quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O poder da bandidagem



Sérgio Rezende está de volta às telas de cinema com Salve geral (Brasil, 2009). Agregador de grandes audiências, o diretor de Zuzu Angel (2006), Guerra de Canudos (1997) e O homem da capa preta (1986), apenas para citar seus filmes mais assistidos, nos oferece mais um produto de apelo certeiro. Estrelado por Andréa Beltrão e Lee Thalor, o filme dramatiza para as massas episódio recente em que o Primeiro Comando da Capital (PCC) colocou São Paulo em estado de sítio. Ele estreia nacionalmente sexta-feira, sob a aura de ser o representante do Brasil na disputa pelo Oscar 2009.

Sob o signo da Globo Filmes, a indicação pode ser entendida pela adequação de Salve geral ao padrão da imagem "brasileira" consumida pelo mercado estrangeiro. Não é acaso a semelhança temática e visual com dois outros filmes made in Brazil: Carandiru (2002) e Tropa de elite (2007). A exemplo destes, a narrativa faz um retrato da vida nos presídios e da rede de corrupção e violência ligada a diferentes esferas da polícia e governos. De forma que a possibilidade de "saber" (o filme é de ficção, é bom lembrar) como o PCC aterrorizou o país devem garantir que, mesmo desprovida de qualquer novidade, a produção esteja entre as mais assistidas do ano.

Rezende apresenta o PCC de forma plausível, como uma rede que seduz e incorpora, que age voraz e irreversivelmente no vácuo deixado pelo estado na luta pelos direitos dos detentos. "Paz, justiça, liberdade", mesmo que na base da bala.

Para narrar o dia em que São Paulo parou (a frase de impacto foi adotada para a campanha de divulgação), Rezende optou por unir a estrutura dos filmes de ação com o drama familiar vivido pela viúva Lúcia (Andréa Beltrão) e seu filho, Rafa (Lee Thalor). Eles incorporam um fenômeno cada vez mais comum, o da classe média falida que se muda para a periferia. Já na primeira noite suburbana, Rafa se mete em confusão e mata alguém por acidente, em público. Sentença: oito anos de prisão.

Inconformada, Lúcia tenta libertar o filho a qualquer custo e com isso recuperar o que lhe resta de sentido na vida. Termina por se aliar à Ruiva (Denise Weinberg), advogada aparentemente disposta a ajudar, mas que é, na verdade, membro-chave do PCC. Lúcia reluta, mas termina por realizar pequenos serviços. "Não é nada que não se faça nesse país todos os dias", argumenta Ruiva. Enquanto isso, relegado à superlotação de uma cela de triagem, Rafa compra por R$ 500 o direito a habitar um cubículo menos insalubre. Sem querer, o "playboy" se torna mais um "irmão" do crime.



Mãe - Ao longo da trama, o papel de Lúcia cresce em importância. Ao contrário da maioria das mães que sofrem com os filhos encarcerados, seu biotipo classe-média é essencial para gerar identificação e comoção na plateia. Sob a fantasia de estar fazendo o melhor pelo filho, ela abandona seu papel de vítima pobre para se envolver até a cabeça com o crime organizado, que providencia a ela estabilidade financeira, social e até afetiva (ela se torna namorada de um dos líderes do PCC).

Quanto à performance de Beltrão, basta dizer que é onde está uma das qualidades do filme. Outra está na reconstituição, passo a passo, dos eventos que precederam o inferno em que São Paulo se tornou nos dois dias em que a bandidagem mostrou seu maior poder: o de transformar uma megalópole em cidade fantasma.

(Diario de Pernambuco, 30/09/09)

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu espero que o filme tenha sucesso.....

Anselmo - minerva pop