domingo, 10 de maio de 2009
A joia rara de Renata Pinheiro
No próximo dia 22, Superbarroco, de Renata Pinheiro, participa do Festival de Cannes. O curta-metragem será exibido no segundo dia da Quinzena Realizadores, na opinião da autora, a mais instigante mostra do maior e mais respeitável evento do cinema mundial. No ano passado, outro curta pernambucano, Muro, de Tião, foi destaque no evento e recebeu o prêmio Regard Neuf (Novo Olhar).
Eleito o melhor curta dos festivais de Brasília e Pernambuco, Superbarroco é uma obra diferente daquelas com começo, meio e fim. Sua narrativa se baseia no mistério, na não-linearidade da memória afetiva. Um filme em que sombras e luzes trabalham a favor do sonho e delírio. Cinema no nível da melhor poesia.
"Fiz este filme como um ourives faz uma joia", disse Renata, em entrevista ao Diario. Ela contou que a produção tomou aproximadamente três anos de trabalho. Tudo começou do desejo de resgatar a arte da dublagem, cada vez mais em desuso, e a importância da cantora Dalva de Oliveira na cultura brasileira. "Pensando o filme hoje, vejo que ganhou inúmeras camadas interpretativas além destas ideias. A questão é que sempre trabalhamos com liberdade e intuição. O último tratamento tornou o roteiro uma grande sequência de associações livres".
Boa parte da força de Superbarroco vem da performance do ator paraibano Everaldo Pontes, em interpretação premiada nos festivais acima citados. No fim de semana passado, após a cerimônia de premiação do Cine PE, ele disse à reportagem do Viver que se sente corresponsável pelo filme, pois ele se definiu após uma conversa que teve com o produtor Sérgio Oliveira, marido de Renata. "Estávamos rodando Árido movie, e falei para Sérgio que existe na Paraíba um fã-clube de Dalva de Oliveira, do qual faço parte desde os anos 70", lembrou o ator, que deve integrar o elenco de Transeunte, próximo filme de Eryk Rocha.
Outro ponto decisivo do curta está no aspecto fantasmagórico da fotografia, a cargo de Pedro Urano, construída a partir de cenários e objetos banhados pela projeção de imagens de arquivo e do próprio ator, que termina por contracenar com ele mesmo. "Não poderia ter a máquina ilusionista do cinema, com suas grandes salas e telas de projeção, e não tirar proveito disto. Quis lembrar que o cinema é, em essência, o passado e a ilusão, e convidei o público a entrar conscientemente nisto", explica a diretora.
Ela considera Superbarroco a consequência de suas experiências de infância, afetivas e profissionais - ela tem formação em teatro, e construiu carreira como diretora de arte, onde foi premiada por Feliz Natal, de Selton Mello, e Baixio das bestas, de Cláudio Assis, ambos no Festcine - Goiânia, e por Amarelo manga, de Cláudio Assis (Cine Ceará). Outros filmes no currículo são A festa da menina morta, de Matheus Nachtergaele, e Árido movie, de Lírio Ferreira. Em fase de finalização estão Histórias de amor duram apenas 90 minutos (RJ), de Paulo Halm, e Hotel Atlântico (SP), de Suzana Amaral.
Memória parece ser a palavra chave para a compreensão do filme. O casarão onde foi rodado é, há duzentos anos, a casa grande da família de Renata. "Lá ouvi muitas histórias de meus antepassados".
Quanto às motivações do personagem, embriagado de si, ela prefere deixar a cargo de quem assiste. "Quando estávamos em processo de construção do personagem, fiz questão de deixar lacunas de compreensão. Estudei um pouco de Butô. Nesta dança japonesa, o corpo é esvaziado de referências culturais e se entrega a arquétipos da mente", revelou Renata, que já articula os primeiros movimentos para viabilizar Vago, projeto de longa-metragem anterior a Superbarroco. A viagem a Cannes pode ser um ótimo trampolim.
*publicado no Diario de Pernambuco
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Um comentário:
Que orgulho pra nós, brasileiros
Parabéns Renata e equipe.
Como entrar em contato com ela?
Gostariamos de fz uma apresentação do trabalho dela aqui em nossa cidade onde este filme venceu a 2ª Mostra Marilia de Cinema.
Obrigada
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