segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Lembranças do Super 8 recifense

Fernando Spencer foi o epicentro de um encontro cada vez mais raro de fundadores do Ciclo do Cinema Super 8 recifense. Aos 82 anos, o cineasta é um dos Patrimônios Vivos de Pernambuco a figurar numa série de 15 minidocumentários realizados pelo projeto Olaria Cultural, com recursos do Edital do Audiovisual da Fundarpe. Eles serão veiculados em cinco programas de televisão com duração de 26 minutos cada.

Onze patrimônios já foram filmados, entre eles Lia de Itamaracá, Zé do Carmo, Índia Morena, o Homem da Meia Noite e a Confraria do Rosário dos Homens Pretos. O objetivo é não só apresentar, mas registrar como cada um deles vive e sentem o reconhecimento da condecoração social. "A ideia é que cada documentário tenha uma identidade própria", diz Hanna Godoy, coordenadora do projeto ao lado de Márcia Mansur.

O grupo de veteranos do cinema pernambucano se encontrou no Cinema da Fundação, na tarde da última segunda-feira. Estavam lá Flávio Rodrigues, Geraldo Pinho, Celso Marconi,Lula Gonzaga, Osman Godoy e Kátia Mesel. Enéas Alvares, Amin Stepple, Jomard Muniz de Brito, Paulo Menelau e Paulo Cunha estiveram ausentes por diferentes motivos, mas foram lembrados pelo grupo. Falecidos, Firmo Neto, Walderes Soares e Lima, técnico de banda sonora foram devidamente evocados. Nos anos 70, eles realizaram dezenas de filmes pessoais, experimentais ou com a marca "de autor". Até então o "fazer cinema" estava restrito aos grandes centros detentores de materiais, equipamentos e mão de obra de alto custo. Nesse sentido, o Super 8 foi precursor da geração video/digital, dado o nível de liberdade na produção e exibição.

Ponta de lança do movimento, Spencer foi recebido pelos amigos, com quem assistiu alguns filmes realizados na bitola Super 8, como Adão foi feito de barro (1978). Entre um rolo e outro, histórias e memórias voltam à tona. Após a sessão, surge o lamento com o descaso com a conservação e circulação de um acervo restrito a fitas pouco acessíveis ao mundo digital. Triste constatação: filmes do Ciclo do Recife dos anos 1920 estão mais preservados do que os do Super 8.

Hanna Godoy diz que a produção do documentário é apenas o pontapé inicial para a realização de um projeto maior sobre os ciclos regionais. "Pretendemos promover uma bateria de palestras e encontros e ampliar o foco para outros estados do país".

(Diario de Pernambuco, 16/11/09)

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