sexta-feira, 16 de abril de 2010

A jornada de Jeff Brigdes



No papel do ex-country star que sobrevive de pequenos shows de beira de estrada, o oscarizado Jeff Bridges brilha como principal atração de Coração louco (Crazy heart, EUA, 2010). Em seu primeiro grande papel desde o hippie Jeffrey "The Dude" no Big Lebowsky dos irmãos Coen, encontramos Bridges, com estilo distinto e tão carismático quanto, novamente numa pista de boliche. Ele dá rosto e voz a Bad Blake, 57 anos, músico em decadência, incapaz de largar o bourbon e o tabaco - vícios que pratica como um condenado -, mas que ainda sabe cuidar de sua guitarra. Reconhecido pelo público mais antigo, fiel ao ídolo da juventude, Blake se apresenta em lugarejos do Texas, Arizona e Oklahoma, viajando num Silverado 1978.

É justamente neste carro, com o qual viaja entre landscapes belamente trabalhadas em cinemascope, que somos apresentados a Blake. A relação imediata é a do cowboy motorizado, amalgamado num ser único que, com certo esforço, segue representando os EUA à moda antiga, uma cultura romântica e em extinção. O rótulo "filme de ator" torna-se algo inevitável, até porque seu diretor, o estreante Scott Cooper, vem justamente de uma carreira de atuações, enquanto o próprio Bridges assina a produção.

Às vésperas da obscuridade, Blake ainda é admirado pelo público mais velho, do qual extrai seu sustento e algumas garrafas de uísque. Porém, os sintomas do alcolismo podem dar um fim imediato em sua carreira. Resta a ele a possibilidade do amor, que aponta para a jornalista Jean (Maggie Gyllenhaal), mãe solteira que encontra em Blake a chance de exercitar seu afeto e de quebra providenciar a imagem masculina para seu filho.

Mas é na gratidão misturada com culpa de sua cria artística, o cantor Tommy Sweet (Colin Farell), que Blake conseguirá certa estabilidade. Canções originais de T. Bone Burnett completam a identidade de um filme baseado na afetividade e em ótimas sequências musicais, que tendem a confortavelmente permanecer por algum tempo na memória, após a sessão.

(Diario de Pernambuco, 16/04/2010)

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