domingo, 13 de setembro de 2009

Milton Nascimento e Lô Borges como antigamente



Nada daquela banda obscura de um país distante. Nem adolescentes hypados pela mídia ou descobertos pela internet. A atração mais inusitada do Festival No Ar: Coquetel Molotov 2009 é velha conhecida dos brasileiros.

Milton Nascimento e Lô Borges encerram a programação do evento, no próximo sábado, no Teatro Guararapes. Eles vêm à cidade com um projeto que revisita as canções do Clube da Esquina, projeto dos anos 70 que rendeu dois álbuns antológicos e cujos desdobramentos mal poderiam os criadores imaginar.

É de supor que o Coquetel Molotov, até pouco tempo rotulado como evento indie, ao convidar ícones da MPB e migrando para o Centro de Convenções, queira diversificar seu público e com isso consolidar uma imagem mais madura. Outro viés é a admiração que o Clube da Esquina, projeto surgido na adversidade política da ditadura, desperta nos jovens ligados à nova música independente. Em qualquer caso, é para celebrar que Milton e Lô, que quase nunca se encontram, voltem a pisar no mesmo palco.

Lô Borges convida Milton Nascimento traz 20 canções novas e antigas e foi apresentado somente em São Paulo, no início do ano. O show funciona assim: na primeira metade, Lô canta, acompanhado por sua banda, músicas próprias, do início de carreira, e dos três últimos álbuns (inclusive Harmonia, que lança em outubro). Quando Milton entra em cena (com dois de seus músicos), é hora de canções como Trem azul, Girassol, Nada será como antes, Cais e Para Lennon e McCartney. Entre uma e outra, há intervalos de prosa entre compadres. Algumas terão arranjos diferentes dos originais.

"A divisão maior era entre eu e ele. E Lô é o que eu sempre gostei mais", diz Milton, em entrevista ao Diario. "Reviver isso agora é algo muito feliz. É algo forte porque nossa amizade musical nunca diminuiu, mas quando chegamos no palco foi forte. Tenho certeza que o show do Recife será especial".

"O normal seria Milton convida Lô Borges, pois sei bem distinguir o meu tamanho e o dele", diz Borges, por telefone. Ele explica que o conceito do show foi ideia do Museu Clube da Esquina, instituição virtual dedicada a recuperar a memória do projeto. "Fiquei muito satisfeito, pois Milton é meu padrinho musical, foi o primeiro a gravar minhas músicas. Ele já era um artista conhecido, quando me encontrou nas ruas de Santa Tereza, em Belo Horizonte e convenceu a gravadora a lançar um disco com um desconhecido. Ali começou minha carreira, eu tinha 17 anos".

Dependendo dos convites, os shows podem continuar. No entanto, a possibilidade de um terceiro volume do projeto está descartada. "O Clube da Esquina 3 já existe e se chama Angelus (álbum de Milton lançado em 1993). Ele começou em uma fazenda em Minas Gerais chamada Esmeraldas. Armamos um estúdio no curral, onde no fim da tarde precisava parar a gravação para tirar leite da vaca. E ele foi acabar em Nova York, com vários músicos brasileiros e americanos do jazz e pop, entre eles Peter Gabriel", diz Milton.

Ele diz que o Clube da Esquina repercute até hoje e isso tem rendido visibilidade não só para ele, mas para músicos como Toninho Horta, Flávio Venturini e Beto Guedes. "Foi algo muito feliz, abriu caminho, inclusive lá fora. Há 5 anos, graças à remasterização feita por João Marcelo Bôscoli, outros países descobriram o Clube da Esquina. Mas ele não era um clube, como as pessoas de fora pensam. Até hoje tem gente que vem para Minas e pergunta onde fica o Clube da Esquina".

Serviço
Show Lô Borges convida Milton Nascimento
Onde: Teatro Gurarapes (Centro de Convenções)
Quando: Sábado, dia 19, a partir das 20h (o show encerra a programação do sábado)
Quanto: R$ 40 ou R$ 20 (meia-entrada), à venda nas lojas Chili Beans (Shopping Tacaruna, Plaza Casa Forte e Shopping Recife) e na loja 3 Meninas (Paço Alfândega)

(Diario de Pernambuco, 13/09/09)

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