quinta-feira, 5 de março de 2009
Dois poemas de Patativa
Trecho de A triste partida, eternizado na voz de Luiz Gonzaga
...Sem chuva na terra
descamba janêro,
Depois, feverêro,
E o mêrmo verão
Entonce o rocêro,
pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!
Apela pra maço,
que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva!
Tá tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.
Agora pensando
segui ôtra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê...
O amigo Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes, que acompanhou de perto parte da trajetória de Patativa, lembra episódio em que D. Hélder Câmara queria denunciar a violência de que foi vítima o Padre Henrique, torturado e assassinado em 1969 por agentes da ditadura. "Como a censura limitava muito a divulgação dos fatos relacionados com esta truculência, ocorreu ao Arcebispo que a literatura de cordel não passava pelos censores. Assim, apelou a alguns cordelistas mas não aceitaram a tarefa. Recorreu a Patativa que não só se prontificou a fazer os versos como não quis se esconder sob pseudônimo. Tenho um exemplar, oferecido ao meu pai pelo poeta"
Gentilmente, Pinehrio transcreveu transcreveu 5 das 64 estrofes:
O Padre Henrique e o Dragão da Maldade
E, por falar em injustiça
Traidora da boa sorte
Eu conto ao leitor um fato
De uma bárbara morte
Que se deu em Pernambuco
Famoso Leão do Norte.
Padre Henrique tinha apenas
29 anos de idade,
Dedicou sua vida aos jovens
Pregando a santa verdade.
Admirava a quem fez
A sua fraternidade
Tinha três anos de padre,
Depois que ele se ordenou
Pregava a mesma missão
Que Jesus Cristo pregou
E foi por esse motivo
Que o dragão lhe assassinou.
Por causa do seu trabalho
Que só o que é bom almeja
O espírito da maldade
Que tudo estraga e fareja,
Fez tristes acusações
Contra D. Hélder e a igreja.
Pensando no triste caso
Entristeço e me comovo,
O que muitos já disseram,
Eu disse e digo de novo,
O Padre Henrique é um mártir
Que morreu pelo seu povo.
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