sábado, 22 de agosto de 2009

Feira anuncia crepúsculo dos ídolos de massa



Fortaleza - Pouca música e muitas palavras. Essa foi a ordem do dia na abertura da Feira da Música 2009, que começou na última quarta-feira e termina na madrugada de hoje para amanhã. O mote também já está no ar. Em várias salas do Sebrae, músicos e produtores independentes se reuniram e discutiram novos modelos de negócio permitidos pelas novas tecnologias. Para eles, o modus operandi da indústria fonográfica já era.

O movimento Música para Baixar (MPB), por exemplo, afirma que estamos no crepúsculo dos ídolos de massa e é preciso desenvolver novos modelos de negócio para o setor. Provocativo - a começar pelo nome -, o MPB tem participado ativamente de fóruns e seminários da Feira da Música. O movimento surgiu no último Fórum Social Mundial, como consequência de uma série de questionamentos sobre a real função da Lei de Direitos Autorais. "Ela só serve para que os empresários se apropriem dos fonogramas", defende o educador social Everton Rodrigues.

Cerca de 250 pessoas, entre intelectuais e artistas veteranos como Nei Lisboa, Zélia Duncan, Roger Moreira (do Ultraje a Rigor) e Leoni (que participa da Feira), assinam o manifesto do MPB, publicado em www.musicaparabaixar.org.br. É de comum acordo que a economia solidária, baseada no princípio da generosidade, permita isso.

Não há exatamente algo de novo nas críticas e propostas do MPB. Associações de artistas independentes existem aos montes e, há alguns anos, o compositor cearense Fernando Catatau já vem anunciando que "todas as vacas estão velhas". A diferença talvez esteja no fato do movimento nascer num momento favorável, em que o tema ganha status de política pública (o MinC promove o Fórum de Direitos Autorais e a Funarte quer efetivar a Rede Música Brasil).

As recentes possibilidades tecnológicas é outro ponto fundamental. Gustavo Anitelli, produtor do grupo O Teatro Mágico, diz que seu grupo somente sobrevive dos shows (e não dos CDs) e produtos agregados (camisetas e adesivos) porque investe na comunicação direta com o público, pessoalmente ou em blogs, twitter e outras ferramentas da internet. "Proximidade é o ponto. Queremos o público incluído na construção do nosso trabalho. Por isso, mais do que a música, oferecemos nosso tempo".

"Procuramos modelos que acompanham a democratização dos meios de comunicação. Queremos acabar com o mecanismo que faz o artista de massa. Ninguém aqui precisa de iate, ilhas e a maior casa da cidade", diz Anitelli, que compara o jogo da indústria musical, baseado no jabá, ao método usado por Goebbels, o ministro da propaganda nazista. Ou seja, música ruim, se tocada mil vezes, se torna boa.



Edital para seleção de bandas - A 2ª Feira Música Brasil, que acontece no início de dezembro no Recife, foi lançada oficialmente na abertura da Feira da Música 2009. Assim como a primeira edição, a feira de produtos e as rodadas de negócio estarão abrigadas no Terminal Marítimo de Passageiros, no Marco Zero.

O diretor do evento, Carlos Tabakof, informou que o edital para a seleção de bandas estará aberto a partir da próxima segunda-feira, através do site www.feiramusicabrasil.com.br. No total, 24 atrações se apresentarão em dois palcos do Marco Zero e outro na Torre Malakoff, dedicado à música instrumental. A Feira ainda conta com oito bandas-âncora não divulgadas. As inscrições ficam abertas até 5 de outubro, e o resultado sai no dia 21 do mesmo mês.

A Feira Música Brasil é fruto de parceria institucional entre o governo federal (MinC/Funarte), estadual (Fundarpe) e municipal (prefeitura do Recife). A execução do projeto, antes dividida entre várias empresas, desta vez ficou concentrada nas mãos da Luni Produções. A patrocinadora continua sendo a Petrobras.



Quanto vale um Patativa? - A sustentação baseada na economia solidária tem sido ideia das mais recorrentes na Feira da Música. O próprio evento entrou no clima e criou o Patativa, moeda corrente complementar cujo nome é um tributo ao famoso poeta popular cearense. Utilizáveis nos estandes e por empresas parceiras do evento, 30 mil Patativas circulam livremente neste exato momento, como balizador de troca de produtos e serviços. O câmbio é simples: cada unidade de Patativa equivale a R$ 1.

A iniciativa tem caráter experimental e foi inspirada em outras moedas complementares como o Goma Card, nascido em Uberlândia, hoje utilizado nos eventos do Circuito Fora do Eixo, e o Cubo Card, do Espaço Cubo de Mato Grosso. De acordo com o coordenador-geral da Feira da Música, Ivan Ferraro, algumas salas de ensaio entraram espontaneamente no circuito.

"É um modelo diferenciado de fazer negócios e efetivar escambos que normalmente já fazemos. Diferente do sistema financeiro oficial, não adianta juntar muito dinheiro, senão o sistema quebra. É uma ideologia de circulação, não de acúmulo". Ivan ainda informa que experiência semelhante será reproduzida no Recife, através do Lumo Coletivo, que no último Porto Musical produziu os shows das Noites Abrafin/Fora do Eixo.

(Diario de Pernambuco, 22/08/09)

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