sábado, 28 de março de 2009

Festival de Curitiba // Convergência de mídias no teatro



A utilização de recursos do cinema em alguns espetáculos de teatro tem chamado atenção no Festival de Curitiba. Ontem estrearam dois casos: Medida por medida, adaptação de Gilberto Gawronski para texto de Sheakspeare, e Sin sangre, da companhia chilena Teatro Cinema. Ambas projetam, com maneira e intensidade própria, imagens em movimento numa sala escura.

De forma radical, Sin sangre cria uma experiência de cinema em três dimensões, que confunde a ponto do espectador perder a noção se atores e objetos estão em cena física ou virtualmente. Para o diretor Juan Carlos Zagal, elementos do cinema, música, literatura e artes plásticas possibilitam novas e estimulantes formas de narrar uma história. "A tecnologia pode abrir portas para novos mundos e percepções, pois permite aos artistas criar um teatro livre de amarras", disse Zagal, em coletiva para a imprensa.

Frente às possibilidades de entretenimento, Gawronski não vê outro caminho para o teatro, anão ser a convergência de mídias. "Não dá mais para fazer teatro desconectado dessa realidade. Hoje, a capacidade de percepção das pessoas é muito maior. Elas assistem DVD, fazem uma refeição e batem papo no MSN ao mesmo tempo. É muito difícil mobilizar alguém para sair de casa e ir ao espetáculo, e devemos comemorar quando isso acontece", avalia.

Foi exatamente o que aconteceu na última quinta, quando estreou Memória afetiva de um amor esquecido. Mesmo com a repentina mudança de local e horário (a peça começou às 22h30 e terminou depois da meia-noite), as pessoas adoraram participar desta montagem multimídia anunciada pela imprensa local como uma das atrações mais "pop" do festival.

Com telas de todos os tipos, luzes e caixas de som instaladas pelo Memorial de Curitiba, Memória afetiva traz para o teatro o filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças, do diretor francês Michel Gondry e roteiro de Charlie Kaufman. Boa parte do filme se passa na mente do protagonista, que contratou uma clínica para apagara namorada da memória. A adaptação é do grupo carioca Os Dezequilibrados, que a título de inspiração pesquisou outros filmes escritos por Kaufman, entre eles, Quero ser John Malkovich. O objetivo da parafernália tecnológica, afirma o diretor Ivan Sugahara, é atrair mais jovens para o teatro.

Para conseguir o mesmo efeito (o de estar dentro do cérebro de alguém), os três pavimentos do Memorial foram isolados e transformados em um grande espaço cênico. Ao entrar no prédio, atores no papel de funcionários da clínica tratam o público como clientes em potencial numa demonstração de caso, em que todos entram numa pequena sala-cérebro com quatro telões, onde o paciente revive cada memória antes de ser apagada. Entre altos e baixos, a peça simplifica e diminui a sutileza da história original. É verdade que preserva alguns de seus momentos mais emocionantes, e a trilha sonora com Cartola, Stevie Wonder, Janis Joplin e Prodigy ajuda um bocado para isso.

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