quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lançamentos DVD, coluna bastidores, "eu indico" e ranking da semana

Lançamentos // DVD



Poetas - O diretor de Orgulho e preconceito agora conta a história de dois casais socialmente deslocados na Inglaterra da 2ª Guerra Mundial. Em primeiríssimo plano, o rosto da cantora Vera (Keira Knightey), sob filtros e manipulações de cor, abre a narrativa. Ela é amante do poeta cínico Dylan Thomas (Matthew Rhys), por sua vez casado com a bela Caitlin (Sienna Miller), que acaba de engravidar. O triângulo amoroso de possibilidades homoeróticas é quebrado pelo soldado William (Cillian Murphy), apaixonado por Vera. Efeitos artificialistas continuam, quando imagens de arquivo saltam à tela. Trilha sonora de Angelo Bandalamenti acerta no tom. (André Dib)
Amor extremo (The Edge of Love, Inglaterra, 2009). De John Maybury. 111 minutos. Imagem Filmes.



Robôs - Bruce Willis é um agente do FBI que age num futuro não muito distante. Seres humanos deixarão de usar o próprio corpo para pilotar "substitutos", robôs fabricados de acordo com os ideais de beleza e perfeição. Ele investiga a morte de um jovem e descobre conexões com esse lucrativo mercado regido por empresa privada que encontra resistência na parcela humanos "radicais", que prefere viver conectada à natureza do que ter a consciência presa a máquinas. Vale pelas cenas de ação e a sintonia com o momento atual, em que clones e avatares povoam o imaginário popular. (A.D.)
Substitutos (Surrogates, EUA, 2009). De Jonathan Mostow. 89 minutos. Buena Vista.



Bonecos - Produzido por Tim Burton, esta trama em stop-motion se passa num mundo em que humanos foram exterminados por máquinas. Em época indeterminada, um boneco feito à mão ganha vida e descobre que guarda dentro de si um objeto cobiçado pelos monstros mecânicos. Com a ajuda de um grupo de bonecos semelhantes, o herói luta pela sobrevivência e para entender o que está acontecendo. Com vozes de Elijah Wood, John C. Reilly, Jennifer Connelly, Christopher Plummer e Martin Landau, o filme tem a marca Burton por todos os lados, inclusive na música tema de Danny Elfman. (A.D.)
9 - A salvação (9, EUA, 2009). De Shane Acker. 80 minutos. Playarte.

Bastidores

O cineasta italiano Guiseppe Tornatore está quase confirmado como convidado internacional do Cine PE 2011. Alfredo Bertini diz que a agenda do diretor de Cinema Paradiso tem espaço reservado para o evento, que promoverá mostra de filmes italianos em que Baaria, novo longa-metragem de Tornatore, deve ser a cereja do bolo do evento. Tudo no favorável contexto das comemorações do Ano da Itália no Brasil.

No próximo sábado, um grupo de deficientes auditivos entregará à produção do Cine PE documento solicitando que, a exemplo do Festival de Brasília, no próximo ano o evento utilize legendas nos filmes exibidos. Marcelo Pedrosa, coordenador da campanha, diz que aproximadamente 328 mil pessoas têm deficiência auditiva no estado.

Equipe do curta Recife frio comemora a ótima recepção do público do Cine PE hoje, às 22h, com a festa animada pelos DJs Distruktur (Melissa Dullius & Gustavo Jahn), Moloko e Guthera, Peco e Saltos Ornamentais. Será no bar Vapor 48 (Cais das Cinco Pontas, s/n°, São José), ao lado do Catamarã. Ingressos a R$ 10.

Em estande no Cine PE, Prefeitura do Recife promove debates sobre produção cinematográfica. Hoje, as funções no set de filmagem será o tema dos cineastas Marcelo Pedroso (KFZ 1348) e Daniel Aragão (Não me deixe em casa), com mediação do jornalista Júlio Cavani. Amanhã e sábado, participam Paulo Caldas, Daniel Bandeira, William Paiva e Gutie.

Vale registrar a condenação do ator e diretor Guilherme Fontes, por ter captado R$ 7 millhões e nunca realizado seu longa, Chatô, o rei do Brasil. A sentença é de três anos e um mês por sonegação fiscal, convertida em trabalho comunitário e pagamento de 12 cestas básicas de R$ 1 mil cada, por um ano. Fontes recorreu da decisão.


Eu indico



Eu indico Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia, um dos melhores da verve de Sam Peckinpah. Partindo da temática clássica da vingança, o filme descontrói o sentido do poder e do dinheiro ambientado num México sem maquiagem. Tão forte quanto a vida!

DJ Dolores, músico e designer

Ranking
Mais locados
1.Se beber, não case
2.Bastardos inglórios
3.A orfã
4.sequestro do Metrô 1 2 3
5.A proposta
6.Minhas adoráveis ex-namoradas
7.Inimigos públicos
8.Uma prova de amor
9.Intrigas de estado
10.A verdade nua e crua
Fonte: SMS Vídeo

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sapo Cururu // O "lado B" do festival



Há seis anos, um movimento de contestação tomava corpo com a criação da Mostra de Cinema Sapo Cururu. Aliando exibição de filmes, shows e homenagens com intenções críticas e bem-humoradas, este ano o evento independente cresceu para cinco dias e continua investindo em ser o "lado B", o extremo oposto do que representa o Cine PE. "Um festival não se faz pela quantidade de filmes, mas pela qualidade do que é oferecido ao público", diz Jura Capela, o organizador.

A programação começa hoje, às 19h, no Cine São Luiz, com entrada franca e a projeção de quatro filmes: os longas Aitaré da Praia (1925), um dos marcos do Ciclo do Recife, realizado por Ary Severo e Gentil Roiz e do documentário Belair (2009), de Bruno Safadi e Noa Bressani, sobre a produtora dos cineastas Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, que nos anos 1970 sofreram censura e tiveram que sair do país; e os curtas A descoberta do mel, da brasiliense Joana Limongi, e Teatro da alma, da pernambucana Deby Brennand. Com fotografia de Jura e montagem de Grilo (da Telephone Colorido), A descoberta do mel é inspirado na obra homônima do pintor renascentista Piero di Cosino.

Na sexta-feira, às 23h, a atração principal da festa no Bar Catamarã (bairro de São José) será o show do performer, músico e escritor carioca Fausto Fawcett, que retorna ao palco e marca o retorno da godiva do Irajá, Kátia Flávia. Entradas a R$ 20.

Na noite de sábado, uma reunião entre cineastas e patrocinadores será realizada na Oficina Brennand (Várzea). Uma mostra de filmes que não se explicam e a cerimônia de premiação encerram o evento. Este ano, os vencedores receberão troféu em formato de sapo em tamanho natural, confeccionado e assinado por Francisco Brennand. Entre as categorias, adianta Jura, estão a de melhor cineasta, melhor representante do cinema fora do país e melhor funcionário público artista plástico.

Apesar do upgrade, Jura garante que o que há de contracultura no Cururu será mantido. "Quero que ele continue pequeno e trazendo filmes que dificilmente seriam exibidos aqui de outra forma. A ideia é aprofundar a cultura audiovisual do estado e não ser algo que fique no raso".

(Diario de Pernambuco, 28/04/2010)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Entrevista // Laetitia Sadier



Laetitia Sadier, vocalista do Stereolab e mentora do Monade, se apresenta em fase solo amanhã no Recife. O show será às 21h, no Teatro Barreto Júnior (Pina), com ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia). No repertório estão composições antigas (feitas para o Monade) e inéditas, que integram seu primeiro álbum solo, The Trip, com lançamento previsto para setembro.

A seguir, uma pequena entrevista que fiz com Laetitia para o Diario de Pernambuco.

O que te levou a seguir carreira na música?
Não foi uma decisão consciente. Simplesmente aconteceu. Sou naturalmente um pouco preguiçosa, acho. E para fazer música é preciso trabalhar, ter disciplina. No começo, a possibilidade de escrever uma música soou como um milagre. É como no dia em que aprendemos como os bebês são feitos. Acho que alguma força maior me leva a isso. E é bom, porque realmente gosto do que faço.

Antes de conhecer Tim Gane e fundar o Stereolab, você trabalhou como babá em Londres. Como foi esse começo?
Eu odiava isso, mas foi uma boa forma de escapar da casa dos meus pais. Com 18 anos eu não tinha dinheiro ou trabalho. Não achei divertido entrar num barco cheio de gente em direção à Inglaterra, por uma hora e meia. Foi uma forma segura de fugir do meu país, mas eu não recomendo pra ninguém.

Como você vê a atual cena música pop francesa?
Hoje temos bandas interessantes, mas vivemos um complexo de inferioridade por anos, copiando o que era feito nos EUA e Inglaterra. Para mim, isso eraterrível. Quando surgiu o Air, senti que algo novo vinha da França, um som que não parecia com nada, a não ser eles mesmos. Seu álbum de estreia é belo, pessoal e foi o início de uma nova era de bandas sem complexos.

sábado, 24 de abril de 2010

Um novo caminho para Lætitia Sadier



Em nova fase solo, Lætitia Sadier estará no Brasil semana que vem, onde cumpre agenda em três cidades. No Recife, o show será nesta terça-feira, dia 27, no Teatro Barreto Júnior, Pina. Fundadora das bandas Stereolab e Monade, uma das vozes mais inspiradoras e cultuadas da música pop, a compositora francesa radicada na Inglaterra vem ao país em curta turnê, que inclui Porto Alegre e São Paulo. Valparaíso e Santiago, no Chile, também fazem parte do roteiro. No Recife, ingressos serão vendidos a módicos R$ 10 e R$ 5 (meia), graças ao patrocínio do Consulado Geral da França e apoio da Prefeitura do Recife.

Repleta de novidades, Lætitia sobe no palco sozinha, onde mostrará canções recentes que estarão em seu primeiro álbum solo, com lançamento marcado para setembro. De sua casa em Londres, ela diz que acaba de chegar de um tributo a Nico, organizado por John Cale. Não por acaso, Lætitia participou do evento em memória da musa que trouxe ao Velvet Underground dose de melancoliae sedução semelhante à que, por quase duas décadas, emprestou ao Stereolab, banda que ano passado decretou férias por tempo inderteminado. "Acho que precisávamos de um descanso, após 18 anos de trabalho constante. Não era o nosso desejo, mas não somos máquinas".

Enquanto continua envolto em névoa o destino da banda criada em 1990 ao lado do ex-marido, o músico britânico Tim Gane, Lætitia não pensa em revival nos palcos por onde toca. "Eu não sei tocar nenhuma dessas músicas, tenho que aprender", brinca, para depois falar sério. "Acho que ainda é cedo. Estou trabalhando para desenvolver minha própria voz. De forma que seria improdutivo cantar músicas do Stereolab nesse momento. Definitivamente, não estou pronta para isso".

Por outro lado, Lætitia está entusiasmada para mostrar o material novo, gravado durante o outono europeu. O repertório dos shows inclui músicas do Monade, projeto paralelo (ou "de autonomia", como classifica) criado após o rompimento com Tim Gane. "No Stereolab, toda a criação musical era dominada por ele e eu sentia um forte desejo de me expressar não apenas nas letras. Sinto que no Monade fomos capazes de corrigir muitas coisas. Não repetimos os mesmos erros cometidos com o Stereolab".

Esta será a segunda visita de Lætitia ao Brasil - ela esteve no país há cerca de dez anos, com o Stereolab. A viagem não ampliou as referências da música brasileira. Nos últimos tempos, ela ouviu falar sobre Cibelle, que vive em Londres. E só. "Sei que tenho todo um aprendizado pela frente. Todos gostamos da última vez em que estivemos no Brasil. Acho que vou me apaixonar novamente".

Lætitia diz que hoje a música pop de seu país vive um bom momento, mas nem sempre foi assim (leia entrevista). Dos novos talentos da França, ela recomenda o duo Holden. Das referências antigas, ela assume paixão por Ennio Morricone, emblemático compositor de trilhas para cinema. "Ele representa um ideal que busco ao compor minhas músicas, algo ao mesmo tempo sofisticado e simples, familiar e imprevisível".

(Diario de Pernambuco, 24/04/2010)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cine PE se antecipa amanhã e domingo com mostra pernambucana

A cerimônia oficial de abertura do 14º Cine PE - Festival do Audiovisual será na próxima segunda-feira, mas o evento se antecipa, amanhã e domingo, com a 3ª Mostra Pernambuco de curtas e longas-metragens no Cinema São Luiz. A programação é competitiva e traz 18 produções - 15 curtas e três longa-metragens de diretores pernambucanos ou que tenham vínculo com a cultura do estado. As sessões começam às 19h e ingressos poderão ser retirados gratuitamente na bilheteria do cinema, a partir das 17h.

Entre outros, serão exibidos no sábado o curta Matriuska, adaptação de contos de Sidney Rocha pelo diretor Pablo Pólo e produção de Isabella Cribari, e dois longas: o documentário Travessias, de José Eduardo Souza Lima (o Zé José), sobre estudantes do ensino público que participam de programa patrocinado pela Fundação Roberto Marinho; e Nas rodas do choro, de Milena Sá, pernambucana radicada no Rio de Janeiro, conhecida como percussionista e VJ das últimas edições do Rec Beat.

No domingo, a mostra de curtas traz A minha alma é irmã de Deus (foto), de Luci Alcântara, adaptação do romance inédito de Raimundo Carrero, roteirizado pelo próprio escritor. Na mostra de longas, será exibido pela primeira vez o documentário Porta a porta, de Marcelo Brennand. Em tempo: ontem, a organização do Cine PE informou que, apesar de inicialmente escalado, o curta Incenso, de Marco Hanois, está fora da competição por "motivos de produção".

3ª Mostra Pernambuco - Programação completa

Sábado, 24 de abril

19h-Abertura e exibições de curtas-metragens
Tchau e Benção (Digital, Ficção, Direção: Daniel Bandeira, 10’, PE)
Aqui Mora Uma Pessoa Feliz (Digital, Ficção, Direção: Jean Santos, 5’, PE)
Fôlego (Digital, Ficção, Direção: Larissa Cavalcanti, 4’48”, PE)
Matriuska (Digital, Ficção, Direção: Pablo Pólo, 15’20”,PE)
Lula em Cortes (Digital, Documentário, Direção: Marcos Santos, 10’15”, PE)
O Mar de Lia (Digital, Documentário, Direção: Hanna Godoy, 12’51”, PE)
Profissional da Noite (Digital, Documentário, Direção: Kleber Castro Dibianchi, 15’, PE)
Retratos (Digital, Documentário, Direção: Leo Tabosa e Rafael Negrão, 20’, PE)

21h-Exibições de longas-metragens
Travessias (Digital, Documentário, Direção: José Eduardo Souza Lima, 84’,PE/RJ)
Nas Rodas do Choro (Digital, Documentário, Direção: Milena Sá, 50’, RJ)

Domingo, 25 de abril

19h-Abertura e exibições de curtas-metragens
Balé (Digital, Ficção, Direção: Caio Sales, 10’, PE)
Tereza – Cor na Primeira Pessoa (Digital, Documentário, Direção: Amaro Filho e Marcílio Brandão, 20’, PE)
À Felicidade (Digital, Ficção, Direção: Carlos Nigro, 5’, PE)
Amor Selvagem (Digital, Animação, Direção: Evandro José Mesquita, 3’33”)
Não Sei Se Devo (Digital, Ficção, Direção: Gabriel Muniz e Luis Vitor,4’11”)
Ossos do Ofício (Digital, Ficção, Direção: Camila Rocha, Luciano Branco, Ricardo Arruda, Thiago de Albuquerque e Yure Serbedja, 12’, PE)
A Minha Alma É Irmã de Deus (Digital, Ficção, Direção: Luci Alcântara, 18’, PE)

21h-Exibição de longa-metragem
Porta a Porta (Digital, Documentário, Direção: Marcelo Brennand, 80’, PE)

(Diario de Pernambuco, 23/04/2010)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Novas camisetas de Paulo do Amparo

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Alice recria seu mundo



O coelho apressado, o gato que ri, o Chapeleiro Maluco, a Lagarta Azul, a Rainha Vermelha. Alice no País das Maravilhas (Alice in the Wonderland, EUA, 2010), primeira incursão de Tim Burton no cinema 3D, não é um retorno nostálgico apenas para nós, leitores e observadores da fantástica obra de Lewis Carroll. É também para Alice, a garota loira de olhos azuis, que na infância deu vazão aos sonhos e recriou a realidade com seus próprios termos. Aos 19 anos, prestes a casar com o filho do antigo sócio de seu falecido pai, a garota recorre à fantasia, primeiro como proteção imediata, para então se estabelecer enquanto mulher adulta, num mundo regido por convenções sociais.

A estratégia de lançamento é ostensiva. Após exibições exclusivas em Londres e muito rebuliço no mercado de produtos originais (livros de Carroll em edições instigantes) e derivados, o filme entra amanhã no Brasil, segundo informações do site Filme B, em 450 salas (80% dubladas), 129 delas em Digital 3D. Autor de prestígio, Burton empresta sua marca à Disney, mais como designer que como cineasta capaz de tornar um gato malicioso, uma rainha que corta cabeças e uma lagarta de olhos vermelhos, que fuma narguilé numa floresta de cogumelos, algo permitido para o público acima de dez anos.

Com roteiro que funde os clássicos As aventuras de Alice no País das Maravilhas e Através do espelho e o que Alice encontrou por lá, a Alice de Burton (Mia Wasikowska) se apavora ao perceber que a vida não mais corresponde à generosidade dos sonhos infantis e seu destino é fazer parte da corte dos normais. Momento em que um coelho no jardim a conduz à toca, porta de entrada/fuga para o Underworld (Mundo Subterrâneo), onde poderá reprocessar a situação e lidar com a dura realidade. Símbolo do desajuste em que vive, na ante-sala, assim como durante a aventura original, a garota vê suas proporções aumentarem e diminuirem, de acordo com necessidades impostas por situações inóspitas. Alice é conduzida pelos irmãos Tweedle ao coelho, do coelhoao gato, do gato ao lagarto, do lagarto à mesa de chá do Chapeleiro Maluco (Johnny Deep), que surge como protetor e ser oposto ao azedo pretendente do mundo real.

Escondidos sob toneladas de efeitos digitais, Deep e os atores fazem sua parte. Com a cabeça inchada e o corpo reduzido, Helena Bonham Carter é a Rainha Vermelha, figura temperamental e carente que domina o Mundo Subterrâneo a partir do medo, mantido a cada vez que grita "cortem a cabeça". Anne Hathaway é a Rainha Branca, açucarada imagem da bondade e harmonia infinitas, moldada por Burton como uma boneca de porcelana com braços, cabeça e tronco que se movimentam num bloco único. Confinada em seu castelo, a Rainha Branca depende do Chapeleiro e de animais falantes para retomar o reino. Ciente da presença de Alice, a Rainha Vermelha envia seu escudeiro e uma tropa de copas para capturá-la. O embate entre cartas de baralho e a trupe de heróis se dá num sugestivo tabuleiro de xadrez.

Tim Burton, dedicado criador de fábulas modernas (Edward Mãos de Tesoura, A lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, A Noiva-Cadáver e Sweeney Todd), notório esvaziador de clássicos em embalagens de luxo (Batman, O planeta dos macacos, A fantástica fábrica de chocolate), ao vestir a camisa-de-força da Disney coloca Alice no segundo grupo. Se há uma primeira viagem em seu novo longa, ela diz respeito aos efeitos 3D, que evitam o carnaval ao utilizar mais a profundidade do lado de trás da tela que o espaço acima das cadeiras da sala de exibição. O que, com exceção da cena da queda no buraco e lanças dos soldados de copas que vez em quando "furam" a tela, acrescenta elegância e fascínio ao mundo de Alice.

"O sonho é meu", repete Alice para si, na busca de coragem para encarar perigos imaginários e reais. Em meio à excitante paleta de formas e cores que nos próximos meses ditará o mundo da moda onde fica o cinema, nossa sala dos sonhos, divã a reprocessar a dura realidade?

(Diario de Pernambuco, 22/04/2010)

Lançamentos DVD, coluna bastidores, "eu indico" e ranking da semana

Lançamentos //Dvds



Rockers - O diretor do documentário Uma verdade inconveniente agora se volta à história da guitarra elétrica a partir do encontro de três gerações do rock'n'roll: Jimmy Page (Led Zeppelin), The Edge (U2) e Jack White (White Stripes). Cada qual com seu estilo, essas três lendas tocam e falam sobre sua relação com o instrumento. Da intimidade dos ensaios e gravações ao momento máximo, ao vivo, nos palcos. Em determinado momento, White, que bebe em todas as escolas, constrói e toca uma slide guitar rudimentar, com um pedaço de pau, uma única corda de arame e uma garrafa de Coca-Cola. Antigo recado de que, para tocar guitarra, basta aliar vontade e atitude.
A todo volume (It might get loud, EUA, 2008). De Davis Guggenheim. 97 minutos. Sony.



Ficção - Da tela larga para a caixinha DVD/Blu-ray, Avatar perde um tanto de sua grandiosidade. No entanto, segue impávido na contraditória missão de espalhar pelo mundo esta máquina de arracadar bilhões com discurso "ecológico" para fazer boi dormir. O filme chega às lojas hoje, Dia da Terra. Que os crédulos não se iludam. Para o público, o que realmente importa no blockbuster não é o verde ou o amarelo-ouro, mas sim o azul digital dos Na'Vi, aborígenes do espaço prestes a serem massacrados pela ganância humana. Feita a devida comparação com processos colonizadores, desejamos a todos uma ótima sessão.
Avatar (EUA, 2009). De James Cameron. 161 minutos. Fox.



Fábula - Sob a direção do celebrado autor de videoclipes e filmes como Quero ser John Malkovitch, a obra homônima de Maurice Sendak ganha belos cenários e profundidade psicológica necessária para se adaptar à linguagem do cinema. Nesta fábula para adultos, o pequeno Max (Max Records) ganha vizinhos e até uma irmã mais velha. Filho de pais separados, sua mãe traz o namorado para jantar, o que desperta a fúria de sentimentos contraditórios no garoto, que foge para uma ilha povoada por monstros, onde se torna rei. Moral da história: mesmo com traumas, preservar o instinto nos faz humanos.
Onde vivem os monstros (Where the wild are, EUA, 2009). De Spike Jonze.



Passional - Escrita em parceria com Hilton Lacerda, a história tem teor de reinvenção autobiográfica de Nachtergaele, pela primeira vez na direção. Visceral, o filme é ambientado numa comunidade ribeirinha na Amazônia, onde Santinho (Daniel Oliveira) é um jovem tirânico, tratado como um semideus desde que um cachorro trouxe até ele o vestido de uma menina morta. O excesso predomina, na imagem de tons carregados pela direção de arte de Renata Pinheiro, na fotografia escura de Lula Carvalho, no atitude incestuosa do pai (Jackson Antunes) e em situações escatológicas, como um porco sendo abatido por longos minutos.

A festa da menina morta (Brasil, 2009). De Matheus Nachtergaele. 110 minutos. Imovision.

Bastidores

Após 33 anos, a produtora Vera Cruz anuncia retorno com o "doc.fic" LB Persona, sobre o clássico premiado em Cannes, O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto. O diretor é Galileu Garcia, que foi produtor e assistente de Barreto na produção original. Fundada em 1949, a Vera Cruz produziu mais de 40 longas e documentários. O último foi Paixão e sombras, (1977) de Walter Hugo Khouri.

O Cine PE 2010 começa oficialmente na segunda-feira, com cerimônia de abertura no Centro de Convenções e sessão premiére de O Bem Amado. Entre os convidados estão Marco Nanini, Andréa Beltrão, José Wilker, Caio Blat, Matheus Nachtergaele, Maria Flor, Luiz Carlos Vasconcelos, Oswaldo Montenegro, Paloma Duarte, Françoise Furton, Fernanda Nobre, Simone Spoladore, Denise Fraga, Paulo Vilhena, Paulo José e Mariana Ximenes, além dos homenageados Guel Arraes, Tony Ramos e Julia Lemmertz.

Kátia Flávia, a Godiva do Irajá, reencarna em Olinda semana que vem, em show de Fausto Fawcett, durante a Mostra de Cinema Sapo Cururu. Paralelo ao Cine PE, o evento este ano terá cinco dias de duração (de 27 de abril a 1º de maio). Além do compositor carioca, haverá show de Johnny Hooker e a exibição dos filmes Aitaré da Praia (1925) de Gentil Roiz e Ary Severo, e Belair (2009), de Bruno Safadi e Noa Bressane.

As Torres Gêmeas do bairro de São José serão o ponto de partida para um filme coletivo sobre a política de expansão urbana e desenvolvimento do Recife. Até o momento, o grupo é formado por 17 pessoas, entre eles Jonathas Andrade, Leo Falcão, Marcelo Pedroso, Mariana Porto e Tião. Para participar, basta enviar material que dialogue com a discussão até 31 de maio para www.projetotorresgemeas.wordpress.com.

Eu indico

"Estou muito apaixonado por dois filmes daqui: Recife frio (de Kleber Mendonça Filho) e o documentário Um lugar ao sol (de Gabriel Mascaro). Estou vibrando pela forma como eles são construídos e porque eles pegam uma temática inusitada. Recife frio é um desafio de gênero, ele ficcionaliza o documentário. E Um lugar ao sol aposta na psicanálise de Jung, discute o real, o simbólico e o imaginário a partir dos moradores de cobertura" - Jomard Muniz de Britto, filósofo e curador do projeto O Laboratório

Mais vendidos

Alvin e os esquilos 2
Um lugar ao sol
Guerra ao terror
Dalva & Herivelto
Razão e sensibilidade
Coco antes de Chanel
Pinga Fogo entrevista Chico Xavier
Madonna Stiky & Sweet Tour
Clamor do sexo
Freud - Além da alma


Fonte: Livraria Cultura

(Diario de Pernambuco, 22/04/2010)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Uma cozinha fora dos padrões



Na multiplicidade de culturas que convivem em Berlim se equilibra o longa Soul Kitchen (Alemanha, 2009), do cineasta Fatih Akin. Alemão de ascendência turca, o diretor aborda com humor rasgado e garras afiadas a tragicômica vida de Zinos (Adam Bousdoukos), imigrante grego com aura de rockstar, dividido entre a paixão pela namorada e o restaurante "alternativo", cuja proposta é conciliar fast-food e música como se estivesse localizado em bairro negro de Nova York.

Não demora e surge seu irmão, Ilias (Moritz Bleibtreu), gângster de quinta categoria que precisa de emprego para escapar da prisão em tempo integral. Obcecado em seguir a namorada até a China, onde será correspondente internacional, Zinos quer rapidamente delegar funções e deixar o restaurante na mão de pessoas nas quais possa confiar. Uma delas é o novo chef, que entre pratos requintados e arroubos psicóticos coloca para fora a clientela usual do Soul Kitchen.

Cada passo de Zinos é observado de perto por Thomas Neumann (Wotan Wilke Möhring), especulador ansioso por lucrar como intermediário da venda do terreno subvalorizado, onde Herr Jung (Udo Kier,) quer construir um shopping. Denúncias para a vigilância sanitária e a rigidez de oficiais do imposto de renda fazem parte da estratégia que faz de Neumann algo próximo a um vilão de desenho animado.

Como nas antigas comédias do tipo "pastelão", o verniz caricato dos personagens serve como base para uma abordagem ligada mais a funções sociais do que a características individualizantes. O que permite Akin extrair graça de estereótipos como o capitalista, o artista, a filhinha-de-papai, o malandro, o músico. O auge da bagunça é uma festa lasciva, em que seu irmão delinquente é o DJ e no qual o chef caprichou em ingrediente afrodisíaco na sobremesa.

O caos ao redor de Zinos (que somatiza tragédias na forma de uma violenta hérnia de disco) desencadeia uma estranha e hilária ordem na qual se estrutura esse antídoto para a síndrome de filmes de culinária fofinhos que assola os cinemas nos últimos tempos.

(Diario de Pernambuco, 16/04/2010)

A jornada de Jeff Brigdes



No papel do ex-country star que sobrevive de pequenos shows de beira de estrada, o oscarizado Jeff Bridges brilha como principal atração de Coração louco (Crazy heart, EUA, 2010). Em seu primeiro grande papel desde o hippie Jeffrey "The Dude" no Big Lebowsky dos irmãos Coen, encontramos Bridges, com estilo distinto e tão carismático quanto, novamente numa pista de boliche. Ele dá rosto e voz a Bad Blake, 57 anos, músico em decadência, incapaz de largar o bourbon e o tabaco - vícios que pratica como um condenado -, mas que ainda sabe cuidar de sua guitarra. Reconhecido pelo público mais antigo, fiel ao ídolo da juventude, Blake se apresenta em lugarejos do Texas, Arizona e Oklahoma, viajando num Silverado 1978.

É justamente neste carro, com o qual viaja entre landscapes belamente trabalhadas em cinemascope, que somos apresentados a Blake. A relação imediata é a do cowboy motorizado, amalgamado num ser único que, com certo esforço, segue representando os EUA à moda antiga, uma cultura romântica e em extinção. O rótulo "filme de ator" torna-se algo inevitável, até porque seu diretor, o estreante Scott Cooper, vem justamente de uma carreira de atuações, enquanto o próprio Bridges assina a produção.

Às vésperas da obscuridade, Blake ainda é admirado pelo público mais velho, do qual extrai seu sustento e algumas garrafas de uísque. Porém, os sintomas do alcolismo podem dar um fim imediato em sua carreira. Resta a ele a possibilidade do amor, que aponta para a jornalista Jean (Maggie Gyllenhaal), mãe solteira que encontra em Blake a chance de exercitar seu afeto e de quebra providenciar a imagem masculina para seu filho.

Mas é na gratidão misturada com culpa de sua cria artística, o cantor Tommy Sweet (Colin Farell), que Blake conseguirá certa estabilidade. Canções originais de T. Bone Burnett completam a identidade de um filme baseado na afetividade e em ótimas sequências musicais, que tendem a confortavelmente permanecer por algum tempo na memória, após a sessão.

(Diario de Pernambuco, 16/04/2010)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Recife entra na era do 3D



A expectativa em torno da estreia de Alice no país das maravilhas no Recife acaba de ganhar contorno especial. Após meses de especulações, o filme de Tim Burton é o pivô da inauguração da primeira sala de cinema 3D da capital. Até então, a única opção de cinema 3D era o complexo Box Cinemas, em Jaboatão dos Guararapes. O Recife entra na era do cinema tridimensional via UCI Severiano Ribeiro, que há duas semanas vem equipando a sala 3 do complexo Recife (Boa Viagem) com aparato tecnológico próprio para esse tipo de projeção.

O novo equipamento será utilizado na próxima segunda-feira, durante sessão de pré-estreia de Alice, promovida pela Disney, para convidados. Antes disso, há fortes chances de entrar em funcionamento ainda neste fim de semana, com a animação Como treinar seu dragão, da Dreamworks. Prevendo a grande procura, ingressos para Alice estão sendo vendidos antecipadamente. Os ingressos (aluguel do óculos incluído) variam entre R$ R$ 23 e R$ 11,50 (meia) nos fins desemana e R$ 19 e R$ 9,50 (meia) nas quartas-feiras.

Por várias semanas, sessões lotadas de Avatar no Box Guararapes deram a entender que a demanda pelo 3D é bem maior que a oferta. Por isso, até o fim do ano, a UCI confirma mais duas salas na cidade: uma no Tacaruna e outra no Plaza Casa Forte. A esperada reforma nos complexos Recife e Tacaruna também estão na pauta de prioridades.

Com 376 lugares, a sala Recife 3 funcionará com projetor Christie, que permite exibir imagens com resolução de 2.048 x 1.080 pixels, padrão DCI. A estrutura da sala teve poucas mudanças. A principal é a mudança da tela, com maior poder de reflexão, pois um dos ônus do uso de óculos especiais é a perda de luminosidade da projeção. Uma janela a mais foi construída na cabine de projeção, para comportar tanto a exibição digital quanto em película. "Não seria necessário trocar a tela, mas fizemos isso para garantir maior qualidade", diz Mônica Portella, gerente de marketing da UCI Ribeiro.

Investimento - Com a inauguração, a UCI passa a contar com salas 3D em doze de seus 16 complexos no Brasil. A sala do Recife é a quarta unidade no Nordeste - há duas em Salvador e uma em Fortaleza, inaugurada semana passada. Somente o projetor, sem contar os custos com a reforma, custou R$ 600 mil. O investimento é garantido. "Pesquisas indicam que a taxa de ocupação em salas 3D é 30% maior que a das demais", diz Mônica.

Outro fator que pesa na equação é o número crescente de produções realizadas para o formato. Até o fim de 2010, o calendário aponta para mais 17 filmes, entre eles, Fúria de Titãs, Toy Story e Shrek. Em novembro, Harry Potter promete dominar o circuito. Em 2011, vêm aí mais de 25 produções. "Os complexos têm apenas uma sala 3D e o acordo entre exibidores e distribuidores é que se tenha no mínimo quatro semanas para cada filme. Dependendo do sucesso, ele pode continuar por mais tempo", diz Mônica. A partir dessa regra, é possivel entender o motivo da mudança de data para a estreia de Alice, do feriado de 21 de abril para a sexta, 23.Além do acordo das quatro semanas, o Brasil é uma das maiores bilheterias estrangeiras de Como treinar seu dragão.

E as novidades não param por aí. Caso a UCI feche parceria com a Rede Globo, em junho poderemos assistir aos jogos da Copa do Mundo em 3D. Caso ocorra, mais que nunca, cinema será a maior diversão.

(Diario de Pernambuco, 15/04/2010)

Lançamentos, bastidores, Eu indico e ranking da semana

Lançamentos // DVDs



Biografia - Após meses de rebuliço midiático, o longa que conta a história de Lula antes de se tornar presidente chega ao mercado de home video. Do dia do nascimento à posse em Brasília, o filme narra de forma linear as desventuras de Luís Inácio (Rui Ricardo Diaz), cuja vida sofrida foi guiada por mulheres: a mãe Lindú (Glória Pires), a primeira esposa (Cléo Pires) e a atual, Marisa (Juliana Baroni). Outro ponto melodramático está na difícil relação com o pai (Milhem Cortaz), que abandonou a família. Extras seriam bem-vindos, mas foram guardados para a edição de luxo, prevista para o 2º semestre. (André Dib)
Lula - o filho do Brasil (Brasil, 2010). De Fábio Barreto. 128 minutos. Europa.



Fuga - Nesta estreia do diretor romeno, acompanhamos o drama da jovem Eva (Doroteea Petre), que junto com o namorado quebra o busto do ditador Nicolau Ceausescu. Transferida para um reformatório como punição, Eva conhece Andrei (Cristian Vararu), com quem decide fugir da pequena vila em que vivem, à beira do Danúbio. A trama se passa em 1989, mas os costumes, mobiliário e vestimentas parecem ser bem anteriores, efeito do comunismo soviético do qual Eva quer escapa. Além de discos de rock e bombons, isso é a prova final de que, mais que nunca, é preciso atravessar o Danúbio. (A.D.)
Como eu festejei o fim do mundo (2006). De Catalim Mitulescu. 101 minutos. Imovision.



Amizade - O diretor de Desejo e reparação (2007) e Orgulho e preconceito (2005) adapta uma história verdadeira, vivida pelo jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.), que escreveu livro e agora vira filme de "redenção", daqueles feitos para tirar valiosas lições sobre a vida. O filme é um drama sobre a amizade construída com o músico Nathaniel Anthony Ayers (Jamie Foxx), que amarga vida nas ruas após 30 anos de carreira brilhante, que começaram na escola de artes Juilliard, de Nova York. Esquizofrênico, ele toca violino nas ruas de Los Angeles, até que Lopez, jornalista do Los Angeles Times, descobre seu talento e sensibiliza a opinião pública. (A.D.)
O solista - a vida tem seus próprios planos (EUA, 2009). De Joe Wright. 117 minutos. Universal.



Comédia - Ironia e drama são os elementos desta comédia argentina com um quê dos filmes Divã e Separados pelo casamento - por trazer casais em crise, terapia, humor e situações que fazem parte da rotina de um casal. A produção é garantia de boas gargalhadas e apresenta um roteiro diferente daquelas típicas comédias norte-americanas. Na trama, Tenso (Adrián Suar) é um homem que quer se separar de sua esposa (Valeria Bertuccelli), mas não tem coragem de dizer a ela. Então, ele tem a ideia de contratar o charmoso Cuervo Flores (Gabriel Goity) para seduzir sua mulher. (Raítza Vieira)
Um namorado para a minha esposa. De Juan Taratuto. 96 minutos. Paris Filmes.

Bastidores

Adelina Pontual está em fase de edição do documentário Rio Doce - CDU. Na próxima semana, o montador João Maria trabalhará no material, que renderá dois produtos: um programa para TV e um longa-metragem de 80 minutos. A produção é da Chá Filmes.

REC Produtores seleciona elenco para Era uma vez Verônica, de Marcelo Gomes. Currículos e imagens devem ser enviados até amanhã para elencoveronica@recprodutores.com.br.

Conduzida por Daniel Aragão na tarde de sábado passado, quase 500 pessoas compareceram à seleção de elenco para O som ao redor, primeiro longa de ficção de Kleber Mendonça Filho. O filme começa a ser rodado em julho.

Ingressos antecipados para o Cine PE 2010 estão à venda por R$ 8 e R$ 4 (meia), pelo telefone 3222-8699 e em endereços disponíveis no www.cine-pe.com.br. Tiíquetes valem para os dias 26 de abril a 1º de maio, no Centro de Convenções.

O Cinema da Fundação exibirá o documentário premiado pela 15ª edição do festival É Tudo Verdade. Organizada em parceria com o maior evento de documentários da América Latina, a sessão na terça, às 20h. O filme vencedor será revelado no próximo sábado, durante o encerramento do evento.

Beira do caminho, novo longa de Breno Silveira (Conspiração Filmes), começa a ser filmado hoje, na Bahia. No elenco, João Miguel, Dira Paes, Ludmila Rosa e Denise Weinberg. (A.D.)

Nesta segunda-feira, o Cinema da Fundação realizará uma sessão especial, quando os cineastas Gustavo Jahn & Melissa Dullius apresentam Distruktur (foto), conjunto de cinco curtas de sua autoria. A dupla está no Recife há 15 dias, onde trabalham na direção de arte e cinematografia do longa Animal político, de Tião (Muro).

Eu indico



Pink flamingos, de John Waters (1972) foi o primeiro filme em que eu percebi a autoapreciação do bizarro, sem limites para o humor de "mau gosto" dos protagonistas. Celebra o fútil e o grotesco, de uma forma totalmente contrária a tudo o que havia visto no cinema underground. E fundamental: ensina o quão bom é não se levar tanto a sério, tanto pessoal como artisticamente.

Raul Luna, vocalista do grupo Saltos Ornamentais e membro do coletivo TV Primavera

Ranking Mais locados
1. Guerra ao terror
2. Bastardos inglórios
3. Abraços partidos
4. Coco antes de Channel
5. Julie & Julia
6. Sempre ao seu lado
7. Chéri
8. Lua Nova
9. 2012
10. O Solista

Fonte: www.classicvideo.com.br

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Larry McCray e Jefferson Gonçalves hoje, no Spirit Music Hall


McCray se apresenta em Chicago, Illinois

O encontro do guitarrista norte-americano Larry McCray com o gaitista carioca Jefferson Gonçalves é o show principal de hoje, às 20h, no Spirit Music Hall (Rua do Futuro, 821, Aflitos). O evento comemora a condecoração do Garanhuns Jazz Festival 2010 com o Prêmio Mestre Salustiano, oferecido pela Secretaria Estadual de Turismo, no mês passado. Representante do blues elétrico de Chicago, McCray iniciou turnê brasileira no último fim de semana, em São Paulo, de onde seguiu para o Recife. Natal, Belo Horizonte, Florianópolis, Curitiba e cidades da Argentina também estão no roteiro.

Nascido em Magnolia, Arkansas, McCray construiu sua carreira tendo como referência os três "kings" (Albert, Freddie e BB) e aos 50 anos, acumula nove álbuns gravados. Sua carreira internacional começou em 1992, quando era guitarrista da banda de Gary Moore e participou do primeiro álbum de Nuno Mindelis, Long distance blues. Em 2000, McCray recebeu o prêmio de guitarrista do ano pela Orville Gibson Awards, tendo concorrido com Eric Clapton e Jeff Beck.

Especialmente para o show no Recife, Jefferson Gonçalves se apresenta com Larry McCray e a Blues Special Band. A festa ainda conta com a UpTown Band, o trompetista Fabinho Costa e as cantoras Cida Maria e Gina Pulso. Os ingressos custam R$ 20 (mulher) e R$ 25 (homem). Informações: 3268-4080.

(Diario de Pernambuco, 14/04/2010)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Cine + Cultura amplia alcance no estado

A partir de agora, associações culturais como Maracatu Piaba de Ouro, N.A.V.E, Mulheres de Ibimirim, Artistas Populares de Sertânia e Artistas Plásticos de Fernando de Noronha passam a ter ao menos uma característica em comum. Eles fazem parte do grupo de 46 entidades que se tornaram pontos de exibição de filmes, com o aval do Ministério da Cultura, através da ação Cine + Cultura. Realizado em parceria com o governo do estado, o resultado foi anunciado ontem pela manhã, em cerimônia no Cine São Luiz. Os aprovados recebem kit com câmera, projetor, telão, DVD, rack e um pacote de filmes selecionados pela Programadora Brasil, além de oficinas de capacitação organizadas pela Fundarpe. O objetivo é formar uma rede nacional de exibição alternativa. Com a nova leva, somente Pernambuco contará com 87 pontos. Até o fim do ano, a meta é atingir 2.200 em todo o Brasil.

Coube à presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo, contextualizar a ação dentro da escassez de espaços de fruição cinematográfica. Números tristes: 13% dos brasileiros vão ao cinema ao menos uma vez ao ano; mais de 90% dos municípios não têm cinema, teatro ou museu. Silvana Meireles, coordenadora do programa + Cultura, vai além. "A maioria das salas de exibição comercial está em shoppings, que são inacessíveis em vários aspectos", diz Meireles. De acordo com ela, a ideia é tornar essa rede não só "a maior diversão" (em referência ao slogan da rede de cinemas Severiano Ribeiro), mas um espaço de cidadania. "O Brasil em poucos anos será a 5ª economia mundial, mas atualmente ocupa a 75ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano. Precisamos diminuir essa diferença e a cultura é vetor importante. Os Cines + Cultura servem para formação de identidade dessa parcela excluída".

Vestido de vaqueiro, Renato Magalhães, da Associação Cultural Pedra do Reino (São José do Belmonte), não só veio a caráter, como soprou seu berrante antes de cumprimentar as autoridades. Ele é da segunda geração de realizadores da cavalgada anual, no mês de maio. "Antes, a mostra de filmes era itinerante. Agora vamos fazer no memorial, numa sala para 50 pessoas", diz o jovem vaqueiro. Paulo Lima, que coordena o espaço de exibição do Grêmio Recreativo Escola de Samba Preto Velho (Olinda), diz que com o novo acervo será possível renovar a programação, até então restrita a 40 DVDs oferecidos pelo Banco do Nordeste. Outros que comemoram são Fernando Carmino e Jorge Costa, da Associação Pernambucana de Teatro de Bonecos, pois a sala de 120 lugares que administram passará a ter tela grande e projetor apropriado para exibir filmes.

Mas nem todos estavam felizes após a cerimônia. Arimatéia Martins, da Associação Cultural Vida é Uma Arte, veio de Floresta para constatar que seu projeto não foi contemplado porque duas propostas foram feitas para o mesmo espaço, o Cine Teatro Recreio (90 anos de construção, 160 lugares, 14 anos fechado). A proposta dupla resultou na anulação de ambas. "Há três anos realizamos sessões quinzenais no cinema, pois o equipamento é emprestado". Com o kit Cine + Cultura, afirma Martins, as exibições seriam mais frequentes.

Capacitação - As oficinas de formação começam em maio e fazem parte da contrapartida de 33% oferecida pelo governo do estado, com apoio do Conselho Nacional de Cineclubes e da Federação Pernambucana de Cineclubes. A ementa inclui história e organização do cineclubismo, do cinema, sua linguagem, produção e distibuição. Mas o principal, diz Gê Carvalho, presidente da Fepec, é a educação para o olhar. "Eles aprendem a assistir a um filme e refletir sobre o que foi visto, da técnica ao conteúdo. E aí a consciência se transforma".

Confira os grupos selecionados

Região metropolitana do Recife
1. Maracatu Piaba de Ouro (Olinda)
2. Centro SUVAG de Pernambuco (Recife)
3. Associação Satélite (Olinda)
4. Unacomo (Olinda)
5. Associação Pernambucana de Teatro de Bonecos - APTB (Recife)
6. Diálogos (Olinda)
7. Graúna - Juventude, Gênero, Arte e Desenvolvimento (Olinda)
8. Associação dos Artistas Plásticos de Fernando de Noronha (Fernando de Noronha)
9. Associação Teatral Ato - Art's ATA (Itamaracá)
10. Grêmio Recreativo Escola de Samba Preto velho (Olinda)
11. Movimento de Articulação Ambiental e Cultural- MAAC (Recife)
12. Centro de Atendimento a Meninos e Meninas - CAMM (Recife)
13. Sociedade Cultural Pernambuco na Estrada (Recife)
14. Nave- Sociedade de Arte e Tecnologia (Recife)
15. Laboratório de Intervenção Artística - Laia (Camaragibe)
16. Lar de Sandro (Recife)
17. Espaço Cultural de Santo Amaro(Recife)

Zona da mata
18. Sociedade de Cultura Artística 22 de Novembro (Paudalho / Mata Norte)
19. Grupo Cultural dos Palmares - Grucalp (Palmares / Mata Sul)
20. Ponto de Cultura Retretas - Filarmônica 28 de Junho (Condado / Mata Norte)
21. Associação dos Filhos e Amigos de Vicência (Vicência / Mata Norte)
22. Associação Cultural dos Mamulenguieros e Artesãos de Glória do Goitá (Glória do Goitá / Mata Norte)
23. Centro de Educação Musical de Joaquim Nabuco (Joaquim Nabuco / Mata Sul)

Agreste
24. Grupo de Apoio aos Meninos de Rua - GAMR (Gravatá / Agreste Central)
25. Cia. de Eventos Lionarte (Limoeiro / Agreste Setentrional)
26. Associação Caruaruense de Ensino Superior - Asces (Caruaru / Agreste Central)
27. Associação do Comércio da Indústria e Agroindustrial de Garanhuns (Garanhuns / Agreste Meridional)
28. Centro de Criação Galpão das Artes (Limoeiro / Agreste Setentrional)
29. Sociedade Musical Padre Ibiapina (Taquaritinga do Norte / Agreste Setentrional)
30. Associação de Desenvolvimento e Assistência Social de Taquaritinga do Norte - Adastaq (Taquaritinga do Norte / Agreste Setentrional)
31. Centro de Artesanato Tareco e Mariola de Belo Jardim (Belo Jardim / Agreste Central)
32. Associação Capoeira e Taekwon-do: O pé do clã (Brejo da Madre Deus / Agreste Central)

Sertão
33. Associação e Movimento Comunitário Aliança (Arcoverde / Sertão do Moxotó)
34. Federação das Associações Comunitárias do Cedro - Faced (Cedro / Sertão Central)
35. Associação dos Artesãos e Artistas Populares de Sertânia (Sertânia / Sertão do Moxotó)
36. Associação Nação Coripós (Santa Maria da Boa Vista / Sertão do São Francisco)
37. Associação de Arte e Cultura de Jatobá (Jatobá / Sertão de Itaparica)
38. Instituto Chico Torres (Salgueiro / Sertão Central)
39. Jovem Sertão (Petrolina / Sertão do São Francisco)
40. Associação Cultural, Artística e Social Raízes (Petrolina / Sertão do São Francisco)
41. Associação das Mulheres de Ibimirim - AMI (Ibimirim / Sertão do Moxotó)
42. Associação Cultural Pedra do Reino (São José do Belmonte / Sertão Central)
43. Maracatu Nação Matingueiros (Petrolina / Sertão do São Francisco)
44. Associação São Geraldo (Arcoverde / Sertão do Moxotó)
45. Associação Solidária de Pais e Amigos de Pessoas com Necessidades Especiais (Belém de São Francisco / Sertão do São Francisco)
46. Associação Urucungo (Arcoverde / Sertão do Moxotó)

(Diario de Pernambuco, 13/04/2010)

sábado, 10 de abril de 2010

Cartaz para turnê brasileira de Laetita Sadier, por Raul Luna



Cartaz de Raul Luna para shows de LAETITIA SADIER (Stereolab / Monade) no Brasil. No RECIFE, ela se apresenta na terça, 27/4.

O punk não morreu



Vítima de câncer, o empresário e músico Malcolm McLaren morreu na última quinta-feira, aos 64 anos. Nascido na Escócia, ele passou o último ano na Suíça, onde se tratava da doença. Cérebro por trás do Sex Pistols, desde o início ele mostrou tino para captar o espírito da época e transformar atitude em bom negócio. Se com personagens impactantes, como Sid Vicious e Johnny Rotten, ele criou a "cara" do movimento punk, ao mesmo tempo o tornou algo fake, um produto pronto para ser consumido. Por isso, apesar de ser elemento central na gênese do punk, adeptos mais radicais do movimento não hesitariam em incluí-lo na categoria "porco capitalista".

Mas a carreira de McLaren foi muito maior que o punk. Anos antes, ele deixou sua marca no glitter, ao lançar o visual do grupo New York Dolls; nos anos 80, convidou o então desconhecido Boy George para participar de seu grupo, Bow Wow Wow (do qual George saiu para fundar o Culture Club); e, em 1989, sua música Deep in vogue serviu de influência para Madonna e toda uma cultura de dança nas pistas.

"Ele é uma das figuras mais importantes da cultura nos últimos 50 anos. Como revolucionário, claro que foi um personagem controverso. Mas sem McLaren não existiria o punk, que aliou diversão com reflexão crítica e veio alterar toda a cultura pop", diz Renato L, secretário de cultura do Recife e um dos articuladores do manguebeat. "Nos início dos anos 90, a gente sonhava em lançar bandas, como fez Malcolm McLaren. Lembro que ouvíamos muito um de seus discos, Duck rock (1983), que antecipou a explosão do hip hop, da world music."

"Em termos de cultura pop, ele foi um visionário. Somou a música pré-punk ao discurso ideológico e embalou o negócio para vender. Tudo foi tão pensado que o disco de estreia dos Sex Pistols foi lançado pela EMI", diz Paulo André Pires. A gana pelos lucros gerados pela marca Sex Pistols foi tanta que, em 1980, John Lydon, líder da banda, entrou com um processo contra McLaren, vencido sete anos depois. Empresário de várias bandas e organizador do Abril Pro Rock, Pires vê na postura de McLaren algo equivalente à postura de donos de grupos de forró "fuleragem", que mandam no nome, figurino e coreografia de seus integrantes. E foi mais ou menos por aí que a banda definidora do punk nasceu. O nome Sex Pistols veio da loja sado-masô Sex, que McLaren e Vivianne Westwood mantinham em Londres. O som, da música novaiorquina, como os Ramones; e a atitude anarquista é fruto do movimento operário inglês dos anos 70. O personagem Johnny Rotten, nome artístico de Lydon, é invenção do empresário.

Para o estilista Ronaldo Fraga, McLaren enxergava a música em termos de imagem e estilo. "Foi-se Malcolm, ficam suas criações. Curiosamente, o que causava choque na época, hoje é mainstream, a ponto de estar no Big Brother, como o corte de cabelo moicano".

"Acho que ele foi um grande captador de tendências, do que já estava nas ruas. Era sarcástico, irônico, fazia arte para provocar as pessoas. É verdade que mexia muito com a estética, mas ali tinha umbackground ideológico. Quando ele usou símbolos comunistas, isso vinha mais como provocação anárquica que literalmente comunista", diz o músico Johnny Hooker. "É uma grande bobagem pensar que ele preferia a imagem à música. Cada artista tem a liberdade de ser mais visual ou musical, uma coisa não diminui a outra. Quando criou os Sex Pistols, ele acreditava que o rock tinha morrido e aquele era o grito final, que Never mind the bollocks seria o último disco de rock'n'roll".

Em nota oficial, publicada anteontem em seu site, John Lydon reconhece o trabalho do antigo empresário. "Para mim, Malc sempre foi divertido e espero que se lembrem disso. Acima de tudo, ele era um entertainer e sentirei saudades dele", escreveu Lydon, ao que assina: Johnny Rotten.

(Diario de Pernambuco, 10/04/2010)

O que resta do tempo, de Elia Suleman - memória é apenas ponto de partida para criação de um belo filme



O Cinema da Fundação traz de volta à cidade O que resta do tempo (The time that remains, 2009), do realizador palestino Elia Suleman (Intervenção divina).

Este belo filme representa as memórias da vida de Suleman, da infância à maturidade. A fita começa antes mesmo dele nascer, quando Israel ocupou território palestino em Jerusalém, dando aos palestinos a opção de se mudar ou permanecer na terra natal, sob forte opressão. Em determinada sequência, crianças árabes cantam músicas judaicas, como demonstração de que estão sob regime democrático. Em outra, o pequeno Elia é reprimido pelo diretor da escola por dizer que os americanos são colonialistas.

Os eventos estão conectados com liberdade poética necessária para organizar lembranças afetivamente, sem compromisso científico. Por isso, cenas se repetem com pequenas mudanças, dando a entender estamos no limite que separa a autobiografia da autoficção. O território é da memória, mas o sentido se costura no presente. E hoje, o que poderia estar perdido no tempo está instalado na alma dos herdeiros da violência.

Estreia // Uma noite fora de série, ou "Querida, entramos no filme errado"



Uma noite fora de série (Date night, EUA, 2010), hoje nos cinemas, é uma comédia que brinca com clichês do cinema norte-americano. Seu roteiro ágil, inteligente e repleto de boas piadas fazem do filme um programa leve e divertido. O diretor Shawn Levy parece ter aprimorado o humor escrachado que já praticava em Uma noite no museu e o remake de A pantera cor-de-rosa.

De forma mais interessante e equilibrada, ele nos apresenta os Foster, casal quarentão, classe média, três filhos, residentes em New Jersey. Apesar de viverem num tédio só, Phil (Steve Carell) e Claire (Tina Fey) são certinhos demais para cogitar o divórcio. Quando um casal amigo anuncia a separação, Claire fica abalada a ponto de, certa noite, usar um decote mais baixo. O marido propõe jantar romântico em Manhattan, convite que repentinamente os transpõe da mais previsível comédia romântica ao típico thriller policial novaiorquino.

O bem-vindo cruzamento de gêneros traz boas referências, entre elas Depois de horas (1985), de Martin Scorsese (pela sequência de situações insanas que se acumulam pela madrugada), e O homem que sabia demais (1956), de Alfred Hitchcock. Esse último surge porque, sem querer, o casal feliz é confundido por uma dupla de gângsters com pé na polícia, que na verdade trabalham para uma caricatura de chefão da máfia (Ray Liotta). James Franco, Mark Ruffalo e Mark Wahlberg (que de certa forma revive os tempos de Dirk Diggler em Boogie Nights) ajudam a tornar críveis sequências com tiroteios e a obrigatória perseguição de carros.

Aterrorizados por estarem no filme errado, o casal vai ao departamento de polícia, onde uma detetive percebe o engano e vê na situação a chance de pegar os criminosos corporativos. Formados pela escola humorística do Saturday night live, Carell e Fey interpretam os Foster com o improviso corporal e tiradas feitas na hora, o que traz frescor e a sensação de imprevisibilidade necessárias para fazer voar a uma hora e meia de filme.

(Diario de Pernambuco, 09/04/2010)

Cine PE 2010 lançado no Rio de Janeiro


Alfredo Bertini apresenta o Cine PE 2010 na noite de quarta Foto: Daniela Nader

Rio de Janeiro - Um dia depois do previsto, a programação do Cine PE 2010 foi anunciada na Praia de Copacabana, com presença de famosos que concorrem ou serão homenageados durante a 14ª edição do festival. Coincidência infeliz, a cerimônia originalmente seria na terça-feira, dia seguinte ao temporal que arrasou a capital carioca. No entanto, algumas regiões não foram afetadas pelas chuvas, entre elas, o quadrante onde fica a sede da Oi Futuro, local do evento.

A expectativa era saber se, tal qual promete a Bíblia, depois da tempestade, viria a bonança. E qual não foi a surpresa ao encontrar no lounge o compositor Oswaldo Montenegro, cercado de câmeras e microfones. A curiosidade logo seria saciada: ele acaba de finalizar Leo e Bia, antigo projeto de música e teatro, agora vertido para o cinema com trilha de Zé Ramalho, Ney Matogrosso, Zélia Duncan, Sandra de Sá e Paulinho Moska. "Para mim é um privilégio. O melhor que poderia acontecer com o filme seria começar em Pernambuco", disse Montenegro, acompanhado de grande elenco, do qual faz parte a atriz Françoise Fourton. Roberto Farias, diretor de Assalto ao trem pagador e presidente da Academia Brasileira de Cinema, também prestigiou o evento. "É de arrepiar ver três mil pessoas reunidas para assistir ao cinema brasileiro".


Oswaldo Montenegro e equipe de Leo e Bia Foto: Daniela Nader

A programação de longas, selecionada a partir de 70 inscrições, foi anunciada pelo casal Alfredo e Sandra Bertini, que fizeram a seleção junto com Hermes Leal, editor da Revista de Cinema. Antes, Alfredo Bertini lamentou que Giuseppe Tornatore, convidado internacional que sucederia o greco-romano Constantin Costa-Gavras, não confirmou presença. Ele estaria à frente de uma mostra de cinema italiano. Disse que vai lutar para trazê-lo ano que vem.

Dos seis longas em competição, apenas Leo e Bia e o documentário Cinema de Guerrilha, de Evaldo Mocarzel, gozam de ineditismo. As melhores coisas do mundo, de Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças), será lançado no circuito comercial no próximo dia 16. Sequestro, de Wolney Atalla, Não se pode viver sem amor, de Jorge Durán, e O homem mau dorme bem, de Geraldo Moraes, já foram exibidos em outros festivais. De acordo com os organizadores, o critério foi, além da qualidade fílmica, a representação proporcional de todos os recantos do Brasil que se dispuseram a inscrever seus filmes. O mesmo valeu para guiar a escolha dos curtas.

Hors concours - Fora de competição, O bem-amado, de Guel Arraes, terá premiére nacional na noite de abertura oficial, segunda-feira, dia 26. Arraes e a Globo Filmes serão homenageados, ao lado de Julia Lemmertz e Tony Ramos. Dois outros filmes inéditos serão exibidos em sessão hors concours: Quincas Berro D'Água, de Sérgio Machado (Cidade Baixa), e Continuação, documentário sobre Lenine, dirigido por Rodrigo Pinto. Lemmertz esteve presente no lançamento e disse que guarda boas lembranças de sua passagem no Cine PE em 2003, quando participou do filme As três irmãs, de Aloísio Abranches.

Outras novidades anunciadas são a mostra itinerante em Olinda, seminários que serão transformados em livro e a volta histórica do Cine PE ao Cine São Luiz, que receberá a Mostra Pernambuco (24 e 25 de abril) e a cerimônia de premiação. Bertini justifica a presença de filmes de outros estados na mostra pernambucana, como os longas de Marcelo Brennand e de José Eduardo Souza Lima (Zé José), por serem "produtos que se relacionam ou são filmados Pernambuco". Também foi apresentada a campanha de divulgação, desenvolvida pela Mart Pet e estrelada por Bruno Garcia, Dira Paes e Flavio Pardal. Este ano, em vez de investir na combinação de cinema e símbolos regionais, o tema é economia da cultura.

O lançamento carioca do Cine PE foi justificado pela BPE Produções como um mecanismo de divulgação de Pernambuco e da cidade do Recife, o que contemplaria o interesse dos patrocinadores locais (Fundarpe, Empetur e Prefeitura do Recife). Outro motivo, disse Bertini, é o fato de que boa parte dos longas e curtas selecionados são produções do Rio de Janeiro. Mas claro que um agrado aos patrocinadorescariocas faz bem. Realizado com R$ 1,9 milhão, o Cine PE precisa estar garantido ano que vem, quando a Petrobras avaliará a continuidade de patrocínio ao evento.

(Diario de Pernambuco, 09/04/2010)

Cine PE - Programação completa

24/04 – Sábado

Mostra Pernambuco
19h - Cinema São Luiz (Boa Vista)

Curtas
Tchau e Benção (Daniel Bandeira, 10’, PE)
Aqui Mora Uma Pessoa Feliz (Jean Santos, 5’, PE)
Fôlego (Larissa Cavalcanti, 4’48”, PE)
Matriuska (Pablo Pólo, 15’20”,PE)
Lula em Cortes (Marcos Santos, 10’15”, PE)
O Mar de Lia (Hanna Godoy, 12’51”, PE)
Profissional da Noite (Kleber Castro Dibianchi, 15’, PE)
Retratos (Leo Tabosa e Rafael Negrão, 20’, PE)

Longas
Travessias (José Eduardo Souza Lima, 84’,PE/RJ)
Nas Rodas do Choro (Milena Sá, 50’, RJ)

Mostra Pernambuco
19h, no Cinema São Luiz

Curtas

Balé (Caio Sales, 10’, PE)
Tereza – Cor na Primeira Pessoa (Amaro Filho e Marcílio Brandão, 20’, PE)
À Felicidade (Carlos Nigro, 5’, PE)
Amor Selvagem (Evandro José Mesquita, 3’33”)
Não Sei Se Devo (Gabriel Muniz e Luis Vitor,4’11”)
Ossos do Ofício (Camila Rocha, Luciano Branco, Ricardo Arruda, Thiago de Albuquerque e Yure Serbedja, 12’, PE)
A Minha Alma É Irmã de Deus (Luci Alcântara, 18’, PE)

Longas
Porta a Porta (Marcelo Brennand, 80’, PE)

26/04 – Segunda-feira

Oficinas
9h as 13h - Fundação Joaquim Nabuco – Derby
Roteiro – Instrutor : Di Moretti – Roteirista - SP
Produção – Instrutor : Chris Rodrigues – Produtor - RJ

Cerimônia de Abertura
Mostra competitiva de curtas e longas-metragens
18h30 - Cine Teatro Guararapes

Curtas digitais
Tanto (Nataly Callai ,8’, SC)
Lá Traz da Serra (Paulo Roberto, 8’, PB)

Curtas em 35 mm
Bailão (Marcelo Caetano, 16', SP)
O Filme Mais Violento do Mundo (Gilberto Scarpa, 17', MG)
Recife Frio (Kleber Mendonça Filho, 20', PE)

Homenagem: Guel Arraes e Globo Filmes

Longa-metragem – Hors Concours
O Bem Amado (Guel Arraes, RJ)

27/04 – Terça-feira

Mostra Infantil (para alunos da rede pública de ensino)
9h - Cine Teatro Guararapes
Memória dos Bairros – Guabiraba (Criação coletiva dos alunos da Escola São Cristóvão, 20’, PE).
O Grilo Feliz e Os Insetos Gigantes (Walbercy Ribas e Rafael Ribas, 84’, SP)

Oficinas
9h as 13h - Fundação Joaquim Nabuco – Derby
Roteiro – Instrutor : Di Moretti – Roteirista - SP
Produção – Instrutor : Chris Rodrigues – Produtor - RJ

Seminário: Perspectivas e cenários para a indústria audiovisual no quadriênio 2011/14. Tema: Produção
15h às 18h - Hotel Golden Tulip Recife Palace (Boa Viagem)

Mostra competitiva de curtas e longas-metragens
18h30 - Cine Teatro Guararapes

Curtas digitais
Corpo Urb (Mariane Bigio ,10’ 46”, PE)
Eu Queria Ser um Monstro (Marão ,8’, RJ)

Curtas em 35 mm
O Divino, de Repente (Fábio Yamagi , 6’ 20”, SP)
Senhoras (Adriana Vasconcelos, 10 30”, DF)

Longa-metragens
Cinema de Guerrilha (Evaldo Mocarzel, 90’, SP)
O Homem Mau Dorme Bem (Geraldo Moraes, DF)

28/04 - Quarta-feira

Mostra Infantil (para alunos da rede pública de ensino)
9h - Cine Teatro Guararapes
Memória dos Bairros – Guabiraba (Criação coletiva dos alunos da Escola São Cristóvão, 20’, PE).
A Turma da Mônica em Uma Aventura no Tempo (Maurício de Sousa, 80’ RJ)

Oficinas
9h as 13h - Fundação Joaquim Nabuco – Derby
Roteiro – Instrutor : Di Moretti – Roteirista - SP
Produção – Instrutor : Chris Rodrigues – Produtor - RJ

Seminário: Perspectivas e cenários para a indústria audiovisual no quadriênio 2011/14. Tema: distribuição
15h às 18h - Hotel Golden Tulip Recife Palace (Boa Viagem)

Mostra competitiva de curtas e longas-metragens
18h30 - Cine Teatro Guararapes

Curtas digitais
Sweet Karolynne (Ana Bárbara Ramos, 15’,PB)
Sobe, Sofia (André Mielnik, 15’, RJ )

Curtas em 35mm
Revertere Ad Locum Tuum (Armando Mendz, 16’, MG)
A Noite Por Testemunha (Bruno Torres, 20', DF)

Longas-metragens
Seqüestro (Wolney Atalla, 94’,SP)
Léo e Bia (Oswaldo Montenegro, 95’, RJ)

29/04 - Quinta-feira

Oficinas
9h as 13h - Fundação Joaquim Nabuco – Derby
Roteiro – Instrutor : Di Moretti – Roteirista - SP
Produção – Instrutor : Chris Rodrigues – Produtor - RJ

Seminário: Perspectivas e cenários para a indústria audiovisual no quadriênio 2011/14. Tema: exibição
15h às 18h - Hotel Golden Tulip Recife Palace (Boa Viagem)

Mostra competitiva de curtas e longas-metragens
18h30 - Cine Teatro Guararapes

Curtas digitais
Do Morro? (Mykaela Plotkin e Rafael Montenegro, 20’, PE)
Ensaio de Cinema (Allan Ribeiro, 15’, RJ)

Curtas em 35mm
A Montanha Mágica (Petrus Cariry, 13', CE)
Circuito Interno (Júlio Martí , 15', SP)
Faço de Mim o Que Quero (Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena, 18', PE)
Azul (Eric Laurence, 19', PE)

Longa-metragens
As Melhores Coisas do Mundo (Lais Bodanzky,100’, SP)

30/04 - Sexta-feira
Oficinas
9h as 13h - Fundação Joaquim Nabuco – Derby
Roteiro – Instrutor : Di Moretti – Roteirista - SP
Produção – Instrutor : Chris Rodrigues – Produtor - RJ
Formas de Financiamento ao Audiovisual - Instrutor: Fábio Cesnik – Advogado – SP (9h às 18h)

Seminário: Literatura e Cinema: a convergência das artes pela ótica dos roteiros adaptados
15h às 18h - Hotel Golden Tulip Recife Palace (Boa Viagem)

Lançamento do livro O Novo Ciclo de Cinema em Pernambuco: A Questão do Estilo, de Amanda Mansur Custódio Nogueira
18:30h - Foyer do Cine Teatro Guararapes – Centro de Convenções

Mostra competitiva de curtas e longas-metragens
18h30 - Cine Teatro Guararapes

Curtas digitais
Se Meu Pai Fosse de Pedra (Maria Camargo, 19’, RJ)
O Plano do Cachorro (Arthur Lins e Ely Marques, 10’, PB)

Curtas em 35mm
Zé(s) (Piu Gomes , 15', RJ)
Amigos Bizarros do Ricardinho (Augusto Canani, 21’, RS)
Quando a Chuva Chegar (Jorane Castro , 15', PA)

Homenagem
Júlia Lemmertz

Longas-metragens
Não Se Pode Viver Sem Amor (Jorge Durán, 103’,RJ)

Mostra itinerante
O Casamento de Romeu e Julieta (Bruno Barreto, 90’ ,RJ)
19h - Sítio Histórico de Olinda

01/05 - Sábado

Mostra competitiva de curtas e longas-metragens
18h30 - Cine Teatro Guararapes

Curtas digitais
Áurea (Zeca Ferreira, 16’, RJ)
Família Vidal (Diego Benevides, 15’, PB)

Curtas em 35mm
Geral (Anna Azevedo, 14', RJ)
Nego Fugido (Cláudio Marques e Marília Hughes Guerreiro , 16', BA)
Um Médico Rural (Cláudio G. Fernandes, 21', PE)
Homem-Bomba (Tarcísio Lara Puiati, 13', RJ)

Homenagem
Tony Ramos

Longa-metragem – Hors Concours
Quincas Berro D’Água (Sérgio Machado,102’, RJ)

Mostra itinerante
Se Eu Fosse Você 2 (Daniel Filho,108’ ,RJ)
19h - Sítio Histórico de Olinda

02/05 - Domingo

Longa-metragem – Hors Concours
Continuação (Rodrigo Pinto, 71’, RJ)
18h30 - Cinema São Luiz (Boa Vista)

Solenidade de premiação e encerramento
20h30 - Cinema São Luiz (Boa Vista)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sai a lista do Funcultura 2009



Uma das listas mais esperadas do ano, o resultado do edital 2009 Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, foi anunciado ontem pela manhã, em cerimônia no Cine São Luiz. É a primeira vez que o luxuoso espaço é utilizado para essa função, até então realizada no Palácio do Campo das Princesas. A grandiosidade do salão deixou muitos espaços vazios, o que gerou a impressão de que o evento foi pouco prestigiado. Mas foi impressão e só, pois compareceram mais de 200 pessoas, grupo batizado por Luciana Azevedo de "tecido sócio-cultural". A presidente da Fundarpe conduziu as formalidades, o que incluiu a utilização da tela do São Luiz como suporte para um power point com o balanço do Funcultura durante a gestão Eduardo Campos.

Nesta primeira etapa, R$ 15 milhões foram distribuídos entre 232 projetos, de um universo de 1.185 inscritos. Como sempre, a área de música foi a mais beneficiada, com R$ 3,7 milhões, seguida por teatro, formação e capacitação e artes integradas. As áreas menos disputadas foram ópera, circo, fotografia e artesanato. O menor investimento, para a gravação de CD, contemplou Hugo Linns (R$ 12 mil) e o maior, três obras de restauro e preservação de patrimônio (R$ 200 mil cada). "Temos vários programas de rádio, projetos de formação e patrimônio. Mas acima de tudo, o resultado corresponde à diversidade da cultura do estado", disse Luciana.

Onze das doze regiões de desenvolvimento foram contempladas. Noventa por cento dos projetos circularão pelo estado, via Festival Pernambuco Nação Cultural, estações culturais e Pontos de Cultura. "Esse foi um dos critérios de seleção. Outro foi a geração de postos de trabalho, mesmo que sazonais, assim como a cana-de-açúcar. Então também vamos fazer esse enfrentamento". Este ano, os números remetem a 6 mil postos de trabalho temporários e a quase 3 milhões de pessoas com acesso ao resultado dos projetos. "Queremos garantir patamares para a população sair da exclusão cultural, do cais ao Sertão", disse Luciana.

O atraso do anúncio do resultado (as inscrições se encerraram em 9 de outubro de 2009), justificou Luciana, ocorreu devido a mudanças no processo de seleção e na própria comissão deliberativa, que foi parcialmente renovada. "É mudar o modelo com o carro andando. Não é só selecionar projeto e colocar na rua. Em 2006, a comissão deliberava recursos de R$ 4 milhões. Hoje são R$ 24 milhões, em três etapas. Temos um modelo de avaliação e monitoramento para interagir projetos com um contexto maior".

Luciana aproveitou a ocasião para anunciar que o Funcultura 2010-2011 será lançado em julho, durante o Festival de Inverno de Garanhuns. Se o resultado não sair ainda este ano, segundo a Fundarpe, a lei garante que os recursos sejam liberados na próxima gestão. Já a segunda etapa do Funcultura 2009, exclusiva para o audiovisual, será divulgada em maio. A terceira, para eventos consolidados, abre para inscrições em maio, com resultado em setembro. Em tempo: também no São Luiz, nos dias 3 e 4 de maio, haverá uma plenária pública de avaliaçãodo Funcultura. Todo o "tecido sócio-cultural" está convidado.

Lista completa dos contemplados pelo Funcultura 2009 aqui.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Lançamentos DVD, coluna bastidores, "eu indico" e ranking da semana



Memórias - Após acidente, o cineasta Mateo Blanco (Lluís Homar) perde a visão e assume o alterego de Harry Caine, nome com o qual costumava assinar seus roteiros. Com a ajuda da amiga e produtora Judit García (Blanca Portillo) e seu filho Diego (Tamar Novas), ele resgata aos poucos a memória do amor que viveu com Lena (Penélope Cruz). O roteiro guarda bons momentos que nos acostumamos a encontrar em Almodóvar, com situações que transbordam limites da convenção. Nessa bela homenagem ao cinema, Almodóvar sem dúvida está mais contido, mas não menos apaixonado.
Abraços partidos (Los abrazos rotos, Espanha, 2009). De Pedro Almodóvar. 127 minutos. Universal.



Fotografia - O célebre retrato de Ernesto "Che" Guevara é a imagem mais reproduzida do século 20. Ao mesmo tempo em que o rosto do líder revolucionário ganhou o mundo, sua trajetória e ideais foram esvaziados a ponto de gerar diferentes interpretações. Este documentário narra os eventos que precederam o encontro entre Che e o fotógrafo Alberto Korda, numa solenidade oficial em Cuba. E, depois da fama, quando aquele rosto e seu intrigante olhar ganharam vida própria. Entre os entrevistados estão os atores Antonio Banderas e Gael Garcia Bernal, que já interpretaram Che no cinema.
Chevolution (Mexico, 2008). De Trisha Ziff e Luis Lopez. 89 minutos. Imagem.


Incorreto - Neste remake de filme dos anos 90 dirigido por Abel Ferrara, Terence McDonagh (Nicolas Cage) é um policial imprevisível, disposto a agir fora da lei para prender o gângster que assassinou imigrantes senegaleses. Entre alucinações com iguanas e sessões de sexo, drogas e muito jazz, ele investiga o caso, com o auxílio irrestrito da prostituta Frankie (Eva Mendes) e a conivência de cúmplices do departamento de New Orleans. Subvertendo clichês de filmes policiais, Herzog oferece um cínico retrato da cultura da violência institucionalizada nos Estados Unidos. E Cage, um dos melhores momentos de sua carreira.
Vício frenético (Bad Liutenant: Port of call, EUA, 2009). De Werner Herzog. 121 minutos. Imagem.



Clarice - Dirigido especialmente para o mercado de TV e home video pela sobrinha de Clarice Lispector, este filme dramatiza uma série de entrevistas que a escritora ucraniana realizou para a revista Manchete, com personalidades da cultura brasileira, como Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Fernando Sabino e Jorge Amado. Para interpretar as várias "Clarices" foram escaladas as atrizes Aracy Balabanian, Beth Goulart, Louise Cardoso, Claudiana Cotrim, Letícia Spiller, Dora Pelegrino e Silvia Buarque. Para o papel dos entrevistados, o elenco traz Jofre Rodrigues, Fernando Eiras, Paulo Vespúcio e Chico Diaz. Entrevistas completam a produção.
De corpo inteiro - entrevistas (Brasil, 2010). De Nicole Abranti. 67 minutos. Taboca.

Bastidores

O bem amado, de Guel Arraes, Quincas Berro D'Água, de Sérgio Machado, e As melhores coisas do mundo, de Laís Bodansky, estão confirmados no Cine PE 2010. Programação completa no Viver de amanhã.

Da HQ para a TV. A série Vida de estagiário, de Alan Sieber, estreia 16 de abril, às 18h30, na TV Brasil. A direção é de Vitor Brandt, com roteiro de Sieber e Arnaldo Branco e música de Flu. Episódio piloto está online.

Do cinema para as ruas. O Batmóvel chega ao Brasil no próximo dia 15, trazido pela Warner, detentora dos direitos do personagem no cinema e na TV. O motivo é a comemoração dos 75 anos da DC Comics. Pena que o carro do morcego não vai sair de São Paulo.

Hoje, amanhã e domingo, o documentário Avenida Brasília Formosa, de Gabriel Mascaro, tem premiére no Festival Intenacional de Filmes Independentes - Bafici 2010, em Buenos Aires. Outros filmes são Viajo porque preciso, volto porque te amo, Estrada para Ythaca e Belair.

Eu indico

"Assisti há pouco tempo ao filme Um homem sério (A serious man, EUA, 2010), de Joel e Ethan Cohen. É um mergulho sombrio na família e na desconstrução do sonho norte-americano, visto de dentro de uma comunidade judia, com humor, religião e tragédia. Na minha opinião, é o melhor filme dos irmãos Coen". - Fábio Trummer, músico

Ranking dos mais locados

1.Se beber, nao case
2.Bastardos inglórios
3.A orfã
4. sequestro do Metrô 1 2 3
5. A proposta
6. Minhas adoráveis ex-namoradas
7.Inimigos públicos
8.Uma prova de amor
9.Intrigas de estado
10.A verdade nua e crua

Fonte: SMS Video

(Diario de Pernambuco, 08/04/2010)

domingo, 4 de abril de 2010

Mestre Vitalino também foi criança



Um livro ilustrado com memórias de infância de Mestre Vitalino será lançado em breve pela Fundação Joaquim Nabuco. Voltado para as crianças, mas longe de se restringir a essa faixa de leitores, Vitalino menino tem 40 páginas e deve ser lançado em maio. Ele faz parte de uma nova coleção concebida pelo Museu do Homem do Nordeste intitulada Brincadeiras de Mestres, que adapta para o formato a infância de artistas da cultura popular. Os próximos serão sobre Patativa do Assaré e Mestre Bimba, criador da capoeira regional.

João Lin, que ilustra o volume de estreia, explica que a infância de Vitalino está representada a partir de suas peças de barro mais emblemáticas. Em páginas duplas, episódios de sua vida são contados de forma não linear, diferente das biografias tradicionais. "A peça do Gato Maracajá, a primeira que Vitalino teve consciência de que podia criar e comercializar, ele fez pensando nas caçadas que o pai fazia".

Parte das passagens foram baseadas em relatos e depoimentos do próprio Vitalino ou de pesquisas sobre ele, encontrados em arquivos de texto, áudio e vídeo disponíveis no acervo da Fundaj. As demais, foram criadas a partir da livre interpretação de Lin, ao lado do designer Rodrigo Sushi e do poeta Valter Ramos, responsável pelo texto final, de acento popular. "Não encontramos nenhuma história sobre a peça do Batismo, disponível na Fundaj. Então inventamos uma, em que ele é o batizado", diz Lin, que teve como assistente para as ilustrações o desenhista Rafael Anderson. O livro, que tem tiragem de 3 mil cópias, deve ser comercializado a R$ 10.

Vânia Brainer, coordenadora geral do Museu do Homem do Nordeste, diz que o projeto conseguiu definir uma unidade entre o traço de João Lin e a forma dos bonecos de Vitalino. "Ficou tão interessante que até os adultos estão encantados". O know-how de Lin, que em 2009 assinou os cinco primeiros volumes da série Pequenos craques (Editora Callis) reforçou o interesse da instituição em dar o pontapé inicial do novo projeto convidando o desenhista.

"Entre outros, contei a infância de Garrincha e João do Pulo, do momento do nascimento à adolescência. Só que de forma mais cronológica. Com Vitalino, tive mais liberdade para fragmentar a narrativa e fantasiar a partir do desenho das peças. Penso nas histórias como uma grande tela, que traz uma ilustração ou narrativa de quadrinhos", diz Lin, que em outro episódio utiliza da mistura dos dois gêneros das artes gráficas para contar a história do Lobisomem a partir de imagens oníricas da noite de lua cheia. Ele também adianta que Vitalino menino pode render produtos derivados, como um desenho animado.

(Diario de Pernambuco, 04/04/2010)

A hora do cineasta



Nos últimos tempos, o crítico de cinema Kleber Mendonça Filho tem se destacado também como realizador de filmes. Da sua premiada produção de curtas, Recife frio é o mais recente e deve ser uma das principais atrações do Cine PE. Os demais acabam de ser exibidos em retrospectiva no Rencontres Cinémas D'Amérique Latine de Toulouse, na França.

A novidade é que Kleber decidiu parar de escrever sobre filmes dos outros - ofício no qual se tornou uma referência - para se dedicar exclusivamente ao seu. Em meio a preparativos para rodar seu segundo longa-metragem, O som ao redor, ele respondeu a entrevista a seguir.

Você produz um festival, realiza filmes, é programador do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e isso deve dar trabalho. O que te atrai no cinema a ponto de dedicar sua vida a ele?
É muito trabalho sim, mas é o que eu sei fazer. Como programador, me parece importantíssima a ideia de mostrar um cinema mais generoso para com o mundo, em espaços que agreguem as pessoas socialmente, numa época em que espaços são desenhados para otimizar o gasto bruto de dinheiro e pouca coisa mais. Fazer filmes é apaixonante, é um processo que me interessa em todos os detalhes - escrever, filmar, editar, sonorizar. Minha preocupação primeira é ser verdadeiro e não em comercializar. Ganhar dinheiro com cinema é uma possibilidade mas nunca uma certeza. E ver filmes é algo que faço desde criança. Tudo junto resulta em muito trabalho, mas também em muito prazer, sempre.

Você vem de uma bem sucedida carreira de curtas. Por que a opção pelo formato de longa-metragem?
Desde a época em que fazia vídeo que pra mim um filme é um filme, independente do formato. Com o sucesso de Vinil Verde em 2004, começaram as cobranças sobre um longa, o que aumentou com o sucesso de Eletrodoméstica e Noite de sexta manhã de sábado. Mas eu esperei até naturalmente chegar a um longa sem pressa nenhuma. E essa ideia chegou e eu escrevi um roteiro que me agrada muito dentro do formato de longa duração. No plano geral, é natural que a maior parte dos realizadores cheguem ao longa.

Após 12 anos como crítico de cinema, você se afasta da função. Foi uma decisão difícil de tomar?
Foi difícil. Minha experiência de colaboração com o JC não poderia ter sido melhor, num processo de parceria das duas partes e total liberdade de enfocar o cinema da maneira que eu o vejo. Ver filmes e escrever é uma coisa que adoro desde sempre. No entanto, é algo que exige enorme energia e tempo, que agora precisam ser redirecionadas para o filme.

E como você define O som ao redor?
É uma crônica sobre vida em sociedade, no Recife. É muito local, mas talvez seja universal. Vemde observações pessoais minhas sobre as pessoas e a cidade, tema que já tratei em Enjaulado, Eletrodoméstica e Recife frio. Tudo dando certo, não estarei me repetindo, mas explorando terreno familiar.

(Diario de Pernambuco, 04/04/2010)

sábado, 3 de abril de 2010

Cinema entre o luto e a moda



Uma história de amor forjada com imagens impecáveis marca a estreia do estilista Tom Ford no cinema. Pois antes de tudo, Direito de amar (A single man, EUA, 2009) seduz pela plástica, capaz de reconstruir os anos 1960 em termos de moda e design.

Em cores que oscilam entre o "lavado" (quase preto-e-branco) e a saturação over, que torna a pele um pigmento cor-de-rosa. Nada é gratuito ou fora de propósito, já que assim o filme assume a subjetividade do personagem principal, George (Colin Firth), professor de literatura acima da média que, segundo a melhor amiga, Charley (Juliane Moore) poderia lecionar em Berkerley, mas prefere a vida discreta em Los Angeles, onde há 15 anos vive com o namorado Jim (Matthew Goode).

Destino cruel, Jim morre subitamente, em acidente de carro. Por telefone, George é informado da tragédia e pior, de que seria melhor não comparecer ao enterro, a pedido da família. Se emocionalmente a condição de George está no limite do colapso, externamente ele mantém a aparência organizada, correta e afável com alunos e colegas de trabalho. Reserva a dura sinceridade para Charley, frívola bonequinha de meia-idade, com quem na juventude viveu um affair.

Ao mesmo tempo em que elabora luto em suspense de mórbida precisão (há uma sequência na frente de painel de Psicose, bela homenagem a Hitchcock), George procura em vão o amor perdido. Parte de seu olhar transtornado se reserva à beleza das mulheres ao redor. Outra não resiste a garotos com cheiro de fralda, que parecem ter saído de um ensaio erótico. Eles se oferecem mais de uma vez, todos recusados. Distante da promiscuidade sexual, George representa a parcela de gays intelectuais românticos, que preferem o casamento à vida profana.

Indicado ao Oscar, Colin Firth é a alma de um filme visualmente artificial. E o contraste entre ele e a família "normal" da casa ao lado é um dos bons caminhos abertos por Ford. De outra forma, Direito de amar estaria mais para luxuoso catálogo de moda do que para cinema.

(Diario de Pernambuco, 03/04/2010)

Chico Xavier das multidões



Não é à toa que a cinebiografia Chico Xavier entra hoje em cartaz em cerca de 350 cinemas do Brasil. O motivo mais óbvio é a comemoração do centenário de nascimento do médium cuja notoriedade extrapolou os limites da doutrina espírita.Mas não devemos desprezar o potencial da data coincidir com um feriado cristão. Tendo nas mãos um personagem por um lado famoso e querido, por outro alvo de acusações que vão da heresia ao charlatanismo, os executivos da Sony, Downtown e Globo Filmes sabem que têm nas mãos um tema tão lucrativo quanto delicado.

Um dos termômetros para a aposta é meramente censitário. Apesar do país ser majoritariamente católico e ter uma ascensão galopante de protestantes, ele representa a maior população espírita do planeta, algo em torno de 2,2 milhões de pessoas. Não deve ter passado batido para a produção a "zebra" que foi Bezerra de Menezes - diário de um espírito, uma das maiores bilheterias de 2007 (330 mil espectadores).

Esse filão de mercado deve ser explorado mais vezes durante o ano. Inspirado em livro de Xavier, Nosso lar, de Wagner Assis, chega com produção luxuosa: fotografia de Ueli Steiger (O dia depois de amanhã, 10.000 AC, Godzilla), efeitos especiais da Intelligent Creatures (Fonte da vida, Babel e Watchmen) e música original de Philip Glass. Em produção está As mães de Chico, de Glauber Filho (o mesmo de Bezerra de Menezes), onde o ator Nelson Xavier volta a encarnar o personagem.

Por sinal, o DVD duplo com o programa de TV que tornou Chico Xavier famoso nacionalmente (Pinga fogo, de 1971) é um dos títulos mais vendidos da distribuidora Versátil. Não por acaso, é nesse interessante documento que se estrutura o filme dirigido por Daniel Filho (Se eu fosse você 1 e 2). Por isso e algo mais, fica difícil acreditar que a única preocupação dos produtores dessa telelágrima de luxo é divulgar a mensagem de Chico Xavier. Seria muito altruísmo da parte dos donos de um produto que provavelmente será a maior bilheteria do cinema nacional de 2010.

Ao custo de R$ 11 milhões, Chico Xavier foi pensado em cada detalhe para ressaltar os aspectos positivos e minimizar o que há de questionável no biografado. É quase um panfleto em prol do espiritismo, com um forte verniz católico traduzido na relação de admiração mútua entre Chico e o padre Scarzelo (Pedro Paulo Rangel), desde a infância. Já adulto, reconhecido, a recusa do novo pároco (Cássio Gabus Mendes) é mostrada como postura obscurantista, já que o médium, sempre pronto a trazer conforto emocional e dar a outra face à mais vil das criaturas só pode ser um santo. Em nenhum momento o personagem apresenta falhas de caráter. Em compensação, sofre muito.

Ao longo do filme, acompanhamos Chico Xavier em três fases da vida. Na infância (vivido por Matheus Costa), sob castigos da madrinha (Giulia Gam) ele já apresenta sinais de mediunidade. Na idade adulta, na pele de Ângelo Antônio, quando descobre que seus poderes podem trazer alívio para os que perderam entes queridos. E na maturidade, em que Nelson Xavier o incorpora com semelhança assombrosa. Nos bastidores do estúdio de TV, o diretor do programa (Tony Ramos) protagoniza uma subtrama dramaticamente pobre com sua esposa (Christiane Torloni), que perdeu o filho em situação trágica e acredita que o famoso espírita pode ajudar a elucidar o caso. E tome chororô.

(Diario de Pernambuco, 03/04/2010)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ponto de virada



Apesar do sobrenome em comum, Nelson Xavier levou uma vida inteira para conhecer Chico. Ateu de formação comunista, ele atuou em meia centena de filmes, entre os quais Os fuzis (1964), Eles não usam black-tie (1982) e Narradores de Javé (2003). Após sete anos longe do cinema, ele está de volta no papel que considera ser o mais importante de sua carreira, o qual deve "reencarnar" em breve, no filme As mães de Chico, de Glauber Filho, diretor da cinebiografia de outro ícone do espiritismo brasileiro, Bezerra de Menezes - diário de um espírito (2007).

Chico Xavier, de Daniel Filho, entra em cartaz amanhã, dia de seu centenário de nascimento. Em Paulínia, onde concedeu a entrevista a seguir, o ator falou sobre a construção do personagem e como ele mudou sua maneira de ver o mundo. Quando soube que a reportagem vinha de Pernambuco, uma emoção a mais fez brilhar os olhos do artista, que viveu no Recife por volta de 1962, quando Participou ativamente do Movimento de Cultura Popular. "Foi um dos momentos mais gloriosos de minha vida", disse, com voz emocionada. Leia mais a seguir.

Entrevista // Nelson Xavier: "Chico me lembrou que o amor tem que estar mais presente"

Você interpreta Chico Xavier com muita fidelidade. Que estratégia você utilizou para construir o personagem?
Eu tentei interpretá-lo, não imitá-lo. Eu e Ângelo Antônio (que vive Chico Xavier na juventude) ensaiamos no sentido de parecer um com o outro, para poder fazer juntos, nos espelhar nele e em nós mesmos. Mas o que me conduziu foi a emoção, foi isso o que me fez sentir identificado com ele. E a única explicação para essa emoção é a presença dele. É uma coisa de contágio, de invasão, de posse. Por exemplo, teve um momento durante as filmagens que uma atriz no papel de mãe que trouxe uma carta do filho morto me disse: 'ele está do seu lado'. E eu caí em prantos. Foi essa emoção que me conduziu mais do que qualquer outra coisa.

Como você pontua Chico Xavier na sua carreira? É seu grande papel?
É. Porque ele transcende. Nenhum personagem muda necessariamente (o ator). Chico me fez mudar. Me lembrou que o amor tem que estar mais presente na vida da gente. A tolerância tem que excercer sim, viver a paciência, a entrega, a bondade, o amor. Não pode só evocar, tem que viver, assumir. Isso ele fez comigo.

Desde o início você foi pensado para ser o ator principal. Até então, quem era Chico Xavier para você?
Apenas um médium. Quando alguém me chamava de Chico algumas vezes eu respondi 'é a mãe'. Depois que li o livro com dedicatória do Marcel (Souto Maior, o escritor) dizendo que ele gostaria que eu fizesse o papel, li e fiquei tomado com aquela história sofrida. Fui invadido por uma onda de amor que me balançou. Quando vi estava lidando com um santo. E isso me invadiu a ponto de ultrapassar os limites de um trabalho artístico. Foi tão forte que não tem como negar porque é muito intenso, leva as lágrimas, paro de falar, pois transcende ao filme.

Você já fez mais de 50 filmes e após sete anos, volta a atuar para o cinema, onde viverá novamente Chico Xavier para o longa As mães de Chico
É verdade, tenho feito mais TV. Mas sou o que sou hoje porque quis dirigir cinema, esse foi meu início. Mas fiz pouca coisa ou quase nada porque não tenho lado empresário. Dei cabeçada e deixei pra lá, não sei sair à luta para captar recursos. Tenho um filme que captei e até agora não consegui grana para completar o filme. Lembrar é resistir, espécie de documentário de teatro com depoimentos de torturados políticos.

Antes do filme você seguia a doutrina espírita?
De jeito nenhum. Eu só acreditava que o kardecismo existe. Conhecia desde criança, minha mãe era espírita. Só mudei no sentido de achar que a gente morre e desaparece. Hoje acho que não, continuamos com a identidade, acho que voltamos.

Que momento do filme mais te marcou?
Existem vários momentos, mas o início é o que marcou mais, porque eu rezo e penso na minha mãe. (pausa para chorar) Eu resgatei a relação com minha mãe porque ela sempre quis que eu aderisse ao espiritismo, eu sempre zombava. Por isso, as duas vezes que eu rezo no filme eu não pude deixar de lembrar disso. Ele disse que a mãe, depois de desencarnada, ensinou o caminho.



Outro personagem emblemático que você fez foi Lampião, em seriado de TV de 1982.
Com ele também teve essa coisa de posse. Mas foi diferente, chamei ele de general do povo, ele tinha uma visão radical de fazer justiça com as próprias mãos. E tinha o amor com Maria Bonita. Quando vesti os óculos dele, teve uma semelhança com essa invasão do Chico. Os dois são reais, né? São brasileiros, não são ficção.

Que lembranças você guarda do Movimento de Cultura Popular?
Muita gente boa estava lá, como Germano Coelho e Paulo Freire. A gente via o futuro, éramos inocentes, achávamos que isso ia melhorar o Brasil. Foi um momento muito lindo. A composição de católicos e comunistas tinha dado certo, rendeu um verniz cultural que permitiu um trabalho de conscientização, de alfabetização e de agitação política. O Brasil era outro, não era essa pátria conformista que a gente assiste hoje. Era sociedade viva, querendo mudar. Tinha uma juventude participando do processo político, operários indo pra rua. O MCP que foi modelo para o CPC, era um organismo fantástico.

O MCP vai completar 50 anos. Você acha possível retomar o espírito daquela época?
Eu acho difícil, mas acho que deve ser tentado. O Brasil é outro, está muito conformista. Estudantes não tem organização. A perplexidade da esquerda e 20 anos de ditadura amorteceu a capacidade de resposta do povo brasileiro.

(Diario de Pernambuco, 01/04/2010)