sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Estreia // "2012", de Roland Emmerich: fim do mundo espetacular



2012 é o filme-catástrofe da vez. Nele, o herói norte-americano continua a salvar o mundo, mas desta vez o faz com ajuda global. Sinal dos tempos. Frente ao dilúvio iminente, provocado pelo mesmo cataclisma que varreu os dinossauros da face da Terra, previsto há séculos pelo calendário maia, a cúpula do G8 organiza um plano de sobrevivência capitalista que consiste numa série de "Arcas de Noé" reservada a líderes e milionários que patrocinaram o projeto.

Sintomas da crise real e da geopolítica século 21 assaltam o roteiro: tudo é construído em cooperação internacional; a tecnologia e mão de obra é chinesa; e a África resurge como território central. Os ideais, conflitos e piadas, no entanto, continuam tipicamente norte-americanos. Nem o fim do mundo é capaz de acabar com isso.

Conhecido por outros filmes que expõem a fragilidade dos humanos quando confrontam forças da natureza (10.000 AC, O dia depois de amanhã) e ameaças gigantes (Godzilla, Independence Day), o diretor Roland Emmerich redimensionou o apocalipse na tela grande com impressionante realismo digital.

A devastação começa na Califórnia e logo chega ao Rio de Janeiro (cujo Cristo Redentor desmorona via Globo News), Vaticano e capitólio dos EUA. Como em Titanic, há o naufrágio de um transatlântico, mas isso é apenas um detalhe.

Assim como na vida real, o presidente norte-americano é negro e benevolente (Danny Glover). Alertado pelo geólogo Adrian Helmsley (Chiwetel Ejiofor), ele naturalmente se estabelece como líder global. À sua sombra está o tecnocrata Carl Anheuser (Oliver Platt), chefe de gabinete da Casa Branca. Entre o humanismo do presidente/geólogo (também negro, que aos poucos se estabelece como sucessor potencial e o pragmatismo imperialista de Anhauser, reside o cerne do embate ideológico interno dos EUA.

Entre os mortais que ignoram o dilúvio iminente está Jackson Curtis (John Cusack), escritor da ficção-científica Fuga de Atlântida. Divorciado e em crise, ele leva os filhos ao parque florestal onde encontra uma operação militar e um maluco disposto a transmitir o apocalipse via rádio (Woddy Harrelson).

Sem o imediatismo de quem sabe que o mundo vai acabar amanhã, mas sim como quem tem o chão literalmente abrindo sob os pés, cabe a Curtis/Cusack recuperar o sentido de família - a admiração dos filho; a confiança da ex-esposa. De quebra, salvar algumas vidas. Eis o legado de Hollywood ao resto mundo: as estruturas podem entrar em colapso, mas o american way segue como tábua de salvação.

(Diario de Pernambuco, 13/11/09), com alterações.

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