terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Amor não termina na quarta feira de cinzas


Detalhe da HQ de Hélder Aragão, publicada na última Ragú.

O Fotógrafo


O site da Conrad informa que Didier Lefèvre, autor e personagem principal do livro O Fotógrafo, morreu do coração entre os dias 29 e 30 de janeiro. Apesar desta série lá fora estar no terceiro volume (premiado no último festival de Angoulême), os brasileiros puderam conferir apenas o primeiro volume, de uma narrativa claramente inovadora, publicado pela editora paulista. Ficamos na espera dos próximos...


O Fotógrafo , um dos melhores quadrinhos lançados no ano passado, refaz o percurso de Lefrève pelo Afeganistão em 1986 (quando o país foi invadido pela então URSS), junto com a organização Médicos Sem Fronteiras. Uma história contada em fotos, desenhos e textos em primeira pessoa, causando uma sensação de choque constante, entre a suavidade dos desenhos coloridos e a aspereza beligerante documentada nas fotografias em preto e branco. Para além da invasão, as imagens coletadas pelo francês revelam os costumes, biotipos e a cultura de um povo que, para a alegria de poucos, virou sinônimo de fanatismo e perigo.

Este blog presta homenagem a Lefrève reproduzindo abaixo uma das inúmeras passagens interessantes de O Fotógrafo. É só clicar na imagem (com o botão direito, pra ela abrir em outra janela), que ela aumenta. Bon voyage Lefrève!

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Borat, o fenômeno


“Veja a verdadeira America”, diz o trailer promocional do mais novo filme da Fox, “Borat”, recorde de bilheteria nos EUA, proibido na Rússia por ser “potencialmente ofensivo a grupos étnicos e religiosos” e indicado ao Oscar 2007 de Melhor Roteiro Adaptado.

Concebido para parecer um documentário de quinta categoria produzido pelo Ministério da Informação do Cazaquistão, o longa-metragem pertence à categoria de humor televisivo chamado de mockumentary, ou seja, ficção que simula um documentário, geralmente no formato de comédia. Nos anos 70, por exemplo, o grupo inglês Monty Python filmou a história dos Rutles, uma paródia dos Beatles, intitulada “All You Need is Cash”.


E é justamente com os bons e velhos comediantes do Monty Python que o ator inglês Sacha Baron Cohen está sendo comparado. Ele interpreta Borat Sagdiyev, “o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão”, uma improvável encarnação do preconceito em torno de moradores de países do antigo bloco soviético.


Fascinado pelos "U,S and A", Borat é patrocinado por seu governo para trazer “aprendizados culturais” sobre a vida nos EUA, e assim melhorar como nação. Apaixonado pela ex-atriz pornô Pamela Anderson assim que a vê pela TV do hotel, Borat cruza o país de New York a Los Angeles, entrevistando e aprendendo sobre o “país número 1 no mundo”.


Assisti ao filme semana passada, e dá pra dizer que ele supera o conceito estrito de ficção, já que os depoimentos filmados como reação aos absurdos que Borat diz e faz, revelam algo mais do que qualquer documentário dito sério. Há de convir: num documentário, todo entrevistado tende a se mostrar melhor do que realmente é.

Em Borat, ocorre exatamente o contrário. O Cazaquistão é retratado como um país sujo, ignorante, machista (todas as mulheres são prostitutas), parado no tempo. Sua televisão é estatal, e reproduz a estética e os clichês soviéticos. De acordo com uma notícia da BBC , o governo cazaque protestou contra o filme, mas mudou de idéia desde que a procura turística mundial aumentou em 300% depois de Borat.

É difícil de entender, mas os americanos que cruzaram o caminho do aloprado Borat realmente caíram na pegadinha, e atuaram muito mais naturalmente do que se a mesma “entrevista” fosse feita por um conterrâneo. O resultado é uma coleção de “pérolas” do preconceito e alienação dos americanos para com o resto do mundo. Assim, pateticamente orgulhosos ou caridosos com o aprendiz estrangeiro, os americanos revelam a contradição entre seu discurso politicamente correto e a prática tacanha e conservadora baseada na homofobia, intolerância, sexismo, puritanismo e xenofobia.

Só para ilustrar, Borat consegue fazer o pessoas em um bar country cantar que o país será melhor sem judeus, assim como o público de um rodeio aplaudir o genocídio no Iraque.

Mockumentary ou não, é curioso perceber como o documentário vem optando por assumir formatos que até pouco tempo território exclusivos da ficção. Dez anos atrás, um documentário era um gênero, com pouca variação ou experimento de linguagem entre um e outro título mais ousado. Hoje existem alguns nas estantes de filme noir, de terror, drama social, comédia. Nesse sentido “Borat” é uma bela comédia anti-EUA, tremendamente irônica e anárquica, apesar dos momentos de excessivo besteirol, e um terrível documentário sobre quem vive na maior potência mundial.

Por fim, parece brincadeira, mas pela primeira vez na história, um filme do Cazaquistão, o épico Nomad, concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

A Nova Ragú


Desde a semana passada circula na cidade a nova edição da Ragú. Se você ainda não conhece, este é um dos melhores projetos de quadrinhos e arte gráfica do Brasil. Surgida há oito anos no Recife, a Ragu permanece com praticamente o mesmo time de “cozinheiros”: Mascaro, João Lin, Flavão, Jarbas, Samuca, Greg – nomes que nos acostumamos a conviver em charges, ilustrações e cartuns da imprensa recifense. A estes, somam-se contribuições de Marcelo Lélis (MG), Samuel Casal (SP), Fábio Zimbres (RS), Eloar Guazzelli (RS) Hendrik Dorgathen (Alemanha), e mais seis artistas, entre eles Hélder Aragão, o DJ Dolores. Pra quem não sabe, Dolores tem um trabalho com ilustração e design - ele é co-autor do encarte do seminal "Da Lama ao Caos", da Nação Zumbi.

A série "Meninos de Rua Gigantes", que magistralmente ilustra a capa da coletânea, é um dos grandes momentos da nova Ragú. Mascaro ainda capricha na excelente história "O Pai", inspirada em "Johnny Vai à Guerra", de Dalton Trumbo. Por sua vez, três histórias de João Lin comprovam sua escalada ascendente para se tornar um dos melhores artistas gráficos deste país. Entre os convidados, destaca-se Fábio Zimbres, experimentando narrativas visuais e textos cada vez mais estranhos. Com exceção de seu escrito, uma sóbria e incisiva reflexão sobre a autoralidade na ilustração, arte e quadrinhos.

Uma pena a distribuição ser precária: pra quem não mora em Recife, só dá pra comprar na rede de Livrarias Cultura, a módicos R$ 20. Pela qualidade gráfica (100 páginas, capa cartonada, papel couché colorido e fosco preto e branco), e relevância do conteúdo, vale cada centavo.

FIHQ 2007?



Caso venha a existir, a edição 2007 do Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco (FIHQ) não se realizará nas datas habituais de abril ou maio. Quem adianta a informação é João Lin, presidente da Associação dos Cartunistas de Pernambuco (Acape), instituição que coordena o evento desde o ano passado.

O "caso venha" acima se explica pelo fato de não haver nenhum posicionamento oficial do atual governo do estado quanto à continuidade do FIHQ. Até porque, mais do que criado durante o governo Jarbas Vasconcelos, o evento tem "a cara" do ex-governador". Mesmo assim, ao que tudo indica, ele tem boas chances de permanecer no calendário do governo Eduardo Campos. Não dá pra desconsiderar a dimensão que o FIHQ atingiu, colocando Pernambuco no mapa mundi das artes gráficas, e promovendo a visita ao Recife de gente como Will Eisner, Don Rosa, Jano, Angeli e muitos outros.

Ficamos na torcida.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

É careta não





"Meus amigos, tudo é luta tudo é guerra tudo é vingança. Mas o carnaval de olinda já era: vão para a bahia. Vão pro Rio de Janeiro. Aqui acabou: no more olinda´s carnaval. Espalhem que o homem da meia noite foi sequestrado..."

Esse é o recado de Paulinho do Amparo para quem quiser pular o carnaval 2007 em Olinda. Em resposta à belezura poética que foi a pancadaria dominical em Boa Viagem, e ao alarme da mídia quando ao derretimento da Terra, ele acabou de lançar duas séries simultâneas e paralelas, o "Abaixo o Carnaval de Olinda" e o movimento quase armorial "Afunda Meu Recife", campanhas que estão angariando inesperados adeptos. Deste último, Gutie, do Rec-Beat, manda avisar que em 2100 o festival será num palco flutuante.

Abaixo, o estrago completo.