segunda-feira, 25 de maio de 2009

A invenção do pós-humano



Entrevista // Franklin Leopoldo e Silva: "A desumanização é de nossa inteira responsabilidade. Ou seja, podemos revertê-la"

A partir de hoje, o Memorial de Medicina de Pernambuco, no Derby, recebe o ciclo de conferências Mutações - A condição humana.

Sob curadoria do escritor e jornalista Adauto Novaes, o evento receberá, nos próximos sete dias, dez convidados para pensar sobre quem nos tornamos perante a atual configuração mundial. Caberá ao professor Franklin Leopoldo e Silva dar início às atividades. Às 19h, o filósofo apresentará o seminário A invenção do pós-humano. Para participar, basta fazer inscrição no Centro Josué de Castro, pelo telefone 3423-2800.

Autor dos livros Bergson - intuição e discurso filosófico (Loyola), Ética e literatura em Sartre, e Felicidade (Claridade), Franklin Leopoldo antecipou assuntos que abordará logo mais.

Em entrevista ao Diario, ele afirma que, ao contrário do que parece, a difícil condição em que vivemos é de nossa inteira responsabilidade, e não de forças ocultas. "Isso indica também a possibilidade de reverter a situação", provoca o filósofo.

Em sua conferência, o senhor trata da invenção do pós-humano. Como explicar esse conceito em poucas linhas?
Utilizo a expressão "pós-humano" para indicar uma condição que sucede àquilo que a modernidade, e notadamente, o iluminismo, entende como realização plena da humanidade: a emancipação racional através do progresso científico-tecnológico e do aprimoramento ético. Essas promessas humanistas foram desmentidas pela experiência histórica, que em grande parte é constituída por regressão e barbárie, como se viu, principalmente, no século 20: guerras, genocídios e totalitarismo. O ser humano não conseguiu realizar os ideais humanistas que governariam a modernidade e, no entanto, já se prepara para superar o humano por via do domínio tecnológico da vida em todos os seus aspectos e de um controle, que se pretende total, da inteligência e das emoções. A extensão da automação, que a princípio se aplicava ao domínio do trabalho humano, tende a se redefinir numa esfera mais ampla: a da substituição do ser humano.Assim se pode concluir que, antes mesmo de realizar as potencialidades humanas anunciadas no início da modernidade, já nos preparamos para abandonar o humano e adotar artifícios que levam o progresso a uma dimensão pós-humana.

O que justifica - ou ao menos explica - o momento de transição em que vivemos?
Vários fatores ajudam a compreender este momento de transição. O mais relevante, no meu entender, é a perda do referencial ético-político constituído pela comunidade humana, esfera pública de ação, o que provoca uma redefinição instrumental das relações humanas, com a prevalência do individualismo competitivo, do isolamento e da desvalorização da subjetividade como experiência singular de liberdade.

Heteronomia ética, desintegração política, alienação histórica e fragmentação subjetiva são condições que parecem apavorantes. Que forças atuam para manter uma ilusão de "vida realizada", nessa conjuntura?
Essas palavras, que parecem apavorantes são apenas descrições sintéticas da situação que criamos para nós mesmos. Tanto assim que vivenciamos os seus significados não de modo apavorante, mas como se fizessem parte da vida normal, o que mostra que a desumanização é de responsabilidade humana e não algo que nos atinja como um destino. E isso indica também a possibilidade de reverter a situação.

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