terça-feira, 25 de agosto de 2009

Feira da Música 2009 // Fora do mercado do jabá


Anelis Assumpção fez um dos melhores shows do evento Foto: Jacques Antunes

Após cinco dias e dezenas de encontros e shows, a Feira da Música 2009 encerrou sua programação no último sábado, em Fortaleza. Entre os cenários, o Sebrae foi a sede das discussões, seminários, rodadas de negócios e feira de produtos e serviços. Sessenta artistas de dezessete estados e da Argentina convergiram em cinco palcos na área central da cidade. Atrações que, por estarem fora da grande mídia, costumamos classificar como independentes, no sentido de não manter contrato com gravadoras, distribuidoras ou divulgadoras.

Por outro lado, durante o evento ficou claro que esse mercado "independente" só pode existir porque depende de organização articulada e cooperativa. E a Feira do Ceará representa mais um passo nesse sentido, pois serviu de abrigo para um fórum sobre a Rede Música Brasil, proposta de política pública para o setor musical elaborada pela Funarte/MinC a partir de discussões com o segmento.

De acordo com Ivan Ferraro, coordenador-geral do evento, este foi o assunto mais falado não só nas reuniões, mas também nos corredores. "Não podemos perder a oportunidade de fazer um pacto com todos os atores, que antes trocavam farpas pelas costas, como por exemplo, a Associação Brasileira de Compositores e o movimento Música Para Baixar, a Associação Brasileira dos Produtores de Disco e o Circuito Fora do Eixo. Aqui a gente discute na frente um do outro. Apesar das dificuldades, esperamos maturidade para manter a posição firme de construir uma política para a música brasileira". Tudo indica que a Rede Música Brasil, que começou a engatinhar em junho (no último Porto Musical), seja oficialmente anunciada no fim do ano, durante a Feira Música Brasil, no Recife.

Integrante da Associação Brasileira de Festivais Independentes, outra função positiva da Feira da Música 2009 é a de apresentar novos talentos e dar espaço para artistas veteranos que ficam de fora do mercado movido a jabá. Foram cinco palcos em atividade quase simultânea, o que levou a reportagem ao difícil exercício da escolha.

O veterano Marku Ribas, que já gravou com Mick Jagger e abriu para James Brown, apresentou na quinta um som presença, regado a samba, black music e outros grooves. Com ele estava Nenem, do Clube da Esquina, um dos maiores bateristas do Brasil. Também de Minas, marcaram presença Erika Machado, Black Sonora e Babilak Bah (um George Clinton tupiniquim).

Um dos momentos marcantes da noite de sexta foi o show de Anelis Assumpção. No Recife, ela esteve no Rec Beat 2007, com a banda Isca de Polícia. Agora investe em carreira solo. Provocou logo de início, com a percussão vocal do pai (Itamar Assumpção) sampleada. "Bem que meu pai avisou", canta a garota. A música se chama Mulher segundo meu pai, do próprio Itamar, de quem Anelis ainda cantou Negra melodia. Dos Beatles, ela fez boa versão para I want you (she's so heavy).

Um pouco antes, o grupo argentino Los Cocineros colocou muita gente para dançar com ritmos novos e antigos alegres e acelerados. No palco rock, a sergipana Plástico Lunar injetou adrenalina na veia roqueira dos anos 70. Banda-irmã da Mopho, de Alagoas, é difícil compreender porque nenhum produtor ainda não a trouxe para um show no Recife.

Os artistas de Pernambuco não fizeram feio. Todos foram bem recebidos pelo público. Academia da Berlinda (que encerrou o evento no sábado à noite), Sweet Fanny Adams, Saracotia e Mestre Galo Preto, de Olinda. Esbanjando simpatia, de roupas e chapéu branco, Galo Preto circulou em todos os dias da feira. Derradeiro detentor de um estilo surgido no Quilombo de Santa Isabel, em Bom Conselho, ele está em plena campanha para retomar a carreira, interrompida nos anos 90 após um incidente cujos detalhes serão revelados no documentário O menestrel do coco, de Wilson Freire.

Fora da programação oficial, A Banda de Joseph Tourton tocou na noite "pocket" promovida pelo Coquetel Molotov no Bar Órbita. Os DJs 440 e Incidental participaram de festas oficiais e encontro de DJs. Além disso, o apresentador Roger de Renor e os produtores Melina Hickson, Lú Araújo, Ana Garcia, Leo Antunes e José Oliveira participaram de encontros e rodadas de negócios.

* o repórter viajou a convite do evento

(Diario de Pernambuco, 25/08/09)

Um comentário:

Alexandre L'Omi L'Odò disse...

Realmente a Feira da Música inprimiu um novo modelo de fazer evento no Brasil. Fiquei muito feliz com a participação do Mestre Galo Preto naquele contexto, até porque pra chegar alí a exigêcia foi muito alta, e realmente só participou fera!

Adorei a matéria do André Dib no Diário, acho que PE corre a passos médios pra o lugar onde deve estar no âmbito do mercado cultural-musical adeqado.

A Anelis... Gosthei... Esperava mais na verdade. rsrsrsrsrs