sábado, 21 de novembro de 2009

Festival de Brasília // Política e sexo na tela do cinema


Recife Frio, de Kleber Mendonça, estreia hoje em Brasília

Brasília (DF) - O presidente Lula voltou a surgir na tela do 42º Festival de Brasília, desta vez como participante do documentário brasiliense Perdão, mister Fiel.

Dirigido pelo jornalista Jorge Oliveira, o filme foi exibido na mostra competitiva da noite de quinta-feira e conta a história de Manoel Fiel Filho, operário comunista torturado e morto em 1976 pelo DOI-CODI, órgão de repressão da ditadura militar. O assassinato ocorreu após o "enforcamento" do jornalista Vladimir Herzog. Logo depois, o governo mudou de postura e abrandou seus métodos. Na plateia estavam a viúva do operário, Tereza Fiel, e o político ex-comunista Roberto Freire. Ao final, aplausos sóbrios e solenes no lotado Cine Brasília.

Tortura é o filme
Com sofríveis recursos de ficção (sessões de tortura em preto e branco e alguns objetos coloridos), Oliveira optou por intercalar depoimentos da família de Fiel com os de políticos como Sarney e FHC (ambos vaiados), brasilianistas (o filme afirma que a culpa de tudo é da política intervencionista dos EUA) e de quem conduziu aqueles tempos com mão de ferro, como o ex-ministro Jarbas Passarinho, o ex-presidente Geisel (arquivo) e um ex-funcionário do GOE, que abre o jogo e revela o nome dos agentes responsáveis pelas torturas. Como tema, imprescindível; enquanto cinema, nem tanto.

Neste sentido, os curtas da noite se garantiram mais que a cine-reportagem de Oliveira. Bailão, de Marcelo Caetano, tem como tema a homossexualidade masculina e mescla depoimentos sonoros de senhores gays que viveram na época pré-AIDS, com imagens dos mesmos num salão de uma boate da noite paulistana. Os primeiros minutos trazem um ótimo diálogo com cenas de O baile, de Ettore Scolla. Logo após, o carioca Água viva, de Raul Maciel, traz a atriz Mariah Teixeira como uma estudante adolescente que se envolve com um empregado de seu pai.

Estreia - Entre os filmes da noite de hoje está o curta Recife frio, de Kleber Mendonça Filho. Originalmente concebido como um falso documentário sobre uma suposta mudança climática na capital pernambucana, o filme é considerado pelo diretor como um ensaio de ficção. "Comecei o projeto em 2006, estimulado por uma insatisfação com o Recife como espaço urbano, uma cidade tropical totalmente abandonada. As pessoas não andam nas ruas durante o dia porque a arquitetura e o sol não ajudam, o que terminar por tornar o Recife em uma cidade fria", explica Kleber.

Com 26 minutos de duração, o filme incorpora locações em diversas cidades para simular o Recife em baixa temperatura, entre elas São Paulo, Belo Horizonte, Garanhuns, Gravatá, Calhetas, Gramado e uma inusitada praia na África do Sul.

(Diario de Pernambuco, 22/11/09)

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