sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Cinema // estreia: "A partida"



Nas últimas décadas, os japoneses construíram uma imagem praticamente indissolúvel de eficiência e dedicação vinculada ao trabalho.

No longa A partida (Okuribito, 2008), o diretor Yôjirô Takita aplica esse conceito a uma profissão comumente desprezada: a de preparador de corpos para a cremação.

Em cartaz no Cinema da Fundação, o filme ganhou o Oscar 2009 de melhor filme estrangeiro, em detrimento de Valsa com Bashir (Israel), Entre os muros da escola (França), A revanche (Áustria) e Complexo de Baader Meinhoff (Alemanha).

A explicação talvez esteja na intenção de provocar lágrimas com uma história simples e linear, sobre vida, morte e amor. Há o fator "exótico" de estar em contato com uma cultura distante, mesmo que isso se concretize em poucos elementos e clichês disfarçados de lições de vida. Partindo daí, não é de estranhar a recepção positiva dos americanos.

O título do filme se aplica a diferentes movimentos. O primeiro é o de Daigo Kobayashi, que sofre como abandono do pai desde que era criança. Nós começamos a acompanhá-lo quando ele desiste do sonho de tocar violoncelo e abandona Tokio para retornar à cidade natal. Lá ele consegue emprego na NK (sigla japonesa para "Pôr no caixão") empresa especializada nos rituais de despedida cheios de detalhes e códigos próprios dos japoneses.

Com a ajuda do patrão, uma figura zen cercada de plantas e que se alimenta de esperma de baiacu grelhado com sal, Daigo encontra no ofício a plenitude que faltava para se sentir realizado. Ele trata cadáveres com tal cuidado, tranquilidade e respeito que transforma familiares perdidos na dor do luto em pessoas sinceramente agradecidas. Ele não pode imaginar (nós, sim), que em breve precisará encarar seu maior fantasma para seguir em frente.

(Diario de Pernambuco, 04/09/09)

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