terça-feira, 24 de novembro de 2009

Festival de Brasília // "É proibido fumar", de Anna Muylaert: promessa não cumprida



Brasília (DF) - A 42ª. edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro termina hoje, com a cerimônia que premiará os melhores filmes com um total de R$ 470 mil e vários Candangos, a mais antiga estatueta dourada do país. Antes, haverá a exibição do curta Brasília, capital do século (1959), de Gerson Tavares, e Brasília, a última utopia (1989), de Vladimir Carvalho, Geraldo Moraes, Pedro Jorge de Castro, Moacir de Oliveira e Roberto Pires. Trata-se de uma sessão especial, em virtude dos 50 anos de aniversário da capital federal, a serem completados em 2010.

Seis longas e doze curtas estão na expectativa da escolha do júri oficial, formado pelo cineasta Paulo Caldas, a atriz e produtora Denise Dummont, o jornalista Carlos Heli de Almeida, o produtor Flávio Tambelinni, a atriz Rosane Mulholland e o produtor Mauro Giuntini. Se depender da reação da plateia, até o encerramento desta matéria, a escolha do público aponta para Recife frio, de Kleber Mendonça, Filhos de João - admirável novo mundo baiano, de Henrique Dantas e É proibido fumar, de Anna Muylaert.

Durval Discos 2 - Exibido na noite de anteontem, o longa de Muylaert estabeleceu sintonia imediata com o público, que riu bastante na primeira metade e na segunda permaneceu em silêncio, não se sabe se compenetrado ou por simples indiferença. Com várias participações especiais (Lourenço Mutarelli, Marcelo Mansfield, Antonio e André Abujamra) na manga, É proibido fumar parte do encontro Baby (Glória Pires) e seu novo vizinho Max (o titã Paulo Miklos), casal improvável que tem ao menos um ponto em comum: a predileção pelos anos 70, algo já trabalhado pelo personagem principal de Durval Discos. Ela, pelo viés do passado afetivo - sai a mãe de Lula, entra a garota interrompida; ele, vive na prática os valores ripongas que conserva até hoje, apesar de tocar samba numa churrascaria para ganhar uns trocados, numa das cenas mais inusitadas já que Miklos sempre investiu na imagem roqueira. Pires é outra a romper com a imagem de boa moça ao fumar um cigarro de maconha.

Na verdade, sua personagem é uma viciada em cigarros que abandona o vício a pedido do pretendente. "Mas o filme é sobre as zonas onde é proibido pisar numa relação", diz a diretora, em conversa com o Diario. Com o novo longa, Muylaert retoma a estética "lado A / lado B" com a qual chamou atenção em 2002 com Durval Discos.

Uma manobra arriscada, que pode ser recebida como um balde de água fria por quem entrou na viagem do início. Pois há a chance do espectador lidar com a sensação de promessa não cumprida. Claro que mudança de comédia de costumes para thriller de suspense pode também agradar. A prova de fogo virá no dia 4 de dezembro, quando o filme estreia nacionalmente.

Curtas - Antes do longa de Muylaert, dois curtas foram exibidos no Cine Brasília, que estava lotado. O baiano Carreto, de Marília Hughes e Cláudio Marques e o curta brasiliense A noite por testemunha, de Bruno Torres. O último demonstrou força ao narrar o famoso episódio de 1997 que culminou na morte de um índio pataxó na mão de um grupo de jovens da capital federal. Não linear, o roteiro devolve à vítima a imagem digna que ele não teve direito nos últimos instantes de vida. A produção, no entanto, deixa a desejar melhor condução e acabamento.

(Diario de Pernambuco, 24/11/2009)

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