sexta-feira, 20 de março de 2009

Estreia // The Spirit, mais uma alma perdida



O impressionante universo visual de Frank Miller pode funcionar bem nos quadrinhos, mas ainda falta muito para fluir no cinema, forma de arte na qual tem se dedicado a transpor sua estética preto e branco com delírios de alto contraste. Em sua primeira tentativa, adaptou e co-dirigiu com Robert Rodriguez a adaptação da própria obra, Sin city, e o resultado não foi dos melhores. The Spirit, que estreia hoje nos cinemas, apresenta projeto visual semelhante, com resultado igualmente questionável, exceto pela grata visão das atrizes Scarlett Johanson e Eva Mendes, as mulheres fatais da trama.

The Spirit foi criado em 1940 por Will Eisner, mestre maior dos quadrinhos, com quem Miller estabeleceu laços de admiração e reverência (vide o livro de entrevistas Eisner/Miller, nos mesmos moldes do clássico Hitchcock/Truffaut). Ele é um vigilante mascarado que protege a fictícia Central City, cidade que vive a decadência típica dos anos pós-depressão. O filme se passa no século 21, mas preserva essa atmosfera antiga, mesmo quando celulares e laptops entram em cena.

O roteiro preservou praticamente tudo da obra original, como o comportamento ingênuo e galanteador do heroi, sua origem misteriosa e ligada ao vilão Octopus (Samuel L. Jackson em interpretação histriônica), as “gags” de desenho animado do tipo bigorna na cabeça, e até o passado pobre no gueto, a Avenida Dropsie, reconstituída em detalhes de tonalidade sépia. Mas a produção tropeça na irrealidade dos cenários feitos para chroma key (o famigerado fundo verde), o que faz de The Spirit um projeto com boas intenções e poucos momentos empolgantes.

publicado no Diario de Pernambuco (com alterações)

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