terça-feira, 26 de maio de 2009

O Brasil que o país desconhece



Iati (PE) - Neste momento, três equipes viajam país adentro com um único objetivo: apresentar um Brasil desconhecido aos olhos dos próprios brasileiros. A instigante missão é também a última etapa do Revelando os Brasis, projeto que desde 2004 viabilizou 120 produções audiovisuais em cidades com menos de 20 mil habitantes. Agora é hora de exibir o resultado nos municípios selecionados por esta terceira edição, e em algumas capitais.

A convite dos realizadores (Ministério da Cultura e Instituto Marlin Azul), a reportagem do Diario de Pernambuco acompanhou as atividades em Iati (280 km do Recife), na noite de domingo. A partir de agora, a cidade do Agreste meridional figura no mapa audiovisual do país graças ao documentário O baque da zabumba centenária contra do tic-tac do tempo, que conta a história de Mané Rita, zabumbeiro que viveu até os 104 anos.

Mesmo com a chuva forte, a sessão montada no ginásio de esportes reuniu cerca de 200 pessoas. Quem assistiu não somente aprovou, como aplaudiu a produção local e de três outras que fazem parte projeto. Já a criançada viajou com a animação Mestre Vitalino e Nós no Barro (ES), produzida a partir de oficinas com 150 meninos e meninas do ensino fundamental capixaba.

A empregada doméstica Roseane Santana, 29 anos, disse que essa foi a primeira sessão de cinema que viu na vida. Ela poderia ter assistido ao curta quando foi transmitido pelo Canal Futura, que chega em sua casa via antena parabólica, mas preferiu aguardar mais um pouco. "Queria ver melhor na tela grande", explica. Josefa de Lima Silva, sobrinha de Mané Rita (que também nunca foi ao cinema), também estava lá.

Pena que os personagens principais não puderam comparecer ao evento. Genaldo Barros, que assina a direção do documentário, disse que banda de pífanos Zabumba de Mané Rita (hoje liderada pelo filho, Zé Rita) e as rezadeiras do Sítio Trapiá não puderam se deslocar debaixo do aguaceiro.

Há décadas Genaldo tinha o desejo de registrar a cultura do local onde nasceu e cresceu. Aos 54 anos e com o primeiro filme nas telas, ele pensa em seguir em busca do "Brasil que está na raiz", como ele mesmo disse ao apresentar a obra ao público. Seu próximo projeto deve ser o registro de uma fazenda próxima a Iati, e que chegou a ser a maior revendedora de mão de obra escrava no Nordeste.

Inclusão audiovisual - Até meados do mês que vem, o Circuito Revelando os Brasis terá percorrido 58 cidades e quase 30 mil quilômetros, do Acre ao Rio Grande do Sul. De acordo com a produtora Lucia Caus Delbone, do Instituto Marlin Azul, a terceira edição do Revelando os Brasis custou R$ 2,3 milhões aos cofres da patrocinadora oficial, a Petrobras. Ela ressalta que o retorno desse investimento está não somente na conquista do atual acervo de 120 histórias, mas também no incentivo a novos realizadores, derradeira dimensão do conceito de "inclusão audiovisual" que o projeto quer promover.

"Muitos diretores partem para tentar outros editais, e alguns conseguem emplacar seus roteiros", diz Lúcia, que exemplifica com o caso do realizador paraibano André da Costa Pinto, de 23 anos. Após A encomenda do bicho medonho, produzido através do projeto, ele recebeu prêmios pelo curta Amanda e Monick e agora se prepara para rodar seu primeiro longa, com Letícia Spiller, Guta Stresser e Maria Gladys no elenco.

Antes de partir para a Paraíba, o Circuito Revelando os Brasis promoverá mais duas exibições gratuitas no estado. No Recife será hoje, às 19h, na Bomba do Hemetério (Rua Dr. Eudes Costa, em frente à quadra da escola de samba Gigantes do Samba). O evento conta com a mobilização do programa Bombando Cidadania, que na ocasião apresenta dois vídeos, produzidos pela ONG Auçuba.

Amanhã, no mesmo horário, Lúcia e equipe estarão em Casinhas (Zona da Mata Norte). Lá, a grande estrela será o curta Passarelas, uma história de carnaval, de Charles Deodato, que ficciona o episódio importante para a cidade: o dia em que uma comitiva de casinhenses foi para o Rio de Janeiro participar da homenagem que a Império Serrano fez ao escritor Ariano Suassuna que, por sinal, recebeu o título de emérito cidadão casinhense.

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