sábado, 15 de outubro de 2011
Humor negro na academia
Desde que estreou, na última Mostra de Cinema de Tiradentes, o curta-metragem Mens sana in corpore sano fez carreira em oito festivais e ganhou seis prêmios. O destaque mais recente foi a menção especial no 64º Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça. E acaba de ser convidado para a Mostra de Cinema de Santo Domingo, na República Dominicana. Sem dúvida, um ótimo começo de carreira. Esta semana, além de participar da Mostra Brasil do 22º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, o terceiro curta de Juliano Dornelles integra o programa especial de terror Dark Side, com curadoria de Paulo Sacramento.
Cinéfilo de carterinha, Juliano trouxe para seu filme vertentes do cinema norte-americano dos anos 1970, além de beber na estranha morbidez dos filmes de David Cronenberg. A opção pelo 35mm tem contado a favor, não só pelo aspecto que a película imprime na tela, mas também por questões de ordem técnica. "Ainda não dá pra ficar satisfeito com as projeções digitais no Brasil. Não existe padronização, em cada lugar que vi esse tipo de projeção, algo dá errado. E o cinemascope é o formato que mais sofre com isso, não quis arriscar".
Coprodução da Símio Filmes (da qual Juliano é um dos sócios) e da Cinemascópio (de Kleber Mendonça e Emilie Lesclaux), Mens sana in corpore sano faz humor negro com os excessos da cultura de academia. O personagem principal é um fisiculturista (Flávio Danilo), cuja obsessão o fez perder o controle sobre seu corpo. A fotografia é impressionante e privilegia a luz e sombra do funcionamento das máquinas, roldanas e músculos superdesenvolvidos.
Entrevista >> Juliano Dorneles: "O corpo humano é a imagem mais recorrente no cinema"
Como surgiu e se desenvolveu a ideia? Desde o começo era pra ser um filme de terror?
Na verdade, na ideia original o filme era bem mais de humor que de horror, tínhamos um narrador que dava explicações científicas erradas e em completa contradição com o que se via nas imagens... A ideia original partiu de uma conversa com um amigo depois de assistirmos a um quadro do programa Hermes e Renato, na MTV. O filme é dedicado à Gil Brother, talvez a figura mais bizarra e engraçada que já vi na TV brasileira.
Antes de tudo, Mens sana é um filme que estuda o corpo e seus movimentos. Como isso se relaciona com seu universo de interesse?
Acho que o corpo humano é a imagem mais recorrente no cinema, somos nós mesmos, o interesse por isso é natural e imediato. Também gosto de histórias épicas, Grécia antiga, essas coisas. Acho que só consigo pensar em filmes onde temos a estrutura da epopeia.
Em que sentido a escolha do cinemascope foi importante para o filme?
Foi fundamental o scope pois, em termos de estética, o que se aproxima mais dessas atmosferas grandiosas, imagens potentes que ocupam a tela inteira no cinema, tudo que tá dentro do universo do protagonista do filme. Conan é cinemascope.
Mens Sana tem narrativa silenciosa, que evita diálogos. Como isso serviu ao teu trabalho?
Foi depois de optar por excluir a figura do narrador, que simplesmente não funcionava. Passei muito tempo na montagem querendo que funcionasse, mas simplesmente não rolou. O filme não perdeu o humor e ganhou sobriedade. Foi mais importante o uso da música, entramos de cabeça no filme de gênero, gostei mais assim. O diálogo, num filme como esse, diminuiria a solidão do protagonista, que para mim, era fundamental para a história.
(Diario de Pernambuco, 02/09/2011)
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