segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Andanças de um lambe-lambe
Cinema de dois tões, média-metragem dirigido por Luiz Santos, se constroi entre intervalos de luz e tempo. Registro de uma série de viagens fotográficas do diretor ao lado de Tonho Ceará, um dos últimos do país a trabalhar com equipamento lambe-lambe, o filme será lançado hoje à noite no Cinema da Fundação, como parte das atividades da 3ª Semana de Fotografia do Recife.
A sessão será seguida de um bate-papo com os fotógrafos e dois outros integrantes da produção: Mestre Júlio, especialista em retratos pintados à mão, e Abdênago Souza Leite, também conhecido como "Microfone", que assume a narração do documentário que ainda conta com imagens de Oscar Malta e Francisco Baccaro.
Este é mais um produto do projeto A volta do lambe-lambe, que rendeu imagens realizadas entre agosto de 2006 e março de 2008, em viagens que marcaram o retorno de Tonho Ceará à terra natal, Juazeiro do Norte. Ele saiu de lá há 32 anos, para viver no Recife, onde se estabeleceu fazendo fotos no Mercado deSão José. Dez anos atrás, Santos conheceu Tonho e viu no encontro a oportunidade de contemporanizar o antigo ofício de retratista popular.
De lá pra cá, Tonho entrou em evidência em exposições, imprensa e conquistou o Prêmio Porto Seguro de Fotografia, um dos mais importantes do país. O próximo passo da parceria - ou "simbiose", como descreve Santos - será a exposição Pé de parede, com fotos das andanças da dupla sertão adentro, que abre amanhã no Centro Cultural dos Correios (Recife Antigo).
No caminho de volta para casa, Tonho Ceará fotografou moradores de pequenas cidades como Catimbau, Ibimirim, Riacho da Bandeira e Conceição das Crioulas. No filme, o processo de montagem rendeu um trajeto não-linear, desprendido da veracidade geográfica. "A gente não roteirizou nada. A narrativa foi criada junto com o montador Douro Moura, uma das grandes almas do filme", diz Santos.
O despojamento que busca a poesia se traduz já no título do filme. "Dois tões", expressão popular, corruptela de "tostões", usado para o que é feito sem dinheiro ou tem pouco valor. Em ambos os casos, o termo define a alma de um projeto feito com poucos recursos, que coloca em evidência uma arte cada vez mais esquecida e aqui transvalorizada.
(Diario de Pernambuco, 16/11/09)
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