sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Pré-estreia // "Alô, Alô, Terezinha", de Nelson Hoineff


Chacrinha e as chacretes, na extinta TV Tupi

Durante as décadas em que trabalhou em rádio e TV, Chacrinha (1917 - 1988) apresentou novos talentos, criou bordões e fez muita gente dar risada. Mais de vinte anos após sua morte, um dos maiores fenômenos da comunicação brasileira está volta às telas através do documentário Alô, Alô, Terezinha!.

Por si, a força e o carisma do personagem criado por Abelardo Barbosa seriam suficientes para segurar qualquer filme. Somente as imagens de arquivo, com calouros dispostos a "ir para o trono" ou amargar buzinadas e o troféu abacaxi já promoveriam o encontro nostálgico para os que assistiam o Cassino do Chacrinha e ainda o apresentaria às novas gerações, descrente de que a TV já deu espaço para aquele carnaval anárquico.

O filme não chega a ser uma biografia, mas mergulha no passado deste pernambucano de Surubim. Por exemplo, Alceu Valença entende Chacrinha como um velhodo pastoril atualizado para as massas. Giberto Gil arremata e diz que o tropicalismo é decisivo para explicar o Velho Guerreiro.

No último Cine PE, Alô, Alô, Terezinha! foi eleito melhor filme (júri oficial e popular). Mês passado, estreou no Festival do Rio em sessão hour concours. O filme, que entra em cartaz no próximo dia 30, está em regime de pré-estreia , às 23h no Multiplex UCI Tacaruna (Santo Amaro) e 23h15 no Recife (Boa Viagem). Ontem, houve sesão especial com presença do diretor Nelson Hoineff, do distribuidor Jean Thomas e do cantor Byafra.

Byafra foi um dos artistas mais presentes nos programas do Chacrinha e no filme protagoniza uma sequência impagável, que sintetiza o espírito galhofeiro do Velho Guerreiro e do próprio documentário. Enquanto cantava seu maior sucesso, Sonho de Ícaro ("Voar, voar, subir, subir"), ele foi atingido por um parapente desgovernado, o que gerouum dos momentos mais engraçados do filme de Hoineff. Há dois meses, o trecho caiu na internet e virou hit do You Tube, com mais de 300 mil visualizações. "Aquilo teve a mão de Chacrinha. Ele deve estar rindo em algum lugar", diz Byafra. Hoineff poderia ter impedido o acidente, mas preferiu não perder a piada. "Quando o parapente se aproximou, deixei rolar a situação. Pedi para o câmera segurar e aconteceu o inusitado total", afirma o diretor.



Mas o diretor foi além e aplica em seu primeiro longa a cartilha politicamente incorreta que trouxe do Documento especial: televisão verdade, programa transmitido nos anos 80 pela extinta Rede Manchete. Veja duas reportagens que marcaram época:





Sem medo de cruzar a linha que separa ética e irreverência, ele entrevista ex-chacretes em sua intimidade e elas dão depoimentos sobre quem ficava com quem nos bastidores dos programas.
Hoje cinquentonas, elas são as verdadeiras estrelas do documentário: Rita Cadillac (na cama com um fã), Leo Toda Pura, Fátima Boa Viagem, Regina Polivalente, Cabocla Jurema, Loura Sinistra e Vera Furacão são algumas que abre o verbo e dão nomes aos garanhões e decepções da MPB. A mais ousada é Índia Potira, que após beber alguns copos de cerveja, dança numa fonte pública, seminua segurando arco e flecha. As imagens devem causar espanto, polêmica e até mesmo indignação.

"Acho que falta de respeito é achar que as chacretes não são mais do que um monte de bundinhas de 18 anos. Humanizei algumas delas, mostrei que atrás de cada uma tem uma mulher de verdade, com sonhos, angústias, aflições, alegrias, tristezas. O que colocamos na tela são pessoas extraordinárias. Muitas delas se tornaram minhas amigas, outras vieram me agradecer", conta Hoineff, cujo segundo longa, Caro Francis, sobre o jornalista Paulo Francis, deve estrear comercialmente em janeiro. Apesar da distância entre os personagens, Hoineff vê semelhança entre os filmes. "Os dois falam sobre transgressão e não são biográficos". Ao que tudo indica, o diretor pretende continuar provocando com seu novo projeto: um documentário sobre Cauby Peixoto.

(Diario de Pernambuco, 23/10/2009), com alterações

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