terça-feira, 24 de março de 2009
'Zeitgeist' do século 21 recai sobre São Paulo, ou como se sentir sozinho entre mais 30 mil pessoas
O público foi ao delírio na noite paulista do Festival Just a Fest. A razão se chama Radiohead. O grupo inglês fez na noite do domingo sua segunda e última apresentação no país, em evento que ainda trouxe do limbo Los Hermanos e a banda alemã Kraftwerk. A reportagem do Diario esteve lá, a poucos metros do palco, para conferir esta aguardada performance, que, ao contrário do Rio de Janeiro, onde o grupo tocou dois dias antes, começou pontualmente às 22h, se estendeu por exatas 2 horas e 21 minutos, e elevou mais de 30 mil pessoas alguns centímetros acima do gramado.
Houve quem enlouqueceu, e aqueles que simplesmente choraram perante a grata visão de Thom Yorke, os irmãos Johnny e Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway. Quando eles pisaram no palco, uma longa espera chegava ao fim, entre gritos e expressões emocionadas. A emplogaçãodos fãs mexeu com o coração aparentemente gélido dos músicos. Johnny Greenwood se esforçou para manter o tipo entristecido. Soltou um ou outro sorriso, antes de virar as costas abraçando a si, constrangido.
Greenwood nunca ri, mas toca muito; guitarrista se conteve para não se abrir para o público
No intervalo entre Paranoid Android e Fake Plastic Trees, um gigantesco coro retomou o mantra final, convencendo Yorke a acompanhar na base da voz e violão.
A atordoante beleza do cenário formado por dezenas de barras suspensas que mudam de cor foi uma perfeita tradução visual do que significa o Radiohead, grupo que criou um universo próprio, e nos convida a habitá-lo. Se durante interpretações invernais o ambiente parecia uma caverna de estalactites de cristal, em All I need se tornou um céu de estrelas douradas. Houve chuva de luzes, e em outro momento, um vermelho magmático escorrendo acima dos músicos.
A estrutura de palco foi um show à parte. Já na primeira música, 15 step, a projeção simultânea de imagens de cinco microcâmeras estrategicamente fixadas no palco revelou novos ângulos da banda em ação.
Como compositores, Yorke e Johnny Greenwood são responsáveis pelas mais belas canções da música pop atual. Ao vivo, a performance da dupla leva adiante a tradição de duplas voz/guitarra bem-sucedidas do rock: Jagger/Richards, Plant/Page, e por aí vai. No contexto cultural do século 21, no entanto, tempo em que a tríade sexo, drogas e rock’n’roll é apenas uma instituição a mais, a postura de seus antecessores perdeu completamente o sentido. Mais do que estereótipo de banda tristinha de baladas sensíveis, o Radiohead é a melhor tradução musical do espírito de nossa época. Um show para agradecer por estar vivo, em frente da senão a maior, a mais necessária banda da Terra.
*publicado no Diario de Pernambuco (com alterações)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
prefiro a pop mart tour Dib, mas deu muita vontade de ir, parabéns
Giuliano, floripa
ai ai q fotos mais lindas!!! lindas de doer....
Rô
Postar um comentário