sexta-feira, 8 de maio de 2009

Para entender o Cinema Novo



Glauber Rocha decretou o fim do Cinema Novo por volta de 1970, quando deixou o país para plantar sementes de sua revolução particular na Itália, Espanha, Cuba e países africanos. Quarenta anos depois, o que podemos aprender com essa experiência, que buscava independência estética e política para o cinema nacional? Respostas prontas, não há. Uma investigação coletiva pode render mais. E é precisamente isso o que propõe o Cineclube Coliseu, que inicia hoje um ciclo especial dedicado ao Cinema Novo.

Durante o mês de maio, a mostra O velho Cinema Novo: Re-visões apresentará 16 filmes realizados por 11 diretores que fizeram, influenciaram ou refletiram esse movimento que parece não esgotar interpretações. O acesso às sessões (veja quadro) é gratuito. Nos sábados haverá a presença de especialistas no assunto: os críticos de cinema Alexandre Figueirôa e Celso Marconi, e o artista Jomard Muniz de Brito, que conheceu e trocava cartas com Glauber.

"São filmes queretratam o povo sem um olhar exotizante, mas dentro de uma perspectiva revolucionária", diz Figueirôa, cuja tese de doutorado estuda a presença do Cinema Novo em revistas francesas como Cahiers du Cinema e Positif. Amanhã, ele instigará debate após exibição dos curtas Aruanda (1960), de Linduarte Noronha e Arraial do Cabo (1959), de Paulo Cézar Sarraceni e Mário Carneiro, e o longa Porto das caixas (1962), de Sarraceni. "Eles são importantes porque ocorrem quando o grupo começa a se mobilizar em torno da ideia do Cinema Novo. Apontam as opções formais que o movimento irá tomar".

Marco do cinema documental brasileiro, Aruanda chamou atenção ao contrariar a ideia de modernidade propagandeada pelo governo Juscelino Kubitschek, ao expor a vida num quilombo perdido no Sertão da Paraíba. De forma que Glauber encontrou no filme de Noronha o viés social que sentiu falta em O pátio (1959), seu primeiro curta.

Capturada pelo fotógrafo pernambucano Rucker Vieira, a luz atípica de Aruanda também arrebatou o olhar do jovem cineasta, que ali encontrou uma das bases para alcançar a imagem que precisava para sua "estética da fome". Tendo trabalhado nos anos 70 com a geração do Super 8, com diretores como Fernando Monteiro, Fernando Spencer e Jomard Muniz, Vieira morreu em 2001, praticamente no anonimato.

Coliseu - Desde 2008, quando foi criado pelo jornalista Rodrigo Dourado, o Cineclube Coliseu é mantido pelo Sesc Casa Amarela e organizou mostras de animação, cinema francês, alemão, videoarte, festival do minuto e de curtas apresentados no Festival de Brasília. "A próxima etapa será fazer a mostra de outras fases do cinema nacional, como de filmes da Boca do Lixo", revela Dourado. A mostra atual foi elaborada a partir de acervo disponibilizado pela Programadora Brasil, da qual o Sesc é ponto de exibição.

Serviço
Mostra O velho Cinema Novo: Re-visões

Onde: Cineclube Coliseu (Sesc Casa Amarela - Avenida Professor José dos Anjos, 1109)
Quando: Sextas e sábados, de hoje a 23 de maio
Informações: 3267-4410
Entrada franca

Programação

Hoje (sexta), às 19h
Curta: Pedreira de São Diogo (1962), de Leon Hirszman
Longa: Bahia de Todos os Santos (1960), de Trigueirinho Neto

Amanhã (sábado), às 14h
Curtas: Aruanda (1960), de Linduarte Noronha e Arraial do Cabo (1959), de Paulo Cézar Sarraceni e Mário Carneiro
Longa: Porto das caixas (1962), de Paulo Cézar Sarraceni
Debatedor: Alexandre Figueirôa


Dia 15 (sexta), às 19h

Curta: A velha a fiar (1964), de Humberto Mauro
Longa: São Paulo S.A (1965), de Luís Sérgio Person

Dia 16 (sábado), às 14h
Curtas: Abry (2003), de Joel Pizzini e Paloma Rocha; A voz do morto (1993), de Sérgio Zeigler e Vitor Ângelo; A degola fatal (2004), de Clóvis Molinari e Ricardo Favilla; e Amazonas, Amazonas (1966), de Glauber Rocha
Longa: Deus e o Diabo na terra do sol (1964), de Glauber Rocha.
Debatedor: Jomard Muniz de Britto

Dia 22 (sexta), 19h
A João Guimarães Rosa (1968), de Roberto Santos
Bebel, garota propaganda (1967), de Maurice Capovilla

Dia 23 (Sábado), às 14h
Curta: Brasília, contradições de uma cidade nova (1967),de Joaquim Pedro de Andrade
Longa: Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade
Debatedor: Celso Marconi

*publicado no Diario de Pernambuco

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