quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Festival de Brasília // Duas faces da cultura pernambucana

Brasília (DF) - Azul, de Eric Laurence, e Faço de mim o que quero, de Petrônio Lorena e Sérgio Oliveira apresentaram anteontem em Brasília duas faces do cinema - e da cultura pernambucana. Recebidos positivamente pelo público, eles foram exibidos anteontem à noite, no Cine Brasília, antes do longa mineiro A falta que me faz, de Marília Rocha.

Ambientado no interior do estado, o curta de Laurence tem composição rigorosa, tanto na imagem de Antonio Luiz Mendes, que explora tonalidades, texturas e a geometria de espaços vazios, como no áudio de Nicolas Hallet, que reconstrói o ambiente sonoro em torno da personagem na sala de projeção. O detalhismo foi tanto que a produção, coordenada por Isabela Cribari, levantou uma casa especialmente para contemplar o roteiro. "Passei dois meses procurando uma casa no vazio e não encontrei. A solução foi contruir uma", disse Laurence, na coletiva de ontem.

Em outro eixo criativo, o filme de Lorena / Oliveira procura trazer para si o espírito da música brega contemporânea - a ponto de uma jornalista na coletiva rotulá-lo como "brega-movie". O fato é que o curta estampou na tela do Cine Brasília uma série de símbolos do universo do brega atual, como o carrinho de CD pirata, cabelos oxigenados ou alisados na chapinha, cabarés, travestis e dançarinas, no que pode ser a primeira produção exclusivamente voltada para o tema no cinema. Assim como no título (retirado de uma das músicas), o curta "faz de si o que quer". Há participações do Conde do Brega, Kelvis Duran, banda Vício Louco, João do Morro e Rodrigo Mell, que contracena com a atriz Sâmara Cipriano numa espécie de fotonovela às margens da praia de Brasília Teimosa. "O brega hoje é multifacetado, uma mistura de ritmos caribenhos. Por isso optamos pelas várias linguagens", disse Lorena.

Questionado sobre a ausência de informações que contextualizem o espectador (principalmente os que não conhecem o Recife), Oliveira disse que era exatamente essa a intenção. "Outros veículos como a TV podem ser mais didáticos. Nós preferimos não seguir nada. Fizemos o filme com muita liberdade".

Curiosamente, o longa documentário A falta que me faz contém elementos dos dois curtas. Nele, Marília Rocha acompanha a vida de quatro garotas adolescentes na Serra do Espinhaço, interior de Minas Gerais. Isoladas do resto do mundo, elas se divertem dançando e se auto-afirmam, conscientes de que a violência machista e outras ameaças estão à espreita.

(Diario de Pernambuco, 25/11/2009)

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