terça-feira, 24 de março de 2009
Festival de Curitiba instala dúvida hamletiana
Rainhas esteve em cartaz de quinta a sábado
Crédito: Kelly Knevels/CLIX
A programação do Festival de Curitiba é uma curva que tende ao infinito. Até mesmo para o mais profundo amante das artes cênicas, acompanhar sua grade de espetáculos é um exercício desafiante. Pois cada peça escolhida significa abrir mão de várias outras, que podem ser ainda melhores. Somente neste primeiro fim de semana, foram oito peças da mostra contemporânea e dezenas de atrações no Fringe. Não bastasse, há eventos paralelos, shows e a mostra de humor Risorama.
Em frente ao Memorial, espécie de QG do evento, chama a atenção o movimento dos sem-ingresso, organização mantida há cinco anos por estudantes de teatro da FAP, na capital parananense. A ideia é coletar ingressos de quem não vai às peças num garrafão de água vazio, e distribuir gratuitamente para os que não podem pagar - os ingressos variam entre R$ 8 e R$ 40, dependendo do teatro.
Até o momento, o espetáculo mais elogiado por crítica e público foi Inveja dos anjos, do Armazém Companhia de Teatro, grupo nascido em Londrina nos anos 80 e hoje sediado no Rio de Janeiro. Destaque para a atuação de Patrícia Selonk, prêmio Shell de melhor atriz.
Também chamaram atenção Rainhas, dirigida por Cibele Forjaz, e O amante de Lady Chatterley, de Rubens Ewald Filho, que tem em comum unicamente o fato de serem adaptações de textos clássicos da literatura. O primeiro, escrita por Friedrich Schiller, foi completamente subvertido na arena do Teatro Paiol, onde Georgette Fadel e Isabel Teixeira, no papel das rainhas Mary Stuart, da França, e Elisabeth I, da Inglaterra. Peça com final interativo, em que o público se torna o povo inglês, a votar em qual das duas irá morrer na guilhotina. Ótima apropriação do famigerado "paredão", pois gerou um saboroso duelo de interpretações. Na platéia, personalidades como Marília Gabriela (na programação com o monólogo Aquela mulher, com texto de José Eduardo Agualusa) e Rubens Ewald Filho (com elenco de Lady Chatterley) prestigiaram a encenação.
Este último, por sinal, fez questão de cumprimentar o público na entrada do teatro Guairinha, na noite de sábado. Após a peça, ele declarou ao Diario que esta é a primeira adaptação para o palco do livro de D.H. Lawrence, um elogio ao amor sexual repleto de palavras obcenas, e por isso censurado pelos puritanos anos 1950. "Ele acaba de cair em domínio público, por isso era mais difícil fazer antes. Acho que eu fui o primeiro a me dar conta disso", disse o diretor. Enquanto saía do salão, uma senhora que parecia estar satisfeita com o que viu, fez uma crítica: "o original é mais explícito".
Entre o público, estavam os atores Renato Borghi, Celso Nunes, Elisabeth Hartmann, Rosamaria Murtinho, Ewerton de Castro, Mauro Mendonça e Jonas Bloch, que vieram ao evento para o lançamento dos novos volumes da Coleção Aplauso, lançados na noite de domingo.
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Um comentário:
Total falta de respeito e nenhuma consideração pelo público.
O Festival de Curitiba deu seu veredicto: somos culpados. Mas ao contrário do que a peça O Estrangeiro possa sugerir, não fomos condenados pela ausência de lágrimas durante o funeral de nossas mães. Foi sim por acreditarmos. Por acreditarmos na cultura, por sermos amantes do teatro, por admirarmos um bom texto, por valorizarmos ótimos atores e diretores, por apreciarmos uma adaptação primorosa e uma iluminação inspirada. Por, na edição passada do Festival, termos assistido à peça do Gerald Thomas com um pedaço a menos e ao Vestido de Noiva que literalmente “travou” duas vezes (e foi transferido para a meia noite em um dia de semana). Por, já nesta edição, não vermos o Oceano devido ao “dilúvio” e por – apesar de tudo – insistirmos em ser o público.
Sim, foi exatamente assim – sem sentido – que o Festival de Curitiba decidiu pela condenação dos espectadores que assistiriam ao espetáculo O Estrangeiro às 19 horas no dia 25 de março. Ao chegar ao teatro, apenas um pequeno cartaz avisava sobre o cancelamento de última hora da sessão e uma inábil funcionária do Festival sem qualquer explicação trocava os ingressos destas pessoas para a sessão das 21 horas no mesmo dia. Quando questionada sobre os lugares marcados, pois as pessoas tinham comprado com a devida antecedência seus ingressos, ela apenas respondia que faria o possível para manter as pessoas dentro do teatro. Infelizmente, o possível é como a realidade, ou seja: é relativo.
Nosso grupo era composto por quatro espectadores. Avisamos que havíamos comprado com a devida antecedência para garantirmos bons lugares e juntos. Ao retornarmos ao teatro, às 21 horas, a confusão estava armada. Os nossos quatro lugares juntos na quinta fila viraram quatro lugares separados e espalhados pelas últimas cinco filas do teatro. Ok, concordo com o senhor que estava apenas acompanhado por uma pessoa e nos tirou dos nossos lugares de direito: “ele não tinha culpa do ocorrido”, mas ele também deveria concordar que “nem eu, nem ninguém na platéia era culpado”. O Festival cancelou a sessão anterior sem aviso prévio nem explicação, nem sequer a organização pediu desculpas ao público (pelo menos isso foi feito no caso do Vestido de Noiva). Talvez o mais justo com a platéia fosse abrir mão dos lugares marcados, mas não apenas para o público que veio da sessão das 19h e sim para todos. Até mesmo porque conseguir dois bons lugares para duas pessoas é, no mínimo, 50% mais viável do que para quatro. Agora, adianta de quê apelar para a racionalidade da funcionária do festival que nos arrancou dos lugares e simplesmente nos largou no corredor da platéia sem resolver o ocorrido?
Falta profissionalismo, preparo e principalmente educação à equipe do Festival. MAS PRINCIPALMENTE FALTA CONHECIMENTO SOBRE A MAIS BÁSICA PREMISSA DESTA ARTE: SÓ HÁ TEATRO SE HÁ PÚBLICO.
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