domingo, 31 de maio de 2009

Negócio da música equalizado


Do sistema analógico ao digital, do CD ao compartilhamento de arquivos, o hábito de ouvir música mudou radicalmente nos últimos anos. Mudou tanto, que "revolução" parece ser a melhor palavra para descrever o sem-número de invenções, fatos e descobertas em torno do assunto. Nesse contexto repleto de permissividade, consumidores, empresas de telecomunicação, provedores de conteúdo e fabricantes de mídia virgem só têm a agradecer. Do outro lado da balança, não há motivo para tanto: artistas, gravadoras e distribuidoras são os principais lesados por este processo em plena ebulição.

O que nos conduz ao cerne da questão: como equilibrar uma equação em que cada elemento é indispensável para manter viva a cadeia produtiva da música? Entre as respostas disponíveis está o Last.fm (www.last.fm), site que remunera o artista toda vez que sua música é executada, e hoje acumula um dos maiores catálogos do mundo fonográfico. Disposto a discutir o futuro da música na internet, o responsável pela aquisição de conteúdo da Last.fm, Jonas Woost, estará no Recife como um dos convidados do Porto Musical, que acontece de 17 a 20 de junho, no Bairro do Recife. Na entrevista a seguir, ele explica como a Last.fm está fazendo da música "líquida" um bom negócio.

Entrevista // Jonas Woost: "Artistas que querem ganhar dinheiro precisam ser empreendedores"

Transmitir música pela internet pode ser algo rentável para gravadoras e distribuidoras. E para os artistas, é bom negócio?
Artistas são extremamente beneficiados pelos serviços de streaming pela internet. Além de dar publicidade a eles, a Last.fm paga em dinheiro a cada vez que suas músicas são tocadas. Chamamos isto de "Programa de Direitos Autorais para Artistas".

No que a Last.fm difere das demais rádios online e sites como MySpace? Como competir com outros serviços de rádio via web, que não cobram nada pelo streaming?
Uma das maiores características da Last.fm são as recomendações. Baseados nos hábitos musicais do ouvinte, temos condições de recomendar qualquer tipo de música para qualquer pessoa. Como existe muita música disponível, a capacidade de filtrar é uma das funções mais importantes nos serviços de música na internet.

Que vantagens artistas iniciantes podem ter com esse modelo de transmissão?
Vinte anos atrás, se você quisesse mostrar seu trabalho para muita gente, teria que assinarum contrato com uma gravadora. Sem isso, as rádios simplesmente não tocariam sua música, as revistas não escreveriam sobre você, e você não estaria habilitado a colocar sua música nas lojas. Isso mudou completamente. Agora, qualquer músico pode tecnicamente alcançar qualquer pessoa conectada à internet diretamente. Isso torna o negócio justo para todos, mas traz novos desafios. Com tantos artistas em busca de fãs, como uma banda pode ter certeza que será notada? Serviços como a Last.fm podem ajudar nisso.

Qual a principal fonte de renda da Last.fm?
Nós ganhamos dinheiro com publicidade, mas também temos renda com assinaturas.

Você concorda com a tese de que a música gravada hoje funciona mais como cartão de visitas para shows, que agora são a principal fonte de lucro?
Ultimamente, muitas pessoas dizem que shows são mais importantes do que a música gravada, mas eu não creio que isso possa ser aplicado a todos os casos. Sim, há certos artistas que obtém sucesso fazendo turnês, e os fonogramas ajudam a promover isso. Mas por outro lado há muitas bandas que simplesmente não fazem shows, ou fazem sem receber nada em troco. Mas nós aprendemos que não há modelo de negócio para quem faz música. Cada artista precisa encontrar sua forma de fazer dinheiro: alguns venderão CDs e downloads, outros cairão na estrada, outros talvez venderão camisetas. Ou uma combinação de tudo isso. Além disso, haverá novas ideias que nem suspeitamos ainda. Artistas que querem ganhar dinheiro precisam ser empreendedores.

Alguns países adotaram a taxação de dispositivos de mídia como forma de compensar artistas, produtores e distribuidores. Na sua opinião, esta é a melhor saída para descriminalizar a livre troca de conteúdo?
Ficou claro que não é solução perseguir pessoas por compartilhar música "ilegalmente" na internet. A música continuará sendo compartilhada, e ninguém pode impedir isso. Mas há ideias sobre como assegurar o pagamento de artistas pela música disponível de graça na rede. Cobrar um "blanket fee" (algo como uma taxa quecubra todos os custos do serviço) por ponto de conexão com a internet é uma solução interessante. Algumas pessoas chamam de "imposto", mas eu prefiro "taxa". Se tenho que pagar uma quantia mensal que me permite baixar, ouvir e compartilhar música à vontade, e com isso facilitar minha a vida, quero ter certeza que os artistas estão recebendo por isso.

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