sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Quando a solidariedade esbarra no capacho
Um capacho com a inscrição "Bem-vindo" é uma daquelas cenas que conseguem sintetizar um filme, no caso, a produção homônima de Philippe Lioret. O tapete repousa na entrada do apartamento de um cidadão francês convertido à paranóia persecutória a imigrantes ilegais. Um deles é Bilal (Firat Ayverdi), jovem curdo que encontra em Simon (Vincent Lindon) o apoio que precisa para atingir seu objetivo final: a Inglaterra.
No país natal, o filme de Lioret gerou controvérsia. E parece ter surtido algum efeito, pois um partido socialista propôs um projeto de lei que revoga o delito de solidariedade, cuja pena prevê multa de 30 mil euros e até cinco anos de prisão. Bem-vindo (Welcome, França, 2009) está em cartaz na Sessão de Arte do Multiplex Boa Vista (sexta às 21h e sábado às 11h), Kinoplex Casa Forte (domingo às 12h10) e Tacaruna (segunda-feira às 19h).
Imigrante atípico, Bilal não foge da guerra ou fome. Ele simplesmente quer encontrar sua amada Mina (Derya Ayverdi),que se deslocou legalmente com a família, de Bagdá para as ilhas britânicas, onde Bilal pretende chegar a nado e sobreviver como jogador de Manchester United. Professor de natação, Simon se solidariza com a história e não somente abriga Bilal na própria casa, como oferece treinamento e roupas especiais para o jovem concluir seu intento. No entanto a dupla esbarra no "delito de solidariedade", lei que incrimina franceses que ajudam ilegais, ao serem denunciados pelo vizinho da frente (o dono do capacho).
Bilal passa então a enfrentar a berlinda com outros estrangeiros marginalizados. E Simon, cujo relacionamento com Marion (Audrey Dana) está em colapso, continua a ajudar o novo amigo sem pensar nas consequências. Ele vê na relação entre os jovens imigrantes a paixão que falta em sua própria vida. Tanto que ele entrega para Bilal o anel de diamantes e safiras que Marion um dia esqueceu no sofá. Aos poucos, o anel se torna contrapartida simbólica ao tapete e as atitudes cínicas que guiam a política de imigraçãodos países ricos, que caçam estrangeiros pobres como animais.
(Diario de Pernambuco, 25/09/09)
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