segunda-feira, 10 de outubro de 2011

De Einstein a Fukushima: Picuí



Questões atômicas têm sido recorrentes no cinema contemporâneo. No último festival de Berlim, o longa de ficção russo Um sábado inocente (V Subbotu) tratou dos efeitos emocionais nos operários de Chernobyl, no dia em que o reator explodiu - 2011 marca os 25 anos do famoso desastre. O tema nunca saiu da pauta mundial, mas o recente caso de Fukushima, no Japão, levou a um grupo carioca a criar o Urânio em Movimento - Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear, que este ano teve itinerância por seis cidades (Recife incluído) e já prepara a segunda edição.

Mas não seria exagero todo um festival dedicado ao tema? Nem tanto. “O assunto voltou, estava meio esquecido, mas sempre foi atual”, diz Tiago Melo, um dos diretores do curta-metragem Urânio Picuí. O documentário, que estreia hoje na Mostra Premiére Brasil do Festival do Rio (Cine Odeon, Cinelândia), revisita a incrível hipótese de que o urânio retirado das minas de Picuí e Parelhas, no interior paraibano, teria sido utilizado na montagem das bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.

“Não tenho dúvida de que o exército norte-americano extraiu urânio de lá. Se usaram para a bomba, eu não sei”, diz Tiago. Para ele, importa menos a busca pela verdade e mais o impacto que a operação gerou no imaginário da população local. No filme, mineradores e outros que conviveram com os visitantes gringos falam sobre casos de câncer, mutações genéticas e atividade alienígena: até os ETs querem o urânio de Picuí.

Sete anos atrás, bem antes do tema voltar à tona, Tiago já havia escrito o argumento para o curta. “É a cidade do meu pai, então é uma história que ouvia desde criança. Depois, já fazendo cinema, pesquisei e percebi a dimensão da história. Convidei Antônio Carrilho, com quem já havia trabalhado antes, para escrever o roteiro e fazer a codireção”. Entre a pré-produção e a filmagem, foram sete meses de convivio com as cidades, o que permitiu à equipe uma relação próxima com os entrevistados.

Mas Urânio Picuí não se concentra só nos depoimentos e “causos” dos que viveram aquela época, intercaladas com trechos de antigos filmes sobre ações militares feitos em Hollywood. Ele tem sequências ficcionadas e se interessa pelos efeitos reais do urânio sobre as pessoas, como o minerador quase cego que conta sobre o pai que morreu soterrado. Ou o cientista especializado no tema, que desmistifica os supostos males provocados pelo uso indevido das pedras.

Apesar de jovem, Tiago Melo não é um realizador estreante. Em 2003, havia dirigido o curta de ficção Um homem que viveu metade da vida e a outra metade passou relembrando. Em 2005, fez um documentário sobre a chegada do telefone celular em Picuí. “Ele passou em dois festivais e depois parei para investir no Urânio Picuí. Como assistente de direção, trabalhou em Febre do rato, de Claudio Assis e O presidente dos Estados Unidos, de Camilo Cavalcante. Como produtor, dos inéditos Jardim Atlântico , de Jura Capela, Todas as cores da noite, de Pedro Severien, ambos em finalização e Boa sorte, meu amor, de Daniel Aragão, atualmente em produção.

Urânio Picuí foi produzido com R$ 70 mil captados pelo edital Ary Severo (governo do estado) e SIC municpal, mais R$ 35 mil desembolsados pelo próprio Tiago. As prefeituras de Picuí e Parelhas também foram apoiadoras.

Ficha Técnica

Elenco
Dona Rita, Zé de Berto, Gersino, Bododa,Vidal, Antônio de Nego Biu, Inácio Zacarias, Nozinho dos Santos e Ebenézer Moreno

Produção Executiva
Tiago Melo

Roteiro
Tiago Melo e Antônio Carrilho

Fotografia
João Carlos Beltrão e Camilo Soares

Montagem
André Sampaio

Som
Pedro Moreira

Direção de Arte
Mozart Gomes

Trilha Sonora
Vitor Araújo

(Diario de Pernambuco, 10/10/2011)

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