sexta-feira, 18 de março de 2011
O cinema como viagem espiritual
Que o título quilométrico e o nome quase impronunciável de seu autor não sejam impedimentos para assistir a um dos melhores filmes dos últimos tempos. Em pré-estreia no Cinema da Fundação, Tio Boonmee que pode recordar de suas vidas passadas (Lung Boonmee Raluek Chat, Tailândia, 2010), de Apichatpong Weerasethakul, foi o grande vencedor do último Festival de Cannes do ano passado.
É verdade que prêmios e medalhas não são garantia de satisfação, mas é justamente pela consagração de júri (presidido por Tim Burton) e crítica no festival mais renomado do mundo que o filme de Joe (como Weerasethakul foi ironicamente apelidado pelos ocidentais) pode chegar ao circuito brasileiro, dando ao público a oportunidade de julgar seu mérito.
Se assistido sem preconceitos, Tio Boonmee pode levar a lugares inesperados. Aos mais apressados, nada de colocá-lo no rol de filmes sobre espiritismo. Antes de mais nada, ele trata do mistério. E o principal: o faz pelo uso excepcional da linguagem do cinema. É através dela que podemos mais do que acompanhar, mas experimentar sensorialmente a jornada de Boonmee, no limiar entre a vida e a morte. A saúde não vai bem e ele se refugia na casa de parentes, onde pode se reconectar com a natureza.
Durante a despedida surge o fantasma da esposa, já falecida e seu filho, transmutado em entidade verde-musgo com olhos vermelhos que brilham no escuro. A partir deste momento, o filme vai para além do tema e salta para o território da criação cinematográfica. A maior síntese disso está na impressionante composição da floresta em imagens e sons, onde natural e sobrenatural coexistem sem sobressaltos. Vale reafirmar: Tio Boonmee trata de uma realidade que não poderia ser representada de outra forma, a não ser pelo cinema.
No Recife, o filme entra em cartaz na sexta-feira que vem, no Cinema da Fundação. Antes, haverá uma sessão de pré-estreia, às 18h deste sábado (12). A segurr mais imagens e dois cartazes especiais de Tio Boonmee, um deles assinado pelo artista gráfico Chris Ware (de Jimmy Corrigan, o garoto mais esperto do mundo)
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