sexta-feira, 7 de outubro de 2011

À mestra com carinho



No contexto de violência em que as salas de aula tem sido profanadas, um filme como Uma professora muito maluquinha (BRA, 2011) pode soar um tanto deslocado. E talvez por isso mesmo, necessário. A obra foca na relação de afeto entre a professora Cate (Paola Oliveira) e uma turma de infantes do ensino público.

Dirigida por André Pinto (sobrinho de Ziraldo, autor do livro) e César Rodrigues, a produção está ambientada nos anos 1940, em cidadezinha do interior de Minas Gerais. Tempo-espaço distante o suficiente para que nele se depositem todas as utopias. Na média, é um filme bem confortável, que remete à ingenuidade das comédias antigas e pode ser habitado sem medo.

Já a mensagem é urgente e defende algo mais do que a harmonia professor-aluno, por questionar métodos tradicionais de ensino como o sistema de avaliação por notas. Pela empatia que desperta nas crianças, Cate é observada com desconfiança pelas demais professoras, reduzidas a repressoras e infelizes fofoqueiras, todas de olho no potencial romance da rival com o padre Beto (Joaquim Lopes), o diretor da escola.

Cai bem a presença de Chico Anysio, como o sábio monsenhor, assistido por um Aramis Trindade bem próximo ao Batista, o coroinha de Irmão Carmelo, criado por Jô Soares nos anos 1980. Com sombrancelhas pretas e bigodinho que evocam Monteiro Lobato, o próprio Ziraldo faz ponta como o gerente do cinema onde a professora leva a classe para assistir Cleopatra.

Para os adultos, é nostalgia garantida. E o elogio à leitura e à sala de aula como espaço afetivo garante a adesão dos professores. Mas com tantas referências ao passado, Uma professora muito maluquinha funcionará com as crianças? A conferir.

(Diario de Pernambuco, 07/10/2011)

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