sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Estreia // Brüno, o clichê ambulante



O humor anárquico do grupo Monty Phyton, que brilhou em filmes dos anos 70, faz uma falta e tanto. As provocações de Sacha Baron Cohen não chegam a suprir essa lacuna, mas resiste à sanha politicamente correta que, sem precaução, engessa até o cérebro.

Assim como os Phyton, Cohen é inglês e vem de carreira televisiva, onde criou seus personagens mais famosos. Primeiro, Ali G, o jovem suburbano e mal educado; depois, Borat Sagdiyev, o repórter misógino do Casaquistão; por fim, o homossexual austríaco Brüno, repórter de moda que quer se tornar celebridade a qualquer custo. Dez anos após sua aparição na TV, este último chega ao longa-metragem causando fortes reações.

Assim como Borat, Brüno sai de sua terra natal para conquistar a América, onde pretende se tornar "a maior celebridade austríaca desde Hitler" e a próxima estrela gay "desde Schwarzenegger". O filme leva os clichês do mundo fashion ao extremo. Ao entrevistar Paula Abdul sobre seu trabalho humanitário, Brüno utiliza mexicanos no lugar do sofá; em troca de fama, tenta promover paz no Oriente Médio, mas não sabe a diferença entre o Hamas, facção radical palestina, e homus, o prato típico feito com grão-de-bico; na África, que ele chama de país, troca um menino negro por um iPod modelo U2; por fim, se converte e brada pelo "orgulho hétero", inspirado por Tom Cruise e Kevin Spacey.

Desde julho, quando estreou nos EUA, o filme foi proibido na Ucrânia, sem justificativa das autoridades. Duas versões circulam pela Inglaterra: uma na íntegra, restrito para maiores de 18 anos; outra, provavelmente sem órgãos genitais e vibradores, para o público acima de 15. Em ambas as versões, inclusive a que entra em cartaz por aqui, foi excluída uma cena específica que satiriza a família Jackson.

Não é o caso de acionar entidades de defesa das minorias. O comportamento sexualmente despudorado, preconceituoso e oportunista de Brüno pode até ofender os que vestirem a carapuça. Seu alvo principal, no entanto, é novamente a caretice do norte-americano médio, que confrontados com situações de mau gosto, reage com preocupante seriedade.

(Diario de Pernambuco, 14/08/09)

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