segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Cine Ceará // Filmes políticos na noite de sábado


Interessa mais pelo cunho antropológico do que como peça de propaganda zapatista

Fortaleza (CE) - A condição íbero-americana fala alto no 19º Cine Ceará. Não só pela exibição de filmes da Argentina, Peru, México e Cuba na mostra competitiva, mas também pela presença de hermanos da imprensa desses países na cobertura do evento. Há também a mostra Che: olhares no tempo, que começou com a segunda parte do épico de Steven Soderbergh e conta com a participação acalorada de militantes com boinas e bandeirinhas de fidelidade ao guerrilheiro. Um dos participantes do evento é Luis Carlos Gutierrez, conhecido como Fisín, o dentista, responsável por realizar alterações no rosto do guerrilheiro antes de partir para o front do Congo e Bolívia.

Não é novidade que o Cine Ceará privilegia filmes de inclinação política ou contestação social. Os dois longas de sábado passam por aí. O mexicano Coração do tempo, de Alberto Cortés, é o primeiro filme rodado em Chiapas. A narrativa é simples e honesta em suas intenções: retratar o cotidiano de um grupo indígena protegidopor um destacamento do Exército Zapatista instalado nas montanhas. Tudo vai bem, até a jovem Sonia se apaixonar pelo soldado Julio.

Chama a atenção o contraste entre o filme de Cortés e Se nada mais der certo, de José Eduardo Belmonte, exibido logo depois.

Se aquele apresenta uma comunidade unida em torno de um ideal de liberdade, este aposta em personagens marginalizados nas ruas de São Paulo. No longa, Cauã Reymond, Caroline Abras e João Miguel vivem, respectivamente, Leo, um jornalista desempregado, Marcin, uma traficante e Wilson, um taxista.

Isolados em problemas pessoais e unidos pelo acaso, eles aplicam golpes pequenos, até que surge a oportunidade de um grande assalto.

Uma escapada para a praia ao som de Jimi Hendrix, arquétipo da contracultura sessentista, leva a refletir a falta de alternativas e a consequente desesperança frente ao mundo cão em que vivemos, cada vez mais desprovido de qualquer utopia.

(Diario de Pernambuco, 03/08/2009), com alterações

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