de tarde e logo depois estava tocando a mil por hora um repertório que nos teleportou aos loucos anos 1950. A figura caricata, teatral e divertida de Mr. Estrin, que dançou sobre clichês do rock'n'roll, foi a sensação do festival.

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As pessoas deliraram quando ele tocou sem as mãos, com a gaita dentro da boca. Igualmente quando todos os músicos tocaram de costas para o público, com os instrumentos nas costas. Minutos depois do bis de Estrin o clima ainda estava quente e a Irmandade do Blues jogou a favor. Sem André Matos, que cancelou participação, o grupo encerrou o festival entre o rock e o blues.

Em sua quarta edição, o evento Garanhuns Jazz começou bem e manteve o alto nível em toda a programação. De acordo com o produtor Giovanni Papaleo, o público foi ainda maior do que no ano passado. Enquanto, o festival ganha estrutura (este ano a área coberta foi maior). “Procuramos crescer com qualidade. Muita gente quer um festival mega mas preferimos manter numa dimensão intermediária, sem apelar para o fácil, mas para atrações inusitadas”. Ele diz que a participação da iniciativa privada é essencial para manter a independência, como a do uisque Jack Daniels, a bebida oficial do Garanhuns Jazz. “Queremos que o governo participe, mas não podemos depender disso”.

Pai e filho - No palco e fora dele, durante os demais shows, Jehovah da Gaita e Jefferson Gonçalves circularam juntos como pai e filho. Eles são parceiros de longa data e Jehovah colaborou no último álbum de Jefferson. Ponto positivo para o festival, que os reuniu novamente. E se Jefferson lembrou de Tavares da Gaita no palco, outro participante do festial, Flávio Guimarães disse nos bastidores que guarda sete gravações inéditas dele, feitas em 1999. ´São composições dele, tocadas só na gaita, que na minha opinião deveriam ser lançadas do jeito em que estão, pelo valor de arquivo`, argumentou Guimarães.

Quatro dias - Antes da homenagem ao jornalista Fernando Castelão, recebida pelo seu filho Sérgio, o prefeito de Garanhuns Luiz Carlos de Oliveira anunciou que em 2012 o festival ganhará um dia a mais: a terça-feira. Ou seja, se estenderá pelos quatro dias de carnaval. “Sempre foi a minha
vontade. Agora que contamos com o apoio de empresas do sul e multinacionais, podemos realizar”, disse Papaleo. Fica a dica para que a prefeitura apoie a programação paralela, que ano passado movimentou a cidade após a programação oficial.

(Diario de Pernambuco, 09/03/2011)

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