quinta-feira, 14 de maio de 2009

A verdade sobre Simonal



Aos poucos, a história recente da MPB vem sendo mapeada pelo cinema. Somente nos últimos dois ou três anos, vimos na tela grande as trajetórias de Cartola, Vinicius, Bezerra da Silva e Tom Zé. Saindo do forno estão longas sobre Zé Ramalho, Novos Baianos, Arnaldo Baptista e Jards Macalé, serviço providencial à memória da cultura brasileira.

Dessa nova safra, estreia amanhã Simonal - Ninguém sabe o duro que dei, filme que mergulha na biografia desse que, provavelmente, é o artista mais estigmatizado do país. Há motivos, como o longa mostra sem retoques, em imagens de arquivo - e entrevistas com quem estava lá - e dos filhos Max de Castro e Wilson Simoninha.

O grande mérito do documentário dirigido por Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal é o de colocar em evidência o talento de Wilson Simonal de Castro (1939-2000), nome que há mais de trinta anos foi banido no mais solene e asfixiante silêncio da constelação de cantores nacionais. E que morreu de sintomas do alcoolismo, sob a fama de ter entregado colegas ao DOPS, o truculento órgão de repressão da ditadura militar.

Segundo um dos diretores, a participação dos filhos se resumiu a conceder depoimentos e assinar a papelada autorizando o uso das imagens do pai. "Eles tiveram uma postura sóbria de não procurar culpados ou remoer mágoas. O único interesse deles é o reconhecimento do pai pelo talento que tinha. E isso é possível porque a geração de hoje não tem o mesmo ranço ideológico que as anteriores", disse Micael Langer. Em entrevista por telefone, Langer explicou que o projeto, que hoje conta com a participação da Globo Filmes e de mais cinco empresas, começou em 2004, de forma independente. "Eu e Calvino nos interessamos pelo Simonal após ouvir uma música na trilha de Cidade de Deus. Pesquisamos um pouco e vimos que essa era apenas a ponta do iceberg".

De origem humilde, Simonal saiu da condição precária de ter que cantar por um prato de comida para ser a voz mais famosa do Brasil. No início dos anos 60, passou de crooner a integrante da turma da pilantragem, que misturava chá-chá-chá com a malandragem carioca e fazia a cabeça da "moçada" da época. A moda passou. E daí em diante cantava com ninguém menos que Sarah Vaughan (em show transmitido nacionalmente pela TV Tupi). E, como descreve Nelson Motta, estava "pau a pau" com Roberto Carlos no posto de cantor mais popular do Brasil.

A ascensão vertiginosa, ancorada em seu inegável talento e patrocinada pelos padrinhos Carlos Imperial, Luiz Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli, mexeu com a cabeça do cantor, que a essa altura ostentava um apartamento à beira-mar e três Mercedes na garagem. Com despudorada arrogância, no auge do sucesso, ele declarou à TV que o negócio era ganhar dinheiro, para "ser alguém na vida ou morrer preto mesmo". Essa sinceridade, que beirava o cinismo, gerou um clima de desconfiança em torno de Simonal, que, ao lado de Pelé, celebrou a conquista da Copa de 70. E foi acusado de ser garoto-propaganda da ditadura.

O que era desconfiança se materializou no trágico episódio em que ele convocou a polícia para dar "uma prensa" no próprio contador, Raphael Viviani, episódio trágico que culminou em uma sessão de choque elétrico e na infeliz declaração de Simonal à imprensa de que, sim, ele seria um informante do DOPS. Dos jornais da época, o tablóide Pasquim foi o que mais pegou pesado. Jogou o cantor no "lixo da história", e publicou que seu dedo seria mais famoso que sua voz. "Ele foi jogado aos leões. Isso serviu à direita, porque desviou a atenção das ações da ditadura, e à esquerda, que encontrou em quem bater", disse Langer.

A polêmica em torno do caso gerou versões bem diferentes. Para tirar a história a limpo, a produção localizou Viviani, que pela primeira vez contou tudo o que se passou antes, durante e depois de cair na mão da polícia, o que rendeu o momento mais tenso do filme.

Langer disse ao Diario que sentiu um peso nos ombros por contar uma história tão poderosa. "Procuramos as famílias. Tivemos que lidar com crises profundas. Estávamos curiosos para saber o que aconteceu. E isso se revela no filme de forma legítima. É difícil dizer realmente o que se passou, pois tudo aconteceu há 40 anos. Por isso, procuramos mostrar as diferentes versões, para que as pessoas formulem suas verdades e tirem suas próprias conclusões".

2 comentários:

helinho disse...

Pagou caro por sua arrogancia.

helinho disse...

pacou caro por ser arrogante.