quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Festival de Brasília - balanço e premiação



O 44º Festival de Brasília terminou na última terça-feira com a consagração de Hoje, novo longa de Tata Amaral. Longe de questionar os méritos do filme, premiado em seis categorias principais, a decisão do júri reforça a guinada do evento, que este ano se voltou mais à questões de mercado do que de linguagem ou inovação. Até então, Brasília era conhecida como arena propícia para repercutir o cinema de risco, que ultrapassa fronteiras. Agora investe R$ 250 mil (prêmio principal) em uma produção de qualidade técnica, certo apuro de linguagem, mas acima de tudo, conservadora.

O mesmo vale para Meu país, de André Ristum, que rendeu quatro prêmios, entre eles o de melhor ator para Rodrigo Santoro. Tanto ele quanto Denise Fraga, em Hoje, estão ótimos em seus papéis, o que não ameniza a conclusão de que a nova fórmula de Brasília é brindar o público com rostos conhecidos. No reino dos curtas, vale o mesmo para o paulista L, produção competente mas inofensiva, se comparado com o paranaense Ovos de dinossauro na sala de estar.

As sessões lotadas, com gente sentada nas escadas em todas as noites no Cine Brasília é a prova disso. No entanto, a temida plateia crítica que fez a fama do festival aplaudiu todos os filmes de forma irrestrita. Vaias, só para a ministra Ana de Holanda (na abertura) e à defesa do não-ineditismo na mostra competitiva. Se as noites foram de cinema lotado, no expediente diurno predominaram nos seminários discursos a favor de um cinema comercialmente viável, “de resultado”.

Os nove dias de programação foram permeados por elogios e pedidos de aplausos para líderes do PT, da presidente Dilma a Lula, e para o ex-ministro José Dirceu, sempre ressaltando que a maior novidade do ano são “as exibições descentralizadas em cidades-satélites”. Tudo isso reduz a dimensão de um festival em que a discussão política costumava ser bem mais ampla do que a dos interesses partidários.

Nesse contexto, não impressiona que As hiper mulheres, de Leonardo Sette, Carlos Fausto e Takumã Kuikuro, e O homem que não dormia, de Edgard Navarro, filmes com a antiga “cara” de Brasília, não tenham recebido o merecido reconhecimento. Estranho é perceber boa parte da crítica alinhada às decisões do júri oficial.

Premiação

Longa-metragem

Filme: Hoje, de Tata Amaral
Direção: André Ristum (Meu país)
Ator: Rodrigo Santoro (Meu país)
Atriz: Denise Fraga (Hoje)
Ator coadjuvante: Ramon Vane (O homem que não dormia)
Atriz coadjuvante: Gilda Nomacce (Trabalhar cansa)
Roteiro: Jean-Claude Bernardet, Rubens Rewald e Filipe Sholl (Hoje)
Fotografia: Jacob Solitrenick (Hoje)
Direção de arte: Vera Hamburger (Hoje)
Trilha sonora: Patrick de Jongh (Meu País)
Melhor som: Mahajugi Kuikuro, Munai Kuikuro e Takumã Kuikuro (As Hiper Mulheres)
Montagem: Paulo Sacramento (Meu país)

Júri popular | melhor filme: Meu país, de André Ristum
Júri da crítica | melhor filme: Hoje, de Tata Amaral

Curta-metragem

Filme: L, de Thaís Fujinaga
Direção: Thaís Fujinaga (L)
Ator: Horácio Camandulle (De lá pra cá)
Atriz: Eloína Duvoisin (A Fábrica)
Roteiro: Ali Muritiba (A fábrica)
Fotografia: André Miranda (Imperfeito)
Direção de arte: Raquel Rocha (Premonição)
Trilha sonora: Ilya São Paulo (Ser tão cinzento)
Som: Kiko Ferraz (De lá pra cá)
Montagem: Wallacee Nogueira e Henrique Dantas (Ser tão cinzento)

Júri popular | melhor curta: A fábrica, de Aly Muritiba
Júri da crítica | melhor curta: L, de Thaís Fujinaga
Prêmio Aquisição Canal Brasil: Ser tão cinzento, de Henrique Dantas

Curta de animação

Júri popular: Rái sossaith, de Thomate
Júri oficial: Céu, inferno e outras partes do corpo, de Rodrigo John

(Diario de Pernambuco, 05/10/2011)

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