terça-feira, 31 de março de 2009

Festival de Curitiba // Mosaico do teatro brasileiro



O 18º Festival de Curitiba terminou no último domingo, e mais uma vez se confirma como o maior do país. Os 12 dias de evento deixaram como saldo mais de 300 espetáculos e eventos paralelos, o que, segundo a assessoria de imprensa, gerou um público de 168.958 pessoas, sem contar aqueles que assistiram espetáculos de rua. Nada mal para um festival que, modestamente, ofereceu apenas 14 espetáculos em seu primeiro ano de vida.

Em coletiva de imprensa, o diretor geral Leandro Knopfholtz fez um balanço positivo desta edição, que, em suas palavras, "cumpriu o papel de mosaico do atual teatro brasileiro". Ele admitiu problemas de organização, que culminaram em algumas mudanças de última hora, e no lamentável cancelamento da estreia de Rock'n'roll, versão nacional para o espetáculo de Tom Stoppard. "Foi uma falha sensível. Este foi um ano mais acidentado do que 2008, mas cumprimos mais de 80% das expectativas", declarou. Para 2010, ele adiantou que será mantido o conselho curador (Celso Curi, Tânia Brandão e Lúcia Camargo) e o patrocínio master do Itaú, que este ano assumiu o evento no lugar da Petrobras. A data já está definida: de 16 a 28 de março.

Em 2009, o Festival de Curitiba evidenciou o diálogo buscado pelo teatro por diferentes tipos de arte e mídia: dança (Borbulho) e circo (Oceano); televisão (o "paredão" proposto em Rainhas); cinema em impressionante 3D de Sin sangre; desenhos animados antigos de Tá namorando! Tá namorando!; realidade virtual (Memória afetiva de um amor esquecido), e até ilusionismo (Além da mágica, apresentado no Fringe). Igualmente, houve espaço para o teatro de entretenimento, onde rostos conhecidos como Marília Gabriela (Aquela mulher), Cássia Kiss (Zoológico de vidro, inspirado em À margem da vida, de Tennessee Williams, também adaptado no Fringe em Rosa de vidro), José Wilker (A cabra ou quem é Sílvia) e Thiago Lacerda (Calígula), fizeram lotar as grandes salas. O formato clássico também não foi esquecido, sendo bem representado por Maria Stuart (estrelado por Júlia Lemmertz e Clarice Niskier), em suas três horas de duração e fidelidade canina ao texto de Schiller.

Perante o extenso cardápio, desprovido de "sugestão do dia", as perguntas mais recorrentes nas rodas de jornalistas foram "o que você assistiu ontem?" e "o que verá hoje?". Dessa experiência, os melhores comentários apontaram para Inveja dos anjos (RJ), Rainhas (SP) e Maria Stuart (RJ). No Fringe, foi grande a evidência do teatro curitibano, com Delicadas embalagens, Tropeço, Buk na rua (adaptação de Charles Bukowski que retoma tradição underground do Largo da Ordem) e Árvores abatidas ou para Luís Melo.

Este último, monólogo de Rosana Stavis encenado por Marcos Damasceno a partir de texto de Thomas Bernhard, é um provocativo e bem-humorado retrato arquetípico das pessoas que habitam o mundo das artes cênicas. Aplicada à cena cultural pernambucana, por exemplo, o título remete à famosa imagem em que um caranguejo puxa o outro para ninguém subir. O subtítulo é uma homenagem irônicaao ator curitibano que se destacou em São Paulo, um "famoso ator do Teatro Nacional que faz até telenovela", que está em Viena para a encenação de O pato selvagem, de Ibsen.

Após o espetáculo, ele foi convidado pelo casal Auersberger para um "jantar artístico", no qual estão presentes toda a corte do teatro local: jovens aspirantes e petulantes, críticos comprometidos eticamente e a escritora que se considera a "Virgínia Woolf de Viena". O teor de auto-crítica é estratosférico, inclusive pelo fato de Damasceno e Stavis formarem um casal que, se não chegam a oferecer jantares artísticos em sua casa, ao menos recebem visitantes na antessala, espaço cênico onde a peça foi montada. A todos são reservadas verdades, pronunciadas de forma corrosiva e amargurada, que compara a cena artística vienense a um bando de mortos-vivos que cacarejam vaidades.

publicado no Diario de Pernambuco

segunda-feira, 30 de março de 2009

Festival de Curitiba // Pernambucanos no Fringe


Foto: Diego Pisante / CLIX

Este ano, três grupos pernambucanos participaram do Fringe: o Galpão das Artes, de Limoeiro, apresentaram a comédia No humor como na guerra no fim de semana passado; a Cia do Ator Nú, de Recife, com o monólogo Fio invisível da minha cabeça; e a Cênicas Companhia de Repertório, com o espetáculo Que muito amou. As duas últimas derivam da obra de Caio Fernando Abreu, e acabam de ser selecionadas para a edição 2009 do Porto Alegre em Cena.

Que muito amou (título pinçado de uma carta escrita por Abreu em 1984) foi encenado no Teatro Mini-Guaíra, e adapta para o monólogo três contos do livro Os dragões não conhecem o paraíso. Nele, os atores Ana Dulce Pacheco, Antônio Rodrigues e Marcelo Francisco da Silva interpretam personagens que divagam tragicamente sobre sexo, solidão e morte. Este último, vive um transexual de meia-idade, fora das "rodas" sociais, e cheio de amargura. Na noite de sexta-feira, o público foi pequeno, mas saiu consternado do teatro. No dia seguinte, provavelmente motivados pelo boca a boca favorável, mais pessoas foram assistir.

“Foi maravilhoso. Eles têm um fortíssimo trabalho de atuação, o roteiro é muito bom, e o texto é sublime. O terceiro em especial, pois o personagem é muito forte e marginalizado, e passa a mensagem de que os que vivem à margem estão muito mais centrados e conscientes do que os que se consideram normais. Talvez porque o sofrimento traz essa consciência”, disse a estudante de teatro Luzana Medeiros, emocionada de tal maneira que não conseguiu conter as lágrimas.

Rodrigues, que também dirige o espetáculo, disse após a apresentação, que o objetivo da peça é provocar o público, para que ele não saia da sala somente para comer pizza. "No Recife, teve gente que ficou tão mexida que não conseguiu chegar ao fim, e voltou no outro dia para terminar".

Mesmo sem contar com apoio institucional, a companhia apostou na maturidade da peça, criada há cinco anos, e investiu cerca de R$ 6 mil para participar do Fringe, "pois aqui estão os olhos e cabeças pensantes", justifica o diretor.

A Cia do Ator Nú arcou com a mesma despesa, mas não obteve a mesma receptividade que os colegas. Eles apresentaram a peça Fio invisível da minha cabeça, que não teve espaço tão privilegiado como Mini-Guaíra, onde seus conterrâneos do Companhia de Repertório foram recebidos. Em conversa com o Diario, o grupo protestou pelo descaso da organização do Fringe, que alocou a peça numa espécie de salão multiuso do Solar do Rosário, no Largo da Ordem. Lá, o grupo teve de conviver com quadros pendurados nas paredes e um piano despropositadamente posicionado no meio do palco. “É surreal”, desabafou o produtor e ator Edjalma Freitas. “Por participar do Fringe, eu já imaginava que não seríamos bem tratados, mas não sabia que iríamos ser maltratados desta forma”, disse o diretor Breno Fittipaldi.

De forma que, encenada pela primeira vez na quinta-feira, Fio invisível da minha cabeça não recebeu críticas favoráveis. Na tarde de sábado, o espetáculo foi cancelado, pois havia apenas um pagante, devidamente remanejado para o dia seguinte. “Os críticos e público não puderam assistir ao espetáculo como ele realmente é. Aqui não tem coxia nem camarim. Precisamos de, no mínimo, um espaço vazio para encenar o monólogo”, disse Luciana Raposo, que participou da montagem como criadora e operadora de luz.

Festival de Curitiba // Oceano encanta platéia com arte circense



Na Ópera de Arame, Oceano, do grupo carioca Circo Itinerante tranportou a platéia para o universo da vida submarina, em que artistas vestidos de diferentes peixes e crustáceos apresentam bons números da arte circense.

O fio que conduz as situações é a aventura de um menino, que se perde na própria banheira, após um vilão subaquático roubar seu pato de borracha.

A concepção do espaço permitiu que o público se sentisse um nível abaixo de arraias voadoras e até mesmo uma baleia. O ritmo é de ação vertiginiosa e pegada rock, marcado por uma bateria ao vivo, tocada sobre a trilha sonora de surf music e guitarras havaianas a la Bob Esponja.

Após 80 minutos de pura magia, adultos e crianças saíram do local com a certeza de que assistiram um emocionante espetáculo de circo. Mas até que ponto isto pode ser chamado de teatro?





fotos: Daniel Sorrentino / CLIX

Festival de Curituba // Teatro "engolido" pelo cinema



Única atração internacional da mostra oficial do Festival de Curitiba, o espetáculo chileno Sin sangre impressionou pelo competente uso da linguagem do cinema, aplicada num espaço em que os atores são literalmente engolidos pelo cenário, projetado na frente e ao fundo do palco.

O efeito tridimensional regado a sonoplastia Dolby 5.1, apesar de usado de forma excessiva, é de ficar de queixo caído. Pena que o desempenho dos atores e a abordagem lacrimosa e pseudo-noir do texto original (do italiano Alessandro Baricco) deixou a desejar. Isso reduziu a peça a um grande experimento de linguagem, em que o teatro é apenas um elemento a mais desse laboratório audiovisual que já levou o espetáculo até a China, e mantém a agenda da companhia Teatrocinema lotada para os próximos quatro anos.

domingo, 29 de março de 2009

Festival de Curitiba // Bagaceira representa Nordeste na Mostra Contemporânea


Foto: Diego Pisante / CLIX

Em 2005, o Grupo Bagaceira de Teatro, de Fortaleza, encenou a recém-nascida montagem Lesados no Teatro de Santa Isabel, como uma das atrações do projeto Janeiro de Grandes Espetáculos. Nos quatro anos seguintes, a peça viajou por vários palcos do país, até ser convidada para a mostra contemporânea do 18º Festival de Curitiba, onde foi encenada na última sexta-feira. Na mesma grade oficial, o grupo apresenta hoje o espetáculo infantil Tá namorando! Tá namorando!, resultado das observações do diretor Yuri Yamamoto sobre o universo infantil.

Uma demonstração de força e vitalidade deste grupo que, prestes a completar 10 anos, é um dos poucos a romper a hegemonia de produções do eixo Rio-São Paulo na programação do festival. Em conversa com o Diario, Yamamoto confessou certo nervosismo em figurar ao lado de artistas consagrados, e admitiu que o convite surgiu em momento oportuno. "Lesados atingiu a maturidade. Tem tudo a ver com a proposta do festival", afirma, sobre esta peça que aborda, com humor e melancolia, o imobilismo de quatro pessoas à beira do abismo existencial.

Outra especificidade da trupe cearense está no caráter autoral na concepção das peças, a começar pelo texto de Rafael Martins, responsável por atribuir alma à composição visual promovida por Yamamoto. O jovem escritor reuniu o roteiro de Lesados e três outras peças em livro, lançado durante o festival.

Apesar do reconhecimento nacional, o Bagaceira não abre mão do experimentalismo e da pesquisa de novos recursos de linguagem, que aponta para um diálogo permanente com outras artes visuais. "É como um laboratório, em que somos cobaias de nós mesmos. No dia em que estivermos em zona de conforto, acho que o grupo acaba", acredita Yamamoto.

publicado no Diario de Pernambuco

sábado, 28 de março de 2009

Festival de Curitiba // Convergência de mídias no teatro



A utilização de recursos do cinema em alguns espetáculos de teatro tem chamado atenção no Festival de Curitiba. Ontem estrearam dois casos: Medida por medida, adaptação de Gilberto Gawronski para texto de Sheakspeare, e Sin sangre, da companhia chilena Teatro Cinema. Ambas projetam, com maneira e intensidade própria, imagens em movimento numa sala escura.

De forma radical, Sin sangre cria uma experiência de cinema em três dimensões, que confunde a ponto do espectador perder a noção se atores e objetos estão em cena física ou virtualmente. Para o diretor Juan Carlos Zagal, elementos do cinema, música, literatura e artes plásticas possibilitam novas e estimulantes formas de narrar uma história. "A tecnologia pode abrir portas para novos mundos e percepções, pois permite aos artistas criar um teatro livre de amarras", disse Zagal, em coletiva para a imprensa.

Frente às possibilidades de entretenimento, Gawronski não vê outro caminho para o teatro, anão ser a convergência de mídias. "Não dá mais para fazer teatro desconectado dessa realidade. Hoje, a capacidade de percepção das pessoas é muito maior. Elas assistem DVD, fazem uma refeição e batem papo no MSN ao mesmo tempo. É muito difícil mobilizar alguém para sair de casa e ir ao espetáculo, e devemos comemorar quando isso acontece", avalia.

Foi exatamente o que aconteceu na última quinta, quando estreou Memória afetiva de um amor esquecido. Mesmo com a repentina mudança de local e horário (a peça começou às 22h30 e terminou depois da meia-noite), as pessoas adoraram participar desta montagem multimídia anunciada pela imprensa local como uma das atrações mais "pop" do festival.

Com telas de todos os tipos, luzes e caixas de som instaladas pelo Memorial de Curitiba, Memória afetiva traz para o teatro o filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças, do diretor francês Michel Gondry e roteiro de Charlie Kaufman. Boa parte do filme se passa na mente do protagonista, que contratou uma clínica para apagara namorada da memória. A adaptação é do grupo carioca Os Dezequilibrados, que a título de inspiração pesquisou outros filmes escritos por Kaufman, entre eles, Quero ser John Malkovich. O objetivo da parafernália tecnológica, afirma o diretor Ivan Sugahara, é atrair mais jovens para o teatro.

Para conseguir o mesmo efeito (o de estar dentro do cérebro de alguém), os três pavimentos do Memorial foram isolados e transformados em um grande espaço cênico. Ao entrar no prédio, atores no papel de funcionários da clínica tratam o público como clientes em potencial numa demonstração de caso, em que todos entram numa pequena sala-cérebro com quatro telões, onde o paciente revive cada memória antes de ser apagada. Entre altos e baixos, a peça simplifica e diminui a sutileza da história original. É verdade que preserva alguns de seus momentos mais emocionantes, e a trilha sonora com Cartola, Stevie Wonder, Janis Joplin e Prodigy ajuda um bocado para isso.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Olinda // Latin Jam marca volta do Black Jack


ARTE DE IRANDÊ

Semana que vem o Black Jack Pub reabre as portas com a festa Latin Jam. Os organizadores informam que o casarão da Praça de São Pedro (número 32) está reformado, refrigerada e com tratamento acústico.

Será na próxima quinta-feira, 02 de abril, 22h. A entrada custa R$ 5. Informações, 9118-6496 e 8107-2587.

A festa Latin Jam é criação dos músicos Chileno Juan Podesta (Ex-Salsamérica), Arodis Pompa (Cuba) e Armando Fuentes (Venezuela).

A ideia é promover reunião com convidados de Pernambuco e parceiros de composição, entre eles, Tiné (Academia da Berlinda), Gilsinho (Orquestra Contemporânea de Olinda), Bruno Vinezof (Azabumba), Guga Amorim (A Roda) e Guga Rasta (Quarteto Olinda). Na discotecagem, DJs João DL e Naguê.

Overmundo no Recife



Amanhã, o Overmundo vai ministrar uma oficina em Recife dentro da programação de divulgação dos editais do programa Rumos Itaú Cultural.

A oficina, tem duração de três horas, e dá uma pincelada na história da internet e da Web 2.0, faz um passeio por sites que usam estrutura colaborativa, aborda a questão da escrita no meio virtual e as mudanças no cenário cultural causadas pelas novas tecnologias.

A oficina de introdução à web colaborativa tem entrada franca, e será ministrada por Viktor Chagas, da equipe Overmundo, no auditório da Fundação Joaquim Nabuco - Fundaj, na Avenida 17 de Agosto, 2187 - Casa Forte.

Festival de Curitiba // A moça dissimulada ainda vai tombar



José Wilker é a grande estrela da comédia A cabra ou quem é Sílvia?, encenada nas noites de segunda e terça-feira, no Festival de Curitiba. Tanto é que agiu como uma: se irritou e recusou a ser conduzido do hotel em que estava hospedado ao Teatro Guaíra na mesma van que Denise Del Vecchio, Gustavo Machado e Francarlos Reis, atores com quem contracena nesta adaptação da obra de Edward Albee, dirigida por Jô Soares. Exigiu um carro particular, com motorista, caso contrário não deixaria o hotel. E conseguiu.

Formado em sua maioria pela classe média-alta da capital paranaense, o público poderia não imaginar, mas estava prestes a acompanhar uma narrativa que evoca imagens de zoofilia, incesto e até pedofilia. O espetáculo apresenta Wilker como um homem de meia idade, bem sucedido no casamento e profissão. Moderno até certo ponto (aceita com reticências o filho gay), ele tem escondido por meses que está sinceramente apaixonado por Sílvia, uma cabra que vive na zona rural. Tudo vai bem, mas a estrutura familiar desmorona após revelado o segredo.

Escrita pelo mesmo autor de Quem tem medo de Virgínia Woolf?, a peça é uma grande oportunidade de, a partir dos tabus sociais, elaborar uma crítica ao hábito da dissimulação, onde manter as aparências está acima de qualquer sinceridade. Para explorar a dimensão cômica, no entanto, Jô Soares optou por soltar uma piada a cada minuto (de forma parecida a que submete certos entrevistados de seu talk-show), o que, se pode ter aliviado o clima barra-pesada da trama, também a manteve na superficialidade.



Fringe - "O vinho é a fenda na qual se conhece o homem por inteiro". A frase, atribuída a Nietzsche, é apenas uma das ótimas citações proferidas pelos personagens de O evangelho segundo São Mateus, do dramaturgo e diretor curitibano Edson Bueno. A peça se dedica a reconstituir a cena da Última Ceia, a exemplo da famosa tela de Leonardo Da Vinci afixada ao fundo do cenário. Para tanto, faz uso irreverente tanto do texto bíblico quanto de trechos do oitavo poema do Guardador de rebanhos, de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa.

A ação se dá enquanto Jesus, Maria e alguns apóstolos fazem o pão para a ceia. Entre frases de Pessoa e trilha sonora com versões para Pixies e Radiohead, os atores entraram e saíram de seus papéis. Comentam, discutem e explicam as razões de cada personagem. Ofereceu café, vinho e pão para o público, convocado a compor a mesa na cena final.

Após a encenação, Bueno disse que sua inspiração primeira foi o filme homônimo rodado em 1964 por Pasolini, e que a opção por se comunicar diretamente com o público é uma radicalização de seu trabalho anterior, Capitu (apresentado no Recife em 2005, no Palco Giratório). Seu próximo trabalho será nos mesmos moldes, desta vez sobre a vida de Franz Kafka, que tem como base a biografia em quadrinhos de Robert Crumb. O título será Escrever é um sono mais profundo que a morte.

publicado no Diario de Pernambuco

quarta-feira, 25 de março de 2009

Festival de Curitiba // Entre a vida e a morte



Por um fio, adaptação de Moacir Chaves para livro de Dráuzio Varella; Aquela mulher, monólogo de Marília Gabriela com texto de José Eduardo Agualusa; A cabra, ou quem é Silvia?, de Edward Albee, direção de Jô Soares e estrelado por José Wilker; A mulher que escreveu a Bíblia, monólogo de Inez Viana e texto de Moacyr Sciliar.

Na noite de segunda-feira, estas quatro peças foram encenadas simultaneamente na mostra oficial do 18º Festival de Curitiba. A escolha deste repórter recaiu sobre Por um fio, primeira estreia nacional trazida pelo evento, apresentado no espaçoso e ao mesmo tempo aconchegante Teatro da Reitoria, com todas as cadeiras ocupadas.

A peça apresentou um esquema único, em que Regina Braga e Rodolfo Vaz atuam entre árvores ressecadas e folhas caídas por todo o chão de uma praça de tons amarelo-outono, que ganha e perde profundidade de acordo com a luz.

Os atores se revezaram em monólogos e duetos, sempre direcionados ao público. A experiente Regina Braga, esposa de Varella, com estilo vocal próximo ao do marido, estranhamente, tropeçou mais de uma vez nas palavras. Mais desenvolto, Rodolfo Vaz estabeleceu empatia instantânea com a plateia curitibana.

Como um livro lido em voz alta, eles descreveram relatos em primeira pessoa, histórias verdadeiras em que nem sempre a vida prevalece, contadas com coloquialismo suficiente para emocionar.

Até certo ponto, pois, ao longo de 80 minutos, essa abordagem excessivamente verbal se mostrou cansativa - o tempo todo havia alguém se dirigindo para a saída, e ao redor deste repórter, pelo menos cinco pessoas não resistiram a um bom cochilo. A maioria, no entanto, escutava atentamente e ao final aplaudiu em pé, sinal de que a montagem pode obter sucesso comercial.

Fringe - Somente entre as 11h e meia-noite desta segunda-feira, 84 peças foram apresentadas no circuito do Fringe, festival paralelo que toma conta da cidade. Até o fim da semana, Pernambuco será representada por duas peças que adaptam a obra de Caio Fernando Abreu: Fio invisível da minha cabeça, da Cia do Ator Nu, e Que muito amou, da Cênicas Companhias de Repertório.

What's wrong, Chris Brown??



Outra da Mad deste mês...

Charlie Brown diria: "Sigh!"

Who wants to watch the watchmen???



Capa da edição de março da Mad americana.

Editada pela DC Comics, a mesma que detém os direitos da obra prima de Alan Moore e Dave Gibbons.

terça-feira, 24 de março de 2009

Entrando no ar // Cena Econômica



Adriana Guarda, destacada repórter de economia do Jornal do Commercio, acaba de estrear blog.

Confira em www.cenaeconomica.blogspot.com ou clicando aqui.

Série sobre 25 anos de Hip Hop no Recife, no Diario de Pernambuco



Há 25 anos, nasceu o Hip Hop made in Pernambuco.

Recomendo leitura da série escrita por Júlio Cavani, colega de redação do Diario.

Para ler, clique aqui, aqui e aqui.

Kraftwerk em São Paulo - as imagens

É verdade, eles não se movem.

Em duas fotos, o único movimento é o das imagens no telão atrás. Os robozinhos (veja foto), pelo menos levantam os braços.















Festival de Curitiba instala dúvida hamletiana


Rainhas esteve em cartaz de quinta a sábado
Crédito: Kelly Knevels/CLIX

A programação do Festival de Curitiba é uma curva que tende ao infinito. Até mesmo para o mais profundo amante das artes cênicas, acompanhar sua grade de espetáculos é um exercício desafiante. Pois cada peça escolhida significa abrir mão de várias outras, que podem ser ainda melhores. Somente neste primeiro fim de semana, foram oito peças da mostra contemporânea e dezenas de atrações no Fringe. Não bastasse, há eventos paralelos, shows e a mostra de humor Risorama.

Em frente ao Memorial, espécie de QG do evento, chama a atenção o movimento dos sem-ingresso, organização mantida há cinco anos por estudantes de teatro da FAP, na capital parananense. A ideia é coletar ingressos de quem não vai às peças num garrafão de água vazio, e distribuir gratuitamente para os que não podem pagar - os ingressos variam entre R$ 8 e R$ 40, dependendo do teatro.

Até o momento, o espetáculo mais elogiado por crítica e público foi Inveja dos anjos, do Armazém Companhia de Teatro, grupo nascido em Londrina nos anos 80 e hoje sediado no Rio de Janeiro. Destaque para a atuação de Patrícia Selonk, prêmio Shell de melhor atriz.

Também chamaram atenção Rainhas, dirigida por Cibele Forjaz, e O amante de Lady Chatterley, de Rubens Ewald Filho, que tem em comum unicamente o fato de serem adaptações de textos clássicos da literatura. O primeiro, escrita por Friedrich Schiller, foi completamente subvertido na arena do Teatro Paiol, onde Georgette Fadel e Isabel Teixeira, no papel das rainhas Mary Stuart, da França, e Elisabeth I, da Inglaterra. Peça com final interativo, em que o público se torna o povo inglês, a votar em qual das duas irá morrer na guilhotina. Ótima apropriação do famigerado "paredão", pois gerou um saboroso duelo de interpretações. Na platéia, personalidades como Marília Gabriela (na programação com o monólogo Aquela mulher, com texto de José Eduardo Agualusa) e Rubens Ewald Filho (com elenco de Lady Chatterley) prestigiaram a encenação.

Este último, por sinal, fez questão de cumprimentar o público na entrada do teatro Guairinha, na noite de sábado. Após a peça, ele declarou ao Diario que esta é a primeira adaptação para o palco do livro de D.H. Lawrence, um elogio ao amor sexual repleto de palavras obcenas, e por isso censurado pelos puritanos anos 1950. "Ele acaba de cair em domínio público, por isso era mais difícil fazer antes. Acho que eu fui o primeiro a me dar conta disso", disse o diretor. Enquanto saía do salão, uma senhora que parecia estar satisfeita com o que viu, fez uma crítica: "o original é mais explícito".

Entre o público, estavam os atores Renato Borghi, Celso Nunes, Elisabeth Hartmann, Rosamaria Murtinho, Ewerton de Castro, Mauro Mendonça e Jonas Bloch, que vieram ao evento para o lançamento dos novos volumes da Coleção Aplauso, lançados na noite de domingo.

'Zeitgeist' do século 21 recai sobre São Paulo, ou como se sentir sozinho entre mais 30 mil pessoas



O público foi ao delírio na noite paulista do Festival Just a Fest. A razão se chama Radiohead. O grupo inglês fez na noite do domingo sua segunda e última apresentação no país, em evento que ainda trouxe do limbo Los Hermanos e a banda alemã Kraftwerk. A reportagem do Diario esteve lá, a poucos metros do palco, para conferir esta aguardada performance, que, ao contrário do Rio de Janeiro, onde o grupo tocou dois dias antes, começou pontualmente às 22h, se estendeu por exatas 2 horas e 21 minutos, e elevou mais de 30 mil pessoas alguns centímetros acima do gramado.

Houve quem enlouqueceu, e aqueles que simplesmente choraram perante a grata visão de Thom Yorke, os irmãos Johnny e Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway. Quando eles pisaram no palco, uma longa espera chegava ao fim, entre gritos e expressões emocionadas. A emplogaçãodos fãs mexeu com o coração aparentemente gélido dos músicos. Johnny Greenwood se esforçou para manter o tipo entristecido. Soltou um ou outro sorriso, antes de virar as costas abraçando a si, constrangido.


Greenwood nunca ri, mas toca muito; guitarrista se conteve para não se abrir para o público

No intervalo entre Paranoid Android e Fake Plastic Trees, um gigantesco coro retomou o mantra final, convencendo Yorke a acompanhar na base da voz e violão.

A atordoante beleza do cenário formado por dezenas de barras suspensas que mudam de cor foi uma perfeita tradução visual do que significa o Radiohead, grupo que criou um universo próprio, e nos convida a habitá-lo. Se durante interpretações invernais o ambiente parecia uma caverna de estalactites de cristal, em All I need se tornou um céu de estrelas douradas. Houve chuva de luzes, e em outro momento, um vermelho magmático escorrendo acima dos músicos.







A estrutura de palco foi um show à parte. Já na primeira música, 15 step, a projeção simultânea de imagens de cinco microcâmeras estrategicamente fixadas no palco revelou novos ângulos da banda em ação.



Como compositores, Yorke e Johnny Greenwood são responsáveis pelas mais belas canções da música pop atual. Ao vivo, a performance da dupla leva adiante a tradição de duplas voz/guitarra bem-sucedidas do rock: Jagger/Richards, Plant/Page, e por aí vai. No contexto cultural do século 21, no entanto, tempo em que a tríade sexo, drogas e rock’n’roll é apenas uma instituição a mais, a postura de seus antecessores perdeu completamente o sentido. Mais do que estereótipo de banda tristinha de baladas sensíveis, o Radiohead é a melhor tradução musical do espírito de nossa época. Um show para agradecer por estar vivo, em frente da senão a maior, a mais necessária banda da Terra.

*publicado no Diario de Pernambuco (com alterações)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Radiohead em São Paulo: mais fotos











Radiohead em São Paulo: primeiras impressões



O show acabou fazem 20 minutos.

Assisti na linha de frente, uma confusão de gente pulando e chorando. Difícil fazer as fotos...!

Sentidos atordoados, me arrisco somente a descrever alguns momentos, ainda sob efeito das duas horas e vinte minutos de experiência sonora e visual.

1. "Foi uma tortura" - fã do Radiohead que aturou Los Hermanos, Kraftwerk, copos d'água a R$ 5 e gente vomitando por quatro horas antes dos ingleses subirem no palco;
2. A pontualidade também foi britânica: o show começou às 22h em ponto;
3. Johnny Greenwood tentou, mas não conseguiu manter o tipo gélido frente ao assédio dos brasileiros. Soltou um ou outro sorriso, e virou as costas abraçando a si, constrangido, algumas vezes;
4. Ele faz tipo, mas é o grande responsável pela excelência sonora da banda; durante o show, tocou guitarra com arco de violino, teclados, piano, e extraiu fantasmagorias com pedais, campos magnéticos e até ... sinais de rádio.



5. Em coro, o público convenceu Thom Yorke a cantar o mantra final de Paranoid Android novamente, no violão, Logo depois, para delírio geral, emendou Fake plastic trees;
6. No primeiro bis, ele cai de joelhos para o público;
7. Johnny Greenwood reprocessando a voz de Yorke em Everything in his right place, o segundo bis;
8. A histeria no terceiro bis, nos primeiros acordes de Creep;
9. Referências orientais: duas bandeiras da Tailândia e, após o gran finale, música árabe para ouvidos extasiados.
10. Praticamente todas do In Rainbows foram tocadas, com todo mundo cantando junto.
11. Músicas mais pedidas e não atendidas: Just, 2 + 2 = 5, No surprises e Airbag.

sábado, 21 de março de 2009

Calígula mais próximo de Camus e longe do obsceno


Foto: Henrique Araújo / Clix

O espetáculo Calígula foi calorosamente aplaudido anteontem, durante o 18º Festival de Teatro de Curitiba. O Teatro Guaíra estava com todas as cadeiras lotadas, numa noite que exalava importância. Afinal, era a primeira noite da Mostra Contemporânea do maior evento de artes cênicas do país.

Do lado de fora, a chuva rala e constante levou à suspeita de que a terra da garoa na verdade é aqui. Dentro, o teatro estava tomado por uma leve névoa branca, gerada para compor o cenário da esperada montagem do mineiro Gabriel Vilela. Após um inesperado atraso de 30 minutos, um grupo de cinco atores se apresenta ao público, protegidos por um guarda-chuva com a placa "Roma". Logo após, entra em cena o jovem, cruel e vaidoso imperador, vivido com entrega por Thiago Lacerda.

Durante as quase duas horas seguintes, apesar das breves risadas, a reação predominante na platéia foi o silêncio, este utilizado como elemento a mais a demonstrar cumplicidade e apatia do povo romano perante os abusos do poder.

Calígula explora o processo de enlouquecimento do imperador após a morte de sua irmã e amante, Drusila. Mesmo consciente de que o senado quer assassiná-lo, leva o absurdo às últimas conseqüências, colocando à prova instituições, a moralidade e o tesouro público. "Governar é roubar", brada o imperador, aos quatro ventos.

Se algum espectador presente esperava situações orgiásticas e lascivas geralmente atreladas ao personagem, talvez tenha se frustrado. Este Calígula em nada se assemelha ao famoso filme de 1979, dirigido por Tinto Brass e estrelado por Malcolm MacDowell. Muito menos com a montagem nacional de 1991, com Edson Celulari completamente nu em cena. Aqui, a obscenidade fica no nível conceitual, e não nas vias de fato, o que privilegia o texto original de Albert Camus (adaptado por Dib Carneiro Neto) e o talento dos atores.

Aqui, o máximo de escândalo está nos seios à mostra da atriz Magali Biff (no papel de Cesônia) e no beijo na boca entre Lacerda e o ator Pedro Henrique Moutinho, que interpreta o jovem poeta Scipião. Fator de estranhamento é a recorrente presença de objetos contemporâneos, como uma bolsa Nike carregada pelo fiscal do tesouro, e um spray usado para espirrar tinta vermelha após as lutas.

publicado no Diario de Pernambuco

Pernambuco // Quarenta e sete projetos aprovados no 2º Edital do Audiovisual

A Fundarpe acaba de anunciar os projetos selecionados pelo Edital do Programa de Fomento à Produção Audiovisual. São 47 projetos, que receberão um total de R$ 4 milhões no sistema de patrocínio direto.

Eles foram escolhidos por uma comissão formada por Rosemberg Cariri, Carlos Dowling, Lis Paim, Geyson (Zonda Bez) e Luiz Cardoso Ayres Filho.

Lista completa a seguir.

CATEGORIA CURTA-METRAGEM

Bob Lester - Márcia Mansur de Oliveira

Azul - Set Produções Audiovisuais e Comunicação Ltda.

Poeta Urbano - Antônio Luiz de Souza Carrilho

Café Aurora - Pablo Polo Bezerra Guimarães

Animal Político - Bruno Ferreira Bezerra

Incenso - Ruth Maria Coelho de Pinho

Não me deixe em Casa - Daniel Aragão

Calma Monga, Calma! - Petrônio Freire de Lorena

Homem-planta - Orquestra Cinema Estúdios LTDA.

Dia de Clássico - Rafael Travassos Pires

Cruzeiro - Marcelo Pedroso Holanda de Jesus

JMB, o famigerado - Luci Alcântara

Do Morro - Ekaterina Mykaella Mota Plotkin

CATEGORIA LONGA-METRAGEM

Sangue Azul - Beluga Produções

Roliúde - Cabra Quentes Filmes Ltda.

Dinâmica de Grupo - Orquestra Cinema Estúdios Ltda

Era Uma Vez Verônica - Rec Produtores Associados Ltda.

Carranca de Acrílico Azul Piscina - Rec Produtores Associados Ltda

Um Lugar ao Sol - Plano 9 Produções Audiovisual Ltda.

Febre do Rato - Grupo Parabólica Brasil de Comunicação Audiovisual

História de um Valente - Camará Filmes

O Som ao Redor - Cinemascópio Produções Cinematográficas e Artísticas

Amor Sujo - 99 Produções Artísticas LTDA.

CATEGORIA PRODUTOS PARA TELEVISÃO

Eu Quero Nadar no Capibaribe e Você - 2º Temporada - Alice Frances Tilovita Sicato Chitunda

Mingote - Andre Rodrigues de Souza

Minuto Marinho - Hydrosphera Produções LTDA.

Tereza - Cor na Primeira Pessoa - José Amaro de Souza Filho

Zuleno, O Mestre da Luz - Diego Ramos Medeiros

Rio Doce/ CDU - Adelina Pontual Ferreira

Arabescos Sertanejos - Cabra Quentes Filmes LTDA

Pé na Rua - Cezar Augusto Monteiro Maia

Plano Aberto - Ateliê Produções LTDA

CATEGORIA PERNAMBUCO NAÇÃO CULTURAL

O mestre e a rabeca - Enaile Lima Damasceno

Pernambuco Imortal, Imaterial - Cezar Augusto Monteiro Maia

CATEGORIA DIFUSÃO E FORMAÇÃO

2º Janela Internacional de Cinema do Recife
Cinemascópio Produções Cinematográficas a Artísticas

Play Rec 2009
Oscar Manoel Salazar Malta

Aurora Filmes: Técnicas da Produção Audiovisual Independente - 2ª edição
Sandra Cruz Riberio

Cine Chinelo no Pé
Luiz Antônio de Carvalho Junior

Curta em Curso - Oficina de Realização cinematográfica em Recife e Petrolina
Maria José Pereira

Cinema no Interior
Antônio M. G. de Carvalho Produções Artísticas e Cinematográficas

Tankalé - Formação para o auto-registro audiovisual quilombola
Instituto Nômades

Festival Internacional de Cinema Infantil
B52 Desenvolvimento Cultural

Show Variado
José Rafael Coelho

Tem Preto na Tela
Marileide Alves de Lima

CINECLUBES

Cine Califórnia
Ruth Maria Coelho de Pinho

Cineclube Fernando de Noronha
Associação dos Artistas Plásticos de Fernando de Noronha

Cocada Cineclube
Centro Cultural Farol da Vila

sexta-feira, 20 de março de 2009

Distraídos venceremos



"isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além" - P. Leminski

Antes de tomar o café, entrei na Livraria Curitiba, bem em frente ao hotel onde estou hospedado, na Rua XV, centro da cidade.

Para minha surpresa, não havia livros de Paulo Leminiski. Nem unzinho perdido na estante de autores curitibanos. Terei de recorrer aos sebos?

O vendedor disse que os poucos exemplares ainda em catálogo, quando chegam à loja, vendem rapidinho. Alô, editoras?? Que tal relançar Caprichos e relaxos e Catatau?

Ou será que na própria terra natal, Leminski hoje se resuma à Pedreira, espaço para eventos que leva seu nome?

Estreia // Gran Torino, de Clint Eastwood



O cinema de Clint Eastwood continua em plena forma. Aos 78 anos, e após um filme menor (A Troca, 2008), ele acerta em cheio com Gran Torino (2008), que estreia com certo atraso no país, e marca sua volta ao gênero ação. Trata-se não somente de uma bela história, mas de recontextualizar para os novos tempos - agora sob a ótica da maturidade – o tipo “durão” por ele eternizado em filmes da série Dirty Harry e congêneres.

Eastwood dirige e interpreta o veterano de guerra Walt Kowalski, que vive sozinho no subúrbio após a morte da esposa. Arquétipo do americano forjado a ferro e fogo, ele é aquele ser xenófobo, que lutou na Coréia, mantém o carro brilhando (o Ford Gran Torino, que ajudou a montar em 1972), e está pronto para sacar o rifle sempre que alguém pisar no jardim, onde, sim, fica hasteada a bandeira de listras vermelhas e brancas.

Kowalski rosna mais do que a própria cadela, pois tenta, mas nunca conseguirá endireitar o mundo dentro dos preceitos morais de sua época. Ao contrário, gangues infestam o bairro, crianças não ajudam velhinhas, e a antiga vizinhança foi trocada por imigrantes orientais. Sua casa é a única construção bem cuidada num quadrante que cheira decadência, e isso se estender para o próprio filme, um tesouro da carpintaria à moda antiga ilhado num multiplex de produções fast-food.

No dia de seu aniversário, irritado com os filhos que querem interná-lo em casa de repouso, Kowalski resolve encher a cara e se desarma por um instante, quando a família ao lado o convida para confraternização regada a boa comida e saquê. Num momento seguinte, ele protege os amigos do ataque de uma gangue, e passa a ser tratado como heroi da rua. A partir daí, a generosidade com que passa a tratar os novos amigos é tão grande quanto a do diretor para com seu público, e o velho espinhento e ranzinza se revela um mestre de encantadora generosidade.

Por conter elementos como a família mesquinha trocada por amigos sinceros, a forte relação “mestre coloca aprendiz nos eixos”, e um estúpido ato de violência, não é exagero comparar Gran Torino com o oscarizado Menina de ouro. No entanto, mais importante do que a recorrente mensagem de que há valores a serem defendidos a qualquer custo, é o recado do mocinho prestes a fazer justiça, desfecho que o velho Dirty Harry jamais compreenderia.

publicado no Diario de Pernambuco (com alterações)

Estreia // The Spirit, mais uma alma perdida



O impressionante universo visual de Frank Miller pode funcionar bem nos quadrinhos, mas ainda falta muito para fluir no cinema, forma de arte na qual tem se dedicado a transpor sua estética preto e branco com delírios de alto contraste. Em sua primeira tentativa, adaptou e co-dirigiu com Robert Rodriguez a adaptação da própria obra, Sin city, e o resultado não foi dos melhores. The Spirit, que estreia hoje nos cinemas, apresenta projeto visual semelhante, com resultado igualmente questionável, exceto pela grata visão das atrizes Scarlett Johanson e Eva Mendes, as mulheres fatais da trama.

The Spirit foi criado em 1940 por Will Eisner, mestre maior dos quadrinhos, com quem Miller estabeleceu laços de admiração e reverência (vide o livro de entrevistas Eisner/Miller, nos mesmos moldes do clássico Hitchcock/Truffaut). Ele é um vigilante mascarado que protege a fictícia Central City, cidade que vive a decadência típica dos anos pós-depressão. O filme se passa no século 21, mas preserva essa atmosfera antiga, mesmo quando celulares e laptops entram em cena.

O roteiro preservou praticamente tudo da obra original, como o comportamento ingênuo e galanteador do heroi, sua origem misteriosa e ligada ao vilão Octopus (Samuel L. Jackson em interpretação histriônica), as “gags” de desenho animado do tipo bigorna na cabeça, e até o passado pobre no gueto, a Avenida Dropsie, reconstituída em detalhes de tonalidade sépia. Mas a produção tropeça na irrealidade dos cenários feitos para chroma key (o famigerado fundo verde), o que faz de The Spirit um projeto com boas intenções e poucos momentos empolgantes.

publicado no Diario de Pernambuco (com alterações)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Calígula, hoje, no Festival de Curitiba



Hoje começo a cobrir o Festival de Teatro de Curitiba para o Diario de Pernambuco.

Primeira peça: Calígula, de Albert Camus, tradução de Dib Carneiro Neto, direção de Gabriel Villela.

No elenco, Thiago Lacerda e César Augusto Batista.

Mais notícias em breve.

Café da terrinha



Acabei de chegar no Paraná, minha terrinha. Só tive certeza disso quando dei de cara com um Café Damasco, dentro do aeroporto...

Agenda de Bruno Pedrosa no Rio de Janeiro

quarta-feira, 18 de março de 2009

Paulo do Amparo vai ao Iraq



Astro impávido das ladeiras de Olinda, salve salve.

É ele mesmo, Paulinho do Amparo, pronto para mostrar suas novas criações no próximo primeiro de abril.

Não estarei na cidade, mas recomendo.

A seguir, carta-convite escrita pelo próprio.
--
olá, gente querida!

eu, paulinho do amparo, pop star incansável,
estou lançando minhas novas composições demoníacas
canções que ficam ainda piores quando interpretadas por mim mesmo.
será dia 1 de abril de 2009, a partir das 18:00,
no iraq
(aquele bar de evandro, lá na rua do sossego, no recife... )
vai ter show meu: vóz, violão e violência.
evandro vai discotecar antes e depois.
a entrada custa 5 reais.
não é exatamente um lançamento de disco, mas a exposição dos
resultados uma nova safra criativa e maldosa minha:
temas românticos tratados com crueldade, psicose e sarcasmo imbecil.
paixão e sangue no chão.
frevos caveira.
100 anos de alceu.
satanismo explícito.
pequenas brincadeirinhas: paulinho trummer, o irmãozinho do mal de
fabinho "eddie" trummer, paulinho do mau caminho.
NOVAS CAMISETAS SERIGRAFADAS: "febre do rato, um filme de cláudio
assis", "bebadogroove do mundo livre s.a.", "iraq", "elvis osborne,
pra voces com amor" e outras clássicas.
TAMBÈM EM TELAS para voce emoldurar e botar na sala de sua casa ou dar
de presente para alguém.
leia agora as críticas de especialistas:
"... paulinho é pior que nonô e claudionor germano juntos."
(julio cavani, diário do commercio)
"... porra! paulinho é foda!"
(otto fuleragem, mtv brasil)
"... botei pra escutar em casa e perturbou a vizinhança..."
(roger de renor, fundarpe e sindicato dos palhaços de pernambuco)
"MUITO LINDO!!! MUITO FOFO!!!"
(aninha garcia, coquetel molotov)
"JAZZY! FLAINAUEI! DETONE, MONSTER!!!"
(grilowsky, oikabum)
"... paulinho, olha a tosse."
(mamãe)
depois eu mando umas musiquinhas e mais infamias, garotada.
amor é amor por tudo.