quinta-feira, 28 de maio de 2009

Mais que nunca é preciso cantar



Lá se vão 30 anos desde que Geraldo Maia começou a cantar. Foi durante o Festival de Inverno da Unicap. "Uma das coisas mais legais que tinha na cidade", conta o artista, em entrevista ao Diario de Pernambuco. Na noite de hoje, outra data emblemática será celebrada, pois Geraldo completa 50 anos de vida. A idade nova não passará em branco. Ela será marcada por um show, em homenagem a uma grande influência como mais do que um presente ao público. Dada a força do repertório, está mais para oferenda.

Maia prefere manter segredo sobre o repertório do show Imitação, que apresenta logo mais, às 21h, no Bar Seu Cafofa (Estrada do Encanamento, 1400 - Casa Forte). "Se eu disser, tira a surpresa. Só adianto que não vou imitar ninguém", brinca, em referência ao título, que na verdade tem a ver com uma composição do baiano Batatinha. O som é por conta da banda Fio da Meada, a mesma que toca no último álbum, Peso leve (2008): Rodrigo Samico (violão), Amarelo (percussão) e Publius (bandolim).

Ele acrescenta que Imitação entra em temporada no mesmo local, em julho. Na entrevista a seguir, convidamos Maia a fazer um balanço dos erros e acertos de sua trajetória.

Entrevista // Geraldo Maia: "Continuo ávido por novidades, por novas conquistas"

Que lições você tira dos 50 anos?
Sinto que cinquenta anos é um tempão, e ao mesmo tempo não é nada. Não estou desdenhando, mas é porque ainda tenho muito o que fazer. Mas me sinto como um jovem de 25, 30 anos, porque tenho vontade de me aperfeiçoar, de compor mais. Continuo ávido por novidades, por novas conquistas. Ainda tenho muito o que aprender.

Quais sonhos ainda podem se concretizar?
Quero ampliar o espectro do meu trabalho, ganhar uma realização artística que possibilite viajar mais, fazer mais shows e consolidar meu trabalho. Talvez seja a minha maior inspiração. Quero fazer novos discos. Tenho pelo menos dez na cabeça.

Você se arrepende de algo?
Na minha adolescência, queria ser artista e demorei muito a assumir isso de forma mais explícita. Tinha conflitos em casa, meu pai não queria que eu seguisse carreira artística. Minha preparação sempre foi na vida e não no plano formal. Se me preparasse desde cedo, talvez me tornasse um artista mais completo.

Você considera positiva sua rebeldia da juventude?
Havia uma inquietação com a ditadura. Meu pai era comunista e acreditava piamente na revolução bolchevique. A maior mensagem dele era igualdade e justiça. Ele ajudou muito a fazer esse contraponto, apesar de ele mesmo ser uma figura violenta e repressora. Então tudo o que eu gritei contra foram formas de me salvar e me colocar no mundo.

Seu pai era contra sua carreira artística. Onde você buscou força para a carreira de músico?
Havia algo em mim que continua muito forte, de querer dizer algo para o mundo. Essa pulsação que alimentou esse desejo contra tudo e todos os obstáculos. A razão maior da minha vida é a música.

Como foram os primeiros anos?
Me juntei ao grupo de Lula Queiroga, Zeh Rocha, Múcio Callou, Don Troncho, Tito Lívio e Lenine, que estava quase de partida para o Rio de Janeiro. Lançamos o Projeto Mural no Centro Luiz Freire. Era nossa tentativa de articulação, de trocar experiência, de buscar um norte. Essa época foi muito difícil não só pela ditadura, mas porque havia poucos recursos e profissionalização.

Você foi morar em Portugal em 1990 e, quando voltou, o Recife vivia o auge do movimento mangue. Se sentiu beneficiado por esse cenário?

Antes não havia sintonia entre artista e público. O movimento mangue provocou um profissionalismo, hoje há qualificação não só dos músicos, técnicos e estúdios. E trouxe a valorização da cultura popular, com a qual não tenho vínculo direto.

Como você avalia as políticas públicas para a música?
Acho que falta um plano de apoio e incentivo mais sistemático por parte dos órgãos oficiais da cultura. Não sou gestor público, mas participo de alguns fóruns setoriais. Eventos como Carnaval, São João e Natal são benéficos e já estão consolidados na capital e interior, mas são sazonais, e precisamos de um mecanismo que se estenda para além disso. A saída pode estar numa política em que instâncias municipais, estaduais e a iniciativa privada tracem um roteiro de ações contínuas.

Nenhum comentário: