No fim de semana, o Cine PE mostrou aquilo que sabe fazer melhor: atrair gente. De acordo com a assessoria de imprensa do evento, somente sexta e sábado, mais de 6 mil pagantes enfrentaram sinuosas filas para entrar no Cineteatro Guararapes. Durante as projeções, se confirmou uma característica já bem conhecida do evento: a generosidade do público, que aplaudiu quase todos os filmes.
Na sexta-feira, esse ritual quase automático de bater palmas foi desafiado pelo curta Nº 27, exercício estético de Marcelo Lordello sobre um estudante adolescente que se mete em situação constrangedora de implicações escatológicas. Longos intervalos de silêncio e escuridão confundiram a platéia mais afoita e, quando o curta terminou de verdade, o barulho não foi tão grande.
O maior rebuliço girou em torno do documentário Alô alô, Terezinha!, principal atração da mostra competitiva da noite de sexta-feira, em que Nelson Hoineff se dedica a reconstruir o universo do apresentador de TV Abelardo Barbosa, o Chacrinha. No microfone, Hoineff explicou que o longa passou longe de ser uma peça biográfica, daquelas que mostram o local onde o personagem nasceu. "É uma tentativa de mergulho no universo extraordinário do Chacrinha, resgatar sua memória, e fazer com que vocês se divirtam".
Logo depois, o público demonstrou boa receptividade ao longa KFZ - 1348, o "filme do fusca" de Marcelo Pedroso e Gabriel Mascaro, que concorre na Mostra Pernambuco e deve encerrar a carreira de festivais no Cine PE. No próximo dia 15, anunciaram os realizadores, o filme estreia no Cinema da Fundação. Um pouco antes, a esperta animação carioca O anão que virou gigante provocou risos ao apresentar o personagem que se auto-denomina "a única pessoa que foi anão e gigante na mesma vida".
A sexta também marcou a despedida de Constantin Costa-Gavras, o mais ilustre convidado do Cine PE. Antes de embarcar de volta à França, ele prestigiou a sessão especial de Z (1969), mas, ao contrário da expectativa, dispensou os holofotes: assistiu a fita que trouxe de seu acervo particular, discretamente, na última fila do gigantesco salão.
A noite de sábado começou com o festival de micro-metragens Cel.U.Cine, que este ano investe na itinerância dos festivais brasileiros. O destaque entre os cinco semi-finalistas desta etapa foi o designer pernambucano André Pinto, que provocou gargalhadas com Ponta cabeça, em que a manipulação digital é usada para inverter os olhos, nariz e boca do personagem, o que gerou uma imagem bastante estranha.
Encerrando a noite, e a mostra competitiva de longas, a produção baiana de pegada rock'n'roll Estranhos, de Paulo Alcântara, injetou adrenalina na platéia. Boa parte pela relação de amor entre dois parceiros do crime que, prestes a serem capturados pela polícia, trocam um improvável beijo de língua.
Do lado de fora do teatro, chamou a atenção a figura de José Mojica Marins, que veio a Recife buscar material para seu programa, O estranho mundo de Zé do Caixão. Durante o dia, ele circulou em, como ele definiu, "lugares estranhos" da cidade, acompanhado pelo jornalista Roberto Beltrão. À noite, circulou pelo Centro de Convenções, que na sexta contou com a presença de toda a diretoria do Canal Brasil, que recebeu homenagem e troféu de mérito institucional das mãos de Alfredo Bertini, diretor do festival.
* publicado no Diario de Pernambuco
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