domingo, 4 de abril de 2010
A hora do cineasta
Nos últimos tempos, o crítico de cinema Kleber Mendonça Filho tem se destacado também como realizador de filmes. Da sua premiada produção de curtas, Recife frio é o mais recente e deve ser uma das principais atrações do Cine PE. Os demais acabam de ser exibidos em retrospectiva no Rencontres Cinémas D'Amérique Latine de Toulouse, na França.
A novidade é que Kleber decidiu parar de escrever sobre filmes dos outros - ofício no qual se tornou uma referência - para se dedicar exclusivamente ao seu. Em meio a preparativos para rodar seu segundo longa-metragem, O som ao redor, ele respondeu a entrevista a seguir.
Você produz um festival, realiza filmes, é programador do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e isso deve dar trabalho. O que te atrai no cinema a ponto de dedicar sua vida a ele?
É muito trabalho sim, mas é o que eu sei fazer. Como programador, me parece importantíssima a ideia de mostrar um cinema mais generoso para com o mundo, em espaços que agreguem as pessoas socialmente, numa época em que espaços são desenhados para otimizar o gasto bruto de dinheiro e pouca coisa mais. Fazer filmes é apaixonante, é um processo que me interessa em todos os detalhes - escrever, filmar, editar, sonorizar. Minha preocupação primeira é ser verdadeiro e não em comercializar. Ganhar dinheiro com cinema é uma possibilidade mas nunca uma certeza. E ver filmes é algo que faço desde criança. Tudo junto resulta em muito trabalho, mas também em muito prazer, sempre.
Você vem de uma bem sucedida carreira de curtas. Por que a opção pelo formato de longa-metragem?
Desde a época em que fazia vídeo que pra mim um filme é um filme, independente do formato. Com o sucesso de Vinil Verde em 2004, começaram as cobranças sobre um longa, o que aumentou com o sucesso de Eletrodoméstica e Noite de sexta manhã de sábado. Mas eu esperei até naturalmente chegar a um longa sem pressa nenhuma. E essa ideia chegou e eu escrevi um roteiro que me agrada muito dentro do formato de longa duração. No plano geral, é natural que a maior parte dos realizadores cheguem ao longa.
Após 12 anos como crítico de cinema, você se afasta da função. Foi uma decisão difícil de tomar?
Foi difícil. Minha experiência de colaboração com o JC não poderia ter sido melhor, num processo de parceria das duas partes e total liberdade de enfocar o cinema da maneira que eu o vejo. Ver filmes e escrever é uma coisa que adoro desde sempre. No entanto, é algo que exige enorme energia e tempo, que agora precisam ser redirecionadas para o filme.
E como você define O som ao redor?
É uma crônica sobre vida em sociedade, no Recife. É muito local, mas talvez seja universal. Vemde observações pessoais minhas sobre as pessoas e a cidade, tema que já tratei em Enjaulado, Eletrodoméstica e Recife frio. Tudo dando certo, não estarei me repetindo, mas explorando terreno familiar.
(Diario de Pernambuco, 04/04/2010)
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Um comentário:
muito bacana a entrevista!
Rô
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