sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Sessão de Arte UCI Ribeiro apresenta: O milagre de Sta. Luzia



Radiografia do Brasil que toca sanfona, o documentário paulista O milagre de Santa Luzia (Brasil, 2008) tem Pernambuco como seu princípio e fim. Já no primeiro plano, Dominguinhos desponta no horizonte, a pé, na estrada que leva à Exu de Luiz Gonzaga. Da terra de Januário ao litoral, há vaqueiros e seus aboios e a poesia de Patativa do Assaré e sua voz trêmula, prestes a se despedir de nosso plano existencial.

Na capital, Dominguinhos encontra Arlindo dos Oito Baixos em seu reduto, no bairro de Dois Unidos, onde juntos animam um arrasta-pé. No interior da Paraíba, Pinto do Acordeon faz uma divertida versão para New York, New York, cantada em inglês caboclo, mais enrolado impossível. Joquinha Gonzaga, Camarão, Hélder Vasconcelos e Gennaro dão sua contribução antes da equipe pegar a estrada para o Sul - pois nem só de forró vive o acordeon.

No Mato Grosso, Dominguinhos apresenta músicos e ritmos diferentes dos nordestinos. Em São Paulo ele encontra Osvaldinho, amigo de longa data e jovens talentos como Gabriel Levy e Toninho Ferragutti e seus projetos experimentais e cosmopolitas. No Rio Grande do Sul, além de Renato Borghetti, seu nome famoso do "fole" no estado, somos apresentados a músicos de raiz, que vivem na área rural dos pampas.

De volta ao Nordeste, há o depoimento do pesquisador Raymundo Campos, com quem Dominguinhos gravou uma versão inédita de Triste partida. Num dos momentos mais emocionantes, Sivuca recebe Dominguinhos no seu apartamento em João Pessoa. Debilitado, o compositor fala sobre a nobreza e versatilidade do acordeon. E chora.

A despeito do mérito cinematográfico, momentos como este fazem o filme de Roizemblit importante documento sobre a música brasileira.

(Diario de Pernambuco, 27/11/2009)

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