domingo, 3 de maio de 2009

"O homem que engarrafava nuvens", hoje, no Cine PE



Hoje é o último dia do Cine PE. E a programação não poderia terminar melhor que com a prata da casa: O homem que engarrafava nuvens, novo filme de Lírio Ferreira, será exibido por volta das 19h, em sessão hors concours, no Cineteatro Guararapes.

O gigantismo da tela faz jus ao personagem principal, o cearense Humberto Cavalcanti Teixeira (1915-1979), um dos pais do baião, e compositor de Asa branca, Assum preto, Qui nem jiló, entre vários outros clássicos da música popular. E faz jus ao currículo do diretor Lírio Ferreira, um dos protagonistas da retomada do cinema pernambucano, autor de Baile perfumado (1996, com Paulo Caldas) e Árido movie (2005).

Projetado primeiramente em Nova York, no Museum of Modern Art (Moma), O homem que engarrafava nuvens percorreu festivais internacionais como o prestigiado International Documentary Film Festival of Amsterdam (IDFA), e mostras do Rio de Janeiro e do Pantanal, em Campo Grande, onde foi premiado pelo público e júri. Longe da urgência de estrear no circuito comercial, o próximo passo deve ser a exibição no Cine Ceará, terra natal do compositor que também foi político e advogado.

Esse não é o primeiro documentário de Lírio sobre um personagem da MPB. Em 2007, ao lado de Hilton Lacerda, um parceiro de longa data, veio ao mundo Cartola - Música para os olhos (2007), filme corajoso tanto na forma de abordar a história do sambista carioca e reconstruir sua época, quanto na disposição em repensar o cinema documental e o descaso com a memória da cultura no Brasil.

Ao que tudo indica, o "método Cartola" segue firme na nova produção. Entre imagens recentes de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia e Chico Buarque - apenas para citar os medalhões fotografados pela lente de Walter Carvalho - há imagens de arquivo dos Mutantes, Raul Seixas e do próprio Luiz Gonzaga cantando músicas de Teixeira. David Byrne (Talking Heads) e Miho Hatori (Cibo Matto) também estão lá, prova do alcance internacional do compositor.

"É um filho direto de Cartola, com a diferença de que, por tratar do baião, é mais alegre e colorido", conta Ferreira, que atualmente trabalha no novo projeto, Sangue azul. A ideia original partiu da filha de Teixeira, a atriz Denise Dummont, que assina a produção geral do projeto, e conta detalhes na entrevista a seguir, concedida ao Diario no intervalo da viagem dos EUA, onde fixou residência, para o Cine PE.

Entrevista Denise Dummont

Como nasceu o projeto de fazer um filme sobre seu pai?
Nasceu da necessidade de mostrar aos meus filhos, pelo fato de morar fora do Brasil, de onde eles vieram e do legado que lhes pertence. Isso expandiu com o filme e se tornou uma necessidade de contar essa história a todos os brasileiros.

Como Nova York recebeu o filme?
Maravilhosamente bem. Recebemos críticas maravilhosas, inclusive no Village Voice, jornal de bastante prestígio. No momento estamos em negociações sobre distribuição nos Estados Unidos.

O que quer dizer a frase dita por seu pai, que dá nome ao filme?

A casa que ele construiu em São Conrado no Rio de Janeiro, fica em uma espécie de vale, e de fato as nuvens baixam às vezes de uma forma quase palpável. Ele como poeta que era, no final quando se retirou da vida pública, dizia que agora o que ele gostava era de ficar em sua casa engarrafando nuvens com sua filha...

Como se deu a sua parceria com Lírio Ferreira?

Fomos apresentados pela Angela e a Leandra Leal. Afora serem mulheres talentosas e fortes, a Angela me conhece desde criança, conhecia papai. É minha amiga querida e comadre. Leandra é minha afilhada. Respeito imensamente a opinião das duas. Elas são também amigas e fãs do Lírio e o recomendaram, irrestritamente, como o único diretor capaz de contar essa história com beleza, sensibilidade e modernidade. Agradeço à elas essa união, que foi como um casamento feliz. Produzimos um filho lindo, brigamos como cão e gato, mas nos amamos de paixão.

Há semelhanças com a abordagem adotada por Lírio e Hilton em Cartola - música para os olhos?
Lírio costuma dizer que, de uma certa forma, é a continuação dessa história. Como é um filme extremamente pessoal para mim, tenho dificuldade em ver semelhanças, afora o fato de serem ambos sobre dois grandes compositores brasileiros.

Qual é a expectativa em apresentar seu trabalho em Pernambuco, terra de Gonzagão?
Aterrorizante!

*também publicado no Diario de Pernambuco

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