sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Do terrorismo enquanto expressão da liberdade



Estreia hoje, no Cine Rosa e Silva, O grupo de Baader-Meinhof (Der Baader-Meinhof Complex, Alemanha, 2008), de Uli Edel. Indicado ao Oscar 2009 de melhor filme estrangeiro, a produção mistura elementos de ficção com arquivos de época para reconstituir o período de dez anos em que a Facção Exército Vermelho aterrorizou os alemães com assaltos, sequestros e bombas. O filme capta o clima de revolta social que desembocou nos manifestos de maio de 68 e é apresentado como a versão cinematográfica definitiva sobre o assunto. Vigoroso, ele retoma com propriedade a linhagem do thriller político, gênero cujo maior representante é Costa-Gavras (Z, Estado de sítio).

Ao longo da projeção, fica clara a simpatia de Edel e Stefan Aust (autor do livro no qual o filme se baseou), que se revelam fascinados pela personalidade dos rebeldes e sua busca pelo prazer e anarquia. Filhos do nazismo, se recusam a assistir passivamente a conivência da Alemanha com o imperialismo americano.São herois jovens, corajosos, pulsantes, imprevisíveis. Já os representantes do poder instituído, atrás de óculos, ternos e barrigas proeminentes, são óbvios, chatos e impregnados de moral e bons costumes. Todos, exceto Horst Herold (Bruno Ganz), o chefe da polícia que planeja com astúcia o desmantelamento do grupo.

O filme começa em 1967, a propósito da visita do Xá do Irã Reza Pahlevi à Alemanha Ocidental. Um grupo se mobiliza num protesto pacífico, que logo vira pancadaria e morte com a conivência e participação da polícia. A jornalista de esquerda Ulrike Meinhof (Martina Gedeck) presencia tudo e escreve seus manifestos radicais. Visita na prisão a estudante Gudrun Ensslin (Johanna Wokalek), namorada de Andreas Baader (Moritz Bleibtreu), o líder agregador revolucionário. Lá, é convocada a sair da teoria e abandonar seus medos burgueses.

Quando Baader é capturado, Meinhof ajuda na fuga e entra com os dois pés na RAF, que passa a ser conhecida pelo nome da nova dupla. Baader, objetivo, agressivo e cativante; Meinhof, a intelectual que pega em armas, empresta a fama obtida na imprensa e dá estofo teórico às ações cada vez mais violentas e fora de controle. Para eles, roubar um banco é "desapropriação dos inimigos do povo".

Não demora para o governo mobilize um aparato de guerra contra os militantes, já associados à organizações árabes pela libertação palestina. Há uma sequência na Jordânia, onde os jovens branquelos e indisciplinados recebem treinamento para combate. No entanto, a sanha anarquista em desafiar a ordem fala mais alto. Censurados por praticar o nudismo no teto do alojamento, respondem de forma insolente: "transar e atirar é a mesma coisa".

A certa altura de um interrogatório, Baader aponta o lucro obtido com o terrorismo como uma de suas causas. Eis a ponte que conduz ao 11 de setembro e seus nefastos desdobramentos. Como o próprio Costa-Gavras afirmou em sua visita ao Recife, durante o último Cine PE, "numa sociedade onde não há possibilidade de mudança da forma democrática, provavelmente a única maneira de fazê-lo é pelo terrorismo".

(Diario de Pernambuco, 25/09/09)
*com acréscimos

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